Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 77
A Primeira Relíquia


Notas iniciais do capítulo

O Galeão de Atena parte para o Oceano Índico em busca da primeira Relíquia do Mar nas Maldivas, mas a localização parece ser um mistério, pois não há nada no oceano.



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— Terra à vista! — gritou a voz da jovem Lunara, animadíssima, seguida de badaladas sonoras do sino.

Ao amanhecer do quarto dia de viagem, o Capitão Kaire deixou sua cabine ao escutar os sonoros toques do sino. Ele foi logo recebido pelo alferes do convés e notou Seiya atrás do leme com seu bonito uniforme reluzente; com a rapidez de uma ave, Lunara apareceu entre eles.

— Você vai vomitar no meu convés, Seiya?

— Não, senhor Capitão!

— É o que veremos.

Ele atravessou rápido o tombadilho e foi na direção do castelo de proa debruçar-se sobre a amurada, onde June e Geist já olhavam curiosas para o mar. O capitão lhes dedicou um bom-dia e também colocou o rosto para fora do barco para poder vislumbrar, no horizonte, a grande faixa de terra da costa africana.

— Estamos chegando perto do Canal de Suez, Capitão. — falou Geist. — Poderemos deixar o Mar Egeu e alcançar o Oceano Índico pelo Mar Morto.

— Sim, está certa como sempre, minha querida imediato, mas nesse caso não atravessaremos o Canal de Suez.

— Não atravessaremos? — perguntou June, confusa, e viu que o Capitão Meko sorria.

Ele retornou a passos largos pelo convés até o tombadilho e colocou a mão no ombro de Seiya.

— Vamos colocar esse navio no ar?

Aquela foi a primeira vez em muitos dias que June viu um esboço de sorriso no rosto de Geist, e mesmo Seiya deixou escapar uma expressão de quem estava prestes a experimentar algo incrível. Ele travou o leme e se afastou dando lugar ao Capitão Kaire, mas Meko olhou fundo nos olhos de seu timoneiro e lhe ofereceu:

— Quero que a primeira manobra seja sua, Seiya.

E então o que era animação transformou-se em pavor no garoto. Ele tomou novamente o leme, destravou o timão, levantou uma caixa ao lado revelando uma alavanca talhada de maneira linda. Ele engoliu em seco e sentiu uma certa tontura de preocupação. A voz de trovão do Capitão soou para todos na embarcação.

— Todos em seus postos! — ordenou, certificando-se de que todos estivessem na galeria, enquanto os oficiais do comando estivessem cada um em seu lugar pré-determinado.

— Timoneiro, coloque esse navio nas nuvens ao meu comando!

Seiya travou o leme e pousou a mão na alavanca ao lado, tremendo.

— Prepare-se para o procedimento de decolagem, alferes Lunara! — gritou o Capitão.

— Sim, Senhor! — respondeu ela, alinhando a angulação de todas as velas a favor do vento.

O Galeão imediatamente ganhou mais velocidade e Geist ordenou novamente pelo convés que todos se aprumassem em seus lugares.

— Em prontidão, alferes! — alertou o Capitão Kaire. — Seiya, ao meu comando, faça esse barco voar.

— Ao seu comando, Capitão.

O Capitão Kaire apoiou-se no parapeito exatamente à frente de Seiya e o Cavaleiro de Bronze observava cada centímetro de seu corpo; ele tinha o punho cerrado ao lado de sua cabeça e Seiya estava apenas esperando o sinal. Quando finalmente o Capitão apontou para a proa do navio e exclamou:

— Ascenda, Pégaso!

Seiya puxou a alavanca aos poucos, como havia feito nos treinamentos, mas, mesmo suavemente, todos sentiram-se desequilibrar de maneira sutil, pois o Galeão realmente descolava-se pouco a pouco das águas do Mar Egeu. Sentiram todos um frio gelar em seus estômagos, como quem sobe rapidamente uma rampa; Lunara gritava de alegria ao sentir o vento cada vez mais forte no rosto de criança. As velas incharam-se e não demorou muito para que estivessem, de fato, alçando vôo, deixando para trás a turbulência dos oceanos para navegar o branco mar das nuvens de algodão.

O Capitão Kaire olhou feliz da vida para Seiya. Estavam finalmente prontos para zarpar entre os Sete Mares.

 

—/-

 

O Galeão rasgava o horizonte acima do mar de nuvens. 

Seiya ainda mantinha o comando de sua direção, mas agora também podia controlar a altitude da embarcação, embora não precisasse fazer grandes correções, pois ele magicamente deslizava pelo ar. Estavam todos mesmerizados pela visão belíssima que era o mar de nuvens, bem como o continente africano aparecendo aqui e ali entre algumas formações brancas que se desmanchavam no céu abaixo deles.

— Trave o leme, timoneiro. — gritou o Capitão assim que a embarcação alcançou altitude de cruzeiro. — Todos à cabine.

Eles deixaram seus postos e rumaram para dentro da cabine do Capitão Kaire, onde estava estendido em uma enorme mesa um mapa escuro. Era uma das páginas da enorme Carta Náutica que demarcava com precisão a localidade dos lugares divinos que teriam de visitar para selar as Relíquias dos Mares de Poseidon.

Ao entrarem todos, logo sentaram-se, com o Capitão na ponta para que pudesse ver a todos. Antes de mais nada, naquela manhã ele olhou para sua tripulação e abriu um largo sorriso.

— É bom vê-los todos de pé. — falou ele, finalmente. — Agradeçam à sua oficial-médica, que quase não dormiu para que vocês pudessem ficar bem. Ótimo trabalho, June.

Seiya sorriu brevemente para ela, quando percebeu o olhar do Capitão nos seus.

— Alguma notícia da Grécia, imediata?

— Sim, Capitão. Hoje na primeira hora de sol, consegui entrar em contato com o Santuário e eles confirmaram que a fragata da Fundação chegou em segurança. As crianças estão todas bem.

— Ótimo. — falou ele.

— A June nos contou o que aconteceu na Ilha, Capitão Kaire. — começou Seiya, tomando a palavra. — Devemos esperar mais problemas daqui pra frente, portanto eu não acho que você e June devam ir sozinhos nessas missões. Mais do que navegar, todos nós somos capazes de lutar.

O Capitão Kaire sorriu e olhou para June, que tanto havia se preocupado com aqueles jovens. E, por um lado, ele tinha mesmo razão: talvez tivessem dado sorte de que havia apenas um guardião desgarrado. O que poderia ter acontecido se mais Marinas estivessem à espreita?

— Tem razão, Pégaso. — concordou ele. — Eu destacarei um grupo maior da próxima vez. 

— E sobre esse sereio do mal, — comentou Lunara. — acha que encontraremos outros como ele em nossas viagens?

— Acho muito difícil. — falou Geist, muito versada e lida. — Os telquines são criaturas profundas e extremamente individualistas.

— O que eu achei estranho foi que ele realmente parecia agir sozinho. — confirmou o Capitão. — Se Poseidon está realmente se levantando, eu esperaria um ataque mais coordenado, mas o que vimos era um antigo Marina de Poseidon isolado em uma ilha deserta vivendo pela vitalidade de crianças indefesas.

— Não parece o guerreiro de uma Ordem que está para ressurgir. — comentou June.

— Ficaremos alertas. — falou o Capitão, acenando para Lunara. — Fale-me do nosso objetivo.

A garotinha puxou um livro grande que trazia e anunciou.

— Estamos chegando. Fica nas Maldivas. — falou ela, empolgada, seu outro livro nas mãos não era outro senão um Atlas detalhado. — Muitas praias paradisíacas e um sol maravilhoso. Mal posso esperar!

— Não estamos de férias, navegadora. — alertou Geist.

— O que sabemos das Maldivas, imediata?

— É um arquipélago de mais de mil ilhas no Oceano Índico. Mas apenas duzentas ou um pouco mais do que isso são realmente habitadas. Sua capital é Malé e, como a nossa estimada navegadora bem disse, é um ponto turístico muito famoso entre os mais ricos por ter praias paradisíacas.

— Elas são lindas! — comentou Lunara, abrindo outro livro e mostrando as imagens para Seiya.

— As praias são realmente muito bonitas, imediata Geist. — comentou o Capitão Kaire, pois o livro passava de mão em mão. — Tem certeza de que não temos tempo para um descanso nessas águas cristalinas?

Lunara implorou, mas Geist manteve-se resoluta.

— Nem um segundo, Capitão. — disse ela, e a jovem desanimou-se ao seu lado.

— Muito bem. — concordou Meko, dando fim à reunião com um sorriso debochado no rosto, mas Lunara pediu novamente a palavra entre eles.

— Capitão, de acordo com sua Carta Náutica, a Relíquia do Mar não consta em nenhuma das ilhas mapeadas das Maldivas. Parece estar no meio do oceano.

Todos ali se entreolharam até que o Capitão Kaire levantou-se finalmente para comparar os estudos da pequena ao lado de Geist. Ela tinha razão: a marcação do Cavaleiro de Taça ficava claramente em alto-mar ao transpor a Carta Náutica com o mapa do Atlas. O Capitão falou novamente.

— Vamos colocar esse barco na água e encontrar essa Relíquia do Mar. Lunara, Geist, vão para o cesto do casco e calibrem a Carta Náutica. June, preciso de você no comando para que todos estejam em seus postos.

— Certo, Capitão!

Levantaram-se todos para sair.

— Seiya, pode ficar um instante, por favor?

Ele olhou para todos, como quem está prestes a levar uma chamada enorme. Viu cada um sair da cabine do Capitão e ficar apenas ele sentado, acabrunhado diante de Meko Kaire.

— Sente-se melhor mesmo, Seiya? — perguntou ele.

— Sim, Capitão. Graças aos cuidados de June, já estou totalmente recuperado.

— Que bom saber. — confirmou Kaire, mas então falou seriamente. — Seiya, eu queria lhe dizer que é uma honra enorme ter sua ajuda nesta missão. Não há palavras para descrever os milagres que você tem operado em nome de Atena.

Meko se levantou e sentou-se mais próximo de Seiya.

— Mas June me informou que antes de partirmos, você na verdade estava pronto para ir atrás de sua irmã em Atenas, é verdade?

— Sim, Capitão. — confirmou Seiya.

— Seiya, como eu disse, sinto-me muito honrado de ter você em nosso barco; eu sou amigo de Marin há muitos anos e sei o quanto ela lhe estimava. Por isso eu lhe digo que igualmente seria uma honra enorme fazer esse navio dar meia-volta e te levar até Atenas para que você vá atrás de sua irmã, ou te levar em qualquer missão que esteja no seu peito. Não há nada de errado nisso.

— Não se preocupe, Capitão. — falou Seiya com gravidade. — É verdade que sinto muita falta de minha irmã e sempre senti. Mas eu sempre lutei e vou continuar lutando, pois eu sou um Cavaleiro de Atena.

Seiya então levantou-se e Meko viu diante de si um garoto extremamente valente. Mas ainda assim um garoto.

— Eu sinto muito, mas eu esperava que me dessem um pouco mais de crédito, pois não sou mais uma criança. Essa missão é muito importante. — falou ele tirando o envelope em que recebeu a convocação oficial para estar naquela tripulação, ainda com um bonito selo rubro com o brasão da Vitória de Nike. — Precisamos Selar Poseidon e cumprir os desígnios de Saori… digo, de Atena. E vamos conseguir Selar as Relíquias dos Mares, eu tenho certeza disso.

E com aquele jovem decidido diante de si, Meko também teve certeza daquilo. O Capitão levantou-se e colocou a enorme mão em seu ombro, realmente orgulhoso de poder lutar ao lado de Seiya de Pégaso. O Capitão então convidou o garoto a observar o oceano distante lá embaixo pela janela de sua cabine.

— Eu posso compreender seus sentimentos, Seiya, e posso lhe dizer também que sua irmã está sempre com você.

Seiya o olhou, curioso.

— Sabe, chamam-me no Santuário de Moisés, mas meu verdadeiro nome é Meko. Meko Kaire. Eu venho de um povo do mar muito distante daqui, um povo de viajantes e conhecedores do oceano e das estrelas. E não é raro que estejamos longe de nossa família, por vezes separados por muitas léguas e até mesmo ilhas de distância. Mas ainda assim estamos sempre juntos onde quer que estejamos e para onde quer que possamos ir.

O Capitão então olhou de volta para Seiya com um sorriso no rosto.

— Tenho certeza que é assim também com sua irmã. Em algum lugar, ela também está pensando em você.

Seiya olhou para aquele mar de nuvens, o oceano distante lá embaixo e, talvez fosse bobagem, mas refletiu que talvez aquela fosse a primeira vez que ele pensava naquela possibilidade de que Seika também estivesse pensando nele naquele momento. Pois se assim fosse, realmente eles estavam juntos naquele instante.

Ele agradeceu o Capitão com um enorme sorriso e voltou para o timão do barco, enquanto Meko Kaire pensou também em sua família, muito distante dali.

 

—/-

 

Seiya iniciou uma leve descida com o barco para que se misturassem às nuvens. Lunara e Geist entraram nas galerias internas, desceram dois andares para onde ficavam os cômodos, bem como a galeria de mantimentos. No centro do navio, exatamente diante do mastro principal, que era enorme, elas abriram uma portinhola e entraram para dentro do mastro. Um espaço estreito que podia comportar apenas duas pessoas.

Geist acionou qualquer dispositivo acima de suas cabeças e o mastro principal afundou alguns metros dentro do navio, de modo que elas se viram dentro de um cesto da gávea, mas ao invés do ponto mais alto da embarcação, agora estavam alguns metros abaixo do casco. Dali podiam ver com clareza o mar de nuvens abaixo delas. Aos poucos, notaram como o navio lentamente desceu para abaixo da linha das nuvens, para onde elas puderam ver o maravilhoso Oceano Índico pontilhado de ilhas.

Lunara abriu a Carta Náutica e a comparou aos atóis e arquipélagos que podia ver no Oceano, para que pudesse se orientar. Procurava encontrar em qual daquelas ilhas, ou melhor, entre qual delas, ficava aquele lugar misterioso. Pois assim como verificou através de seu Atlas, o Oceano também lhe mostrava que a Relíquia do Mar realmente parecia estar em um espaço vazio no oceano, distante de duas ilhas distintas que Lunara fez questão de se lembrar.

— Pronto. — anunciou ela.

Geist verificou suas observações e as confirmou. Deixaram o cesto e voltaram para o convés.

— Muito bem, Seiya. Vamos colocar esse barco de volta onde ele pertence. De volta para o mar.

Todo mundo se aprumou, Lunara voou pelo convés desfraldando as velas, Seiya aprontou-se com a alavanca esperando o comando de seu Capitão para iniciar o procedimento pela primeira vez. Kaire deu dois tapas no ombro de Seiya e fez sua voz soar por todo navio.

— Ao mar!

Profundo como um trovão, sua voz só parou de reboar quando o navio efetivamente guinou poucos graus na sua inclinação e mirou para o oceano. De forma muito sutil e leve, para que não fosse uma queda vertiginosa e enregelasse o estômago de todos. Seiya realmente havia se tornado um exímio timoneiro, a verdade era essa.

 

—/-

 

O Galeão de Atena planou rente à água até que Seiya finalmente o fez tocar o solo marítimo do Oceano Índico, repartindo suas águas ao meio e fazendo com que todos levemente perdessem o equilíbrio ao retornarem para o mar.

— Lindo pouso, Pégaso. Alferes Lunara, desfralde as velas e encontre-nos no castelo de proa. — mas ela já voava pelo convés, abrindo-as de acordo com os procedimentos de descida; o Capitão então ordenou à Geist para que o acompanhasse.

O trio desceu do tombadilho ao convés principal, atravessou a extensão do navio e subiu no pequeno castelo de proa, olhando para o oceano adiante, do qual venciam as léguas com o Galeão de Atena.

— Não tem nada entre aquelas duas ilhas, capitão. — comentou Lunara com sua luneta dourada.

— Mas que diabo. — contemplou ele, o oceano vazio à sua frente. — O que pensa disso, imediata Geist?

— Talvez o excelentíssimo Cavaleiro de Taça tenha errado seus cálculos?

— Isso seria um desastre, não seria? — perguntou ele.

— Certamente, Capitão. — concordou ela.

— A não ser que… — ponderou ele, cofinhando o queixo. — A não ser que a Relíquia esteja em uma dessas ilhas por aproximação.

— Ou debaixo do mar. — falou Lunara, para surpresa dos dois. — Ué, o Poseidon num mora debaixo da água?

Geist e o Capitão Kaire entreolharam-se, surpresos, mas considerando a possibilidade seriamente, o que tornaria o desafio deles ainda mais difícil. Retornaram para o tombadilho e o Capitão pediu que Seiya atracasse próximo à ilha da esquerda, mas o timoneiro interferiu.

— Capitão, eu achei que a Relíquia estivesse entre elas.

— Vê algo entre as ilhas, Pégaso? — perguntou o Capitão. — Há uma possibilidade de que a Relíquia esteja abaixo do mar, precisamos atracar e investigar.

— Capitão, não se vê nada entre as duas ilhas, mas eu posso sentir.

Meko olhou para Seiya e então para o timão em sua mão. E então de volta para Seiya, que assentiu com a cabeça para ele; Pégaso lhe explicou que, conforme se aproximavam entre aquelas duas ilhas, ele podia claramente sentir pela maneira com que guiava a embarcação que havia algo à frente deles, pois o vazio do oceano lhe dava uma diferente sensação enquanto manejava o leme. Meko lhe sorriu de volta.

— Mantenha firme na rota, Pégaso. — falou o Capitão, colocando-se ao seu lado. — Muito bem, Seiya.

E deixou seu lado para juntar-se à Geist e Lunara no castelo de proa novamente, em que observavam adiante o Galeão avançar adiante em um vazio que havia entre duas ilhas. A embarcação movia-se lentamente e vencia algumas léguas aos olhos atentos do Capitão, sua imediata e a navegadora, quando finalmente algo incrível aconteceu.

O ar à frente deles pareceu pulsar um brilho azulino que espalhou-se pelo céu, descrevendo a forma de um domo muito alto e extenso. E pouco a pouco começou a surgir à frente deles um pedaço de rocha que certamente não existia antes, primeiro apenas um coqueiro no meio do oceano, mas aos poucos a rocha crescendo mais e mais para o fundo, de forma que em poucos segundos estavam diantes de uma pequena, mas portentosa ilha, onde balouçavam coqueirais e levantava-se um rochedo poderoso a muitos metros de altura.

— Estava escondido. — maravilhou-se Lunara.

— É como o círculo de proteção do Santuário. — comentou o Capitão Kaire. — Poseidon também tem seus truques.

— Veja, Capitão. — mencionou Geist ao mostrar para ele que havia uma comitiva aparentemente de prontidão em um bonito porto na ilha.

— Acho que somos aguardados. — adivinhou o Capitão Kaire.

Juntos retornaram ao tombadilho novamente; o Capitão ordenou que a âncora fosse lançada e o barco auxiliar preparado. 

— Geist, Lunara, preparem o barco auxiliar. Seiya, excelente navegação, garoto. — olhou para uma jovem garota maruja de Rodório e adicionou: — Alferes, você tem o comando.

Seiya viu como a garota abriu um enorme sorriso, afinal de contas era uma responsabilidade enorme capitanear o Galeão na ausência de seu capitão, mesmo que ele estivesse ancorado. Ele então desceu do tombadilho para o convés para tomar seu lugar na pequena embarcação.

 

—/-

 

O barco auxiliar vencia com velocidade a distância entre o Galeão ancorado e aquele belíssimo porto em que algumas embarcações também estavam atracadas e onde podiam ver uma dúzia de pessoas trajando armaduras brancas, com tecidos largos nos braços e pernas e uma lança de prata nas mãos. Parecia mesmo uma comitiva que sabia perfeitamente que seria visitada, era como se a tripulação de Atena fosse realmente aguardada.

O Capitão Kaire habilmente encostou a embarcação próximo a uma ponte do porto e um marujo daquela ilha, usando uma calça larga e uma bata branca ajudou a estabilizar o barco e amarrá-lo a um toco próximo. Meko pulou para o porto trajando sua Armadura de Cetus, e ajudou Geist e Seiya a pisarem em terra firme; Lunara pulou muito hábil entre eles, com um sorriso enorme no rosto olhando as armaduras brancas daqueles guardas.

Uma voz soou adiante deles em um idioma desconhecido e a guarda branca aprumou-se na postura, pois entre eles um homem usando um bonito sari apareceu. Ele fez uma mesura e arranhou um idioma comum a todos ali.

— Bem-vindos ao Templo Gan. — disse ele, respeitosamente. — Estávamos no aguardo de sua comitiva. Meu nome é Abdulmalik, servo de Celmira.

— Sou o Capitão Meko Kaire, Cavaleiro de Prata de Cetus, servo de Atena. Estes são Seiya de Pégaso, Geist de Argo e essa é a alferes Lunara.

— De Jamiel. — corrigiu ela. — Lunara de Jamiel.

— Alferes Lunara de Jamiel. — sorriu Meko para um calmo Abdulmalik.

— Sejam bem-vindos. Queiram me acompanhar. — pediu ele.

Os quatro enviados de Atena seguiram Abdulmalik entre a guarda branca do que eram, sem dúvidas, homens e mulheres de guerra, mas Meko não pressentiu nenhuma ameaça ao atravessar o corredor guardado por eles. Subiram por algumas escadas para distanciarem-se do porto e então viram-se dentro do rochedo que se levantava em um lindo templo esculpido com tantos detalhes que seria preciso parar e olhar centímetro por centímetro para adivinhar todas as formas mosaicas e intrincadas que havia. Era um trabalho incrível e riquíssimo de detalhes.

As cores dentro da câmara eram das mais variadas e brilhantes, joias brilhavam nas paredes, o ouro adornava fachadas e filigranas de prata espalhavam-se por todo o templo. Exatamente no centro, havia uma mulher alta coberta por um vestido lindíssimo, de cabelos brancos feito a neve e caídos para o lado esquerdo em um lindo moicano. Ela estava de costas para eles e o servo Abdulmalik ajoelhou-se e desapareceu da vista da tripulação, descendo por uma escada lateral.

— Santos de Atena. — falou a voz mágica daquela mulher. — Eu os estava aguardando. Sei pelo que estão aqui e não há tempo a se perder.

Seiya viu como o Capitão Kaire e Geist entreolharam-se, desconfiados, mas escolheram atender ao chamado daquela enorme mulher, já que estavam em seu Templo. Ela os guiou em silêncio adiante daquele lindo templo até que saíssem para o lado de fora novamente, onde brilhava o sol do Oceano Índico. Por um caminho de pedras, eles chegaram até um pequeno altar, um pequeno santuário hinduísta em que um turíbulo de ouro fumegava uma fumaça espessa e azulina. Atrás da mesa em que o turíbulo fumegava, havia um painel bonito inscrito com um tridente em alto-relevo.

— Essa é a Relíquia do Mar. — apresentou ela, abrindo a tampa do lindíssimo turíbulo de onde a fumaça transbordava.

Com efeito, todos podiam sentir uma sutil presença desconcertante; Seiya lembrava-se dos momentos em que sentiu manifestar o Cosmo divino de Saori e, embora não fosse a mesma sensação, era como se fosse da mesma natureza. Embora muito, mas muito mais fraco, quase imperceptível. Mas sem dúvida ali presente.

— Permita-nos inspecionar a Relíquia? — pediu o Capitão, ao que Celmira apenas retirou-se do caminho para que fizessem as checagens necessárias. — Lunara.

A pequena adiantou-se com um sem número de instrumentos para medir e observar mais de perto; ela cheirou a fumaça azulada e, com a ajuda de instrumentos que pareciam mágicos, fez algumas anotações em um caderninho próprio antes de atestar: era mesmo uma das Relíquias dos Mares.

— Geist. — pediu Kaire, e ela adiantou-se com o cilindro dourado em que carregava o Selo de Atena.

Celmira afastou-se para ficar ao lado de Kaire; Geist retirou o papiro de Atena que imediatamente ressoou com aquele bonito turíbulo; ele endireitou-se no ar e praticamente flutuou acima do turíbulo e elegantemente entrou devagarinho para dentro do recipiente. E assim que um brilho dourado se espalhou pelo utensílio sagrado, a fumaça que antes transbordava parou de fumar. 

— Está feito. — anunciou Geist para um Capitão Kaire contente, mas o momento foi cortado pela voz grave da sacerdotisa.

— Dizem pelas ilhas que a Grande Catástrofe se aproxima. — falou a voz bonita de Celmira. — Entre o nosso povo, o fim-do-mundo é descrito como o dia em que os mares engoliriam as ilhas em que vivemos.

— Quando foi que tudo isso começou? — perguntou o Capitão Kaire para a belíssima Celmira que era, sem exageros, tão alta quanto ele.

— Há algumas semanas, ao mesmo tempo em que o mar passou a ficar mais revolto.

— Como sabia que viríamos? — perguntou Seiya, atento.

— Os Povos dos Mares estão aguardando por vocês. — falou ela. — Esse não é o Tempo de Poseidon e, por mais que sejamos aliados do Deus dos Mares Grego, esse não é o seu tempo.

— O que é o Tempo de Poseidon? — perguntou Seiya, legitimamente confuso, pois aquilo era dito entre eles na embarcação, como também foi muito repetido pelo Cavaleiro de Taça, mas sem maiores detalhes.

— O Tempo de seu surgimento.

Celmira olhou para eles e seus olhos escuros e pintados era como se olhassem para uma figura divina. Sua voz melodiosa contou-lhes:

— Diz-se na história que, assim que tomou controle dos Oceanos, o treme-terras Poseidon decidiu coexistir pacificamente entre as antigas civilizações dos mares. Nós teríamos a honra de guardar suas Relíquias na superfície, que são parte de seu enorme poder, e em troca disso nossos Templos estariam seguros na Terra de Atena. — falou ela, e sua voz parecia evocar tempos imemoriais. — Há de concordar, jovem Cavaleiro de Atena, que o segredo do Tempo de seu surgimento é algo que as Sete Civilizações não irão compartilhar assim facilmente. Apenas posso lhe dizer que esse que vivemos não é o Tempo de Poseidon, não está de acordo com os alinhamentos das ondas do oceano e os selos precisam ser refeitos.

— Falou que seus Templos seriam mantidos seguros, no entanto está com medo do fim-dos-tempos. — comentou Kaire para ela.

— É o que ocorre quando Poseidon ressurge fora de seu tempo. E por isso precisa ser selado. — falou ela.

— Por que isso está acontecendo? — perguntou finalmente Geist. — Por que os Selos estão perdendo sua força antes da hora? Nada nas leituras das estrelas sugere qualquer coisa parecida.

— Este é o Céu de Atena e as Estrelas são suas palavras. — falou Celmira, de forma muito respeitosa. — Mas se quiser compreender o Deus dos Mares, terá de olhar para as estrelas do mar. Para o movimento das águas. Os humores dos oceanos.

— Não vai nos falar. — concluiu Kaire.

Celmira limitou-se a sorrir para o nobre Capitão. E então seu enorme braço os convidou para retornarem ao Templo, ao que prontamente obedeceram. De volta a ele, o servo Abdulmalik estava novamente ali do outro lado da câmara, aguardando-os para escoltá-los de volta para o porto.

— Boa viagem, Cavaleiros de Atena. O povo giraavaru deseja sucesso em sua empreitada, mas também faço este alerta: nem todos os povos dos mares serão cordiais como esse que os receberam. Preparem-se, pois os mistérios dos oceanos são mais profundos do que uma ilha que não se vê a olho nu.

— Duvido também que teremos uma recepção mais cordial do que essa, senhora.

Despediram-se, pois Celmira acenou para Abdulmalik no fundo da câmara e ele os escoltou de volta ao porto, ainda ladeados pelos guardas brancos até a embarcação auxiliar. Seiya tentou olhar no olho de todos eles e, com efeito, deixou-lhes uma careta antes de embarcar para ver se quebravam sua postura imovível. Não quebraram. E ele olhou ao lado esperando trocar qualquer tipo de comentário com Shun, mas encontrou o sorrisão doido de Lunara, que ele achou engraçado, mas não era doce como o do amigo.

"Diário de bordo, quinto dia de viagem. A Carta Náutica do Cavaleiro de Taça parece mesmo precisa e fomos capazes de reforçar a primeira Relíquia dos Mares, no Templo Gan nas Maldivas. A primeira está selada e agora temos outras seis para cumprirmos nossa missão. A rota agora seguirá para o sul e para o gélido Oceano Antártico. June ficou satisfeita de que não precisamos lutar para cumprir essa primeira missão. A imediata achou fácil. Eu achei fácil demais."


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Busquei iniciar essa aventura com uma Relíquia relativamente fácil justamente para deixar o capitão com a pulga atrás da orelha. Escolhi as Maldivas, pois gostaria de uma região misteriosa com uma forte história de navegação e vivência nos mares e me pareceu que o povo giravaaru tinha uma história muito bacana e um simbolismo legal também. Quanto ao início do capítulo, eu adorei criar a cena deles decolando e também demonstrar melhor qual a função de cada um dentro do navio. Também é importante a conversa entre Meko e Seiya sobre deveres e família.

PRÓXIMO CAPÍTULO: O POMO DE ÉDEN

O estranho paraíso do Sul.



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