Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 75
Convocações


Notas iniciais do capítulo

O Navio da Esperança está para partir, mas os Cavaleiros de Bronze ainda estão confusos sobre qual papel eles desempenharão nessa incrível missão. Quem será a tripulação desse misterioso capitão?



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No Templo de Atena, os humores não eram dos melhores nos dias que antecederam a partida do Galeão.

Do dia em que se decidiu que a única alternativa era a volta ao mundo na Embarcação de Atena até o dia da partida do Galeão, Saori teve encontros dos mais diversos: desde uma reunião com todos os Cavaleiros de Ouro remanescentes até videoconferências com o mais alto escalão da Fundação Graad. O que havia em comum nos dois encontros era o descontentamento dos convidados.

Seu afastamento da Fundação havia causado perdas importantes de receita, e o seu ressurgimento solicitando a ajuda do setor marítimo também foi recebido com certa reticência, embora Tatsumi tenha garantido apoio integral para o que fosse preciso. Com os Cavaleiros de Ouro, no entanto, a conversa era um pouco mais profunda.

A primeira reunião deu-se na Casa de Áries, onde sentaram-se todos em uma maravilhosa mesa redonda preparada por Mu. Nicol julgava imprudente a Deusa Atena descer as Doze Casas, pois não cumpria o rito dos encontros entre mortais e a divina, mas não vocalizou sua preocupação nem à sua amiga Mayura e muito menos à Atena, já que, da total ausência de antes, ao menos ela estava participando dos encontros naquele momento de crise.

Agora que havia abandonado de vez o casebre em Rodório, Atena havia mudado-se para seu Templo, mas julgou importante não ficar totalmente isolada, quando sabia por Shaina que até mesmo alguns Cavaleiros de Ouro não estavam satisfeitos com a escolha de jovens tão inexperientes para uma missão tão importante como aquela.

— A Guerra Santa contra Hades ainda é a nossa maior preocupação. Não podemos deixar o Santuário de Atena desguarnecido de seus principais defensores. — falou a Mestre Mayura para pacificar os descontentamentos.

Tanto ela como Saori compreendiam que os Cavaleiros de Ouro não sentiam-se ofendidos por serem deixados à parte, mas na verdade preocupavam-se sobremaneira com os jovens que precisavam colocar suas vidas em risco, principalmente Seiya, que já havia lutado tanto. A verdade é que, dentro de cada um deles, sentiam-se ainda endividados.

— Eu não consigo compreender uma missão tão importante sem a presença de um Cavaleiro de Ouro. — falou Aioria, preocupado.

— A Crise de Poseidon é inesperada. — falou Mayura. — Sabemos que Hades historicamente invade o Santuário de Atena, portanto é imperativo que os Cavaleiros de Ouro estejam aqui. 

O que ninguém teve coragem de dizer em voz alta era a contabilidade dos Cavaleiros de Ouro que haviam perdido suas vidas na batalha de meses anteriores, ainda muito dolorida, mas estrategicamente terrível, já que as forças do Santuário estavam gravemente desassistidas.

— Aioria, você será o responsável pelo treinamento de Dragão? — perguntou Shaina, levemente desviando do assunto.

— Sim. Com a bênção do Mestre Ancião dos Cinco Picos, acreditamos que ela esteja pronta.

— Excelente. — falou Shaina. — Também temos duas novas Armaduras de Bronze chegadas do estrangeiro. Amanhã teremos uma cerimônia de ascenção e espero contar com suas presenças. — falou ela, olhando para Saori diretamente.

Ela concordou.

A reunião foi interrompida por batidas secas na porta do Conselho, às quais Mayura respondeu pedindo para que entrasse: era Nicol, que vinha com um homem enorme ao seu lado e Geist ao lado dele. Era o tal capitão. Junto de Nicol e Geist, foi definido, afinal de contas, qual seria a rota que tomariam ao redor dos Sete Mares e assim o plano foi apresentado a todos. E ao final da rota apresentada, a Mestre Mayura os alertou para algo que a preocupava.

— Asgard. — falou ela apenas.

— Concordo, Mestre Mayura. — aproveitou Nicol. — O Reino do Norte foi especificamente destacado pelo Cavaleiro de Gêmeos como uma potencial complicação e, de acordo com a carta náutica do excelentíssimo Capitão, Asgard será o último porto em que atracarão.

— Devemos mandar alguém para Asgard por terra o quanto antes. — adicionou Shaina.

— Não sabemos se isso é possível. — argumentou Nicol.

— É possível. — interrompeu Miro, o Cavaleiro de Escorpião. — Camus conhecia os Caminhos do Norte e certa vez me contou que existe uma trilha lendária que leva ao Reino dos Deuses de Asgard.

— Camus de Aquário? — perguntou Nicol, muito interessado.

— Sim. Como sabem, Camus era conhecido como o Mestre dos Livros, mas também como o Mago do Gelo e da Água. O antigo Camerlengo destacou Camus para que treinasse Cavaleiros na Sibéria, mas em sua infância e adolescência, Camus na verdade desenvolveu seu Cosmo no Norte da Europa. 

— Em Asgard?

— Não exatamente, mas lembro de Camus falar sobre como entrou em contato com um asgardiano e que já esteve inclusive em Valhalla a seu convite.

— Você conhece esse Caminho? — perguntou Shaina, e os olhos de Nicol, curiosos, recaíram imediatamente sobre o Cavaleiro de Escorpião.

— Infelizmente esse segredo Camus nunca me confidenciou. — lamentou Miro.

Imperou um certo silêncio entre todos os presentes até que Nicol falou com sua polidez de costume.

— Vou me debruçar sobre os estudos do Mestre Camus. — anunciou ele. — Com sorte, poderei encontrar mais informações em seus livros.

— Talvez eu possa auxiliá-lo na pesquisa. — comentou Miro, e Nicol assentiu com a sua cabeça.

— Então está decidido. — falou Mayura. — Caso encontre o Caminho do Norte, destacaremos um Cavaleiro para que assegure a situação em Asgard.

— Eu creio ser o mais indicado para a missão. — começou Miro, e quem lhe respondeu foi alguém do seu lado.

— Os Cavaleiros de Ouro devem permanecer no Santuário de Atena. — repetiu Aioria de Leão, como se fosse um mantra.

— Aioria tem razão. — levantou-se Shaina. — Eu destacarei um Cavaleiro de Prata para que…

— Não. — interrompeu Miro a fala de Shaina. — Se eu não puder ir, acredito que o mais correto seja enviar o discípulo de Camus. Se Camus realmente conhecia alguém em Asgard, talvez ele possa entrar em contato com essa pessoa.

— É uma missão importante demais para enviar um Cavaleiro de Bronze. — retrucou Shaina.

— Não há missões importantes demais para os Cavaleiros de Bronze. — argumentou Saori por seus amigos, olhando para Shaina.

Nicol, ao lado da Cavaleira de Ofiúco, quase derreteu de constrangimento ao ver nos olhos da guerreira de Prata um fogo que parecia fulminar Atena do outro lado da mesa, um comportamento largamente inadequado diante da Deusa.

— Nesse caso, acredito que podemos enviar Cisne ao lado de um Cavaleiro de Prata. — contemporizou Mayura ao seu lado.

Saori sentou-se novamente, tranquilizada e concordou com a ideia de Mayura. Alice segurou suas mãos por debaixo da mesa sem que ninguém a visse. E assim ficou acordado naquele tenso encontro do Conselho que Hyoga partiria o quanto antes para Asgard.

 

—/-

 

Poseidon.

O Deus dos Mares.

Esse foi o enorme nome que Alice compartilhou com Seiya e seus amigos dois dias depois que Saori havia deixado o casebre para não mais voltar entre eles. Os planos e partidas foram todos interrompidos imediatamente com o surgimento daquela nova e inesperada ameaça. 

— Isso significa que teremos de enfrentar Hades e Poseidon. — falou Shun para todos, deixando-se cair no sofá.

— Como é que se enfrenta um Deus? — perguntou-se Hyoga, e Alice não soube responder.

— Eu não sei nem ser amiga de uma. — comentou ela.

— Bom, me parece que o plano é evitar que ele desperte. — ponderou Shiryu. — Assim como fizemos com Éris.

— Como podemos ajudar? — perguntou Seiya, olhando seriamente para Alice.

Ela não soube escolher as palavras para dizer ao garoto que, por enquanto, nada podiam fazer a não ser seguir com suas vidas, seus treinamentos e obedecer aos chamados da Mestre de Armas, que era quem iria lhes passar as missões de Cavaleiros.

— Shaina é quem irá cuidar disso. Em breve, teremos a ascenção dos Cavaleiros de Bronze, quando saberemos melhor como podemos ajudar.

— Jabu e os outros retornaram? — perguntou Shun e ela confirmou.

— Como está a Saori? — perguntou finalmente Seiya.

Alice olhou para o garoto e encontrou em seus olhos um pouco de tristeza ao perceber que precisaria novamente postergar seu encontro tão esperado com sua irmã.

— Ela está bem. Ficou muito chateada de ter de cancelar a ida de vocês até Atenas, mas ela está bem. E vai ficar bem. — disse ela, quase prometendo algo a eles.

E assim respiraram fundo ao perceberem que a batalha poderia se descortinar muito antes do que imaginavam.

Poseidon.

Um nome que logo espalhou-se como fogo em palha seca por Rodório, que fervilhava de fofocas e conversas compartilhadas entre os moradores na praça principal, na taverna, na feira, no píer, sempre alguém trazendo alguma novidade das vozes das montanhas entre os gigantes. Quem tinha seus rádios de pilha ou até mesmo alguma antena satélite sintonizava nos canais de notícia em busca de qualquer previsão do tempo mais radical.

A verdade é que as ameaças ao Santuário nunca foram escondidas para Rodório. A maior preocupação do Santuário sempre foi que esses segredos chegassem ao mundo dos homens, mas Rodório não era nunca visitada e seus habitantes orgulhavam-se demais da função divina que desempenhavam, de modo que nunca se ouviu falar desses assuntos fora do território do Santuário.

Seiya ficou nos primeiros dias junto de seus amigos na Arena olhando o treinamento dos aspirantes a Cavaleiros; por vezes, eles mesmos ajudavam Shaina e os outros Cavaleiros de Prata e de Bronze no treinamento de uma dúzia de garotos e garotas que almejavam uma Armadura para ajudar na Guerra que viria.

Naquela tarde, no entanto, Seiya era um mero espectador dos aspirantes. As memórias que aquele grupo de jovens lhe trazia eram imensas, de seus tempos naquela arena. Pensou em Marin, que não via desde o final da batalha contra Saga e que Saori não sabia para onde havia ido. Ele bem sabia que Marin só se ausentava por ocasiões mais do que importantes, como havia sido quando deixou-os na praia para descobrir sobre o segredo do Camerlengo. Seiya cogitou que, em algum momento, ela teria parte naquela trama toda.

— Era aqui que você apanhava, Seiya? — perguntou uma voz ardida do seu lado direito, da qual ele imediatamente adivinhou o dono.

— Oi, Jabu. — cumprimentou ele, lacônico, como quem já se prepara para suportar os chistes do garoto. — Sim, mas agora eu apanho em qualquer lugar.

Riram todos, mas Jabu se recompôs.

— Até que não é mal. — disse Jabu, avaliando a Arena com a mão na cintura. — Parece mesmo um lugar em que se treinaria um Cavaleiro como você, Seiya.

O garoto olhou para Jabu e encontrou um sorriso desafiador no rosto dele, que lhe estendeu a mão.

— Muito obrigado por ter cuidado dela. — falou ele.

Seiya cumprimentou-o, um pouco surpreso daquela aparente humildade de Jabu.

— Ouvi dizer que vocês trouxeram novas Armaduras do exterior.

— Sim, eu e o Jabu voltamos com algumas Armaduras perdidas na Mongólia. — falou Ichi.

— Jack, Nachi e Ban também retornarão em breve com outras Armaduras. — complementou Jabu.

— Vamos acabar com o exército de Hades!

— Esse é o espírito, Hidra. — comentou Hyoga, aproximando-se deles.

O grupo inteiro parecia chegar para junto de Seiya, Jabu e Ichi: Hyoga adiante, mas Shun, Shiryu e até mesmo June vinham atrás, seguidas por uma criancinha que Seiya não conhecia muito bem, mas que era a técnica que cuidou do aparato hospitalar de Mu: seu nome era Lunara. Sentaram-se todos ao redor de Seiya, um degrau acima ou abaixo, pois a Arena dispersou-se dos muitos aspirantes que treinavam para ficar totalmente vazia.

A cerimônia estava para começar.

Seiya cutucou levemente seu amigo Shun na perna e apontou alguns andares acima para Ikki, que os observava; ela sorriu para o irmão e para Seiya e ficou sozinha olhando a cerimônia se desenrolar. A Arena recebeu, como sempre fazia, alguns curiosos de Rodório, que adoravam se acotovelar na Arena para ver os treinos e, principalmente naquela ocasião importante, testemunhar a ascenção de Cavaleiros, que era sempre um evento especial. Aquele lado inteiro dos assentos, em que Seiya sentava-se com seus amigos, estava cheio.

Era um dia especial, pois a Deusa Atena estaria entre eles.

Do outro lado da Arena, em uma espécie de platô absolutamente vazio, havia apenas duas Urnas de Armadura de Bronze repousadas dos lados extremos. E subindo as escadas, revelando-se para a plateia, finalmente surgiu a figura de Mayura, sentada em sua cadeira de rodas, com uma batina branca e um elmo de ouro na cabeça. Vinha seguida por Alice que a empurrava, trajando um vestido branco muito bonito. Assim que as duas colocaram-se lado-a-lado, Saori surgiu caminhando com seu báculo de ouro, também trajada magnificamente com um vestido brando, preso na cintura por um maravilhoso cinturão dourado, repousando feito uma estátua belíssima acima das duas. Ao seu lado, Seiya pôde notar as diversas interjeições surpresas dos presentes com a revelação de Atena; eles, tão acostumados a vê-la passear feito uma menina por Rodório, agora a viam com seu esplendor divino.

A contemplação maravilhada foi interrompida por Shaina, que surgiu no piso da Arena, onde Seiya havia apanhado tanto, de fato, e ajoelhou-se diante daquela comitiva divina. E quando levantou-se novamente, olhou para a plateia, onde Seiya estava sentado, e seus olhos, sempre furiosos, acenaram para duas figuras que também adentraram a Arena, diante de Mayura e a Deusa Atena. Seiya reconhecia os dois.

A voz grave de Mayura os saudou.

— A Deusa Atena reconheceu Shinato e Mirai como seus Santos Cavaleiros. E como é de justiça, eu lhes entrego as Sagradas Armaduras de Bronze!

Os Cosmos bonitos dos dois Cavaleiros de Bronze brilharam naquela Arena, ressoando com as duas Urnas que estavam nas extremidades daquele platô, fazendo com que elas se abrissem elegantemente e surgissem as figuras mitológicas do que parecia ser uma pequena lebre, bem como um felino.

— O Santuário saúda a ascenção de Shinato de Lince e Mirai de Lebre.

As Armaduras abandonaram sua forma mitológica para revestirem os corpos dos jovens que estavam diante de Atena. Ali nasciam dois novos Cavaleiros de Bronze para a ordem.

A plateia comum da Arena vibrou como se os dois jovens houvessem feito um tento a favor de seu time de futebol; palmas, vivas, urras e uma grande ovação tomou conta da plateia até que Shaina mandou todos calarem a boca. Afinal, havia ainda o mais importante.

A voz de Mayura novamente soou quando fez-se silêncio pela Arena.

— Desde a antiguidade, os Cavaleiros protegem Atena e lutam pela justiça e a Sagrada Armadura também só deve ser usada a serviço da justiça. — sua voz ficou ainda mais grave e ameaçadora. — Vocês jamais devem usá-las em causa própria, atendendo às suas ambições pessoais. Se vocês derem as costas a esse juramento e macularem a Armadura, não só os Cavaleiros aqui presentes na Grécia como todos aqueles ao redor do Mundo irão atrás de vocês para executá-los. Shinato, Mirai, nunca se esqueçam disso.

Seiya olhou ao seu lado para Shun e então para Hyoga, pois em seus pensamentos ele sabia plenamente o quanto aquilo era verdade.

Enquanto Shaina escoltava a plateia de Rodório de volta para a cidade, Shinato e Mirai, com suas bonitas Armaduras de Bronze, foram saudados por Seiya e seus amigos, que invadiram a Arena para cumprimentá-los pelo feito. 

— Xiaoling teria ficado muito orgulhosa de vocês. — falou Seiya para eles.

— É verdade. — concordou Mirai. — Acho que se ela não fosse tão teimosa, eu mesmo não teria continuado a me esforçar tanto.

— Pois todo o esforço agora está sendo reconhecido. — falou a voz grave de Mayura atrás deles.

— Mestre Mayura. — começou Shinato. — Muito obrigada por tudo, Mestre.

Ela apenas assentiu com a cabeça e, ao lado dela, Saori sorria para os dois novos Cavaleiros de Bronze.

— Parabéns, Shinato, Mirai. — começou ela. — Eu lembro de Alice me contar o quanto vocês eram rigorosos no treinamento delas. Tenho certeza de que serão grandes Cavaleiros.

— Obrigado, Atena. — respondeu Shinato.

Saori então virou-se para Jabu e para Ichi.

— Jabu, é ótimo te ver novamente. Muito obrigada por ter trazido as Armaduras. — começou ela, mas Jabu sentiu-se invadido por um constrangimento enorme.

E jogou-se no chão, ajoelhando-se diante de Atena, mas ao perceber que Ichi continuava com sua cara de tonto e de pé, ele o puxou para baixo também.

— Às suas ordens sempre, Deusa Atena. — falou Jabu.

Saori ri de Jabu levemente e pede que ele se levante.

— Agora é só ela montar. — falou Seiya baixinho para Shun, que o cutucou no estômago.

— Tivemos a sorte de visitar lugares incríveis pelo Mundo. — falou Jabu.

— E os outros ainda estão por aí. Tem mais por vir! — anunciou Ichi.

A tarde era agradável e o clima amistoso entre aqueles jovens que ainda não passavam de crianças, mas agora pareciam cheios de honrarias e ritos para seguir, como se fossem velhos como lendas. O sorriso no rosto e a leveza no peito de cada um, no entanto, eram reconfortantes para os dias duros e pesados que haviam passado.

— Xi, olha a encrenca chegando. — anunciou Ichi ao ver Shaina retornar, depois de ter escoltado o público para fora dali.

Shaina caminhou até eles, que viraram-se para ela; seus passos eram sempre duros na pedra e Seiya notou como ela havia pintado seu rosto como fazia antigamente; seus olhos fugiram dos dele por um breve instante e ela chamou por seus nomes, como um professor que certifica-se de que seus alunos estavam presentes.

— Hidra e Unicórnio, preparem-se para partir o quanto antes; irão para o Oriente. Lince e Lebre, seus destinos serão na África, para buscarem mais Armaduras no continente. Cisne, você é esperado na Casa de Aquário. Dragão em Capricórnio, Andrômeda na Casa de Libra e Fênix na Casa de Virgem. — finalizou ela.

E quando acabou a chamada, Seiya achou estranho.

— Ei! — chamou ele a atenção da garota. — E eu?

— Você é aguardado no cais. — anunciou ela.

— No cais? — perguntou ele, sem entender nada.

Seiya e Shun entreolharam-se, sem compreender muito bem o que tudo aquilo significava, mas precisavam confiar naquela Mestre de Armas de que tudo tinha um propósito. E assim a tarde se dispersou com muitas despedidas, desejos de boa-sorte e cada um rumando para um lado. Seiya viu, com o peito pesado, como seus amigos Shun, Hyoga, Shiryu e Ikki partiram juntos para a enorme montanha das Doze Casas enquanto ele teria de voltar para Rodório, onde ficava o cais do Santuário.

 

—/-

 

Com a ajuda de Miro, Nicol acabou por encontrar um mapa detalhado de Camus para o Caminho do Norte, uma trilha descrita como terrível e escondida nos picos do Norte da Europa. No dia anterior à partida do Galeão, todos despediram-se de Hyoga, que do Santuário partiria direto para Asgard para aguardá-los chegar de navio dali a alguns meses. Junto dele, Shaina destacou o Cavaleiro de Prata de Corvo, Jamian, que chorava toda vez que via-se na presença de Saori. Ele ajoelhava-se no chão, buscava beijar seus pés, era uma cena imensa, mas ele realmente sentia-se muito culpado por tê-la sequestrado. 

Fosse como fosse, partiram.

E no dia seguinte, ao lado de Alice, Saori desceu a Rodório, para a alegria de muitas crianças que dançavam ao seu redor e brincavam entre si. Ela atravessou a praça principal até a ponta do vilarejo em que dava para o Mar Egeu, de onde veria partir o Galeão de Atena com um enorme pedaço de seu coração.

— Está se sentindo bem? — perguntou Alice ao ver os olhos doloridos de Saori.

— Tudo que ele mais queria era ir atrás da irmã, e agora precisa partir em mais outra batalha.

No mar, para alegria de muitos ao redor, mas para tristeza de Saori, o Galeão de Atena finalmente surgiu de dentro de uma caverna, tremeluzindo suas bonitas velas. Ele não era enorme feito um galeão de guerra, mas menor e mais veloz. Ainda assim, muito bonito de se ver navegar para o sol.

O Galeão de Atena, uma vez descoberto, passou por sete dias e noites de reparos nas mãos habilidosas de artífices do Santuário, que deram-lhe novas tábuas e acabamento, velas novas e compartimentos mais bem equipados. Ao fim da semana de reparos, os artífices, ainda dentro da caverna em embarcações menores, viram com muita alegria como o pequeno Galeão içou âncora para ganhar a profundidade do Mar Egeu. No topo da montanha, Saori, Alice, Mayura e Shaina viram surgir lá embaixo no mar o Galeão que carregava suas esperanças para selar as Sete Relíquias dos Mares.

No tombadilho do lindo navio, Seiya estava atrás do leme quando escutou a voz dura de Geist anunciar pela embarcação.

— Capitão na ponte!

O Capitão era um homem robusto, não vestia chapéu algum, mas trazia um sobretudo azul marinho maravilhoso, com uma insígnia que era uma réplica elegante em ouro do báculo de Atena. O nariz endurecido pelo tempo e um olho de vidro claro e branco. Ele sorriu para Geist e colocou sua enorme mão no seu ombro.

— Que honra servir ao seu lado, Geist de Argo! — anunciou ele, poderosamente. — Eu não poderia ter uma imediato melhor.

— Estarei aqui para o que precisar, Capitão. — repetiu ela, muito seriamente.

— Rá! Esse navio vai pro mar ou vai pro ar, Seiya, meu timoneiro? 

— Pra onde ordenar, Capitão. — respondeu ele, seríssimo.

— Quero só ver se essa semana foi mesmo suficiente pra você estar em forma. Cadê minha engenheira-navegadora? — falou ele, tirando do seu sobretudo um maravilhoso binóculo todo de ouro antigo, que podia ser ampliado ainda mais ao recolher uma das lentes para virar uma bonita luneta.

— Se apresentando, meu Capitão!

— Tome lá, Lunara. — disse ele, dando-lhe a luneta de ouro e abraçando a pequena, maravilhada com o presente. — Vai me dar toda a velocidade que eu precisar?

— Velocidade é comigo mesmo, Capitão!

— Então suba naquele cesto da gávea e não nos deixe perder nada!

— Deixa comigo!

Lunara pulou sentada em um banco que rapidamente subiu para o topo do mastro principal, feito um elevador, que ela mesmo havia instalado muito habilmente. E com os olhos metidos na luneta, já gritou a plenos pulmões.

— Terra à vista!

— Esse é o espírito! — animou-se o capitão.

Do alto do cesto da gávea, a pequena e muito jovem Lunara, exímia artífice, que antes já havia sido mestre de armas dos Cavaleiros Negros e também aprendeu segredos incríveis em Jamiel, serviria àquela tripulação controlando o desfraldar e angulação das velas, bem como toda a navegação do Galeão.

O Capitão segurou no parapeito e sentiu o navio ganhar velocidade no Mar Egeu, respirou aquela brisa salgada com alegria e olhou para sua tripulação do lado direito, encontrando a oficial-médica com o rosto amarradíssimo.

— Você foi indicação pessoal da Mestre Mu; está pronta para ser a médica-oficial dessa empreitada?

— Não vamos durar um dia. — respondeu June, muito preocupada.

— Por isso que está aqui, para garantir que retornemos a esse porto depois de cruzar os Sete Mares em segurança.

— Eu já posso ver ao menos quatro tripulantes com o rosto verde.

O Capitão ignorou a oficial-médica e adiantou-se no parapeito da ponte, de onde viu descer com rapidez a figura pequena da engenheira do cesto da gávea. E, como um relógio, ela alinhou as velas da forma como deveriam ser e desfraldou-as para que o Galeão ganhasse ainda mais velocidade.

— As velas estão todas desfraldadas e estamos a plena velocidade, Capitão! — anunciou a engenheira, voltando para seu lado como se voasse.

— Muito bem, Lunara. — ele olhou para o lado e viu Seiya muito sério, com o rosto e o timão firmes. — Estamos prontos, timoneiro?

— Sempre, Capitão Kaire!

— Então é com imenso prazer que o Capitão Meko Kaire do Galeão de Atena declara iniciada essa viagem ao redor do Mundo! Estão comigo?

— Sim, Capitão! — responderam todos.

— Então vamos adiante selar Poseidon nos seus Sete Mares. Por Atena!

E o Galeão de Atena ganhou velocidade e partiu para uma grande aventura ao redor dos Sete Mares. O espírito era o melhor possível entre aqueles cinco marujos. Embora fossem totalmente estranhos uns aos outros, foram escolhidos a dedo pelo Capitão Kaire, de modo que aquilo lhes dava alguma esperança em cruzar os Sete Mares e cumprir com aquela dificílima tarefa.

— Terra à vista! — gritou Lunara novamente, balançando o sino loucamente do seu cesto.

— Essa é a Grécia! — gritou June lá de baixo, um pouco impaciente.

Olhou para o seu lado e Meko tinha um sorriso no rosto, pois com o coração leve e o estômago gelado pela brisa do mar, todos eles de certa forma sentiram-se renovados quando deixaram os rochedos da Grécia para trás e viram diante de si a imensidão o Mar Egeu. O Capitão Meko Kaire era conhecido em Rodório por Moisés, que era o que se dava com os estrangeiros que ali chegavam e ganhavam novos nomes pela população local; mas era no mar que ele existia de verdade, era no mar que estava o seu coração, e no mar o conheciam por Meko Kaire, o Capitão.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: As tensões no Conselho de Atena, eu confesso que me baseei naquelas reuniões bizarras de Evangelion da SEELE, haha. Fazer Shinato e Mirai ascenderem foi um momento para unir à todos. E finalmente a escolha da tripulação foi para trazer personagens pouco aproveitados. Meko (Moisés) vai pro mar, já que ele já era claramente um personagem muito afeito ao mar, então quis fazer dele um Capitão respeitado usando seu nome de criação. Geist também é uma escolha óbvia. June, desde o arco do Santuário, eu já havia plantado a ideia de que ela aprenderia coisas em Jamiel e seria uma adição legal. Lunara também já havia sido apresentada como uma engenheira muito habilidosa, enquanto Seiya é o protagonista. Ele precisa estar junto né.

PRÓXIMO CAPÍTULO: A ILHA DOS PEQUENOS

Com metade da tripulação passando mal em alto-mar, June e Meko entram em conflito sobre o sucesso da missão, mas precisam se unir para conseguir mais mantimentos em uma ilha aparentemente abandonada.



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