Desaparecendo escrita por Dama das Estrelas
Notas iniciais do capítulo
Parece que estamos nos vendo aqui de novo, mas eu JURO que é pra terminar de vez com essa história, sério! Eu não planejava mesmo esse capítulo, mas achei-me no dever de complementar a história em geral para os interessados.
Boa leitura!
Domingo.
Numa sala de reuniões quase vazia, três pessoas ajuntaram-se para definir o rumo de um projeto fracassado. Eram dois homens e uma mulher. O mais importante era um general; cabelos raspados, rosto obtuso e semblante carrancudo. Gostava de falar pouco, ser objetivo, mas nos últimos meses tem proferido os mais diversos discursos, recheados de impropérios.
A mulher negra de olhos escuros, rosto alongado e cabelos crespos cortados rente ao pescoço trabalhava como chefe do gabinete de segurança nacional, subordinado à presidência. Com um relatório em mãos, passou os olhos sobre os arquivos com um semblante incrédulo. Já leu aquele dossiê por várias vezes e mesmo assim não conseguia de fato acreditar que tudo aquilo aconteceu. Um trabalho de amador.
Já o outro homem branco também era um militar com uma patente mais baixa. Era de estatura mediana, calvo e de olhos fundos. O semblante era quase tão intimidador quanto o do general, mas já passara do tempo de seu “reinado de terror” nos tempos de operações. A aparência cansada era o retrato de anos na ativa. Trocou a guerra pela ciência e no momento era um dos responsáveis pelo tal projeto.
— Impossível continuar com isso. O projeto foi um fracasso — disse a chefe de gabinete.
— Não gastamos milhões, bilhões de dólares para isso ser jogado no lixo — ponderou o general, apesar de concordar que o projeto saiu muito aquém do que imaginaram.
— Perdemos vidas demais! — O cientista subiu levemente o tom. — Gente da minha equipe, seus soldados, e mais um pouco seriam pedaços meus a serem catados por aí! — O cientista protestou. — Até hoje não encontramos ele, por Deus!
— A perda dele, infelizmente, já era uma possibilidade quase certa. — A mulher rebateu. — Ele se voluntariou para o projeto e tinha total noção dos riscos. Agora sua família pode ao menos viver num lugar decente com uma indenização de cinco milhões.
— Como você tem a coragem de falar desse jeito?! Acha que ele era um ratinho de laboratório? — O cientista rebateu exaltado.
— Pra você ele era, sim. — Ela retrucou sem pestanejar. — Ou acha que eu não sei que você pressionou ele a fundo para continuar?
A pequena discussão se encerrou bruscamente quando ambos ouviram um forte estrondo vindo da mesa. Foi o general quem bateu na superfície com punho em riste. Ao ganhar a atenção de ambos, ele passou a mão pelo rosto e então tamborilou com os nós dos dedos na mesa.
— Não acharam ele no meio daqueles escombros, não vão achá-lo mais. Ele sumiu. Nesse momento ninguém é mais importante que isso aqui, nem o presidente! — O general resmungou. — Essa merda de bagunça daqui a pouco vai custar mais caro que o projeto. Eu não aceito manchar meu nome com um fracasso desse, e nem vocês deviam aceitar.
Silêncio na sala. Os ânimos pareciam ter se esfriado por enquanto.
— Já tivemos outros fracassos na história desse país que foram varridos pra debaixo do tapete. Esse não seria o primeiro. — A chefe de gabinete sugeriu. Claro que o sucesso de um projeto ambicioso como aquele - se tivesse êxito e fosse revelado no momento certo - alavancaria a popularidade do presidente e garantiria uma dinastia política por muito, muito tempo. Mas haviam seus riscos: um outro erro daquele custaria muito caro para todos ali.
— Aquele orçamento não pode ter sido jogado no lixo e você sabe muito bem. Eu já falei e falo de novo. — Incisivo, o general gesticulou com a mão esquerda. — Nós não estamos falando sobre mais uma bomba nuclear, estamos falando de algo que vai nos fazer acabar com qualquer guerra. Nós chegamos perto.
Ao ouvir aquilo a mulher emitiu um ruído exaltado.
— Podemos tirar algo disso e fazer melhor — insistiu o oficial.
— Eu não sei. — O cientista parecia receoso. — Tivemos mais erros que algum acerto pra tirar disso tudo. E não podemos usar a base de Nevada para outro teste, é muito arriscado — alertou.
— Os estudos já foram concluídos? — A chefe de gabinete perguntou a ele.
— Não, ainda não. Mas já temos nossas suspeitas sobre uma correlação entre aquela explosão e uma possível anomalia.
— Eu quero esses estudos concluídos para ontem — ordenou o general, sendo apoiado pela funcionária do governo. — Ao menor sinal de anormalidade nós três aqui seremos os primeiros a saber.
— Sim, senhor. — O agora cientista respondeu por entredentes, mantendo o costume da hierarquia.
O general se levantou da mesa decidido.
— Mesmo lugar e mesma hora daqui a três semanas.
— É muito pouco tempo de intervalo — protestou ela.
— Tem que ser assim. Se possível, quero nessa mesa os rascunhos do próximo passo. Todos nós aqui estamos de acordo que a segurança dos nossos pescoços depende do Projeto Hermes.
O cientista e a chefe de gabinete trocaram olhares conflituosos, mas não se opuseram ao que o general declarou.
— O progresso tem seu preço.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Para essa fic aqui eu digo agora com toda certeza que é um adeus. Agradeço a todos que leram e espero que tenham curtido a história. Foi um ano muito louco e confesso que "Desaparecendo" vai ficar guardada na memória por todo o significado que ela me trouxe.
Eu acho que é isso então. Nos vemos em breve? Quem sabe.