Até meu último dia escrita por NatynhaNachan


Capítulo 9
Cap 9 - Ataque


Notas iniciais do capítulo

Um aluno apaixonado pela professora.
Uma declaração violenta e nada romântica.
Um Kenshin com espírito assassino provocado....
Acompanhem e boa leitura!



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Após o retorno dos dias de passeio a normalidade voltava ao dojo Kamyia; Yahiko com seus treinos extra, Kenshin auxiliando com as mais variadas tarefas domésticas  e Kaoru continuava competentemente ensinando o estilo de sua família aos aprendizes, que haviam crescido substancialmente em número; havia sido necessário inclusive implementar um novo horário de atendimento para que o espaço fosse apropriado para tantos novos alunos.

—Então, como é lidar com tanto sucesso? - Kenshin acabava de estender algumas roupas no varal, encontrando Kaoru em sua pausa para água no caminho. - Não me lembro de ver o dojo assim tão cheio antes. - Ele olhava em volta  com um sorriso discreto, feliz em ver os alunos treinando diligentemente, com Yahiko sob o comando  temporário da turma, como o mais velho da sala.

— Sinceramente, acho que somente nos tempos de minha infância lembro de algo parecido. - Ela sorria largamente, olhando para seus pupilos na sala, como que os admirando. - Eu não tenho do que reclamar, só agradecer. - Ela pegou a mão do samurai , alisou levemente como que com uma confidência apaixonada no olhar, e foi apressada para a cozinha buscar sua água.

Kenshin a olhava sair de seu alcance com um sorriso pendente em seus lábios pelo carinho que havia acabado de receber enquanto retomava seu cesto de roupas agora já vazio.

Um rompante de ki agressivo.

Se virou rapidamente e notou um rapaz que viria no próximo horário de turma alguns passos distantes, em seu flanco esquerdo. Ryotaro, o aluno “distraído” do dojo.

Kenshin o olhou diretamente, meneando minimamente a cabeça em sinal de tê-lo notado ali.

O rapaz, por sua vez,  encarava o ruivo sem disfarçar suas expressões nada amigáveis; baixou milimetricamente o topo de sua cabeça, não fazendo questão de exibir um gesto perfeitamente respeitoso.

Kenshin continuou a observá-lo mais alguns segundos e notou Kaoru voltando para a sala de treino, passando por ele e o tocando novamente, agora em seu ombro no caminho de volta. Kenshin afagou a mão dela mais uma vez e prestou atenção em Ryotaro.

Distúrbio de ki, muito mais contido.

Ryotaro, vendo Kaoru olhar em sua direção , curvou a cabeça muito respeitosamente para baixo, exibindo um atraente sorriso. Kaoru sorriu rapidamente, meneou a cabeça levemente, apressada e o perdeu de vista.

“Interessante” . Kenshin se ocupou em adentrar os aposentos e guardar alguns pertences enquanto se atentava a qualquer outro sinal de perturbação.

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Foi no começo do anoitecer em que Ryotaro, o admirador de Kaoru, ficou para trás, guardando lentamente sua espada de bambu, observando seus colegas irem embora; agora ele estava sozinho com a instrutora.

— Pois não, Ryotaro? – Ela apoiava as mãos na cintura, atenta.  – Alguma dúvida?

— Bom é que eu pensei que talvez fosse possível fazer uma aula extra agora, só nós dois... – O rapaz tinha a mesma idade de Kaoru; seus olhos castanhos se fechavam num olhar malicioso nesse instante, enquanto se aproximava dela aos poucos. 

O porte físico dele era mais desenvolvido do que o restante dos alunos da turma;  mais alto que ela , que batia na altura de seus ombros.

— A senhorita sabe que minha concentração às vezes foge...- Um meio sorriso de canto de lábios preencheu o rosto dele, que já se encontrava bem ao lado dela, a encarando com expectativa.

— Desculpe, não dou aulas extra, Ryotaro; todas as correções foram feitas com o restante da turma. – Um baque se ouviu enquanto ela colocava a última espada de bambu no lugar. – Creio que sua distração continua a ser sua inimiga, porém já melhorou em comparação às suas aulas iniciais. – Ela continuou a ajeitar o local rapidamente, ele em seu encalço. – Posso tentar ficar mais atenta à seus movimentos na próxima . – Ela já partia para a porta, fazendo sinal para que ele a seguisse, saindo do dojo.

Ambos se viraram para o salão já vazio e se curvaram em respeito à arte marcial antes de dar as costas e sair rumo ao amplo quintal. Se voltaram um ao outro afim de continuar a conversa.

— Bem, se é só isso, boa noite... – Kaoru sorriu amigavelmente enquanto sentiu algo se aproximando de sua face enquanto sentia Ryotaro  puxá-la pelo braço em direção a si mesmo; a Kamyia desviou automaticamente, cobria seu rosto com braço arqueado, cotovelo para cima.

Parecia que Ryotaro havia abandonado seus receios e tentado beijar uma Kaoru de olhos agora semi-arregalados.

O rapaz emitia grunhidos de dor; a cotovelada havia atingido a bela face dele.

— Mas que diabos há de errado com você? – Ele limpava o sangue escorrendo do canto de sua boca. – Nunca te passou pela cabeça que você é minha distração? – Ele agora alteava a voz e cobria a distância entre os dois , chegando perigosamente perto. – Sempre foi culpa sua, desde o primeiro dia! – A ânsia no olhar dele havia feito Kaoru se recolher em posição defensiva, se afastando alguns passos.

— Eu não tenho culpa de absolutamente nada. – Ela o examinou de cima a baixo, pois o estado dele estava alterado. – Nunca te encorajei em qualquer....

— Nunca!  – O volume de sua voz aumentou, a interrompendo . – Como ousou nunca me dar sequer uma chance? – A cólera dele era visível agora. - Apesar de minhas gentilezas e elogios, de minhas tentativas de presenteá-la com o bom e o melhor... – Ele tentava estancar o sangue que ainda escorria do seu nariz e do canto de sua boca.

— Jamais aceitaria presentes de alunos, ainda mais dos alunos com segundas intenções. – Kaoru endireitou os ombros e cruzou os braços na frente do peito. – Não sou um bem a ser trocado por objetos caros. – Os olhos dela brilhavam com raiva neste ponto.

— Pois não se preocupe, irei embora.- Ele arrumou-se em uma postura ereta novamente. – Mas não antes de lhe mostrar o que está perdendo. - Foi de súbito que ele conseguiu agarrar o braço dela, de uma forma que Kaoru não conseguiu se desvencilhar.

Logo surgiu uma lufada de vento de cabelos vermelhos; estava entre Kaoru e Ryotaro, fazendo o braço do último ceder, com um barulho que lembrava muito o de ossos quebrando.

O aluno só conseguiu emitir um berro de dor como resposta.

— Não saber respeitar minimamente alguém que você diz gostar tanto... – Kenshin estava a dois passos dele. – ...Você queria somente possuí-la; espero que nenhuma outra pessoa tenha o infortúnio de ser seu alvo. – O olhar gélido do ex-battoussai fez com que seu interlocutor recuasse mais dois passos. – Esqueça esse dojo, e nunca mais se aproxime de Kaoru. - O olhar estreito não deixava de encarar o rapaz mais jovem.

— E quem é você para dizer algo sobre ela? - A expressão de dor do rapaz o tornava mais feroz. - Nada além de um ex-assassino sem honra,  um mendigo que vive de favor na casa de uma moça solteira e se aproveita da hospitalidade dela como uma sanguessuga! - Ryotaro segurava o braço mas parecia não dar mais importância para suas condições físicas. - Como sequer ousa tocá-la? - Se aproximou um passo a mais.

Kaoru estalou os olhos ao ver a postura defensiva de Kenshin se armando.

—Como ousa olhar para ela como se pudesse ser algo importante ? - O aluno continuava a se aproximar sem reservas, já muito próximo de Kenshin. - E o que você pode oferecer a ela que eu não posso? - E encarou o ex-hitokiri com expressão de nojo.

A postura de Kenshin não mudou. Nenhum fio de voz foi emitido. Cada fibra do corpo dele enrijecia.

—Nunca quis ou vou querer nada de você! - Kaoru saiu por trás de Kenshin. - Muito menos sua presença em meu dojo ou em minha vida; trate de se recompor e saia já daqui para nunca mais voltar. - O olhar de fúria de Kaoru afetou o rapaz. - Sua arrogância e prepotência não tem nenhuma relação com nosso estilo Kamyia Kasshin. Você está oficialmente desligado de nosso dojo. - E puxou a espada de madeira dele num movimento ríspido.

Ryotaro não havia soltado a espada de bambu totalmente,  conseguiu evitar que o objeto deixasse suas mãos ao puxá-la de volta;  levantou o objeto acima de sua cabeça e , num rompante de fúria colérica , partiu para cima da moça desarmada, que via a distância entre seu rosto e a madeira diminuir a cada segundo.

Um barulho metálico cortou o ar, uma espada de bambu cortada ao meio caiu ao chão.

—Um ato da mais pura  covardia para alguém que se acha tão superior a todos à sua volta. - O olhar de Kenshin pousou nele, o dourado apareceu em seus olhos; a mão apertando a bainha da Sakabatou . - Não me importaria em quebrar mais alguns ossos seus… - O sibilo de voz dele fez com que Ryotaro se apressasse em se afastar. - Mas eu, ao  contrário de você,  aprendi com a vida e hoje sei qual o melhor caminho para mim. - Kenshin reassumiu a postura ereta, ainda encarando o rapaz e agora dando vagarosos passos à frente, procurando diminuir a distância. - Não se atreva a voltar, moleque insolente. - Uma raiva contida na voz de Kenshin era perceptível, ao que Kaoru se preocupou e foi até as costas de seu par, afagando-o e puxando-o levemente para trás.

Ryotaro recuou como um animal assustado, voltou-se de costas e saiu correndo portão afora, segurando um braço aparentemente inválido contra seu próprio peito.

Kaoru se aproximou ainda mais de Kenshin; notou a mão dele tremendo um pouco.

— Kenshin, de onde você veio? – Ela vislumbrou a posição de semi-guarda dele, mão pronta para sacar a espada. –  Sua mão... – Ela buscou alcançar a mão dele, preocupada ao ver o quão trêmula estava.

— Me deixei sentir ódio do que ele podia ter feito com você ao pegar seu braço daquele jeito. – Ele se voltou para a moça e puxou a manga do traje de treino dela, querendo verificar o braço; um vergão já começava a inchar.Ele suspirou fundo, olhando para o portão, como que se segurando para não sair correndo atrás de Ryotaro naquele instante. – Talvez eu devesse ter feito mais do que quebrar um braço dele...

— Alguns dias e isso vai ser só um borrão. – Ela deslizou a manga para baixo, se controlando para não fazer nenhuma expressão de dor; seus lábios num sorriso amarelo. – Você sabe que sou uma honrada instrutora de kenjutsu, isso jamais poderia me abalar. – Ela fez sua pose forte e riu baixo. – Obrigada por aparecer para me ajudar, Kenshin. – Ela retomou a mão dele, agora já estável, na sua.

— Teria sido melhor se eu tivesse chegado mais rápido. - Ele suspirou , a olhando com uma face ligeiramente consternada. 

Ânimos mais calmos , Kaoru havia se dirigido para o banho, ocasião em que se permitiu vislumbrar melhor o vergão, que já deixava a região consideravelmente inchada. Deu um muxoxo de raiva. “Porque raios não consegui me soltar daquele traste? Tenho que ainda ficar dando trabalho pro Kenshin? Francamente…”

—Kaoru . - Kenshin do lado de fora da casa de banho a chamava pela janela. - O jantar está quase pronto. - Ele se aproximou da abertura lateral da casa de banho para não precisar falar alto.

Ela colocou a cabeça para fora , o avistando.

—Obrigada por avisar. - Ela sorriu ternamente para ele.

— Me deixe entrar , sim? - Ele apontou para a porta, quase já saindo para o local.

Ela piscou duas vezes, boquiaberta.

—Como assim? - Ela sentiu os calores no rosto piorando. - Aqui, agora?

Ele a olhou com impaciência no olhar, voltando a ficar mais próximo da janela.

—Sim, qual o problema? - Ele levantou os ombros, sem entender, os olhos lilás genuinamente confusos.

—Kenshin, o Yahiko está em casa, nós estamos aqui num ambiente familiar e você quer entrar comigo aqui dentro e começar de novo a tentar fazer coisas e…-O canhão de palavras de Kaoru não parava, em cochichos raivosos e desesperados.

— Tentar fazer que coisas? - Ele riu devagar. - Então foi isso que veio à sua mente? - Ele cruzou os braços na frente de si mesmo. - Bom, já sei que alguém tem uma fantasia a realizar no ofurô - Ele chegou mais perto da janela, rostos quase grudados. - Podemos dar um jeito nisso quando quiser, minha Kaoru. - O tom baixo da voz dele fez com que o rosto da moça ficasse roxo.

Ela precisou retomar o fôlego para renovar o tom de bronca.

—Então, porque raios você quer entrar aqui comigo tomando banho? - Ela parecia ainda mais furiosa.

—Para ver como está seu braço. - Ele apontou para dentro. - O banho pode ser um momento para começar a retomar a circulação do sangue e conseguir curar mais rapidamente o vergão. - Ele dizia calmamente , como se falasse algo óbvio. - Mas como você não quer, te espero aqui fora. - Ele ergueu-se , a encarou, surrupiou um beijo das lábios dela e se afastou. - Até logo mais então, meu amor. - E alisou a face dela, logo se afastando com passos calmos.

Dentro do ofurô Kaoru voltou a se deitar vagarosamente, desejando que sua cabeça sempre se recordasse da primeira vez em que Kenshin a havia chamado de “seu amor”.


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Notas finais do capítulo

Ah esse Kenshin querendo ajudar uma Kaoru com pensamentos impuros, quem diria!
Próximo e último capítulo à vista!
Ótima semana e até :)



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