Sentença de Vida escrita por Vinefrost


Capítulo 1
Prólogo: O Plano




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Remexo os bolsos do sobretudo em busca do meu fiel escudeiro, o gravador de voz que ganhei da minha mãe como um presente simbólico assim que iniciei o curso de jornalismo. Preciso registrar os meus passos e sentir que não estou tão sozinha. Assim que o acho, respiro fundo e começo meu relato: 

Não podia ser a pior noite possível, o tempo está instável, relâmpagos e trovões são constantes no céu, um prelúdio para o temporal que está chegando. Mas o clima não me incomoda mais do que o plano que estou prestes a executar, é para um bem maior, repito em minha mente. A verdade tem que ser revelada, o governo não pode esconder tais efeitos colaterais da população, não quando a solução não é mais uma fonte de alívio e segurança, mas também parte do problema. E eu, Alexa Ferreira, jornalista freelancer, irei expor essa conspiração. 

Este é um plano complexo e perigoso, poderia colocar em risco a minha vida e de pessoas próximas a mim. No entanto, não me importava mais. Não quando os boatos começaram a surgir, muito menos quando comecei a investigar, e principalmente, quando a minha fonte sumiu misteriosamente do mapa. E eu preciso dela, preciso de Carolina. É errado, mas nossa relação acabou ultrapassando as barreiras do profissional e evoluiu para outra coisa, algo que ambas estávamos relutantes em admitir com nossas vidas em risco. 

Semanas de investigação me trouxeram exatamente para este local, um beco no centro da cidade geralmente usado por garotas de programa e drogados, mas também, pelo famoso assassino em série Carnificina. É nessa região que ele sequestrava suas vítimas, levava para o seu matadouro e as fatiava até a morte. Cortava membro por membro enquanto ainda estavam vivas, após a tortura, largava o resto em algum ponto turístico da cidade, onde as remonta como peças de um quebra-cabeça doentio. 

Me encolho o máximo que posso dentro do casaco tentando me esconder do vento, o inverno de Curitiba está próximo, sinto o sopro gélido passar por entre o tecido e tremo ao entrar em contato com a minha pele. Assim que minhas mãos deixam de tremer, reinicio minha fala: 

Por baixo do casaco uso um vestido minúsculo e decotado, sapatos de salto alto e maquiagem exagerada. Tingi meu cabelo de ruivo para me encaixar no padrão das mulheres que ele sequestra, a roupa para parecer que estou em busca de um programa. Me transformei em suas vítimas. 

Só podia estar louca, o sumiço de Carolina deve ter me afetado mais do que imaginei. É para um bem maior, mentalizo novamente. Ridículo agora, mas futuramente irei salvar as pessoas da mentira. 

Chego ao ponto em que não sei se tremo de frio ou medo, abro o sobretudo ao me apoiar na parede, em seguida acendo um cigarro enquanto aguardo ser a sua próxima vítima. Mas antes de finalizar minha gravação escondendo o aparelho num local onde possa recuperá-lo caso volte viva, completo com uma última frase:

— Carnificina não é o foco do meu plano, é apenas o começo. 

Enquanto aguardo, minha mente vagueia pelos acontecimentos recentes, pelos perigos iminentes e pelas incertezas que o futuro reserva. O frio parece penetrar em meus ossos, mas é a adrenalina que aquece meu corpo, mantendo-me alerta para qualquer movimento ao meu redor. A ansiedade cresce a cada minuto que passa, mas tento me manter firme, concentrada no propósito que me trouxe até aqui. 

Os ruídos da cidade são amplificados pelo beco deserto, pela escuridão da noite. O barulho de passos à minha volta, mesmo que distantes, aumenta minha tensão. Cada som, cada sombra, contribui para minha paranoia, mas sei que devo permanecer calma, focada em meu objetivo. É um jogo perigoso que estou jogando, mas não posso voltar atrás agora. 

Meus pensamentos se voltam para Carolina, minha fonte valiosa que desapareceu sem deixar rastros. O que aconteceu com ela? Será que descobriu algo que a colocou em perigo? Sinto uma pontada de preocupação misturada com determinação, além de carinho, enquanto penso nela. Sei que preciso encontrá-la, tanto para obter informações cruciais quanto para garantir sua segurança. 

Meus olhos percorrem o beco escuro, procurando qualquer sinal de movimento. Cada som me faz pular, cada sombra me faz estremecer. Mas não posso me deixar levar pelo medo. Preciso permanecer forte, determinada a revelar a verdade, não importa o custo. 

Finalmente, vejo uma figura emergindo das sombras. Meu coração dispara enquanto observo-a se aproximar lentamente. É ele, o alvo de minha investigação, o homem por trás dos horrores que assolam a famosa Cidade Sorriso. Meu corpo fica tenso enquanto ele se aproxima, mas resisto à vontade de fugir. É hora de agir. 

Com um nó na garganta, me preparo para enfrentar o desconhecido. Não sei o que me espera adiante, mas sei que não posso recuar agora, não apenas por Carolina, mas também pelas vítimas da farsa orquestrada pelo governo. Com a determinação renovada, avanço em direção ao meu destino incerto, pronta para encarar o que quer que apareça pela frente, pois sinto que o presente é apenas a sombra sinistra de um futuro assustador se nada for feito agora.


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