I got an itch in my throat

I don't know which way to go

Rose Weasley

Nada fazia sentido em meio ao turbilhão de sentimentos que Rose se encontrava naquele momento. Nada podia colocar sua cabeça no lugar, depois de ter ouvido tantas coisas, em tão pouco tempo, de quem ela menos esperava. Quer dizer, na verdade, ela esperava... Só preferia não alimentar esperanças quando se tratava dele.

Scorpius Malfoy parecia inalcançável para Rose durante muitos anos... E agora, ela tinha que lidar com o fato de que ele havia se declarado para ela.

E ela havia estragado tudo, ficando em choque. E assistindo ele ir para longe, provavelmente pensando o pior. Pensando que ela não se importava ou não correspondia nada do que ele tinha acabado de declarar em alto e bom som.

Afinal, eles eram amigos, certo? É óbvio que Rose tinha notado os sinais ao longo dos anos. Todos os sinais tinham a mesma direção: Scorpius Malfoy. Mas ela não tinha ideia se ele tinha notado os sinais ou de fato os correspondia. Por isso, preferiu não pensar muito sobre aquilo durante todos os anos de amizade que os dois compartilhavam.

Mas agora ela continuava ali, ainda naquele corredor, tentando racionar e lidar com aquele turbilhão de pensamentos e emoções. Tentando pensar em como consertar tudo com Scorpius. Refletindo em como ele aparentemente tinha tido muito tempo para pensar sobre tudo aquilo que tinha dito e a deixado completamente chocada e confusa, enquanto esperava alguma reação dela, em menos de cinco minutos. Ponderando em como deixar de lado aquele nó que sentia se formar em sua garganta e se deveria ir atrás do garoto naquele momento.

Mesmo confusa, Rose acabou tendo uma certeza. Uma maior que todos os seus pensamentos, questionamentos e ponderações.

Agora, ela tinha que fazer Scorpius Malfoy a escutar.

***

Rose não tinha certeza do que fazer naquele momento, mesmo tendo certeza que suas pernas estavam a levando diretamente ao Salão Comunal da Sonserina. Enquanto andava pelos longos corredores do castelo, não pôde deixar de se lembrar de tantos momentos em que ela percorreu aquele mesmo caminho com Scorpius ao seu lado. Foram anos de amizade, piadas internas e a maldita sensação que nunca passaria disso. Quando tudo tinha mudado?

Ela não tinha ideia de quando exatamente seus próprios sentimentos foram tomando forma. A ruiva sequer sabia de fato o que sentia, pois não se permitia pensar muito nisso. Afinal, ter Scorpius ao seu lado como seu amigo tinha sido o suficiente até ali. Não era o que ela secretamente desejava, é claro, mas era o suficiente. Ter o garoto em sua vida bastava, ela sabia disso.

Rose Weasley não conseguia imaginar sua vida sem a presença constante de Scorpius Malfoy ao seu lado. Rose sabia que ele tinha conhecido um lado dela que nem mesmo Albus conhecia, também sabia que ela conhecia o garoto melhor do que conhecia a si mesma.

Então por que exatamente ele tinha travado ao ouvir tudo o que ele disse? Tudo o que ela secretamente desejou ouvir por...Tanto tempo. Tanto tempo pensando nos “e se?”, tanto tempo ignorando os batimentos cardíacos acelerados, a respiração ofegante e a certeza de que tudo aquilo, todos aqueles sentimentos guardados e ignorados, nunca mudariam.

Tanto tempo desejando que Scorpius Malfoy a encarasse como mais que um ombro amigo, mas ao mesmo tempo, tanto medo de que tudo fosse passageiro e eles perdessem tudo o que já tinham construído como amigos.

Era exatamente por isso. Por isso que Rose precisava de mais que cinco minutos para absorver que seu melhor amigo tinha explodido em milhares de palavras. Por isso, Rose não conseguia sequer esboçar reações quando Scorpius Malfoy simplesmente disse que a amava.

Ele obviamente devia ter conversado com Albus em algum momento sobre... Sobre tudo. Já ela sequer cogitou admitir algo a qualquer pessoa. Nem mesmo quando ela confessou, sob muita pressão, que considerava Scorp atraente para sua prima Lily.

Estava fora de seus planos admitir a qualquer um toda a profundidade de sentimentos e pensamentos que ela tinha envolvendo seu melhor amigo. Rose sequer tinha admitido a si mesma que todos os sinais, toda a maldita tensão e nervosismo eram mais do que ela queria que fosse.

Tão perdida em pensamentos quanto antes, a ruiva só se deu conta de que tinha chegado em frente ao Salão Comunal da Sonserina quando esbarrou em um primeiranista. Ele a encarou confusa, talvez por ver uma garota da Grifinória tão longe de seu próprio Salão Comunal e bufou, sem ter ideia do que diria para Scorpius. Isso, se ele ainda quisesse a ver.

Desculpando-se com o garotinho, segurou seu ombro antes que ele pudesse se afastar dela e entrar no Salão Comunal.

— Você pode chamar Albus ou Scorpius? Eles estão no sétimo ano. Caso nenhum deles queira descer, você pode dizer que eu não vou sair daqui enquanto um deles não falar comigo. — ela sorriu, mesmo sentindo-se irritada e nervosa. Irritada com sua confusão, nervosa por ver Scorpius logo após o fiasco de conversa que tinha tido.

O garotinho assentiu, provavelmente tão nervoso quanto ela, entrando rapidamente no Salão Comunal da Sonserina. Ela tinha toda noção que parecia uma bagunça naquele momento e não tinha sido exatamente simpática com ele, mas não conseguia se concentrar nisso naquele momento.

Mordendo seu lábio inferior, Rose avaliou o que deveria dizer ao garoto. Talvez que ele era um idiota. Talvez que ele podia ter conversado com ela de forma decente, não a deixando plantada em um corredor, só porque ela não teve a reação que ele esperava.

Naquele ponto, a ruiva pensava que Scorpius a conhecia bem o suficiente para saber que ela era uma garota que queria tudo sob controle. Que ela pensava, analisava e pensava mais de uma vez antes de agir. Que qualquer conversa a fazia pensar por horas a fio em tudo o que ela havia dito e deixado de dizer.

Que ouvir uma declaração do seu melhor amigo por quem ela secretamente nutria sentimentos por anos era um choque e ela precisava de mais de cinco minutos para pensar e analisar a possibilidade dos dois ficarem juntos.

Ela realmente tinha que dizer que Scorpius Malfoy era um idiota.

Respirando fundo, a garota cruzou os braços em frente ao peito, sentindo sua ansiedade e nervosismo crescerem a cada minuto, ou talvez segundo, que se passava. Lidar com aquela avalanche de emoções e informações não estava sendo exatamente fácil. Para falar a verdade, nada que envolvesse ela e Scorpius era fácil.

Quando o loiro finalmente saiu pela porta do Salão Comunal da Sonserina, Rose pensou que talvez tivesse sido uma má ideia ir até ali naquele momento. Talvez ela devesse esfriar a cabeça, pensar mais um pouco. Talvez...

— Escuta aqui, idiota... — as palavras pareciam jorrar de sua boca, sem que ela pudesse evitar — Você não pode simplesmente me deixar sozinha no meio do corredor depois de me dizer... Tudo aquilo, Malfoy!

Scorpius a encarou sério, sem nenhuma emoção. Ela odiava quando ele fazia isso. Odiava quando ele se fechava e somente demonstrava a indiferença, mas odiava ainda mais que ele estivesse fazendo isso com ela.

— Tudo aquilo, Weasley? Depois de ter me declarado para você e você simplesmente esboçar nenhuma reação? Eu achei que a conversa tinha terminado — murmurou Scorpius secamente, ainda indiferente. Aquilo estava deixando Rose maluca. Absolutamente irritada, na verdade. Talvez ela devesse simplesmente deixar para lá. Talvez...

—  Você claramente passou muito tempo pensando sobre tudo envolvendo isso — a ruiva não pôde evitar retrucar o garoto, apontando para Scorpius e depois para si mesma para enfatizar o que estava dizendo — E nem ao menos me deixou absorver tudo o que você me disse! O que você esperava que eu fizesse? Caísse nos seus braços no mesmo instante?

Scorpius pareceu vacilar ao ouvir as palavras de Rose. Sentia suas mãos suarem, seu coração estava tão disparado e todo o controle que ela batalhou tanto para ter, simplesmente tinha se perdido.

Scorpius Malfoy era definitivamente seu ponto de desequilíbrio.

— Eu... Merda, Rosie. Eu sei que sou um idiota e aquela não foi a melhor forma de te dizer tudo o que eu sinto. Mas eu não vou me desculpar por gostar de você. E nem por finalmente ter te dito tudo o que estava entalado na minha garganta.

Rose suspirou, sem saber como prosseguir aquela conversa. Ela não tinha ideia do que seria dos dois dali para frente, e era isso que a aterrorizava.

— Eu não vou pedir desculpas por precisar de mais de cinco minutos para lidar com tudo o que você me disse, Scorpius. E também não vou me desculpar por precisar de um momento para pensar se isso — mais uma vez, ela apontou para ele e depois pra si — Vai funcionar e se eu estou pronta pra lidar com as inúmeras coisas que eu estou sentindo. 

Rose suspirou, esperando Scorpius dizer algo. Qualquer coisa que a ajudasse a lidar com aquela confusão que ele tinha criado, qualquer coisa que a fizesse tomar coragem para finalmente admitir.

Quando Scorpius permaneceu em silêncio, Rose sentiu-se exasperada. Merda, aquela situação ia de mal a pior. E ela não sabia mais o que dizer ou fazer.  

— Eu sinto muito se te magoei, Scorp — a ruiva falou, sentindo o nó em sua garganta voltar a se intensificar — Sinto muito se fiquei em choque e estraguei tudo, mas eu... Eu tenho medo de te perder. Como eu vou ter certeza sobre tudo o que você disse?

Respirando fundo e encarando Scorpius, Rose estava pronta para fazer o mesmo que ela tinha feito com ele. Pronta para correr para longe e chorar. Talvez ela até contasse tudo o que tinha acontecido para Lily, talvez...

Talvez ela precisasse realmente pensar mais um pouco. Ou talvez ela devesse simplesmente agir, só para variar.