She escrita por Mavelle


Capítulo 23
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Oiee
O capítulo hoje tem um pov diferente dos que tivemos até hoje, alguém adivinha de quem é?

Beijos,
Mavelle



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A terça-feira tinha sido o último dia de trabalho de Sophie. Se alguém tinha percebido que ela não estava com o seu habitual bom humor, não comentou, ao menos não com ela. Ela estava de folga na quarta-feira, mas, mesmo assim, fez o caminho habitual até a Bridgerton. Tinha falado com Kate na segunda e pedido que ela arranjasse (se possível, claro) um horário pra falar com ela na quarta de manhã. 

Assim, tinha se vestido e ido para o prédio em que trabalhava, sabendo que seria a última vez. Fez o caminho até o sétimo andar e simplesmente se sentou numa das cadeiras, esperando a hora da reunião. 

— Você está tão séria. - Kate disse, se aproximando dela. - Estou começando a achar que estou encrencada. 

Sophie riu e se levantou, começando a acompanhar Kate para a sala. 

— Por que você estaria encrencada se você está acima de mim na hierarquia? 

— Eu sei lá, mas só pela sua seriedade e por você ter me pedido uma reunião eu tô começando a me perguntar isso. - ela fechou a porta atrás de si. - Inclusive, por que você pediu uma reunião? Você tem meu número, então, se só quisesse conversar, bastava me ligar ou mandar uma mensagem. 

Sophie suspirou. 

— Então… 

— Vish. Lá vem bomba. 

— Eu sei que preciso discutir isso com o RH, mas eu queria falar com você antes, já que foi você que me deu o emprego. 

— O que houve? - Kate perguntou, claramente preocupada. 

Sophie não gostava de ter que mentir, principalmente para ela, que a tinha acolhido tão bem desde o primeiro momento em que pisou na empresa, então decidiu contar a verdade. Ou, pelo menos, parte dela. 

— Eu recebi uma proposta de voltar para o meu emprego antigo em tempo integral. E decidi aceitar. 

— Ah. - ela parecia levemente decepcionada, mas logo a preocupação voltou. - Aconteceu alguma coisa que fez você decidir sair?

— Não. - Sophie engoliu em seco. - É só que… eu adoro trabalhar aqui, mas não é bem o que eu nasci para fazer, sabe? Eu sinto falta do meu antigo emprego. 

— Eu entendo. Continuar aqui quando você poderia estar fazendo algo que realmente ama fazer não faz bem para você nem para ninguém. 

— Pois é. 

Kate suspirou.

— Não tem nada mesmo que eu possa fazer para te convencer a ficar?

— Infelizmente, não. Eu preciso sair, mas sempre vou lembrar com carinho do tempo que passei trabalhando aqui. 

— Tem alguma coisa que eu possa fazer por você? Qualquer coisa mesmo. 

— Bom, eu preciso de um favorzinho. Eu sei que o protocolo dita que eu cumpra duas semanas de aviso, mas eu tenho um pouco de urgência. 

— Está tudo bem mesmo? 

— Sim, está sim. É que eu vou começar no outro trabalho na segunda-feira e também vou precisar sair do apartamento da Posy pra ficar mais perto do meu novo trabalho. Então eu queria saber se tem algum jeito da minha demissão ter efeito imediato. 

— Acho que sim. É só você falar com o Paul e dizer que é uma escolha mútua. Assim, apesar de você não receber o abono por demissão, também não precisa cumprir o aviso. 

— Ok. Obrigada. 

— Vem cá. - Kate a chamou e se levantou. Sophie logo a imitou e as duas se abraçaram. - Vou sentir sua falta por aqui. 

— Vou sentir falta de estar aqui. - ela a soltou. - E eu queria agradecer por tudo o que você fez por mim até hoje. 

— Eu não fiz muita coisa… 

— Mas o que você fez significou demais para mim. E eu só queria pedir pra você não comentar com o Ben ainda, por favor. Ainda não disse pra ele que ia me demitir e eu queria ser a pessoa a dar a notícia para ele. 

— Bom, conhecendo meu cunhado, acho que ele vai dizer que a escolha é sua e fingir preocupação, mas por dentro vai estar feliz porque vocês vão finalmente poder se assumir de verdade. 

Sophie forçou um sorriso. Não era bem assim que as coisas iam acontecer, mas não tinha razão para fazê-la pensar o contrário. 

— É, eu tenho quase certeza de que vai ser exatamente assim. 

— E eu espero que você saiba que, independente de qualquer coisa, você tem uma amiga aqui. 

— Obrigada. E eu sei sim.

Depois disso, Sophie passou no RH, fez o acordo com o responsável, Paul, e passou para pegar suas coisas no setor de limpeza. Como não era o horário que ela geralmente trabalhava, não conhecia bem os funcionários que estavam em pausa naquele momento e agradeceu aos céus por isso. Amava a equipe com que trabalhava e seria todo um momento se fossem eles que estivessem ali. Depois diria no grupo deles que estava saindo e que tinha sido súbito, por isso não teve como avisar antes, mas que tinha amado trabalhar com eles durante aqueles cinco meses. 

Era mais fácil assim.

Quando acabou de resolver tudo o que precisava na empresa, estava bem perto da hora que Posy geralmente saía para almoçar, então esperou um pouquinho por ela no saguão. Logo que viu Posy saindo do elevador, chamou-a com a mão, percebendo que ela franzia a testa para a caixa em seu colo.

— Me ajuda com isso, por favor? - Sophie pediu, entregando a bolsa para a irmã enquanto saíam para a rua. 

— Claro, mas, ahn, Soph, por que você está segurando uma caixa? 

Ela respirou fundo. 

— Eu acabei de pedir demissão.  

— OI? - Posy parou no lugar. 

— Vamos conversar sobre isso quando chegarmos em casa, por favor? - Sophie pediu. 

— Sophie… 

— É sério. Vamos pra casa, por favor.

As duas foram em silêncio até chegar em casa, e Sophie pensava na melhor maneira de abordar aquilo com Posy. É, itens 1 e 2 da lista foram ok, mas o 3… vai ser difícil convencer Posy de que está tudo bem se eu estou saindo da casa dela e se me demiti, Sophie refletia. Se vai ser difícil com a Posy, eu não quero nem saber como vai ser com o Ben

Assim que passaram pela porta, Sophie entrou para colocar a caixa no seu quarto, enquanto Posy a esperava no sofá da sala. 

— O que aconteceu? - Posy perguntou. - Semana passada você disse que estava super feliz de estar trabalhando lá. 

— E eu estava. - Sophie respondeu, já se sentando do lado dela. Ela respirou fundo. - Eu recebi uma proposta pra voltar pro meu antigo emprego, só que agora aqui, em Londres. 

— Sério? - ela parecia animada. - Isso é incrível, Soph! Você podia ter me dito antes. 

— Eu só recebi a notícia domingo de noite. 

— E hoje é quarta. 

— Eu sei. Ainda estava indecisa até ontem, mas decidi que era o melhor a fazer. É melhor eu estar fazendo o trabalho que eu amo do que o trabalho que eu gosto. 

E qual dos é o MI6 hoje em dia?, ela pensou. 

— Caramba. De verdade, você devia ter dito antes de ir às vias de fato, mas tudo bem. Você acha que vai ser mais feliz com o trabalho antigo, certo?

Eis a pergunta de um milhão de libras.

— Sim. - Sophie sorriu. - Só tem uma coisa que eu não gostei. 

— O que foi? 

— O trabalho é do outro lado da cidade. Leva mais de uma hora pra ir saindo daqui. 

— Vish. E aí? Como você vai fazer? 

— Eu estava procurando apartamentos por lá na internet. Achei um que eu gostei e que vai ficar dentro do meu orçamento e vou visitar hoje à tarde. 

— Ah.

— Você não tá chateada, né? 

— O que? - ela parecia um pouco revoltada. - Não, claro que não. Eu estou feliz por você voltar a fazer algo que ama, mas eu gostava muito de morar com você. 

— E eu também. - Sophie disse, abraçando a irmã de lado. - Vou sentir saudade de morar com você. 

— Não esquece que eu existo, viu? 

— Claro que não. 

— Quando você começa a trabalhar no lugar novo?

— Segunda.

— Caramba. Tá perto. 

— Eu sei. Por isso que eu pedi ajuda da Kate pra não ter que pagar o aviso e vou tentar conseguir o apartamento hoje. Aí já tento me mudar no sábado ou no domingo. 

— Realmente está tudo acontecendo bem rápido, não é? 

— Sim. - Um pouco rápido demais pro meu gosto, mas o dever chama. - Agora vamos sair pra almoçar, que eu estou morrendo de fome. 

— Sim, por favor. 

Ok, o item 3 foi menos drama do que eu estava prevendo, mas acho que não tem como o item 4 sair sem drama. E eu sei que parece errado eu colocar uma mudança da vida que estou vivendo há 5 meses como itens numa lista, mas é o meu jeito de lidar com a situação sem enlouquecer

— O que você vai fazer depois de ver o apartamento? - Posy perguntou, enquanto elas saíam de casa. 

— Vou encontrar com o Ben no ateliê dele. Ele disse que queria me mostrar a exposição nova. 

— Hmmmm. Como é ser a musa inspiradora de alguém? 

Sophie começou a rir e as duas entraram no elevador. 

— Musa inspiradora? 

— Ué, e não é isso que você é?

— Musa inspiradora faz parecer que eu sou uma espécie de deusa grega.

— Ok. Então como é servir de inspiração pras obras de alguém? 

— É um pouco estranho, principalmente considerando que eu sempre fui uma ninguém, mas eu gosto de ser a pessoa que inspira isso nele. 

— Sophie, você não é uma ninguém. 

— Quando eu falo isso, eu quero dizer que eu não sou uma supermodelo ou uma atriz de cinema ou uma pessoa extraordinária. Eu sou só eu. 

— E só você seria capaz de inspirar alguém da forma que inspira. Sério, você é uma pessoa incrível. 

— Ah, eu não sei não. Uma pessoa maravilhosa, tudo bem, mas uma pessoa incrível? 

Posy riu.

— Besta. 

***

Mais tarde, naquele mesmo dia, no covil do diab- ops! Na casa de Araminta, o conselho superior do Sturoyal estava reunido, o que quer dizer que ela, Rita Martin e Brynn Idle estavam jantando e discutindo a execução de seus planos. Se tudo fosse bem, suas brigadas cercariam o palácio de Buckingham no fim de abril, ao mesmo tempo em que seus aliados na câmara dos lordes lembravam de uma lei que tinha sido aprovada sigilosamente 3 anos antes, que determinava que, caso algo acontecesse com os descendentes Windsor, a Coroa voltaria para os Stuart. Então aconteceria um terrível acidente no palácio e, como convenientemente tinham sido lembrados, existem herdeiros Stuart disponíveis!

Mas, que ficasse bem claro, aquilo só aconteceria se tudo corresse bem. Aquela era uma supersimplificação do plano, que, na verdade, era bem elaborado e envolvia que várias partes agissem ao mesmo tempo. 

— Os suprimentos para uma das brigadas não chegaram. - Brynn disse. - Eu consegui contornar o problema enviando o excedente de um outro posto, mas não é uma solução definitiva. 

— Mais alguma coisa deu errado essa semana? - Rita perguntou. Nos últimos dias, parecia que quase tudo estava dando errado, mas o show devia continuar. Não tinha passado os últimos 30 anos planejando o retorno de sua família ao poder para deixar que alguns empecilhos menos de 2 meses antes do golpe atrapalhassem tudo e a desanimassem. Que venham atrás de nós, ela pensava. Que vejam que essas pequenas sabotagens não vão me desanimar. Que vejam a resiliência da Casa Stuart

— Jerome disse que encontraram um carregamento de pólvora molhada, mas que, dado o tempo certo, o problema pode ser contornado. 

— Nós estivemos montando nossas bases e criando os planos mais elaborados pelos últimos 5 anos e tudo estava dando certo. E então, desde dezembro, tudo o que tentamos dá errado. 

Os três ficaram em silêncio por algum tempo, ninguém querendo admitir a realidade. 

— Pode haver um espião no grupo. - Brynn disse, por fim.

— Claro que tem um espião no grupo. - Araminta disse, rispidamente. 

— O grupo é grande demais para que não haja um espião. - Rita disse, com um tom de orgulho. 

— É por isso que só nós três sabemos das decisões importantes e as informações necessárias para impedir os planos mais recentes só circulam entre nós. Agora, se as informações que só passam por nós estão vazando… temos um problema sério. 

— Os únicos lugares em que discutimos nossos planos são aqui ou na minha casa. 

— Teve a vez que passamos o plano na festa da empresa da Araminta. - Brynn disse. 

— E você acha que algum daqueles palermas teria coragem de me espionar? - ela retrucou. - A equipe de limpeza tem medo de limpar minha sala. 

— A sua ex-enteada passou pela nossa mesa. - Rita disse, lembrando daquela noite. Para ela, a interação tinha parecido normal, simplesmente conversa de bêbado, mas aquela era uma possibilidade que não podia descartar tão rapidamente. 

— Sophie? - Araminta deu uma risada de escárnio. - Eu odeio a garota, mas espionar a gente? Ela jamais teria a coragem. É uma coisinha frágil que deixou que eu pisasse nela a vida inteira. 

— Tem certeza? - Brynn perguntou. - Você conheceu a criança, a adulta pode ser bem diferente do que você imagina. Principalmente considerando que ela pode querer algum tipo de retaliação se você realmente pisava nela esse tempo inteiro. 

— Ela… 

E então Araminta juntou algumas peças. A interrupção súbita de sua conversa com Rita no dia do jantar de noivado de Rosamund e James, como ela parecia ter simplesmente aparecido na cozinha, sem fazer um som pelo corredor. De como ela foi lhe agradecer por tê-la expulsado de casa aos 15 anos durante a festa de fim de ano da empresa. Ela limpando sua sala, agachada muito perto da mesa, onde imaginava que encontraria escutas. Sabia que ela limpava sua sala mais de uma vez na semana, mas a justificativa dada é que ela era a pessoa que não tinha medo das reações dela, já que sua opinião sobre ela não podia cair mais. Voltou também ao episódio da granola. Ela deixou que pisasse nela e, nesse momento, qualquer suspeita que pudesse ter sobre a garota tinha sumido. Sophie definitivamente não tinha mudado se a deixava fazer aquilo sem buscar nenhuma retaliação. 

A garota tinha armado toda uma situação para ela e ela tinha acreditado em todas as mentiras, exatamente do jeito que ela planejava. 

Seria capaz de aplaudi-la, se não estivesse tão perplexa. 

— Acho que ela pode ter plantado escutas na minha sala. - Araminta disse, num tom muito baixo. Sua pressão estava caindo. Ainda estava surpresa demais para ficar com raiva de si mesma por ter subestimado a garota. E também com raiva de Sophie, afinal era tudo culpa dela. Ficaria com raiva muito em breve, mas no momento a surpresa era maior. 

— O que? - Rita perguntou.

— A bastardinha deve estar trabalhando para alguém. Claro que ela tinha alguma razão para começar a trabalhar na empresa. - ela passou as mãos pelo rosto. - E para ir morar com a minha filha imprestável. 

Os três ficaram em silêncio por um momento. 

— Vamos recapitular. - Rita disse, terminando a taça de vinho que estava à sua frente. - Sua ex-enteada possivelmente instalou escutas, talvez até câmeras, na sua sala, enquanto vivia com sua filha que fala demais. Desde… desde quando? 

Araminta fez alguns cálculos mentais.

— Outubro, eu acho. 

— E sabe-se lá se ela não fez mais alguma coisa. - Brynn disse, atraindo a atenção das duas para si. - Se ela for bem financiada, pode ter até colocado alguma coisa no seu computador.

— Nem me fale disso.

— Parem de falar. - Rita disse, massageando as têmporas. Fez-se um momento de silêncio. - Araminta, por favor, procure essas escutas pela sua sala amanhã assim que chegar no trabalho. Não denuncie que encontrou, se elas realmente estiverem lá, e nos diga. 

Araminta simplesmente assentiu. 

— O que faremos, se realmente estiverem lá? - Brynn perguntou, cauteloso.  

— O que faremos? Ora, o que mais há para se fazer? Retaliação. 


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