She escrita por Mavelle


Capítulo 10
Capítulo 09


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde galeraaa
Foi mal a demora rs tive que sair pra resolver umas coisas agora de manhã, então não tive como postar mais cedo, mas enfimmmmm
Espero que gostem do que acontece depois da Sophie descobrir da exposição

Beijos,
Mavelle



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Sophie não parou de andar até chegar de volta na rua da Bridgerton, ainda muito atordoada para pensar em qualquer outra coisa. 

Uma exposição de arte que podia muito bem ser uma exposição

Dezoito quadros sobre ela.  

Dezoito.

Ela se sentia honrada, de verdade, mas, ao mesmo tempo, era assustador demais. Tinha passado os últimos 10 anos tentando não atrair atenção para si e agora lá estava, para que toda a Londres visse. Não que alguém soubesse que era sobre ela, mas, mesmo assim, se sentia nua, como se uma parte de sua alma tivesse sido revelada para quem quisesse ver.

Ainda estava recuperando o fôlego quando chegou na frente do prédio. Tinha bastante condicionamento físico, mas o fator ansiedade tinha contado muito mais naquele momento. Seu coração estava acelerado e sua respiração era mais frequente e, ainda assim, não conseguia ar o suficiente para respirar de forma confortável. 

Atravessou a rua, sentou-se em uma mesinha numa cafeteria que ficava na frente da empresa e ficou ali, só hiperventilando por alguns momentos. 

O que ela podia fazer? Nada. Era o trabalho dele e era muito bom, e Sophie não tinha nenhuma razão real para pedir que parasse a exposição, principalmente porque não era possível saber que era ela. E, mesmo que fosse perceptível, ninguém a conhecia, então não seria tão fácil justificar por que ninguém podia conhecer seu rosto. Anonimato era parte de seu trabalho, mas talvez chamar atenção para o fato de que seu anonimato podia estar em risco fosse um jeito de arriscá-lo ainda mais. 

Confuso? Talvez um pouco, mas fazia completo sentido na cabeça de Sophie, resultado da lógica que tinha sido imbuída ao seu pensamento ao longo daqueles últimos anos: manter o anonimato a todo tempo. 

Além disso, a parte dela que não estava surtando estava se sentindo um pouco orgulhosa e humilde ao mesmo tempo: tinha inspirado aquilo. Aquela era uma das exposições mais bonitas e sensíveis que já tinha visto e ela a tinha inspirado. 

E Deus do céu, não vinha ao caso, mas Benedict era tão bonito quanto ela lembrava. 

Tinha certeza, durante o ano, de que devia ter imaginado ao menos metade daquilo, mas não. Ele era exatamente como ela se lembrava. Os mesmos olhos azuis, o mesmo sorriso, as mesmas mãos que tinham percorrido cada centímetro de seu corpo naquela noite… 

E ele pertencia a uma outra pessoa. 

Não havia nenhuma explicação do porquê aquilo doía tanto. 

Notou uma garçonete se aproximando e se endireitou na cadeira. Aquela era provavelmente a maior demonstração de descontrole que tinha em público em anos, e precisava se recompor. 

— Boa tarde. - ela se aproximou com um sorriso. - Está tudo bem? Gostaria de pedir alguma coisa? 

Sophie simplesmente olhou o cardápio que estava à sua frente. 

— Boa tarde. - ela respondeu. - Está tudo bem, sim. Gostaria de um café com leite. E uma garrafa de água, por favor. 

— Está esperando alguém? 

— Não. 

— Mais alguma coisa? 

— Não, obrigada. 

A garçonete se afastou e Sophie pegou o telefone do trabalho, que não era rastreável e tinha um sistema de mensagens com criptografia quíntupla. Precisava falar com Andrea. Tinha lhe avisado que tinha chegado bem em Londres, mas não falou do jantar e agora achava que precisava falar com alguém sobre a Lady In Silver.

"Sophie: Tenho uma notícia boa e uma ruim" 

A garçonete levou a água para ela e Sophie foi se acalmando mais enquanto esperava a resposta de Andrea. Levou menos de cinco minutos para que ela respondesse. 

"Andrea: Quão boa e quão ruim? 

Sophie: Muito boa e nem tão ruim, mas possivelmente ruim

Andrea: Comece com a boa

Sophie: Eu vou para o jantar de noivado de James e Rosamund hoje à noite

Andrea: O QUE? 

Andrea: POR QUE NÃO TINHA AVISADO ANTES? 

Sophie: Eu descobri ontem de noite e estive meio ocupada o dia inteiro, desculpe

Andrea: Você está com as escutas? 

Sophie: Sim, eu consegui trazer no avião e estão carregadas 

Andrea: Ok, me avise qual frequência vai usar

Andrea: Eu vou chamar o Poole e nós vamos ficar escutando

Sophie: Certo

Sophie: Não sei se vai ter algo muito interessante, mas… 

Andrea: Vale a pena tentar, mesmo que você não esteja com o retorno 

Sophie: É 

Andrea: Qual a notícia nem tão ruim, mas possivelmente ruim? 

Sophie: Meio que tem uma exposição sobre mim na galeria de arte contemporânea do museu nacional"

Nesse mesmo momento, a garçonete voltou com a xícara de café. 

— Obrigada. - Sophie respondeu, tomando coragem para olhar o telefone. 

"Andrea: O QUE? 

Andrea: COMO ASSIM? 

Andrea: POR QUE? 

Andrea: COMO? 

Andrea: QUANDO? 

Andrea: QUEM? 

Sophie: Existe uma exposição nova na galeria do museu nacional

Sophie: Sobre um homem e uma mulher sem feições usando um vestido prateado que passam uma noite juntos até que ela vai embora (é feita pra fingir que não é sobre isso, mas é)

Sophie: Assinada por Benedict Bridgerton (vulgo o cara da festa do ano passado) e dedicada "para Prata, seja quem for e onde quer que esteja"

Sophie: E então enquanto eu absorvia essa informação, o próprio Benedict passa pela porta com a noiva 

Andrea: MEU DEUS 

Andrea: Eu estava mais preocupada quando você falou, mas, aparentemente, não dá para saber que é você, então você segue anônima

Sophie: Essa foi justamente a minha preocupação, mas, pelo menos nisso, está tudo bem 

Andrea: Agora que estabelecemos que a exposição não é um tópico de segurança nacional… sentimentos

Andrea: Como você está com tudo isso?

Sophie: Chocada, para dizer o mínimo 

Sophie: Eu me sinto marcada por aquela noite, mas ele ter se inspirado e feito 18 quadros sobre? 

Sophie: Nunca imaginaria que algo do tipo poderia acontecer

Andrea: DEZOITO? 

Sophie: Dezoito.

Andrea: Alguém esteve ocupado no último ano 

Sophie: E são todos lindos, de verdade

Sophie: Eu… não sei bem como me sentir sobre isso

Andrea: Você deu um fortíssimo chá no homem, pode se sentir orgulhosa

Sophie: Não tão forte, dado que ele está noivo

Sophie: E, de tudo, isso é o que mais me incomoda de alguma forma

Sophie: É estranho que eu tenha ficado abalada por ele estar noivo? 

Andrea: Acho que não 

Andrea: Foi só uma noite, mas vocês claramente tiveram uma conexão bem forte

Sophie: É, mas não era pra eu me sentir assim

Sophie: Nossas vidas não se encaixariam e você sabe que eu não posso 

Andrea: Sabe, se você realmente quisesse algo do tipo, não devia deixar o trabalho entrar no seu caminho

Sophie: Mas eu não quero algo do tipo

Andrea: Mais fácil para você, então"

Sophie sentiu a leve alfinetada, mas resolveu só ignorar e encerrar a conversa.

"Sophie: Te mando uma mensagem mais tarde com a frequência da escuta"

***

Naquela noite, Sophie colocou um vestido e saltos e colocou a escuta em si, mantendo uma maquiagem bem leve e os cabelos soltos. Parecia bastante inofensiva e talvez um pouco insípida, mas esse era o seu disfarce, a sua segurança. Precisava que não desconfiassem dela. 

Ainda assim, tinha medo de que algo desse errado. Não podia descartar a hipótese de que Araminta a proibisse de entrar, dado o quanto desgostava dela. Então, quando chegou com Posy à casa em que Araminta vivia (sua antiga casa, Sophie não conseguiu deixar de notar), não conseguiu não perguntar: 

— Tem certeza de que eu estar aqui não vai ser um problema? 

— Tenho. - Posy disse, enquanto elas saíam do uber. - E, se for, minha mãe não vai fazer um piti na frente da família de James. Acredite em mim, manter a imagem está mais alto na lista de prioridades dela do que te cortar da vida dela. 

Talvez não acima de me humilhar, Sophie pensou, enquanto ligava a escuta e seguia com Posy para a entrada da casa. Ela era bem criativa com as formas de fazer isso discretamente enquanto eu crescia, tenho certeza que vai pensar em um insulto ou dois até o final da noite

Posy tocou a campainha e logo a porta foi aberta por Rosamund, que tinha um sorriso gigante no rosto. 

— Posy! Que bom que chegou! - ela disse, bastante animada e já abraçando a irmã, e só isso foi sinal suficiente de que ela devia ter mudado ao menos um pouco. Então deixou Posy passar e virou suas atenções para Sophie, que percebeu que ela forçou um sorriso antes de abraçá-la (o que foi uma grande surpresa para ela). - Sophie! Você veio mesmo! Nossa, quanto tempo! 

— Realmente, faz muito tempo. - Sophie disse, já a abraçando e fingindo que isso não era algo que nunca tinham feito. - Parabéns pelo noivado. 

— Obrigada. - Rosamund a soltou e agora a olhava com um sorriso. - Sei que nós não nos dávamos muito bem enquanto crianças, mas estou feliz de verdade por você estar aqui. 

— E eu estou genuinamente feliz por você estar noiva. - Sophie sorriu também, já entrando, e Rosamund fechou a porta atrás dela.

— Sinto que preciso te avisar que minha mãe não está muito feliz de saber que você veio. - ela segredou, enquanto acompanhava Sophie para o lado de dentro.

— Quando ela está feliz por me ver? 

— Fazem mais de 10 anos que praticamente não te vemos, mas ela não evoluiu. Continua parada no tempo e se apegando a rixas de metade de uma vida atrás. 

— Rixas que eu honestamente nunca entendi.

— Vou ser honesta e te dizer que eu também não. Não sei o que você fez para feri-la, ferir seu orgulho, mas saiba que não vou deixar que a antipatia dela por você prejudique qualquer relação que possamos ter daqui para frente. Ódio gratuito não leva a lugar nenhum. 

— Nossa. - era tudo o que Sophie podia dizer para evitar que seu queixo caísse. - Eu estava meio desconfiada quando Posy tinha dito que você tinha mudado, mas, aparentemente, é verdade. 

— Bom, eu também não acreditei quando ela disse que você mudou, mas também é verdade. Você parece muito mais confiante do que antes.

É isso que dá não ter pessoas constantemente te colocando para baixo, Sophie pensou. 

— Te garanto que é só aparência. Sigo a mesma garotinha tímida, só não deixo mais que pisem em cima de mim. 

— Que bom para você. - Rosamund disse e Sophie percebeu que ela jamais pediria desculpas por ter feito justamente isso, mas não a surpreendia. 

Ainda era Rosamund, afinal. 

Ela continuou conduzindo Sophie para o lado de dentro, até que chegaram na sala de estar. Ela não podia deixar de notar que tudo parecia o mesmo de anos atrás, de quando ainda morava naquela casa, mas não havia nenhuma evidência de que ela já tivesse passado por ali. 

E ali estava James Stuart sentado num sofá e conversando com Posy e uma outra moça, que Sophie reconhecera como sendo Mirabelle, sua irmã. Uma das pessoas que ela deveria ter espionado na festa da Bridgerton no ano anterior. Havia uma quarta pessoa na sala, mas ela ainda não conseguira ver quem era, já que estava de costas. Quando viu que Rosamund entrara na sala, James abriu um sorriso encantador e se levantou, indo para onde ela estava. 

— Quero que você conheça meu noivo, James. - Rosamund disse a Sophie, e então se virou para James, com um olhar de adoração que Sophie jamais imaginara ver nela. - Jamie, essa é minha meia-irmã, Sophie. 

— Prazer em conhecê-la. - ele disse, já apertando a mão dela. 

— O prazer é todo meu. - Sophie respondeu, apertando a mão dele. 

— Você nunca tinha comentado que tinha uma outra irmã, Rosie. - ele disse, virando para Rosamund. 

— Não éramos tão próximas. - Sophie se pegou dizendo. - Enquanto meu pai era casado com a mãe dela, eu e Posy éramos uma dupla praticamente inseparável, o que infelizmente acabava deixando Rosamund um pouco de fora. - Isso e o fato de ela não querer se misturar conosco, ela quase adicionou. A verdade é que tinha sido muito mais por esse último fato, não dito, do que pelo primeiro. Ela jamais se importaria de ter uma outra companhia, principalmente depois de ter passado a maior parte da infância sozinha, mas Rosamund não queria se misturar, na maior parte do tempo. - E então, depois que meu pai morreu, perdemos o contato, mas sempre nutri bastante carinho por ela e fico feliz de verdade pelo noivado de vocês. 

Rosamund soltou um agradecimento silencioso para Sophie. 

— Ah, sim. - James respondeu, depois virou para a noiva. - Famílias podem ser complicadas mesmo, mas eu garanto que a Mirabelle é minha única irmã. - Ela deu uma risadinha e James se virou para Sophie de novo, apontando as pessoas na sala. - Fique à vontade. Aquela que está conversando com a Posy é a Mirabelle, minha irmã, e aquele esquisito perto da lareira é meu primo, Kai. O namorado de Mirabelle, Luke, está no banheiro. 

— Bem, acho que antes de falar com eles, devo ir falar com a anfitriã, não concordam? - Sophie disse, e então virou para Rosamund. - Onde está sua mãe? 

— Na cozinha. - ela respondeu, mas parecia um pouco tensa, o que acendeu uma luz de alerta na cabeça de Sophie. - Como você é nossa convidada, talvez devesse esperar que ela voltasse para cá. 

— Será que ela não quer ajuda para trazer o jantar? 

— Não precisa, Sophie. - ela sorriu e Sophie percebeu que ela teve de fazer um esforço para que os olhos enrugassem. James estava com a mão na cintura dela e tinha um meio sorriso no rosto que também parecia um pouco forçado. Se antes ia fazer isso apenas por cortesia, agora precisava saber o que estava sendo discutido na cozinha. - Você está aqui como nossa convidada hoje. 

— Ah, mas eu sou de casa. - Sophie sorriu de volta. - E, além do mais, se teve algo que eu aprendi com sua mãe é que sempre se deve ir cumprimentar primeiro o dono da casa em que o evento está acontecendo. - E isso era verdade, ela pensou. Quando ela ainda fingia gostar de mim, me ensinou sobre isso e fez questão que aprendesse. Primeiro, achei que ela estivesse sendo gentil, tentando me conquistar, mas depois ela disse que seu objetivo é que eu não a envergonhasse mais em público. Rosamund não conseguiu pensar em alguma desculpa e James ficou um pouco tenso enquanto Sophie sorria abertamente. - Eu sei o caminho. 

Assim, ela se afastou, indo para a cozinha andando silenciosamente, apesar dos sapatos de salto. Mais uma coisa pela qual tinha de agradecer aos anos de treinamento: sabia como se mover sem fazer barulho e ainda parecendo natural. Então, olhando para trás e vendo que nem Rosamund nem James tinham ido atrás dela.

— Depois que o marido morreu, a velha está cada dia pior. - uma voz feminina disse. - É só uma questão de tempo.  

— E o filho não vai ter em quem se segurar quando a hora chegar. - Araminta disse. 

— Exato. Estamos mais perto do que você imaginaria. 

Parecia que nenhuma das duas ia falar mais, então Sophie simplesmente checou mais uma vez o corredor e deu uma batidinha na parede. 

— Boa noite, Araminta. - ela disse, com um sorriso. 

— Sophie. - ela forçou um sorriso. - Fiquei surpresa quando Posy disse que viria. 

— Bom, ela me chamou, seria apenas educado aceitar. E eu com certeza não perderia a chance de comer da comida de Gwen. Ela ainda faz aquele bolo de chocolate? 

— Faz, mas hoje à noite teremos torta de morango. 

— Como é o jantar de Rosamund, é natural que sua sobremesa favorita seja feita. - sorriu mais uma vez. 

— Claro. 

— Precisa de alguma ajuda para levar o jantar para a mesa? 

— Não. Rita vai me ajudar. - ela disse, apontando para a mulher ao seu lado. Só então foi que Sophie a notou: cabelos escuros como os de James, Mirabelle e Kai, e feições semelhantes às deles, mas com olhos astutos que diziam que ela provavelmente era uma ameaça muito maior que os três mais jovens. 

— Acho que não fomos apresentadas. - Sophie disse, com um sorriso, e já estendendo a mão para a mulher. - Sou Sophie Beckett, ex-enteada de Araminta. 

— Prazer, Sophie. - ela sorriu, mas não apertou a mão de Sophie. - Sou Rita, tia de James. Um tanto germofóbica. 

— Ah, perdão. - ela puxou a mão de volta. - Bem, se não precisam de minha ajuda, vou voltar para a sala. 

— Sim, faça isso. - Araminta disse e adicionou, quando Sophie estava fora de vista, mas ainda conseguia escutar: - Garota intrometida dos infernos. Devia mesmo ter mandado ela pro colégio interno. Ao menos teria aprendido boas maneiras. 

Rita soltou uma risada de escárnio e Sophie usou isso como deixa para terminar de voltar para a sala. Quando chegou na sala, foi primeiro se servir de um copo de um coquetel que estava ali por perto e ia se aproximar de onde Posy estava conversando animadamente com os dois jovens casais, quando a sexta pessoa da sala falou com ela. 

— Se eu fosse você, me manteria longe daqueles cinco. - Kai disse, se aproximando da mesa para pegar uma bebida também. 

— Hm, e por que? - Sophie questionou. 

— Porque quatro deles estão numa bolhinha de amor e vão querer te arrumar comigo. 

Ela riu baixinho. 

— Não seria tão ruim. - Seria horrível, ela pensou. Talvez fosse bom para informações, mas me envolver com qualquer pessoa relacionada a uma missão é um tiro no pé. Principalmente nesse caso, que eu já estou envolvida com as pessoas de certa forma. - Mas você está claramente desinteressado e eu escolho não me magoar com isso.

Ele estreitou os olhos para ela. 

— Garota esperta. - então estendeu a mão para ela. - Kai Martin.

— Sophie Beckett. - ela apertou a mão dele. - Seu nome é familiar. 

— Eu sou escritor. - ele disse, simplesmente. 

— Ah, por isso então! - ela sorriu. - Eu já li Brilho de Safiras. 

Verdade. Sophie tinha lido o livro em parte porque a história era interessante, e em parte porque queria saber se havia alguma tentativa sutil de influenciar o público dele a apoiar, futuramente, a reivindicação do primo. 

Spoiler: tinha sim. 

— Sério? - ele parecia bem mais interessado nela agora. Lá vem um que gosta de bajulação. Por que não estou surpresa?

— Sim. Foi um dos melhores livros que li ano passado. Toda a questão do Grigor ter sido impedido de assumir o trono por causa de uma lei que, me desculpe a expressão, foi tirada do cu, me deixou muito revoltada. 

Ele riu com gosto do comentário dela. As outras cinco pessoas da sala olharam para eles discretamente, mas não procuraram saber o que tinha acontecido. 

— Aquilo foi inspirado em fatos reais, sabia? 

— Sério? - Sophie parecia surpresa. - No que você se inspirou? 

— Já ouviu falar do Decreto de Estabelecimento? 

— Acho que sim. - Eu estudei isso exaustivamente ao longo dos últimos dois anos, tentando arranjar uma brecha para vocês não conseguirem, então, sim, já ouvi falar. - Mas foi na escola, muito tempo atrás. 

— Então, esse decreto determina que não pode haver um monarca católico ou casado com um católico no Reino Unido. 

— E você adaptou como se o Grigor não pudesse ser rei por ter casado com a Vilian. 

— Sim. No caso, o Grigor não podia ser rei porque Vilian era considerada muito inferior pela corte de Aranmis. 

— O que é absurdo, considerando que o pai dela era o rei de Normia. 

— Ela era uma bastarda. - ele disse, dando de ombros. 

Como se aquilo explicasse tudo, quando não explicava. 

Em outros tempos, a própria Sophie teria sido considerada uma bastarda. Seu pai estava noivo de uma mulher quando conheceu sua mãe, Emily, e começou a ter um caso com ela, que acabou engravidando. Quando a noiva de seu pai soube disso, ficou uma fera (com razão) e o largou. Sophie soube que ele queria que Emily fizesse um aborto, mas que sua mãe dissera que não. Richard disse que tomaria conta dela e da criança financeiramente, mas se manteria distante. E então, quando ela morreu dando à luz a Sophie, Richard se viu preso com um bebê que não queria, filha de uma mulher que não amava. Contratou uma babá para tomar conta dela dia e noite e se manteve afastado, apesar de ainda morar na mesma casa. 

Sophie tinha ficado sabendo disso tudo quando voltara para Kent para poder vender a casa da família e a floricultura, que seu pai amava mais do que jamais a amara. Seu pai sempre tinha se esquivado das perguntas sobre sua mãe e se recusado a falar sobre ela. Além disso, tinha instruído que os empregados que a conheceram não falassem, então, quando reencontrou Louisa, a antiga empregada de sua casa que agora trabalhava como corretora, Sophie teve que lhe perguntar. Sempre tivera curiosidade sobre sua mãe, sobre a mulher que tinha literalmente dado sua vida por ela, mas nunca soubera a quem perguntar e, aqueles a quem perguntava, nunca podiam lhe responder, sob a ameaça de serem demitidos, como ela descobriu naquela tarde.

— Por que ir tão longe só para evitar que eu soubesse sobre a minha mãe? - Sophie perguntara à Louisa enquanto tomavam chá, pouco antes de assinar o contrato que a desconectaria daquela casa (e da vida que levava antes) de uma vez por todas.

— Eu não faço ideia. - ela respondeu, honestamente. - Emily era adorável, sempre gentil e atenciosa com todos. Você sempre me lembrou muito ela, inclusive. 

Sophie dera um meio sorriso a mulher, pensando que, provavelmente, não era mais a garotinha que ela tinha conhecido. 

E então se forçou a voltar para a realidade. Para a conversa que estava tendo com Kai, não importava o quanto aquela acusação que ele tinha feito doía. Ela não se importava que seus pais a tivessem concebido fora do matrimônio, não se importava mesmo, mas se sentia mal porque havia quem a considerasse inferior e menos digna por erros que tinham sido cometidos por outras pessoas. 

— Entendi. - ela por fim disse a Kai. - Tem alguma razão pela qual você escolheu se inspirar nesse decreto? 

Ela fez a pergunta tão inocentemente que percebeu que Kai quase respondeu, mas James se aproximou dos dois, claramente tentando impedir que o primo falasse demais. 

— Kai, deixe de importunar a coitada da Sophie com suas conversas sobre seu livro. - ele disse, meio ralhando, meio carinhoso. Depois virou-se para Sophie. - Ele fica animado quando descobre que alguém já leu e acaba prolongando o assunto demais. 

— Não estava sendo um aborrecimento. - ela respondeu, com um sorriso. 

— De qualquer forma, vamos conversar com o resto do grupo. Acho que o jantar já está para ser servido. 

Ela se forçou a ir conversar com os outros, tendo a certeza de que não ia conseguir mais nenhuma informação naquela noite. 


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