Olhos Opacos escrita por Ártemis


Capítulo 1
Capítulo 1




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Por Daniel


                Acordei com um raio de sol iluminando as minhas pálpebras. Tive aqueles dois segundos de confusão de não saber exatamente onde estava e o que estava acontecendo, antes de acordar realmente e lembrar o caos que estava minha vida. Primeiro: eu estava dormindo no chão de uma casa que invadi, com minhas irmãs e meus primos, segundo: o mundo lá fora estava uma bagunça e por incrível que pareça, a noite que passamos naquele casebre abandonado foi a melhor em dias. Terceiro, e mais urgente: a dor aguda no meu tornozelo e um barulho estranho que veio do meu estomago me lembraram que eu precisava arrumar algo para nós comermos e cuidar urgentemente desse corte estupido antes que infeccionasse, se já não tivesse.
                -Já acordou?- perguntou Julia alguns metros de mim, ela havia achado um colchão de casal e dormido com as crianças nele enquanto eu e Pedro dividimos um tapete poeirento.
                -Sim, que horas são?
                -Mais ou menos nove horas. - disse ela olhando o relógio na parede. Tudo isso? Bem é compreensível já que não dormimos sob um teto a dias.- Que bom que conseguiu dormir um pouco. Depois que finalmente fiz esses dois pegarem no sono, tentei dormir mas só o que consegui foram  pesadelos.
                Não falei nada, mas sabia dos pesadelos, e não era apenas ela, todos os outros tiveram noites inquietas desde que fugimos da cidade, a uma semana.

                -Daniel.- chamou Julia, olhei para seu rosto e já sabia o que iria falar.- Precisamos comer, qualquer coisa, já faz quase dois dias.
                -Eu sei, vamos procurar alguma coisa na propriedade, não tenho certeza, porque quando chegamos ontem anoite estava muito escuro, mas acho que vi alguns pés de fruta, se tivermos sorte algumas laranjas e mangas.
                -Seria mais do que poderíamos pedir. - Falou ela, Pedro roncou alto, fazendo-a sorrir.
                -Parece que esse sitio é cercado, mas não sabemos se é totalmente seguro. Então você fica com as crianças aqui, Pedro e eu vamos procurar algumas frutas. Ai!- me mexi um pouco, uma dor aguda subiu do tornozelo machucado.
                -Temos que fazer alguma coisa com esse corte, vai acabar infeccionando. - falou Julia.
                -Eu sei mas não temos muita coisa para curativos não é.
                -É, mas eu posso tentar  melhorar a aparência disso.- disse ela vindo até mim, puxou minha calça para cima e desamarrou o pano que eu havia improvisado, agora sujo de sangue seco. Imediatamente começou a sangrar, era um corte fundo, Julia fez tudo que pode: limpou na medida do possível o local, rasgou um pano de prato que ela achou e amarrou novamente, apareceu uma mancha vermelha no tecido e eu torci para que estancasse logo.
                Julia sempre teve a delicadeza que nossa mãe tinha para com as pessoas, alias tudo nela me lembrava de nossa mãe, o cabelo escuro e enrolado nas pontas, sobrancelhas suaves e olhos bondosos, a boca fina com um sorriso fácil. Bem diferente de mim.  Às vezes era doloroso olhar para ela, e me lembrar que não veria minha mãe novamente.
                -Obrigado. Vou acordar o Pedro para darmos uma olhada lá fora, enquanto isso você acorda as crianças e fique atenta, qualquer coisa grite. – chamei Pedro algumas vezes antes de me irritar e lhe dar um empurrão.
                -Que que foi cara, não precisamos ir a escola lembra? – Algumas coisas que você tem que saber sobre Pedro: ele sempre esta fazendo coisas engraçadas, seja para te animar ou para esconder o que realmente sente. Ele vai estar do seu lado quando precisar, acredite eu sei, afinal não somos apenas primos, fomos vizinhos por toda vida, colegas de escola, parceiros de encrenca, nas quais ele sempre me meteu e eu tinha que livra-lo, amigos de verdade.
                -Levanta cara, vamos procurar alguma coisa para comer, aposto que você também gostaria de uma laranja.
                -Cairia bem, juro cara, que ouvi nossos estômagos conversarem entre si a noite toda.- eu e Julia rimos, ela estava procurando na pequenas prateleiras da cozinha novamente por comida, em vão é claro.
                Nos levantamos, peguei minha faca e Pedro seu martelo velho, as únicas armas que tínhamos, sai e fechei a porta mas não  tranquei, nunca se sabe se eles precisariam sair dali rapidamente.        Demos uma volta em torno da pequena casinha em que dormimos e depois na casa grande do sitio que estava fortemente trancada, diferente da que ficamos que provavelmente era do caseiro, agora ambas vazias. Andamos mais um pouco, envolta da piscina e mais adentro na linha das fruteiras carregadas de laranjas, mangas, limões, pêssegos e jabuticabas.
                -Cara, demos sorte. - falou Pedro enchendo a boca de jabuticabas.
                -Vou pegar uma sacola. - fui até a casa, as crianças já estavam acordadas, meu primo Henrique irmão de Pedro e Clara, minha irmã caçula, eles não estavam muito animados, claro, quem estaria feliz depois de tudo que passamos e ainda morrendo de fome. Julia me deu um saco de pano, fechei a porta como entes, e encontrei Pedro na linha das arvores ainda distraído com as Jabuticabas, entramos mais no pomar catando e colocando as frutas no saco, Pedro olhou furtivamente para as galinhas soltas, soube que teríamos carne para o jantar. Poucos minutos depois quando decidimos que estava bom de frutas começamos a voltar.
                Perto da casa grande ouvimos risadas, e no instante depois demos de cara com duas garotas, que param de rir imediatamente, e levantaram suas “armas”, a mais alta segurava uma machadinha e a mais baixa um facão de cabo preto, também levantamos as nossas.
                -Quem são vocês?- perguntou a mais alta.
                -RAFA.- gritou a outra ao mesmo tempo.
                Num instante, outra garota apareceu vinda da pequena casa seguida de Julia e as crianças, essa não era nem alta nem baixa, tinha o cabelo longo amarrado em uma trança embutida, e levava na bainha presa a coxa uma arma, dessa vez uma pistola igual as dos militares. Ela pousou a mão sobre a arma e nos olhou desconfiada.


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Notas finais do capítulo

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