Marinette aproveitou quando a professora esvaziou a sala, ficando propositalmente para trás. Achou estranho Adrien querer se afastar do grupo também, era como se ele pretendesse correr para o perigo. Diferentemente dos outros alunos que se escondiam do akumatizado.

Ela, entretanto, não teria tempo de analisar esse tipo de estranheza. Pelo que parecia, era um aluno do colégio que causava aquele terror. Então, assim que teve uma abertura sem olhos curiosos sobre si. Transformou-se e fingiu que entrava na escola naquele momento.

Cat Noir apareceu no mesmo instante, um pouco sério e centrado. Não fez piadinhas, somente perguntou se Ladybug sabia algo sobre o novo vilão.

— Ainda estou analisando os poderes, acabei de chegar. — informou, não querendo falar muito para não se entregar.

Temia ter sido vista quando fugiu.

Cat Noir assentiu e começaram a lutar, não demorou muito para purificarem o akuma e Ladybug consertar todo o estrago feito. Realmente era um aluno do colégio que havia levado um fora da garota que gostava. Cat Noir o consolou quando ele voltou a si, dizendo que um dia o garoto conheceria alguém que o amaria verdadeiramente. Ladybug sentiu o coração acelerar, imaginando que o herói usou o próprio exemplo para chegar a essa conclusão.

Quando estava tudo resolvido, ela cogitou falar com ele. Mas o anel apitou e precisaram se afastar.

Os alunos acabaram sendo dispensados assim que Ladybug e Cat Noir colocaram um fim àquela bagunça. E, quando se encontraram na frente do colégio, foi a vez de Adrien tentar conversar com Marinette. 

— Oi. — ele coçou a nuca, sorrindo de maneira estranha. — Que pena que não conseguimos terminar o trabalho. — comentou, tentando puxar assunto.

— É verdade. — Marinette concordou, confusa com o misto de sensações que a preencheu por dentro. Seu coração acelerou quando Adrien se aproximou, mas logo a imagem de um certo herói dominou sua mente. — Podemos continuar amanhã.

— Sim. — Adrien afirmou, sem saber como prosseguir. Queria seguir o conselho de Plagg e não forçar muito a barra sem o traje. Para não confundir Marinette. Ainda assim, sentia a necessidade de que ela gostasse de ambos os seus lados. Suas duas faces, por isso acrescentou: — Quer tomar alguma coisa já que saímos mais cedo do colégio? 

— E-eu... hã... — Marinette hesitou, tinha medo de despertar os sentimentos adormecidos pelo garoto. Não queria ser confundida novamente pela possibilidade de ele corresponder ao seu amor. Não agora que havia Cat Noir. — Claro! — aceitou num impulso, era difícil falar não para Adrien quando ele olhava com aqueles olhos incrivelmente verdes e brilhantes.

— Ótimo, vou pedir para o Gorila levar a gente. Pode ser? — seu sorriso se alargou tanto, que poderia ter iluminado toda a Paris. — Vem! — ele a pegou pela mão, correndo em direção ao carro.

Marinette sentiu as pernas amolecerem com um simples toque de mãos. Era como se fosse amá-lo para sempre, independentemente de conhecer outra pessoa. Mesmo beijando e correspondendo Cat Noir, não seria possível esquecer seu primeiro amor completamente.

O segurança não fez objeção quando a garota entrou no carro, de início o silêncio se instalou no interior do veículo. Adrien, entretanto, rapidamente tratou de quebrá-lo, comentando sobre a luta que houve no colégio.

— Fiquei preocupado com você, não te achei no esconderijo. — ele foi cínico, pois nem estava lá. Também foi sincero, Cat Noir se preocupou com ela e Adrien ainda mais.

— Eu fiquei com medo e me escondi sozinha em outro lugar. — mentiu, querendo mudar de assunto.

Por sorte, Gorila parou o carro, indicando que chegaram ao destino. De modo que os dois desceram, mas quando Adrien pegou novamente a mão de Marinette. A garota entendeu que estava com sérios problemas. 

Nem pensou em evitá-lo, o que a fez sentir-se mal segundos após. Tinha beijado Cat Noir tão apaixonadamente para ficar de mãos dadas com Adrien? Antes, porém, que pudessem fazer qualquer coisa. Ou até mesmo que entrassem na cafeteria, o celular do modelo tocou e ele atendeu.

Soltou a mão da garota e se afastou para conversar. Ele estendeu um dedo e sorriu para ela, como se pedisse desculpas. Marinette assentiu, imaginando que fosse o pai de Adrien.

Dito e feito, o garoto voltou cabisbaixo, com os olhos brilhantes indicando que queria chorar. Avisou que precisava ir embora, pois um ensaio foi reagendado de última hora e era importante. Ele gravaria o vídeo para uma nova campanha de perfume e não poderia faltar.

Marinette sentiu um misto de alívio e tristeza ao afirmar que estava tudo bem. Não correria riscos de trair a si própria longe de Adrien. Contudo, o olhar que o garoto ofereceu à ela antes de entrarem no carro para irem embora. Destruiu seu coração.

Ele parecia muito triste, como se desejasse do âmago de seu ser passar aquele tempo com Marinette. Essa constatação a pegou tão desprevenida, que ela chegou a cogitar se Adrien realmente a enxergava apenas como uma amiga mesmo. Sua convicção de que deveria dar um jeito de seguir em frente com Cat Noir estremeceu. A medida que os sentimentos por Adrien ganhavam uma forma diferente de vida.

Apesar de, pela segunda vez, serem interrompidos por forças sobrenaturais como um akuma e o pai do garoto. Marinette ansiou por uma nova oportunidade de esclarecer o que ele sentia por ela. Não dava para viver naquela dúvida. Precisava confessar o que sentia para, só então, conseguir seguir em frente ao deixar Adrien para trás.

(...)

Naquela noite, a garota sentia-se exausta. A escola e a responsabilidade como Ladybug a consumiam por inteiro. Tirando às vezes que ajudava os pais na padaria. Eram muitas tarefas para somente uma Marinette.

Ela não esperava ver Cat Noir, não queria lutar contra nenhum vilão. Não naquela noite, só queria ficar sozinha com Tikki e talvez se encher de doces para acalmar os nervos. Seus pensamentos foram envolvidos pelas últimas lembranças com o herói e ela suspirou. Seus pais interromperam o clima que rolava entre eles, para pedir opinião sobre um pedido grande que receberam de um casamento. E, quando ela voltou para o quarto, Cat Noir não estava mais lá. O que foi bom em partes, pois teve como reordenar as emoções que praticamente duelavam dentro de si. 

Agora a dúvida a corroía por dentro, continuar alimentando aquele novo sentimento que ela jamais pensou em viver. Ou dar um basta, vivendo sua paixão platônica por Adrien?

Não.

Decidiu que não tinha essa segunda possibilidade, se continuasse a amá-lo em segredo sufocaria. Ou finalmente seria correspondida ou abandonaria de vez aquele amor unilateral.

— O que eu faço, Tikki. — choramingou, colocando o travesseiro na cabeça. — Dou uma chance ao Cat Noir, sendo que sempre o rejeitei como Ladybug. Ou continuo investindo no Adrien, mesmo sabendo que provavelmente ele nunca vai me amar como eu o amo?

A Kwami voou até Marinette, a garota girou o corpo e Tikki abraçou sua bochecha.

— Você fez bem em seguir em frente, Marinette. — aconselhou. — Mas talvez Adrien não seja tão indiferente a você como pensava.

A Kwami não podia revelar o segredo sobre a identidade do garoto. No entanto, como Adrien era Cat Noir, estava óbvio que ele também resolveu seguir em frente em relação à Ladybug. Já que ele não sabia que eram a mesma pessoa. 

Seria mais fácil se pudessem contar a ambos. Plagg e ela faziam o impossível para não revelar esse segredo para os portadores. Não queriam que os Miraculous fossem retirados. Então era o preço a se pagar para que eles continuassem sendo Cat Noir e Ladybug.

Ainda que esse segredo muitas vezes machucasse os dois.

Havia um tempo para tudo, quando Hawk Moth fosse vencido. Adrien e Marinette finalmente poderiam ficar juntos sem segredos entre eles. Era nessa certeza que Tikki se apoiava, ao ver sua ladybug favorita sofrendo daquele jeito.