Yoongi era a joia mais rara de toda a raça de elfos. Sua reputação o precedia e, ainda que muitos nunca o tivessem visto pessoalmente, saberiam reconhece-lo. Pois sua delicadeza ao passear por entre os campos floridos de sua cidade, sua gentileza ao conversar com seu povo, seu talento notório para cantar e sua beleza cativante eram dignas dos deuses e ninguém, exceto o próprio, seria capaz de atingir tão alto grau de perfeição.

Era o príncipe de Vloya, a Cidade das Luzes, conhecida pelas inúmeras luzes que brilhavam a noite. Era o único filho e, portanto, o futuro Senhor da Cidade. Desde bem novo aprendia a história de seu povo; estudava sobre a natureza, magia e música. Sabia compor e cantar como ninguém; recebia seu povo no salão central e ajudava-os com seus problemas; era um ótimo arqueiro e cultivava as mais belas flores e os frutos mais saborosos. Entretanto, ainda que fosse visto como um dos elfos mais célebres de sua era, sentia-se sozinho.

         Não tinha irmãos ou irmãs para conversar, alguém que entendesse o peso de ser filho do Senhor da cidade e a responsabilidade de cuidar de seu povo. Além disso, sua perfeição acabava afastando seu povo de si, já que acreditavam não estar à altura dele. Isso tornava sua vida solitária: estava cercado de admiradores, pessoas que confiavam em sua competência, mas que temiam se aproximar demais. De que adiantava ser tão talentoso se isso lhe custava uma vida normal?

         Era o início da primavera, e vários povos vizinhos chegavam para a festa anual das luzes. A festa era bastante renomada entre os povos élficos da região, que vinham se divertir e encontrar amigos de outras cidades. Os elfos de Fay, Luneem, Myria, Tolt e das províncias de Baixa e Alta Asther vinham à cidade com suas famílias, amigos e conhecidos para brincar, comer, cantar e dançar. A festa acontecia sempre na terceira semana da primavera e celebrava a grandiosidade de Vloya, sem dúvida uma das maiores e mais ilustres cidades élficas. O Senhor e Senhora da cidade recebiam os líderes amigos das cidades vizinhas, mantendo sempre a relação cordial com aqueles que possuíam vínculos. Qualquer elfo que quisesse conhecer a cidade seria bem recebido. Foi assim que Yoongi conheceu Hoseok.

         Yoongi, como príncipe da cidade, deveria ajudar a receber as famílias célebres e aloca-las em alojamentos na sede. As demais famílias chegariam apenas na semana da festa. Alguns príncipes e princesas traziam amigos próximos para acompanha-los; outros traziam guardiões-aprendizes, elfos em treinamento de guardião, um título não existente em Vloya.

Hoseok era um guardião-aprendiz. Seu treinamento teve início em sua maioridade e estava próximo do fim: logo seria um guardião e faria um juramento ao seu Senhor. Vinha de Myria, uma cidade altamente militarizada, conhecida por suas armas incomparáveis, feitas de um metal único, encontrado apenas em Myria. Seu senhor era Jungkook, o príncipe mais novo da cidade de Myria; este, por sua vez, treinava para tornar-se Chefe da Guarda. Mas, por enquanto, Jungkook era apenas um jovem travesso.

Yoongi estava no salão central do castelo, cumprimentando e recebendo as famílias reais das cidades vizinhas. Já havia saudado famílias de quase todas as cidades, salvo a cidade de Myria, que ainda estava para chegar. Usava vestes nas cores verde e prata, cores insígnias de Vloya. Estava tão belo, os longos cabelos amarrados em tranças adornadas com pequenas flores prateadas. Sua aparência, como de costume, parecia irreal.

Quando a família de Myria chegou, Yoongi estava conversando com uma princesa de Fay. Um empregado estava encarregado de conduzir Yoongi de família em família, para cumprir seu papel de anfitrião. Assim, logo foi conduzido a família chegada de Myria.

As vestes de Myria, apesar de bonitas, eram simples e austeras. Eram roupas tipicamente voltadas para guerra e militarismo, em grande maioria escuras, com couro e peles. A comitiva era formada pelo Senhor de Myria, pelos príncipes Seokjin e Jungkook e por seus respectivos guardiões. Como Seokjin já era maior de idade, possuía um guardião jurado. Jungkook ainda não tinha idade e Hoseok, que era mais velho que Jungkook, apenas aguardava a maioridade do príncipe.

Yoongi devia recebe-los, assim como fizera com todas as outras famílias. Devia acolher os príncipes e princesas, perguntar sobre suas viagens, sobre suas cidades, sobre suas vidas. Devia ser educado e sorrir, cumprindo sempre seu papel de único filho e príncipe, seu papel de “joia mais rara”. Na maioria das vezes, o rapaz conseguia sem nenhuma dificuldade, estava acostumado com seus deveres. Anos de treinamento o prepararam bem para estes momentos. Mas não o prepararam para Hoseok.

Ao se aproximar da comitiva, pode ouvir o guardião-aprendiz comentando em alta voz:

— Minha nossa, aqui tem muitas flores! Olha isso, dentro do castelo parece mais uma floresta!

— Fala baixo, Hoseok! Você parece um doido gritando.

Yoongi não soube o que pensar. Quem era aquele guardião-aprendiz tão escandaloso? Estava tão acostumado com conversas baixas e educadas, em parecer bonito e inalcançável que qualquer coisa além disso parecia inimaginável. A liberdade que Hoseok transparecia ao falar e gesticular, a forma com que não se preocupava com o alerta recebido, a facilidade com que ria para todos intrigava Yoongi. O príncipe não entendia o que via: como alguém tão apagado e quieto como ele poderia ser considerado uma joia rara quando, no mesmo mundo, na mesma era, havia alguém tão reluzente e feliz como Hoseok?