Sugar Heart escrita por Tord


Capítulo 20
Queimados pelo sol


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Tudo bem? Já tem um tempo.
Eu sei que disse que não sumiria desta forma novamente, mas... bem, foram uns meses meio de merda.
Fiquei sem emprego por um tempo e bem... não ter como pagar suas coisas é um grande influenciador na sua criatividade. Eu passei por alguns dias bem complicados e minha saúde mental piorou bastante e com isso... estava em condições nenhuma de escrever algo decente.
Consegui um emprego novo tem algum tempinho. E bem, as coisas melhoraram! Mas sabe, emprego novo, tinha que me dedicar 200% pra não fazer feio já que era novato. Só agora as coisas se estabilizaram e finalmente... consegui animo e inspiração suficiente para voltar.
Apesar do tempo fora, eu me diverti horrores escrevendo este capitulo de hoje! To a horas sentado na frente do computador escrevendo sem parar e to muito feliz por tá postando. E bem, eu espero que vocês também gostem! Me esforcei pra compensar todo o tempo longe e dai acabei me empolgando bastante, por isso um capitulo gigante desses! *risos*
Enfim, como de praxe, gostaria de agradecer a vocês, que durante esse tempo de hiatus, ainda assim comentavam me pedindo pra retornar. Obrigado por não desistirem de mim.
Espero que gostem do capitulo! E bem, mais uma vez, to de volta! ;)

—Tord.



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Um estrondo atinge a porta e o impacto causado a faz ser arrombada violentamente enquanto aquela estranha criatura era arremessada através dela e se esborrachava no chão. Aquela entrada brusca imediatamente atrai o olhar das demais pessoas presentes dentro do cômodo para os dois alquimistas que o adentraram.

—Nii-san! Ani!

—Al! – Ani sorri ao vê-lo. – Você está b- Perae! Por que você tá todo amarrado?!

—Nunca imaginei que você seria sequestrado, Al. – Edward comenta.

Enquanto Edward se mostrava surpreso com o descuido do irmão, Ani percorria seu olhar pelo local assim como observava as pessoas ali. O lugar se assemelhava como um tipo de taverna ou armazém estranho e mal cuidado. Após este pequeno estudo do terreno, seu olhar vai para aquele que havia tentado os atrair até aquele lugar anteriormente. Sua aparência era tão singular… Pele de textura estranha, um grande rabo que se assemelhava a um lagarto... Aquilo não era uma pessoa, era?

—Nii-san! Cuidado! Essa pessoa é um homúnculo! – Ao ouvir aquele termo novamente, naquele contexto inesperado, ambos arregalaram seus olhos, focando sua atenção no rapaz alto que estava em frente a Alphonse, este que por acaso não parecia nem um pouco preocupado em ter exposto o seu suposto segredo. – Ele pode ter alguma informação que seja útil para nós!

Edward torna a ficar mais sério. Aquela de fato era uma oportunidade de ouro, mas também era um risco. Já sabiam o que esperar das pessoas com aquela tatuagem, mas não podia negar que o segredo por trás daqueles corpos estranhos realmente poderia significar encontrar uma pista que os levariam até uma forma de recuperar seus corpos. E, além das próprias razões pessoais, também havia outra coisa que tornava aquela interação valiosa.

Ao perceber que havia conseguido a atenção deles, o rapaz abre um sorriso largo e satisfeito com a situação, exibindo sua mão de forma quase ostentadora.

—Uma tatuagem de ouroboros.

Ao verem aquela marca e terem a confirmação do que Alphonse lhes dizia, Ani redobrou sua atenção sobre ele, o observando atentamente enquanto se perguntava se ele, assim como os outros com aquela marca, também a conhecia.

—Eu queria resolver as coisas com o amigão de armadura, mas acabou que não deu certo.

—Se tem algo a perguntar, então pergunte aos seus companheiros. – Edward rebate.

O rapaz estranho arqueia a sobrancelha.

—Companheiros?

—Conhecemos pessoas com a mesma marca que você no quinto laboratório de Central City e junto com eles haviam pessoas com almas fixadas em armaduras assim como o Al. Se é isso o que quer, eles devem saber como fazer.

—Ora, é mesmo? – Abre um sorriso maior. – Bem, infelizmente eu tenho meus motivos para não querer falar com eles.

—Como ela… – Ani murmura, recebendo um leve olhar de Edward como resposta, num pedido mudo para que ela ficasse em silêncio. O alquimista sabia que ambos tinham muitas dúvidas acerca daquela presença, mas manter as informações que tinham em segurança podia ser crucial para que se mantivessem no controle da situação.

—Bom, tenho uma proposta a vocês! – Continua falando o rapaz, um tanto alheio a comunicação não verbal dos dois. – Vocês querem seus corpos de volta, não é? Então fazemos assim: Eu te ensino como criar um homúnculo e em troca, você me ensina como transmutar uma alma. É uma troca equivalente. – Edward permanece em silêncio. – Mas sinceramente… – O homem encara Al. – Você precisa mesmo voltar ao seu corpo antigo? Eu gostei desse corpo! É tão útil!

Aquela frase naquele tom de voz tão despreocupado e fútil simplesmente havia sido uma das coisas mais ultrajantes que Alphonse havia ouvido em toda sua vida. E não foi menos pior para os outros dois que continuavam escutando as propostas que pareciam cada vez mais insanas.

—”ÚTIL” COISA NENHUMA!

—Como não? Você não sente fome, não sente sono e nem fica cansado! É praticamente indestrutível! Não parece maravilhoso?

A cada palavra dita, a expressão de Edward se fechava mais e seus olhos ganhavam um brilho raivoso com mais intensidade. Edward não era uma pessoa tão paciente, mas se havia algo neste mundo que o tirava do sério instantaneamente era se alguém ofendesse seu irmão daquela forma. Embora em silêncio, cada vez mais apertava seus punhos e ficava trêmulo em seu lugar à medida que a raiva aumentava.

—... Ed? – Ani começava a conseguir ver a paciência de seu mestre chegando ao limite e pelo que conhecia dele nesses momentos, sabia que não era lá uma boa ideia que ele explodisse, pois isto sempre o fazia agir sem pensar direito.

—Não me venha com… – Praticamente rosnando ao começar a falar.

—Eddddy…

—Essa…

—E-Ed, tenha cal-

—CONVERSA DE MERDAAA!

—Ah, tarde demais. – Ani suspira.

—ACHA ÚTIL, É? INCRÍVEL, NÃO É? – Cada vez mais enfurecido. - VOCÊ NÃO TEM IDEIA DO QUE É VIVER NA NOSSA SITUAÇÃO E FICA FALANDO ESSAS COISAS??!! VOCÊ QUER INFORMAÇÕES SOBRE COMO TRANSMUTAR UMA ALMA, É? – Ani tapa seus ouvidos ao perceber que viria um grito ainda maior. – EU NÃO TENHO OBRIGAÇÃO NENHUMA DE TE DIZER ABSOLUTAMENTE NADA SOBRE ISSO! LIXOS COMO VOCÊS MERECEM SER SOCADOS! CHUTADOS! ESPANCADOS! EU VOU ARRANCAR TODA A VERDADE DE VOCÊS E FICAR COM TUDO! EU NÃO FAÇO ACORDO COM VILÕES!!

Já ofegante de tantos gritos, Edward finaliza seu discurso de ódio pisando fortemente no chão e apontando para a cara de todos ali. Quando Ed finalmente termina, Ani destapa seus ouvidos, o encarando com um sorriso resiliente, que aos poucos ganha um ar levemente divertido. Tinha amor à própria vida, então jamais diria aquilo em voz alta, mas sempre achava graça de como Edward era a perfeita personificação da frase “Você é grande, mas não é dois.”

No entanto, embora fosse mais prudente manter a calma, era inegável que aquele acesso de fúria tinha fundamento, afinal, ela própria não havia gostado nem um pouco de como aquela pessoa havia ofendido Alphonse.

Não parecendo nada intimidado com os gritos, o rapaz apenas aplaude o showzinho, enquanto um de seus capangas se mostra impaciente e começa a desembainhar sua espada.

—Quer dizer que vai ter que ser a força de novo, é?

Percebendo que o confronto seria inevitável, Edward desvia sem grandes esforços quando foi atacado pela espada daquele capanga, devolvendo o ataque com um chute em seu rosto e o derrubando em poucos segundos.

—Próximo.

—Hm… parece que não é tão fraco quanto imaginávamos. – O líder afirma, não deixando seus olhos atentos dos movimentos de Ed. – Levem a armadura. Vamos desmontá-lo e estudá-lo.

—O-O que?!

Ao verem um dos capangas – Um homem com estrutura notavelmente maior – segurar Alphonse e o levanta-lo pronto para partirem dali, Edward e Ani avançam para cima dele imediatamente, no entanto, o líder deles se coloca à sua frente, impedindo Edward de avançar. Em um movimento rápido, Ani muda o curso de seus passos, girando sobre seus calcanhares e passando por baixo dos braços dele e o mais rápido que pode, bate suas mãos e toca o chão. Não conseguiu evitar de sorrir aliviada ao ver que havia tido sorte de o que queria ter acontecido: Várias pontas de pedra levantaram do chão em direção ao homem que segurava Alphonse, tendo as mais próximas interceptadas por seus braços enormes.

Antes que pudesse fazer algum outro movimento, Ani sente seu calcanhar ser agarrado e então tem seu corpo arremessado para trás. Não teve lá uma aterrissagem muito macia, mas conseguiu reduzir um pouco o impacto ao encontrar o chão.

—U-Ugh…

Com um pouco de dificuldade em acompanhar o movimento das coisas, direciona o olhar para Edward que tentava furiosamente acertar o inimigo, sem sucesso devido a agilidade do mesmo. Aquele definitivamente não era um simples charlatão arrogante. Ele era forte.

No entanto, se levantar e ajudar Edward não foi preocupação inicial de Ani, que discretamente direcionou seu olhar para o chão onde sua transmutação havia acontecido, percorrendo com os olhos o trajeto até a porta por onde Alphonse havia sido levado com certo alivio. Havia conseguido o que queria: sangue no chão. Sangue que acompanharia o caminho que eles fizessem. Sangue que os guiariam até Alphonse depois que conseguissem se livrar daquele cara.

—Aguente firme, Al. – Murmura antes de se levantar.

Ao estar de pé novamente, Ani vai para cima daquele homem assim como Edward fazia, tentando acerta-lo com o mesmo empenho de seu mestre, ao mesmo tempo que tentava desviar dos ataques que recebia. Buscava ajudar a criar uma brecha para que Edward pudesse acertá-lo, ou então encontrar uma para si mesma.

Utilizando alquimia, Edward cria e destrói uma torre de pedra, fazendo com que seus estilhaços e poeira se projetassem sobre o rosto dele, limitando seu campo de visão e o fazendo inconscientemente recuar, aproveitando-se da situação, Ani chuta a parte de trás de seus joelhos, fazendo as pernas do homem penderem e assim dando chance para que Ed prendesse as próprias pernas em seu pescoço, o torcendo e jogando-o ao chão.

—Sua cabeça estava desprotegida! – Exclama vitorioso.

Porém, contrariando suas expectativas e descuidando-se pelo pensamento de que finalmente haviam conseguido pegá-lo, o braço dele se estende numa espécie de lâmina que corta o peito de Edward, felizmente não de forma tão profunda pelos reflexos do alquimista terem o feito recuar imediatamente. O alquimista recua mais, assim como sua aprendiz, surpresos ao verem que ele permanecia consciente.

—Ah, que dooor…. – Reclama. – Uma pessoa normal teria ido direto para o hospital.

—Notei mesmo que você não é nada normal. – Edward comenta, mantendo sua atenção na mão do rapaz que estava recoberta por algum material duro e que não sabia dizer o que era, mas podia ver que aquela coisa não era uma luva ou algo do tipo, aquela coisa emergia da pele dele.

—Mais ou menos. Meu corpo é igual ao de uma pessoa normal. – Estala o pescoço. – Eu apenas tenho um poder de regeneração mais acelerado e meu escudo supremo.

Os dois alquimistas se mantêm em alerta enquanto observavam as faíscas avermelhadas vibrarem sobre o corpo do homem, curando de forma surpreendente as feridas que tiveram tanto trabalho em abrir.

—Entenderam? Não tem como ganharem de mim. É melhor aceitarem o acord-

—Cale essa boca.

O rapaz volta seu olhar para Ani, assim como Ed o faz por um instante.

—Oh? Hm… – Coloca a mão em seu queixo, ficando pensativo por um instante.  –  Quem é você mesma? Não me lembro de ter nenhum assunto contigo.

—Seu corpo é mesmo como o de um humano comum?

—Eeeh? - Arqueia a sobrancelha.

—Seu corpo. – Fecha mais a cara.

—Sim. Igual. Com exceção desses dois pequenos detalhes, é claro. – Abre um sorriso. – Por que isso te interessa?

Ani o encara por alguns segundos, parcialmente imersa em seus pensamentos após receber aquela informação.

—Você… Por acaso me reconhece?

—Hm? – A encarou de cima a baixo. – Por acaso é uma das garotas com quem já fiquei? – Rindo. – Você parece meio nova pra isso!

—Então você não sabe…

Aquele homem conhecia as pessoas que haviam encontrado no quinto laboratório, porém, não a reconhecia. Um homúnculo como eles, mas não queria contato com eles. Será que não eram aliados, ou ele apenas estava desatualizado quanto aos objetivos dos demais?

—Podemos deixar de conversa fiada agora? Porque não facilitamos para todos e fechamos o acordo? São tão idiotas a ponto de perder seu irmão e a vida por conta de orgulho?

—Vamos salvar meu irmão depois de acabar com você. – Edward afirma com convicção. – Essa sua habilidade de regeneração deve ter algum limite, não é? Se eu continuar atingindo seus pontos fracos, em algum mome-

Edward então é interrompido por uma gargalhada vinda daquele homem. Uma gargalhada diabólica, de quem parecia estar se divertindo muito com toda situação que presenciava. Junto com o riso, um olhar irônico os encarou.

—Foi mal, eu estava apenas pegando leve com vocês. – O rapaz retira o casaco de couro que utilizava, o jogando ao chão. – Eu fico feio quando estou assim, então não costumo a mostrar essa aparência para outras pessoas.

Com horror em seus olhos, Edward e Ani observam enquanto o duro material desconhecido que recobria a mão direita daquele homem começa a subir por seu braço e se propagar por todo o restante de seu corpo, o deixando completamente coberto por uma couraça de cor escura que o deixavam irreconhecível.

—Agora entendem? Não há como ganharem de mim. Não vão conseguir me arranhar.

—Que droga é aquilo? – Ani comenta, ainda horrorizada com a forma monstruosa a sua frente.

—Não sei. Mas pra entendermos só tem uma forma.

Com certa hesitação, Ani assente e juntamente com Edward vão para cima do inimigo novamente.

Deferem diversos golpes, em diversos pontos, com diferentes intensidades e modos, buscando mapear aquele escudo e encontrar nele algum tipo de falha, mas embora estivessem em vantagem quanto a números, o Homúnculo não era uma criatura fraca ou lenta. Ele era ágil e a cada vez que se aproximavam o mínimo descuido os fazia não apenas errar o golpe, mas serem retribuídos com outro e sofrerem um impacto extra devido aquela couraça dura.

Mesmo com os esforços de ambos, não demora para que a exaustão os deixasse mais lentos e quanto mais lentos, mais eram atingidos e em alguns minutos, ambos estavam estirados ao chão, feridos, sem energia ou ideias de como ou onde mais atingi-lo.

—Morreram? – Questiona com escárnio ao ver que nenhum deles se mexia. Ao ouvir a provocação, Edward o encara com fúria e se força a se levantar. – Muito bem! Garotos como você precisam ter energia!

Sendo movido puramente pela ira das provocações dele, Edward avança mais uma vez, conseguindo acertar seu rosto, mas como todas as outras vezes, a armadura dele absorve todo impacto e o golpe não surte nenhum efeito, a não ser danificar ainda mais seu automail. Sem agilidade ou bastante pra recuar, Edward é novamente pego por ele e violentamente arremessado para o lado oposto.

—Tão teimoso. Não adianta. Por mais que tente, não vai me vencer. – O homem caminha até Edward o segurando pela gola da blusa e o erguendo no alto. – Que tal aproveitar que ainda estou de bom humor e me contar seu segredo agora?

Edward permanece alguns segundos em silencio, totalmente imóvel e com seus membros pendurados como um boneco sem vida enquanto era suspenso daquela forma. Após alguns segundos, solta um breve riso, que atraí a curiosidade do rapaz.

—Valeu... todo o sangue que tinha ido pra minha cabeça está descendo e agora estou conseguindo pensar melhor... – Outro breve riso. – Estou surpreso que ainda esteja conseguindo me mexer depois disso tudo... – Edward comenta pra si mesmo enquanto movia os dedos do automail e no instante seguinte, junta suas mãos e inicia uma transmutação sobre o braço do homem.

O brilho das faíscas azuis assusta o rapaz, que por reflexo solta Edward. Leva então seu olhar para analisar o local onde o alquimista havia tocado, um pouco confuso e aliviado ao ver que aparentemente nada estava diferente.  

—Você vai continuar insistindo, é? Bem, minha paciência acabou. – Ele volta a se aproximar. – Vou te colocar pra dormir agora.

No mesmo instante, Edward usa alquimia para modificar seu automail, adicionando espinhos em seu punho momentos antes de retribuir o golpe deferido por ele. Seus punhos vão de encontro um ao outro, mas desta vez, surpreendendo o homúnculo, a couraça que antes parecia indestrutível se quebra com o impacto, deixando a mostra a pele viva que estava por debaixo dela.

O homúnculo se afasta imediatamente, encarando Edward e ao próprio braço com um olhar surpreso e confuso enquanto experimentava a dor da lesão deixada pelo golpe. Ainda confuso, faz com que a couraça retorne, cobrindo novamente a área exposta.

—Ainda estou resistente. Que estranho.

Mais atento e com menos deboche do que sua pose anterior, o homúnculo avança para cima de Edward novamente que desta vez aproveita uma brecha para fazer o mesmo movimento sobre a barriga dele, desta vez também, não parecendo que sua alquimia havia feito qualquer efeito sobre o escudo do outro. No entanto, no segundo seguinte, aproveitando-se de uma brecha deixada por ele, Edward utiliza alquimia para elevar grandes espinhos de pedra do chão e atingir em cheio o abdome dele e novamente, o escudo é quebrado e os espinhos os atravessam, ferindo a criatura.

O homem recua imediamente e cai de joelhos ao chão, perturbado pela dor dos ferimentos e por ter sua defesa absoluta de repente quebrada.

—O-O que fez com meu escudo?

—Se parar pra pensar na verdade é bem simples. – Edward se aproxima. – Você disse que é um homúnculo, mas que seu corpo é como o de um humano. E sendo assim, um terço dele é composto de carbono. – O rapaz se levanta com dificuldade. – Dependendo do arranjo dos átomos de carbono, sua dureza pode ser tão forte quanto um diamante ou tão frágil quanto um grafite. – Edward abre um sorriso. – Com isso em mente, o resto é alquimia básica.

—Bom... isso é bom. Se fosse tão fácil não teria graça!

Novamente o homúnculo avança para Edward, que agora, iluminado por sua nova descoberta, se demonstra mais ágil do que o outro e repete o mesmo movimento, novamente sendo capaz de atingi-lo, se aproveitando da ferida aberta para acerta-lo novamente no mesmo local.

—Oh, e acabei de perceber uma coisa. – Edward continua. – Você não consegue endurecer e se regenerar ao mesmo tempo.

Edward direciona seu olhar para Ani, que estava não muito longe dali e embora seu estado físico não fosse melhor que o de seu mestre, observava e ouvia a explicação atentamente, compreendendo o que ele dizia e também se forçando a levantar do chão com dificuldade.

—E-Entendi.

Se mostrando orgulhoso diante do possível triunfo dos alquimistas, o rapaz de mantem longe para que pudesse regenerar totalmente o ferimento de sua barriga e então se proteger com seu escudo novamente. Os encara com escárnio, rindo com deboche para eles.

—Ok, muito lindo. Mas por quanto tempo acha que vai conseguir ficar me acertando com esse estado?

Ele estava certo. No estado que o corpo de ambos estavam não possuíam muito mais energia restando para continuar tentando acerta-lo repetidamente. Perderiam a consciência antes de que tivessem de fato feito algum estrago significativo nele.

Sabendo disso, Edward direciona um olhar para Ani.

—Não temos muitas tentativas.

Ao ouvir aquela afirmação e observar o olhar direcionado para si, Ani compreendia o que ele a queria dizer. Precisavam acabar com ele depressa, precisavam feri-lo o máximo que pudessem. Teria que ser ela. Sua falta de talento teria que ser útil novamente.

Assentindo para Edward, Ani também se coloca de pé, forçando seu corpo a continuar.  

—Vou tentar.

Colocariam suas ultimas esperanças naquilo. Se por algum motivo a imprevisibilidade das transmutações de Ani não estivesse ao favor deles ou se o corpo deles não resistissem até terem o ferido suficiente... provavelmente não teriam mais histórias para contar.

Com o pensamento de dar tudo de si naquele último confronto a porta atrás deles é subitamente arrombada num estrondo que faz todos ali se assustarem, tanto pelo som, como pelo medo de terem mais inimigos para enfrentar. Porém, para a felicidade e surpresa deles quem estava ali era um rosto conhecido.  

—Sensei!

—I-Izumi-san! – Ani sorri aliviada por vê-la. Alivio esse que é apagado por um instante ao ver seu mestre ter o corpo desacordado que Izumi arrastava jogado contra si.

—SEU INUTIL.

—...ah.

—Você não se dá nem ao trabalho de guardar a droga de uma vassoura?

—E-Ela veio pela vassoura?

—D-DESCULPE. – Edward a responde já completamente amedrontado.

Puxões de orelha dados, Izumi finalmente se dá ao trabalho de olhar para a criatura a sua frente, não parecendo se abalar pela aparência assustadora dele e apenas o encarando com indiferença tanto em seu rosto, quanto em sua voz.

—Parece que meu discípulo causou problemas por aqui.

—S-Sensei! Ele-

—Eu sei. Eu ouvi do corredor.

—Ah, fala sério. – O homúnculo exclama com desinteresse. – Eu não quero lutar contra uma senhora.

Embora claramente tenha subestimado a mulher a sua frente, Izumi não se mostra abalada com a provocação. Simplesmente avança sobre ele com um movimento rápido e segura o rosto dele. Sem o dar tempo de reagir repete a técnica descoberta por Edward e logo em seguida chuta fortemente o rosto dele de uma forma que boa parte de seu escudo é totalmente destruído e seu verdadeiro rosto é quem toma todo o impacto do golpe que arremessa o homem contra a parede oposta.

Completamente chocados com a cena, Ani até se esquece do que havia ido fazer quando correu até Edward para ajuda-lo a se levantar.

—E-Ela o derrubou com um golpe.

—Cala a boca e me ajuda. – Edward responde tentando disfarçar o quanto ver aquilo também o causava calafrios.

Tão chocados quanto eles, estava o homúnculo atingido, deixando totalmente de lado seu ar debochado e seguro de antes para encarar a mulher com fúria, finalmente percebendo que subestimar aquela “senhora” não era algo inteligente de se fazer.

—Q-Quem é você?

Izumi enche seus pulmões e repleta da energia caótica que vibrava em si, responde o que costumava a responder sempre que ouvia uma pergunta como aquela.

—UMA DONA DE CASA!

—... E-Estamos salvos ou completamente perdidos? – Ani questiona.

—As duas coisas, mas se não continuarmos parados aqui ao menos vamos viver. – Edward faz um movimento com a cabeça para que Ani o seguisse.

—Já é alguma coisa. – Ani choraminga enquanto o acompanhava.

Edward se coloca em posição defensiva do lado de Izumi e Ani se coloca em mesma posição do lado de Edward, sendo possível observar como a postura que os três assumiam era semelhante, podendo-se notar como certas coisas foram repassadas de mestre para aluno. Concentrados demais na batalha, Edward e Ani deixam este detalhe passar despercebido, mas a autodenominada “dona de casa” imediatamente o percebe, direcionando um olhar para Ani e observando por um momento o estado de seu corpo.

—Ainda de pé. Pelo visto você é alguma coisa, garota.

—... – Havia sido um elogio? Ani deixa o questionamento de lado assim que recebe um olhar feio de Edward, numa ordem para não contraíra-la. – O-Obrigada, senhora!

O pequeno momento mestre-aluno é interrompido por uma nova gargalhada do homúnculo, que já havia tido tempo para recobrar sua calma e sua pose, voltando a debochar deles.

—Uma dona de casa e suas crianças, huh? Que lindo. – Coloca as mãos em sua cintura. – Mas bem, não parece ser uma boa pra mim. – Os demais o encaram confuso. – Tô caindo fora.

No instante seguinte, o rapaz sai correndo, disparando pela mesma porta que seus companheiros haviam partido anteriormente.

—O-O QUE?

Os três instantaneamente fazem menção de correr atrás dele, mas logo após o primeiro passo, Izumi de repente engasga com uma nova crise de tosse e sangue

—A-Ah! Sensei! – Edward ampara seu corpo no mesmo instante.

Vendo o estado de Izumi, Ani olha para a porta que o rapaz havia partido e em seguida para o chão, onde as manchas de sangue ainda estavam ali.

—Ed, eu vou! – Edward a encara. – Se perdemos ele, vamos perder o Al!

Ao perceber que ela tinha razão, Edward não hesita.

—Vai. – Edward assente, assistindo Ani partir pela porta, correndo atrás dele o mais rápido que podia.

—x-

Seguia correndo pelos corredores, frustrada ao perceber que o estado do seu corpo não permitiu que mantivesse um ritmo veloz o suficiente para não perder o homem de vista. Na verdade, mal tinha forças restando para continuar correndo daquele jeito, mas a preocupação com Alphonse a motiva a continuar forçando ar pra dentro de seus pulmões e continuar seguindo as marcas pelo chão. As machas a guiaram até uma tampa de bueiro que dava acesso ao esgoto da cidade. O ambiente escuro dificultava que enxergasse seu caminho, mas enquanto pudesse ver as marcas no chão, sabia que estava no caminho certo e que precisava continuar.

—Esteja bem, por favor... – Ani pedia enquanto corria.

Mas então, as marcas no chão começam a ficar mais espaçadas, ate que finalmente, sumiram. No instante que isso ocorre, Ani para seus passos.

—Droga... não, não.

Começa a olhar em volta, esperando ver alguma coisa no meio daquele breu. Em meio ao seu silêncio, começa a ouvir barulhos vindos de uma direção específica e sem hesitar, segue aquele som, reunindo forças para acelerar seus passos.

Em alguns poucos minutos percorridos, o som que escuta fica cada vez mais próximo, até que de repente para. Quando não é mais capaz de ouvir os barulhos, continua seguindo em frente e após alguns metros percorridos, felizmente seus olhos encontram Alphonse, sozinho sentado próximo a parede.

—AL!

Assim que volta o olhar para ela, Al imediatamente emite um “Shhh!” que faz Ani ficar confusa.

—Al?

—Você está bem. Que bom! – Al comenta, parecendo um tanto perturbado.

—Eu quem digo isso! – Sorri para ele num tom aliviado, porém com uma voz mais baixa. – O que está fazendo parado aqui? Por que não voltou?

—Por minha causa. – Uma voz ressoa de dentro da armadura de Alphonse. – Estou restringindo os movimentos dele.

—E-Eh? Você es-

—Shh!! – Alphonse repreende novamente.

—O que foi, Al?

—O Führer está aqui. Ele atacou aquele cara.

—E-Eh? King Bradley? Por que ele está num lugar como esse?

—Eu não sei, m-mas...

A hesitação de Alphonse faz Ani entender o que acontecia. Al não estava simplesmente preso, ele estava tentando proteger a mulher dentro dele. Se Bradley estava atrás deles... ela com certeza também era um alvo.

—Entendi. Então precisamos sair daqui!

—Eu tentei, mas-

—Eu não saio daqui sem o Ganancia. – A voz ressoa novamente.

—Quem?

—O chefe deles. Ela está me impedindo de me mexer.

—E-Eh...  – Outro com um nome daquele tipo.

Antes que Ani pudesse pensar em uma forma de ajudar Alphonse a convencer a mulher de cooperar, passos ecoam pelos corredores do esgoto. Passos esses que imediatamente atraem seus olhares.

O escuro os impede de identificar quem caminhava até eles ate que a pessoa esteja próxima, mas quando finalmente podem ver, a visão que tem os faz arregalar os olhos. Ali mancando estava o homem, agora nomeado como “Ganância”, totalmente diferente de como havia o visto da ultima vez e com uma aparência ainda mais horrenda do que quando coberto por seu escudo. Um de seus membros fora arrancado, o sangue escorria por seus ferimentos e ao cair ao chão era possível ver uma espada atravessando seu pescoço.

—GANANCIA!

A mulher sem pensar, ameaça sair de dentro de Alphonse ao ver seu chefe naquele estado, mas no mesmo instante, Al a força para dentro novamente, a impedindo de sair.

Caminhando logo atrás, veio o rosto conhecido do Führer, com uma expressão totalmente calma enquanto retirava a espada do pescoço do homúnculo.

—A-Ah...ah...

Vendo aquele conjunto de cenas traumáticas de uma só vez, Ani já se encontrava em choque, com seu corpo tremulo e totalmente paralisado enquanto tudo o que conseguia era continuar observando.

—ABRA! ABRA ISSO! ME DEIXE SAIR!

—Não!!

—EU DISSE PRA ME DEIXAR SAIR!

—Já falei que não!!

A mulher continuava gritando enquanto Al lutava para mantê-la presa dentro de sua armadura. Enquanto isso, Bradley encarava Ganancia de cima, ainda nutrido de uma calma assustadora.

—Já te matei 15 vezes, correto? Quantas vidas mais você tem?

—Desgraçado... – Ganancia rosna já quase sem forças.

—Que merda.

Novas vozes são ouvidas atrás de si. Alphonse volta a cabeça para onde elas vieram, vendo que ali estavam novamente dois dos outros capangas de Ganancia, os mesmos que estavam na sala onde foi interrogado anteriormente.

—O que o Führer tá fazendo aqui?

Os dois se aproximam alguns passos, se aproximando de Al e partindo com suas espadas as correntes que prendiam seus braços e pernas. Com aquela atitude, Al apenas os encara confuso.

—Por favor... A tire daqui. – Eles sorriem – Contamos com você.

É tudo o que eles dizem antes de avançarem de encontro a Bradley. A mulher dentro de Alphonse ao perceber os planos de seus companheiros entra em pânico no mesmo instante.

—ROA? DOLCETTO? NÃO!!

—Você não pode sair!!

Al usa ainda mais força para segura-la ali agora que tinha suas mãos livres. Ani ainda em choque, observa com o olhar os outros dois indo diretamente para o confronto com Bradley e as cenas que vê a seguir, a carnificina que presencia a seguir, faz com que seu estomago revire, seu corpo paralise por completo e seu peito gele.

Em meio aos gritos desesperados da mulher que conforme via seus companheiros perecerem se tornaram suplicas para que Alphonse a libertasse, Ani assistia toda aquela cena, sem conseguir se mover. Sangue. Membros e troncos sendo partidos sem a menor misericórdia embora os rapazes claramente não tivessem a menor chance contra o Führer de Amestris.

Em determinado momento, suas pernas de Ani cedem, e ela cai de joelhos sobre o chão, com o olhar fixo na cena adiante. Seu corpo tremia, não tinha voz, não tinha mais movimento algum. Sua alma deixa seu corpo quando o olhar daquele homem... que até então tinha tanta sua admiração, de repente voltam-se para si.

Porém, quando ele faz menção de se aproximar, a voz atrás de si o faz parar. Lá estava Ganancia de pé novamente, tentando retornar a sua pose segura de sempre, não se mostrando abalado pelas perdas a sua frente.

—Você acha que vou ficar de boa com você fazendo isso com meus capangas?

—Hm... agora está sentindo compaixão? Que bobagem. – Bradley responde friamente.

—Compaixão? Por acaso você é idiota? Eu sou o Ganância. – Abre um largo sorriso, recobrindo uma de suas mãos com seu escudo novamente. – Dinheiro, mulheres, subordinados... Tudo isso é meu! E eu não abro mão de nada que é meu!

—Hm. Você é ainda mais tolo do que imaginava.

A seguir, novos golpes tão rápidos que os olhos mal acompanhavam são deferidos. Ganancia desviou e resistiu o quanto pode, mas no fim o seu desfecho havia sido o mesmo de seus companheiros: Empunhado por quatro espadas em pontos diferentes de seu peito, ele finalmente cai ao chão.

—Bem, porque não fica aí por um tempo?

Bradley dando as costas para o corpo desfalecido do homúnculo, volta a marchar na direção dos demais. Vendo aquilo, o desespero também toma conta de Alphonse, principalmente a partir do momento que percebe que Ani não se mexia.

—A-Ani! Saia daqui!

Mas ela não responde ou desvia o olhar horrorizado de Bradley.

—ANI! Você precisa sair!!

Alphonse tenta se mexer ao notar o silencio da mulher dentro de si e ao perceber que seus movimentos estavam livres, segura Ani pelo braço e a puxa junto a si, pronto para sair dali. Mas tão logo se move, a voz de Bradley faz com que sua alma congele.

—Espere. – Se aproxima mais. – Você é o irmão do Edward Elric, não é? Está ferido? Eu te ajudo.

—E-Eh? – Talvez... talvez não precisasse fugir. Talvez ele não tivesse notado a pessoa dentro de si. – N-Não! Eu estou bem! – Levanta os braços num gesto de “não se preocupe” – Eu posso voltar sozinho!

Entretanto, contrariando o plano de Alphonse, de repente perde novamente o controle do próprio corpo e num instante seu braço agarrava Bradley pela gola contra sua vontade. Notando o que acontecia, Alphonse perde instantaneamente sua momentânea sensação de alivio.

—MARTEL! NÃO! NÃO FAÇA ISSO!

—B-BRADLEY! SEU MALDITO!

—POR FAVOR! PARE!

Em meio as lagrimas doloridas, Martel não dá ouvido a Alphonse e apenas aperta ainda mais o pescoço de Bradley, totalmente tomada pela ira que sentia ao ver seus companheiros sendo mortos a sua frente.

Um segundo.

Quantas mais coisas horríveis aconteceriam em apenas um único segundo?

Um único segundo bastou para que Bradley movesse seu braço e empunhasse sua espada diretamente por uma fenda no pescoço da armadura de Alphonse. Primeiro silencio. No segundo seguinte, sangue esguicha pelas fendas da armadura do Elric mais jovem.

Em um instante, a mão de Alphonse perde a força e um grande estrondo ecoa pelos corredores do esgoto quando a armadura despenca no chão.

—A-A...A-Al..? – Ani murmura, virando lentamente sua cabeça para a armadura caída, seu corpo ainda tremulo parece ser atingido por uma corrente de adrenalina e finalmente consegue se mover. – AL! AL?

Ani corre para perto de Alphonse, balançando seu corpo enquanto observava horrorizada o sangue escorrendo pela armadura dele.

—AL? AL!!

Em pânico por ele não responder, Ani percebe sua cabeça caída, desencaixada do restante do corpo metálico e corre em direção a onde ficava seu selo de sangue. No instante que seus olhos encaram o selo e percebem que o sangue de Martel havia caído sobre o selo da armadura, sua alma é acometida por uma agonia aterrorizante novamente.

—A-Al... AL! – Continua o sacudindo incessantemente. - NÃO, NÃO! AL! ACORDA! AL!

Em meio ao seu desespero, os ouvidos de Ani captam um passo e imediatamente seu olhar aterrorizado retorna para Bradley, que agora havia guardado sua espada e mantinha ambos os braços atrás de seu corpo, numa postura relaxada. Assustadoramente relaxada.  

—Oh... não era isso o que pretendia. – Se aproxima mais um passo.

—F-Fi... F-Fique longe...

—Bem, eu não posso culpa-la por estar assim.

Outro passo.

—L-Longe... – Murmura quase sem voz.

—O campo de batalha não é o tipo de lugar que uma jovenzinha como você deveria estar...

Mais um passo é dado.

—EU MANDEI VOCÊ FICAR LONGE DELE!

Com aquele furacão de emoções que sufocavam seu peito, em meio as lagrimas que inundavam seu rosto, em meio ao horror que tremia todo seu corpo, as mãos dela se encontram furiosamente e uma onda de faíscas azuis ressoa delas.

Um segundo.

Milhões de espinhos, de diferentes tamanhos, formas, materiais. Metal. Pedra. Carbono. Provindos do concreto. Dos canos. Da água. Do sangue.

Uma enorme jaula de espinhos envolve o corpo de Alphonse, todos eles apontados ameaçadoramente na direção de Bradley. Alguns deles perigosamente fincados perto de seus pés.

Já a maior autoridade de Amestris não mexe um musculo sequer. Permanece com uma postura relaxada no mesmo lugar de antes, encarando-a com um olhar sério.

—Senhorita, eu estava apenas tentando ajud-

—NÃO CHEGUE PERTO! SE VOCÊ CHEGAR PERTO EU JURO QUE VOU MATAR VOCE! NÃO OUSE CHEGAR PERTO DELE!

Os gritos estridentes dela não fazem a expressão dele mudar e ele continua a encarando com indiferença. A expressão de Bradley só muda por um breve instante, quando percebe que por entre as grandes estacas que apontavam para si, sombras começavam a se esgueirar, se alastrar por elas, também ameaçadoramente direcionadas para si. Sombras muito semelhantes a mãos.

—Hooh...

O olhar dele retorna para Ani, que agora tremia ainda mais, colocando seu corpo acima de Alphonse, como se quisesse cobri-lo, protege-lo.

—N-Não chegue perto...

—Senhori-

—NÃO CHEGUE PERTO!

Bradley suspira ao perceber que não teria chance de dialogar civilizadamente com ela. Infelizmente... parece que teria que ser do outro modo-

—ANI! ALPHONSE!

Correndo entre a escuridão daqueles tuneis, Edward aparece, acompanhado de alguns outros militares, estes que ao verem a cena, imediatamente se colocam a postos, apontando suas armas para Ani. Embora abalado com a imagem a sua frente e sem compreender o que acontecia, Edward segue em frente, se espremendo por entre os espinhos e indo até ela.

—AL! ANI!

Edward olha para Alphonse caído ao chão e para o sangue que escorria por entre suas peças. Em seguida confuso e horrorizado, volta o olhar para Ani, quase não conseguindo reconhecer aquele olhar no rosto dela.

—FIQUE LONGE DELE!

—Ani!! – Edward a segura pelos braços.

—EU VOU MATAR VOCÊ! – Ela não parecia ouvi-lo – EU VOU ACABAR COM VOCÊ!

Um novo som ressoa pelo local. Não mais os gritos de Ani e sim o som que foi emitido quando um tapa foi deferido contra seu rosto.

A mente dela parece raciocinar, sair daquele transe de ódio que havia entrado sem perceber. Lentamente, volta o rosto para frente, só então notando a presença de Edward a sua frente.

—E-Ed...

—Para. – Ani estremece. – Se você continuar. Não vamos sair daqui vivos.

O alerta sussurrado de Edward faz Ani olhar a sua volta e perceber as armas apontadas em sua direção, só então parecendo acordar para o que estava acontecendo.

—E-Ed, o-o Al...

—Calma. – Ele a encara sério, apertando seus braços novamente e então indo pra perto de Alphonse, sendo seguido por ela.

Vendo o gesto dos dois alquimistas, Bradley que nem por um momento trocou sua expressão de calmaria, simplesmente levanta um de seus braços, numa ordem para que o restante dos militares abaixassem suas armas, ordem que foi acatada imediatamente. O Führer observa por um instante Edward analisando Al com certa preocupação enquanto ainda tentava acalmar Ani e em seguida ergue seu olhar para os espinhos que apontavam para si.

A sombra havia desaparecido.

—x-

Lentamente, recobrava sua consciência e conforme seus limitados sentidos iam retornando, cada vez mais alto podia ouvir uma voz família o chamando.

—A....Al...AL! AL! ALPHONSE!

De repente abre seus olhos e dá de cara com o rosto de seu irmão a sua frente. Um pouco atrás dele, Ani também o encarava, assim que o percebe mover a cabeça, os olhos dela se inundam, mas ela segura o choro.

—Nii...san...

—Você está bem?

—E quanto a você, Nii-san? Está coberto de sangue...

Edward então desvia seu olhar, olhando para baixo com uma feição preocupada e Alphonse acompanha seu olhar.

O corpo do Elric mais jovem paralisa ao ver a parte frontal de sua armadura aberta, assim como a quantidade de sangue que saia dela. Atrás de Edward, ao chão, estava um corpo coberto por um lençol. Só então ele compreendeu... aquele sangue não era de seu irmão.

—Tivemos que te abrir para tirar ela. – Armstrong, que também estava ali, explica a Alphonse.

Ao receber aquela informação, Al se encolhe, cobrindo seu rosto.

—Não consegui salva-la...

Edward encara ao irmão com compreensão. Triste por vê-lo naquele estado, embora aliviado pro vê-lo bem.

—Não foi sua culpa. – Após um suspiro, Edward se força a abrir um sorriso para o irmão. – Vamos. Vamos embora. – Ele não se mexe. – Al.

Só então, após o segundo chamado, Al tira as mãos de seu rosto e encara o irmão.

—Sim.

—Um momento.

Aquela voz. Aquela voz novamente lhe causa arrepios, mas mesmo assim direcionam o olhar para Bradley que se aproxima deles com a mesma calma assustadora de antes. Ani se aproxima dos irmãos instintivamente.

—Quero fazer uma pergunta a vocês. – Para a frente deles. – A pessoa por trás desse incidente, o homem chamado Ganancia. Ele é conhecido de vocês?

—Não, senhor. – Edward responde sem hesitação.

—E por acaso conseguiram alguma informação importante dele?

—Nada do interesse do exército.

—Não me entenda mal. Não estou perguntando pelo exército. – A calma daquele homem era totalmente contraria a aura assustadora que a voz dele emanava, juntamente com o grupo de militares armados bem atrás dele, prontos para disparar. – O que quero saber é... Se vocês fizeram algum tipo de acordo com eles. – Bradley os encara seriamente. – Vocês se aliaram a essas pessoas que planejam prejudicar o exército?  

—Não, senhor. – Edward responde com a mesma firmeza. – Mais alguma pergunta?

Bradley estreita os olhos.

—Seu braço de aço e o corpo do seu irmão não estão relacionados, estão?

Edward não o responde apesar da surpresa por ele ter ligado os pontos daquela forma. Apenas direciona um olhar sério e silencioso ao Führer.

Vendo essa atitude, Bradley sorri. Um de seus sorrisos amigáveis que costumava a dar para os civis.

—Você é dos sinceros, hm? – O olhar de Bradley se volta para Ani, a encarando por alguns segundos. – Não se preocupe, senhorita. Eu compreendo que os acontecimentos que presenciou foram um choque e tanto. Não estou ofendido. – Calmamente, dá as costas para ele, caminhando para longe. Os outros militares imediatamente marcham junto a ele, o seguindo para fora dali. – Hora de nos retirarmos. Cuide bem do seu irmão, do aço.

Suspirando discretamente em alivio, Edward se volta para Ani e seu irmão.

—Vamos embora.

—Sim. – Os dois respondem em uníssono.

—x-

Já de volta a residência de sua professora, ainda meio abalados por todo o estresse vivido, agora os três alquimistas podiam relaxar um pouco num ambiente seguro. Os três agora se ocupavam em ajudar Alphonse a limpar o sangue de sua armadura, tarefa trabalhosa por conta da quantidade de peças.

Ali junto a eles, estava General Armstrong, um de seus poucos contatos de confiança dentro do exército.

—O tal do Ganancia tinha uma tatuagem de ouroboros na mão. – Edward lhe explicava todo o ocorrido.

—Uma tatuagem...

—Você lembra quando falei disso com o Tenente Coronel Hughes, não é? São pessoas que tem alguma relação com a pedra filosofal.

—Hughes...

A voz de Armstrong tinha certa dor em seu tom ao ouvi-lo mencionar o nome do companheiro, no entanto, os três alquimistas não notam isso, estando todos imersos em seus próprios pensamentos.

Edward só desperta das próprias reflexões quando Armstrong subitamente segura seus ombros, o encarando sério.

—Edward Elric, não faça nada imprudente.

Edward imediatamente estranha o quão sério era o olhar que ele direcionava para si, mas não o questiona embora estivesse confuso. Apenas concorda. Após isto, Armstrong apenas se levanta e os deixa.

Edward continua encarando as costas dele enquanto ele ia embora, até que a voz de seu irmão chama sua atenção novamente.

—Nii-san... Eu recuperei minhas memorias daquele dia.

Edward arregala seus olhos.

—E como foi?

—Bem... muito louco? – Meio sem saber como descrever tudo o que havia visto. – Mas... eu não consegui nenhuma informação sobre a transmutação humana.

—Oh... – Edward suspira. – É mesmo?

—Sim... no fim, não descobrimos nada de novo.

—Não necessariamente. – Edward responde. – Você lembra do que o Führer disse em Central City? Sobre o que aconteceu no quinto laboratório? Ele disse que algum tipo de atividade ilegal estava acontecendo entre pessoas do exército.

—Sim, eu lembro. E que seja lá o que eles estivessem fazendo, tinha algo a ver com a pedra filosofal e com as pessoas com a tatuagem de ouroboros. Por isso ele está atrás deles, não é?

—Aquele Ganancia também tinha aquela tatuagem. Se o que ele queria era informação, então porque os matou antes de tudo? Se ele quisesse saber quais eram os planos dele, iriam o prende-lo e interroga-lo, não acha?

—Você tem razão. – Al encara o irmão. – Além disso é muito estranho que tantos militares estivessem lá quando só tinham poucos inimigos, além do próprio Führer aparecer pessoalmente!

—Sim... é tudo muito estranho. – Edward encara o irmão de volta. – Vamos ter que ficar de olho aberto no exercito por mais tempo.

—Sim.

Apesar de todas as novas descobertas e pistas que lhes causavam questionamentos e ansiedade, os dois irmãos quase que instantaneamente estranharam o fato de não ouvirem uma terceira voz comentando sobre aquilo com o mesmo entusiasmo que eles.  

Ani permanecia em silêncio, esfregando o tecido em uma das peças da armadura de Alphonse de forma quase mecânica. Já havia limpo aquilo há muito tempo, mas sua mão continuava se movendo, embora seu rosto não parecesse prestar atenção no que fazia.

—Ani..? – Alphonse a chama.

—Hm? – Ani volta seu olhar para eles. – Ah. Desculpa. – Responde sem animo em sua voz. – Eu já terminei.

Ani se levanta do chão e caminha até Alphonse, silenciosamente voltando a encaixar a peça de seu ombro no lugar original.

—Você está bem? – Edward questiona.

—Não. Não estou. – Ani termina de colocar a peça e volta a se sentar no lugar onde estava antes. – ...Foi a primeira vez que vi alguém sendo morto. Ainda mais… daquele jeito. E depois o que aconteceu com Al...

—Entendo.

—Desculpe, Al. – Ani a encara. – Eu sei que deve ter sido muito pior o que você viveu. Mas… – Suspira. – Depois do que aconteceu com a Nina achei que soubesse o que teria que enfrentar daqui pra frente, mas… isso…

—Isso é só o começo.

A fala tão direta e até um pouco insensível de Edward faz Ani arregalar os olhos e logo em seguida estremecer. No entanto, ao encarar seu mestre, não via qualquer resquício de más intenções ao dizer aquilo. Ele estava simplesmente sendo honesto.

—Sei que também consegue perceber que estamos indo cada vez mais fundo nessa história. O que estamos fazendo aqui é como tentar alcançar o sol. Quanto mais perto chegarmos da verdade, mais vamos nos queimar e piores vão ser as queimaduras.

Ouvir aquela explicação faz o olhar de Ani se nutrir de ainda mais medo diante daquela possibilidade, principalmente por conta da plena consciência em saber que Edward estava certo. Depois do que haviam visto, depois do que haviam ouvido, Ani sabia que estavam entrando em algo muito maior do que poderiam prever inicialmente, algo que não envolvia simplesmente encontrar um alquimista bom o suficiente que pudessem os ensinar algo útil sobre a pedra filosofal ou encontrar alguém que havia conseguido concluir uma transmutação humana com sucesso. Haviam se deparado com algo grande e perverso que envolvia o exército, o país... e agora eles. Sabia muito bem que Edward estava certo no que dizia, mas ainda assim não saber mensurar tamanho do que estavam se metendo era assustador. Poderia ser pior? Pior do que o que viu até então? O que seria pior do que havia visto hoje?

—... Ani, acho que deveria ir pra casa.

Ani tem sua linha de raciocínio bruscamente interrompida e a princípio se pergunta se havia ouvido direito, mas ao voltar os olhos para o mais velho e ver sua expressão ainda séria, percebe que não havia entendido mal.

—E-Está me dizendo pra ir embora? Acha que não consigo acompanhar vocês..?

—Eu não sou ninguém para dizer o que você pode ou não aguentar. Você quem tem que dizer qual o seu limite. – Edward mantém o olhar sério sobre ela, suspirando brevemente. – Mas vejo como isso está te deixando. E como seu mestre, eu tenho que te dizer: Tudo bem se esse for seu limite.

Ani não o responde imediatamente, apenas mantem um olhar incrédulo sobre Edward por alguns segundos e então o desvia. Permanece em silêncio e com seu olhar distante, sem encarar diretamente a nenhum dos dois, mantendo seu olhar no chão enquanto refletia sobre o que havia ouvido.

—... Como vocês conseguem? Depois de tudo o que aconteceu vocês simplesmente… “Ok, vamos em frente.” – Franze o cenho. – Como..?

—Não é fácil para nós também. – Al responde. – E mesmo que às vezes pareça, não somos menos abalados por isso do que você. Só... Estamos mais acostumados.

—Nós precisamos sempre lembrar do porque estamos fazendo essas coisas. – Edward tira o seu relógio do bolso, o segurando sobre a palma de sua mão na visão de Ani. – É isso o que mantém eu e Al firmes na nossa jornada e é isso o que você também precisa saber com clareza. Senão você vai cair a cada vez que algo te balançar. – Edward a encara seriamente. – Por que você está aqui? E uma resposta que envolva eu e Al não vai servir. Por que você está nisso?

Ao ouvir o questionamento de Edward, Ani continua a observar o relógio que ele havia o mostrado enquanto buscava uma resposta não só em sua mente, mas em sua alma. Por qual motivo continuava os seguindo? Por qual motivo continuava os acompanhando para dentro daquele furacão?

Ani volta seu olhar para o céu, refletindo silenciosamente em busca de uma resposta que fizesse sentido para si.

—Eu vim aprender alquimia.

—Se é só isso, poderia ter procurado qualquer outro alquimista mais próximo. Não precisava ser eu.

—Eu já havia tentando aprender antes. Sozinha e com ajuda de outros alquimistas. Mas nenhum deles conseguiu me ajudar, nenhum deles conseguiu uma pista do porque eu não conseguia. Diziam que eu simplesmente não era boa nisso e desistiram. Tinha que ser você. Você era o melhor.

—E simplesmente querer aprender alquimia ainda é o bastante pra te fazer encarar o sol? – Al questiona num tom ameno. – O que queremos está lá, então não temos escolha. Mas e você? Você não precisa ser uma alquimista se quer curar pessoas. Você pode estudar medicina, atingir o mesmo objetivo sem precisar da alquimia.

Alphonse estava certo. Não precisava da alquimia se o que queria era ser uma médica, não precisava segui-los para aprender como curar feridas e doenças. Então... por que continuava? Por que embora tudo o que a fazia querer se levantar dali e ir embora... algo ainda a fazia querer ficar. Algo lhe dizia que precisava ficar.

De repente, a voz dela vem a sua mente.

“Eu sou a pessoa que vem tentando salvar você”

“Se você não se lembra de quem é, eu também não posso ser quem eu sou”

“É perigoso ficar perto deles. É perigoso ficar em Armestris.”

“Eu lhe pedi para ficar longe dos militares, eu pedi para ficar longe dos alquimistas”

—....Isso não é mais sobre aprender alquimia. Agora eu consigo entender que tem algo errado com esse país. E seja lá o que o exército e aquelas pessoas escondem, é algo tão grande que por coincidência ou não, acabou conectando nós três. Eles querem vocês… E por alguma razão querem a mim também.

—De algum jeito acabamos juntos nessa história. – Edward ri de forma sarcástica, acabando por arrancar um riso sem ânimo dela também.

—Eu estou tão cansada de não saber de nada. Tô cansada de ficar esperando que Ina resolva aparecer do nada de novo e jogar mais uma peça de algum quebra-cabeça maluco que não faço ideia de como se parece. E estou irritada porque enquanto isso, tudo o que consigo fazer é ficar esperando que alguém me sequestre ou tente me matar de novo enquanto tento descobrir sabe-se lá o que ela quer que eu entenda para só então poder saber de algo que é sobre mim mesma!

Ainda sem ânimo, Ani se levanta, voltando seu olhar para o chão. Ficou refletindo em silêncio por longos segundos enquanto encarava aos próprios pés e aos poucos apertava mais e mais seus punhos pois a cada segundo sentia mais raiva. Sentia raiva de sua própria ignorância. Sentia raiva da própria impotência.

—De algum jeito, acabamos juntos nessa história.

Ani repete a frase dita por Edward, erguendo a própria mão para seu campo de visão, se recordando de quanto Ina lhes mostrou seu poder de regeneração, lembrando claramente da visão daquelas faíscas carmesim que reviravam sua mente de perguntas. Ani então abaixa sua mão novamente e silenciosamente, reúne em seus pulmões todo o ar que conseguiu antes de libertá-lo em forma de um grito alto e estridente.

Embora tenham ficado surpresos com o grito repentino, os dois irmãos não se mostram abalados, já estando ambos habituados ao estilo cruamente sincero dela lidar com os próprios sentimentos.

Desde o momento que a conheceram, Ani havia se mostrado ser uma pessoa sincera e extremamente leal ao que sentia. Chorava, ria e esbravejava conforme sentia vontade. Era forte na medida que sentia que podia e demonstrava fraqueza sempre que precisava. Nenhuma daquelas faces eram razão para envergonhá-la se fosse aquilo o que precisasse fazer para se reerguer.

Ao fim do grito, Ani ficou ofegante por alguns instantes, precisando apoiar as mãos nos próprios joelhos enquanto tentava recuperar o fôlego.  Do fundo de sua alma, reafirma para si mesma mais uma vez qual era sua resposta, antes de voltar o rosto para os outros dois.

—Eu quero o sol.

Em seu rosto, escorriam silenciosas lágrimas por suas bochechas, mas seu olhar brilhava uma nova fúria.  

—Eu quero o sol. – Repete – Mesmo que eu acabe totalmente carbonizada no final, eu não me importo! Eu estou farta de esperar que me digam como alcançar a verdade sem me queimar! Estou farta de esperar que me entreguem as respostas! Não vou pra casa. Se vocês vão enfrentar o sol, estou pronta para enfrentá-lo também.

Alphonse solta um suave riso com aquela resposta, assim como Edward abre um leve sorriso. Os dois irmãos se entreolham por um momento, assentindo silenciosamente um ao outro antes do mais velho também se levantar, esticar seu braço e dar dois leves tapinhas no alto da cabeça dela.

—Certo. Vamos em frente.

—Sim, senhor. – Responde ainda um tanto chorosa.

—Agora, pare de chorar e vamos limpar essa bagunça.

Ani leva suas mãos até seu rosto, usando o tecido de suas luvas para secar as lagrimas de seu rosto, respirando fundo algumas vezes para acalmar o próprio choro e então os encarando novamente.

—Sim, senhor. – Assente, passando a olhar em volta. – Onde está meu pano?

—x-

Já tarde da noite, Ani retorna ao quarto, tomando o máximo de cuidado possível para produzir a menor quantidade de ruído, pois não estava nem um pouco a fim de acabar acordando Izumi e sofrer uma nova tentativa de homicídio por parte da dona de casa enfurecida.

Após a conversa de mais cedo, Ani preferiu permanecer algum tempo sozinha do lado de fora da casa, esperando que observar o céu e procurar constelações que conhecia a ajudassem a colocar seus pensamentos um pouco no lugar. Embora não tivesse de fato se preocupado em procurar alguma estrela, o tempo sozinha a ajudou a se acalmar o suficiente pra tentar quem sabe, ter uma noite de sono decente.

Ao adentrar o cômodo, percebe que Edward já havia se rendido à todo o cansaço acumulado depois daquele longo dia e estava adormecido sobre a própria cama enquanto Alphonse, como sempre, estava sentado no chão ocupando seu tempo com um livro em suas mãos, o qual não estava realmente lendo, pois, sua mente também estava turbulenta.

—Você demorou.

—Desculpa. – Sorri. – Muito o que pensar.

—Você está melhor?

—Vou ficar.

Ani caminha até o lado de Al e se senta no chão próximo a ele. De forma automática, recosta seu corpo no grande braço dele, fechando seus olhos e suspirando discretamente. Alphonse se mantém em silencio enquanto observava o que ela fazia, ainda um tanto preocupado com seu cansaço aparente.

—... Você precisa de um abraço?

Ao ouvir aquela pergunta, Ani gargalhou baixinho, som que apesar de sem a energia de sempre, foi o bastante para deixar o maior um pouco mais tranquilo.

—Acho que… – Ani segura a mão dele. – Estou bem só com isto.

—O-Oh. O-Ok.

Meio sem saber ao certo como agir naquela situação, Al simplesmente segura a mão dela de volta, tomando cuidado para não apertar demais por conta da falta de sensibilidade.

—Gosto das suas mãos. – Ani comenta, num ar de quem falava mais consigo mesma do que com o outro.

—Gosta?

—Uhum.

—Mas… – Encara sua mão livre, movendo seus dedos com curiosidade – Esse material é feito para ser resistente. Então não é áspero?

—Pfff! – Gargalha baixinho, tomando cuidado para não acordar Edward. – Eu não gosto delas por causa da textura, eu gosto delas porque são suas.

—Oh.

—Me surpreende o quanto você consegue ser lerdo as vezes sendo que normalmente é tão esperto.

—Ah.  

Ani gargalha novamente, voltando a fechar seus olhos e ficar em silencio, encontrando conforto no frio do aço da armadura dele. Em seu olhar exausto e nas olheiras que já ameaçavam aparecer abaixo dele, a expressão de Ani emanava principalmente alivio. Alivio por ouvir a voz dele. Sentia seus olhos ameaçarem transbordar novamente quando a simples lembrança do medo que teve de que Alphonse não voltasse mais retornava a sua cabeça. Do medo de que ele tivesse sumido pra sempre... Enquanto ela não havia conseguido ajudar em nada.

—Al?

—Hm?

—Me desculpa. – Aperta mais a mão dele. – Você já estava tendo problemas... e eu só fui outra coisa pelo qual você teve que se preocupar. Não vai acontecer de novo.

—Você não teve culpa por ter reagido daquela forma, Ani. Poucas pessoas conseguiriam reagir de outra forma vendo aquilo. – Ele também aperta sua mão de volta. – Além disso, Nii-san me contou o que aconteceu depois que eu perdi a consciência. Você me protegeu.

—M-Mas... mas foi quando era tarde demais! E-Eu só consegui me mexer quando já tinha acontecido. S-Se você não tivesse voltado.... S-Se tivéssemos te perdido-

—Ei. – Ele a interrompe. – Você não tem que conseguir lidar com tudo. Ainda mais com coisas como essa. – Alphonse a encara. – Você só tem 14 anos, lembra?

Ao ouvir aquela fala, Ani o encara por alguns segundos, num ar surpreso por ouvir aquilo dele e no instante seguinte, abre um sorriso choroso juntamente com uma gargalhada com um pouco mais de vida, enquanto dava um soquinho em seu braço.

—Sou eu quem sempre tô dizendo isso pra vocês!

—Pois devia começar a ouvir a si mesma. – Al retruca num leve riso. – Não se cobre demais. Estou feliz que vocês estejam bem.

Ani recosta mais sua bochecha contra a armadura fria, sorrindo mais abertamente enquanto voltava a ficar em silencio, ainda aproveitando a deliciosa sensação de alivio e gratidão que sentia por agora estarem ali, naquele quarto, em segurança.

—Al?

—Hm?

—Eu estou tendo forças para continuar graças a vocês. – Al a encara novamente. – Não só porque quero que também consigam o que procuram… mas porque me sinto mais forte estando junto com vocês. Se eu estivesse sozinha... talvez não tivesse forças pra continuar em frente. Então... obrigada. Por me aceitarem aqui. Por estarem comigo.

Ao ouvir aquilo, o Elric mais jovem continua a encarando em silencio por alguns segundos enquanto refletia sobre o que ela havia dito.

—...Acho que poderíamos agradecer você pela mesma razão. – Ani encara Al. – Não sei se posso dizer pelo meu irmão, mas ao menos para mim, desde que você chegou as coisas parecem ter ficado mais leves. Ter quem me lembre que eu “só tenho 14 anos”, ter com quem conversar, brincar e me comportar feito uma criança boba depois de tanto tempo sendo assim… – Al encara a própria mão novamente. – Eu acabei deixando de lado tantas coisas que costumava fazer antes que as vezes quase me esquecia de quem eu era. Mas… Você me ajuda a lembrar. – A encara. – Me ajuda a lembrar o que eu exatamente quero ter de volta. E isso também me faz sentir mais forte.

—Pfff... – Ani recosta a bochecha nele. – Que bom que ajudamos um ao outro. Espero que Ed também se sinta desse jeito. Não é justo que ele se comporte como um sábio idoso o tempo todo. – Ani abre um sorrisinho divertido. – Ele só tem quinze anos.

Alphonse gargalha.

—Bem, eu acho que ele também se sente assim. Ele também parece mais relaxado desde que você chegou. – A encara com um certo ar de divertimento. – Mesmo que você tenha o costume de faze-lo perder a paciência com frequência.

—P-Pfff... – Ani sorri mais abertamente, encarando o Elric mais velho adormecido não muito longe dali. – Fico feliz de conseguir retribuir de alguma forma o que vocês fazem por mim.

—Nós também.

Com um sorriso suave em seu rosto, Ani fecha seus olhos, ainda recostada em Alphonse e ainda segurando sua mão. Al também permanece em mudo, deixando que aquele silencio confortável continuasse os rondando, tranquilo ao perceber que conforme os minutos passavam, o aperto da mão dela ia afrouxando aos poucos, até que percebesse que ela havia pego no sono.

Alphonse direciona seu olhar para o rosto adormecido, ainda se sentindo preocupado ao ver o quanto ela parecia abatida depois de tudo. Tendo ela finalmente dormido, o maior a pega nos braços e a leva de volta para cama, para que pudesse descansar melhor. Em seguida, volta a se sentar no chão para continuar lendo seu livro, dessa vez próximo a cama dela.

Não muito distante de onde se recuperavam daquele longo dia, uma figura misteriosa, mas de rosto familiar, observava a cena, nutrindo em seu rosto um alivio muito semelhante ao seu Alphonse.

—... Quando você vai parar com isso, Ani..?


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Notas finais do capítulo

Você gostou do capitulo? Não gostou? Tem alguma sugestão, pergunta ou elogio? Se sua resposta a alguma dessas perguntas for "sim", por favor deixe seu comentário aí embaixo! Isso me incentiva muito a continuar com meu trabalho!
Dá uma conferida lá no meu instagram, onde eu posto o andamento da escrita dos capítulos e também posto umas coisas nada a ver e uns desenhos que eu faço as vezes. ;) https://www.instagram.com/tord_thewriter/
Até o próximo capitulo!

—Tord.



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