Sugar Heart escrita por Tord


Capítulo 16
O mal que existe no bem e o bem que existe no mal


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi! Tudo bom? Tamos de volta! No caso, eu estou! *risos* Hmmmm... foi tão facil escrever esse capitulo que eu estou até com medo de não ter ficado tão bom! Eu estava empolgado em voltar a escrever Sugar Heart e sair desse meu hiatus de férias! Mas apesar desse medinho, eu me diverti bastante escrevendo e espero que vocês também gostem!
Muito obrigado a todos que vem acompanhando a história e muito obrigado por todo o apoio que sempre dão para mim.
Voltemos a programação normal! Boa leitura!!

—Tord.



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Após a aparição repentina e no mínimo inusitada de Ina, os três alquimistas a encavam com olhares desconfiados, pois nunca sabiam quais eram as intenções dela sempre que surgia. Desta vez ela vinha em paz? Só queria conversar? Estava pronta para começar um combate ali mesmo? Sempre era uma incógnita saber o que ela queria.

—Ah. Ela realmente veio. – Ani ainda estava chocada. – ... É assim que eu te “invoco” ou sei lá? – A pergunta besta a fez levar outro cascudo de Ed. – AIE! EU SÓ TÔ PERGUNTANDO!

Vendo a cena, Ina continua os encarando de forma inexpressiva e ao ouvir a pergunta de Ani, suspira.

—Eu não vim porque me chamou. – Se aproxima. – Vim para ver você.

Vendo a outra se aproximar, Ani se levanta da cama e caminha até ela, a encarando com uma feição incomodada. Ainda não tinha se acostumado a ver o próprio rosto em algo que não fosse seu reflexo em um espelho ou numa poça d’agua.

Ina a encara em silêncio durante alguns segundos, levando uma das mãos até o rosto dela e acariciando sua bochecha suavemente. Sem saber muito bem como reagir a aquele toque, Ani permanece parada em silêncio.

—O que houve com seu braço? – Pergunta voltando o olhar para ele.

—Oh. Eu o machuquei lutando com o Slicer.

—Oh... – Feição compreensiva. – Com aquela explosão.

—Sim. Dizem que a energia é sempre liberada dos dois la- PERAI! – Arregala os olhos. – VOCÊ TAVA ALI VENDO TUDO? – Ina balança a cabeça positivamente. – E POR QUE NÃO FEZ NADA? NÓS QUASE MORREMOS ALI!!

—Aquela armadura parecia mais concentrada no alquimista e não em você. Mas se estivesse realmente machucada, eu faria algo. – Responde com frieza. – Além disso... Estando naquele lugar eu queria evitar ao máximo exposições desnecessárias

—Está falando daquelas pessoas com a tatuagem? Sabia que elas estavam ali também?

—Eu tinha uma ideia. – Ela fecha sua expressão. – Se tivesse ficado em silêncio, eu acreditava que eles não reconheceriam você já que faz muito tempo... E por você não se lembrar de nada. Mas infelizmente... – Encara Edward com certa raiva em seu olhar. – Eu me esqueci do seu apreço por este alquimista. – Abre um sorriso sem ânimo. – As coisas ficaram complicadas agora.

—Como assim?

—Eu lhe pedi para ficar longe dos militares, eu pedi para ficar longe dos alquimistas...

—É! Você me pediu tudo isso depois de me dar zero explicações sobre o porquê disso! – Ani começava a se irritar, já de saco cheio de tantos mistérios e de tantas perguntas sem resposta. – Eu sei que você diz que está tentando me proteger, mas... Mas eu tenho muito mais motivos para confiar neles do que em você! – Aponta para os irmãos, Ina desvia seu olhar. – Então se quer que eu acredite em você, vai ter que me explicar quem são aquelas pessoas, o que diabos significa aquela marca e por que tenho ela!

Ina parece travar por um momento, arqueando uma sobrancelha assim que ouve o final da fala dela. A expressão dolorida que havia assumido após ter sido colocada abaixo dos irmãos Elric se suaviza por um momento.

—Você? – A encara surpresa. – Você também tem essa marca?

—E-Eh..?  Bem, tenho...

A feição de Ina adquire uma surpresa maior, que em breve se transforma num largo sorriso e um suspiro aliviado.

—M-Mesmo? De verdade?

—S-Sim. – Foi a vez de Ani arquear a sobrancelha. – Você não sabia disso? Você sempre parece saber de tudo!

Ina balança a cabeça negativamente.

—Isso quer dizer que estamos conectadas. – O sorriso dela aumenta.

—Estamos? – Ani encara aos irmãos que pareciam tão perdidos quanto ela.

A alquimista estava ainda mais confusa com toda aquela conversa sem pé nem cabeça, embora já estivesse se acostumando a ter esse tipo de conversa com Ina.

—Hey! Não é hora de ficarem encantadas uma com a outra! – Ed protesta, também se levantando e se aproximando delas. – E você, o que veio fazer aqui? Não creio que veio só pra vê-la.

Ani desperta de seus devaneios diante do protesto de seu mestre e assume uma postura séria novamente, assim como Ina. O sorriso daquela garota estranha imediatamente murcha e volta a assumir a mesma face sem muita expressão, agora com um ar ligeiramente irritado enquanto direcionava seu olhar para Edward.

—Você está meio certo. Eu vim para ver se deixei ela em boas mãos. – O olhar dela se desvia para o Elric mais jovem. – Obrigada, Alphonse.

—E-Eh?... Não... há de que. – Também confuso com o que acontecia.

—“Obrigada” pelo que? – Ani se afasta um passo dela, fechando mais a cara. – Eu não sou um cão que você precise deixar nas mãos de alguém pra pessoa alimentar e levar pra fazer xixi!

—Pedi para que ele lhe trouxesse em segurança para o hospital. – A encara, ignorando o comentário dela. – Por que está tão receosa?

—Talvez seja porque você APAGOU a mim e ao Ed lá no quinto laboratório? ~

—E quebrou meu automail. – Cruza os braços.

—E quebrou o automail dele!

—Eu não tive escolha. Vocês estavam me atrapalhando. – Fecha seus olhos. – E apesar de eu não ter desgostado do que fiz com você, Edward... Você sabe que no estado que vocês dois estavam, estávamos em desvantagem ali. Poderia não parecer devido a suas atitudes arrogantes... Mas aqueles dois são fortes. Minhas ameaças foram para tira-los daquele lugar. Não teria feito aquilo se não tivessem se intrometido.

—É, eu sei. Você parecia saber de muitas coisas. – Cruza os braços. – Quem são aquelas pessoas?

—Como aquela mulher conseguia fazer aquilo com as mãos? Como você consegue fazer aquilo com os pés?

Ina nada diz, apenas volta o olhar para o chão enquanto se afundava novamente em pensamentos. Não estava interessada em ajudar ao alquimista, mas se não explicasse a ela pelo menos uma parte, ela poderia se meter com eles de novo.

Eles são Homunculos.

No instante em que Ina lhe responde, Edward e Alphonse arregalam seus olhos ao serem tomados por lembranças do que já haviam lido sobre aquele termo nos livros de alquimia, custando a crer que algo como aquilo poderia ser real. No entanto, para Ani, aquela palavra era nova, o que a faz franzir o cenho numa expressão confusa.

—O que é isso?

—Homunculos são “humanos artificiais”. – Edward explica. – Não é possível... Isso realmente existe?

—Você viu com seus próprios olhos, Edward. Acha que humanos normais fazem aquilo?

—Mas... Se isso for verdade, então você... – Alphonse encara a Ani que o encara de volta, instantaneamente juntando as mesmas peças que ele e arregalando seus olhos.

—E-Espera! I-Isso quer dizer que... que eu também sou isso daí?

Ina novamente volta seu olhar para ela, mirando seu corpo de cima a baixo.

—É uma pergunta difícil de responder. Mas se está me perguntando se seu corpo é humano como o deles ou anormal como o meu... Sim ele humano. Afinal, veja seu braço.

—Meu braço? – Ani encara o próprio braço enfaixado sem saber ao certo onde ela queria chegar. – O que meu braço tem a ver?

—Simples. Olhe para mim.

Calmamente, Ina segura a espada presa em sua cintura e os demais acompanham com o olhar o que ela fazia. Sem hesitação, Ina coloca a lâmina sobre a palma da própria mal e a corta profundamente, no mesmo instante Ani arregala seus olhos e salta para frente segurando seu braço e afastando a espada.

—O-O QUE ESTÁ FAZENDO?!

—Fique calma. – Ina suspira, assumindo uma expressão dolorida por um momento, mas continuando sorrindo para ela. – Apenas observe.

Ainda assustados com aquela atitude, os três tem um sobressalto quando faíscas avermelhadas começam a surgir da mão ferida e rapidamente os tecidos lesionados começam a se unir novamente, fazendo com que a ferida se feche, como se nunca tivesse estado ali antes.

—É por isso que posso te dizer que seu corpo não é como o nosso. Do contrário, seu braço já estaria curado. Além disso... Você provavelmente já saberia que pode se regenerar e não estaria tão surpresa agora.

Ani ainda a encarava atônita com aquela demonstração, novamente tendo aquela sensação de que estava recebendo mais informação do que poderia absorver.

—Pera! Pera! Pera! Mas você está me dizendo que eu também sou uma pessoa artificial? – Ani leva a própria mão ao peito. – Que eu fui criada tipo num laboratório ou sei lá?

—Não... – Ina baixa o olhar por um momento. – Seu corpo foi criado de formas naturais.

—Então porque eu também tenho essa tatuagem nas costas?

Com o novo questionamento, Ina fecha seus olhos, permanecendo em silêncio. Depois dos pontuais contatos que teve com ela, Ani podia reconhecer muito bem aquele sinal. Ela não diria mais nada.

Ani suspira, derrotada.

—Por que continua aparecendo se não vai me contar o que preciso saber?

É a vez de Ina suspirar, voltando a abrir seus olhos.

—Seu braço também me é uma prova de que você ainda confia demais nos alquimistas, embora... ter invadido aquele lugar possa demonstrar que está começando a ter dúvidas. – A encara. – Me diga, o que você pensa agora que viu tudo o que viu? O exército e os alquimistas... São bons?

 Ao ser confrontada com aquela pergunta, Ani baixa seu olhar enquanto reflete consigo mesma, tentando trazer de volta as memórias de todas as situações que havia vivido e de todas pessoas que havia conhecido desde que havia mergulhado de cabeça no mundo da alquimia e consequentemente, dos militares.

Edward. Alphonse. Mustang. Riza. Armstrong. Brosh. Ross. Hughes...

Tucker. Nina. Scar. Tim Marcoh. Slicer. Envy. Lust. Ina...

Eram tantos rostos, personalidades, motivações e histórias diferentes...

—Tanto os alquimistas, quanto o exército são formados por pessoas. E por conta disso, são cheios de muitas falhas. Mas eu não gosto de pensar que tudo seja preto no branco. Eu acredito que existam alquimistas maus e militares maus, mas não quero pensar que automaticamente isso torne todos eles ruins. – Cruza os braços. – É o mesmo com os Humunculus afinal. Eles me deram todos os motivos para acreditar que são perigosos, mas...

Eles são. — Afirma com veemência.

—Mas! – A encara. – Dentre deles tem você. Que eu não consigo de jeito nenhum entender, mas... Parece que está tentando me ajudar. – Suspira. – Você tem mais algo que queira me dizer?

Ina volta seu olhar enigmático para o teto, profundamente perdida em seus pensamentos. Precisou de alguns minutos para conseguir recuperar seu centro depois do que havia ouvido. Parte de si continuava angustiada, boa parte de si na verdade, mas uma outra parte... foi acometida por uma sensação calorosa da qual sentiu muita falta.

—... Estão perto da verdade. Mas tome cuidado. – Volta seu olhar para Edward. – Se este alquimista tentar se queimar com o sol, não o siga.

—Ina, eu vou me lembrar dos seus alertas sobre os militares e sobre os humunculus, mas não me peça pra não confiar neles dois quando eu nem sei se posso confiar em você!

—É só um aviso. – Ina olha para os dois alquimistas atrás dela, em especial, para o mais novo. – Eu odeio ter que te deixar aqui novamente. Mas tente não fazer nenhuma besteira por favor.

Suspirando num ar derrotado novamente, Ina de aproxima de Ani, a envolvendo num abraço apertado, mantendo uma expressão apreensiva em seu rosto. Mesmo sem compreender muito bem as razões dela, Ani também a envolve com os braços, a apertando minimamente. Era sempre tão estranho toda vez que ela estava perto daquela forma. Não tinha nenhuma lembrança dela, não fazia a menor ideia de quem ela era e qual relação possuía uma com a outra. Mas sempre que ela estava próxima... podia sentir-se de alguma forma profundamente ligada a ela.

 Após alguns segundos naquele longo abraço, relutantemente Ina a solta. Lhe direcionando um último sorriso, dá as costas à eles e some novamente pela janela.

Foi a vez de Ani suspirar num ar perdido, coçando sua nuca enquanto mantinha o olhar na janela.

—Cada vez que ela aparece, mais uma dúvida vem junto. – Ani se volta para os irmãos, que pareciam tão perdidos quanto ela. – Vocês ficaram tão quietos! Não é o normal de vocês. – Leve riso.

—Ainda é esquisito ver duas de você. – Al comenta.

Os dois mais jovens voltam seu olhar para Edward, que agora mantinha uma de suas mãos no queixo, aparentando refletir sobre alguma coisa. Por um momento, Ani e Al se entreolham enquanto se perguntavam o que será que ele tanto pensava.

—O que foi, Nii-san?

—Só estou pensando no que ela disse. – Edward olha para Ani. – Estou começando a ter a mesma opinião que você. Não parece que Ina irá nos atrapalhar, mas também não podemos depender da ajuda dela. Ao menos, eu e Al não.

—Mas ela te salvou também da última vez!

—Pode ser, mas algo me diz que ela fez isso por sua causa e não por mim.

—É... Ela foi nitidamente mais cuidadosa com a Ani do que com você quando levou os dois pra fora do laboratório.

—Além disso, o que ela disse sobre estarmos chegando perto da verdade, me faz pensar sobre o que o Dr. Marcoh disse. Sobre “A verdade por trás da verdade”. Acho que tem mais coisas por trás dessa história do quinto laboratório. – Ed volta a se sentar sobre a cama. – Talvez por isso ela mencione tantas vezes o quanto a desagrada que você esteja próxima do exército.

—Se o quinto laboratório era administrado pelo exército, podemos supor que há pessoas perigosas dentro dele. – Ani também estava pensativa. – Mas Ina parece detestar o exército como um todo e não alguns militares.

—Não dá pra saber se é porque ela não sabe em quem deve confiar ou se porque... há mais disso do que pensamos. – Al completa.

—Desde que ela apareceu, ela tem nos dados algumas dicas implícitas, ou melhor, dando a você.

—A mim? – Ani tomba a cabeça para o lado.

—Basicamente, ela te pede para tomar cuidado e se afastar de algumas coisas especificas. Essas são as dicas que ela acaba nos dando. Quer dizer que nessas coisas há algo que ela tem medo.

—Então... O exército, os alquimistas, os humunculus...

—E eu.

—Você?

—Como posso dizer... – Ed leva sua mão ao queixo. – Ela não gosta de alquimistas, mas parece que... também tem algo especifico contra mim. Ao menos, quando se trata de mim e o Al.

—Oh! – Al arregala seus olhos. – Quando ela conversou comigo, me disse que tinha mais motivos para não gostar de você do que de mim.

—Só não sabemos se isso é porque eu sou um militar, porque sou um alquimista ou porque sou eu.

—Mas o que ela teria pessoalmente contra você? Ina nem o conhece!

—Na primeira vez que a vi quando ela apareceu lá em Rizembool, ela me confrontou sobre o que eu e Al fizemos.

—Mas você e o Al fizeram aquilo! Se fosse por causa disso ela também deveria detestar ao Al, não é?

—... Ela deu a entender que me via como culpado de tudo e citou a condição do Al algumas vezes. Sobre eu ter selado a alma dele numa armadura.

—Heh... então é isso que ela tem contra você?

—É uma possibilidade.

—Mas porquê?

Edward fica em silêncio, afundado em seus próprios pensamentos. Na verdade... com todas as peças que haviam juntado até então, era possível formar uma teoria, mas ela lhe parecia tão absurda não importa quantas vezes pensasse sobre ela, que não valia a pena explica-la agora. Se estivesse errado, só causaria um alvoroço desnecessário, mas se estivesse certo... Então aquele não era o melhor lugar e nem forma de falar sobre aquele assunto.

—Eu não sei. – Bufa. – O que sabemos é que os militares não são seguros. Sugiro que não contemos sobre isso a ninguém e que tenhamos cuidado com os militares que não conhecemos muito.

—Major Armstrong e Hughes-san são seguros? – Ani questiona.

—Eu acredito que sim. Tenente Ross e Sargento Brosh também parecem ser, levando em conta o quanto eles ficaram surpresos quando souberam do quinto laboratório.

—Coronel Mustang esteve sempre nos ajudando... Acho que talvez possamos confiar nele também. – Al comenta.

—Acho que sim. Além disso... Ani é melhor que mantenha sua tatuagem escondida e não fale sobre ela para ninguém.

—Eh?

—Nós sabemos que as pessoas com essas tatuagens são perigosas e nós sabemos que você apesar de ter essa marca, não é. Mas não sabemos como os militares irão reagir com essas duas informações. Podem acabar te incluindo no grupo dos inimigos.  – Ani tem um calafrio, encarando Ed com um olhar assustado. Vendo isso, o loiro revira seus olhos e abre um leve sorriso. – Bem, isso não importa muito agora.

—Como não? Você basicamente disse que eu posso acabar presa, ou sei la.

—Se manter a tatuagem em segredo ficará tudo bem! A questão é: Eu sinto que nós estamos andando em círculos já tem algum tempo... – Ed suspira. – Al, acho que chegou a hora de visitarmos a sensei.

—Eu também acho Nii-san.

—EEEH! – Instantaneamente deixando todo o medo de lado e o trocando por um sorriso empolgado. – Então finalmente irei conhece-la?

—Pelo jeito sim.

—Whoaaah! – Pulinhos animados. – Eu estou doida para conhece-la! Para ter ensinado você, deve ser uma alquimista incrível! Talvez ela possa ajudar a descobrir porque eu não consigo usar alquimia direito!

—Podemos perguntar... Se ela não nos matar antes.

—Ah! Qual é? Ela não deve ser assim tão má!

—Apenas diabólica. – Calafrios.

—x-

Na manhã seguinte, o trio se reúne no quarto do hospital juntamente com Hughes e Armstrong, relatando para eles tudo o que havia acontecido nas dependências do quinto laboratório, propositalmente omitindo a parte do encontro com Ina na noite anterior e claro, com a ajuda dos belos retratos falados feitos com todo o talento artístico de Ed.

—Depois que fui atingido, não me lembro mais de nada.

—Pouco depois do laboratório começar a ruir, Ina levou os dois para fora e voltou para dentro. – Al continua.

—.... – Encarando aquele desenho. – Você desenha muito mal. AIE!

Com o cascudo dado propositalmente com a mão de automail, Ani se cala, fazendo um bico enorme enquanto os demais continuavam discutindo.

—Guardiões que eram almas em armaduras, tatuagens de ouroboros, não terem te matado por serem um sacrifício precioso... – Armstrong refletia.

—Pedra filosofal, um círculo de transmutação... – Hughes continua.

—É muito mistério para uma simples experiência.

—E não há como investigar, pois o laboratório virou uma pilha de escombros.

Continuaram ali discutindo sobre suas teorias e lamentando a perda do quinto laboratório, quando escutam batidas na porta do quarto. A pessoa que ali estava não esperou nenhuma resposta do lado de dentro para adentrar o cômodo. Com aquela presença, todos ali imediatamente arregalam os olhos.  

—Com licença.

—Fuhrer King Bradley!

Ainda atordoados com aquela visita, Armstrong e Hughes instantaneamente batem continência respeitosamente à aquela autoridade, enquanto os outros três permanecem boquiabertos.

—Fale baixo. – Responde com um sorriso amistoso.

Os dois miliares, assim como Alphonse agora fazem uma leve reverência enquanto o de mais alto escalão se aproxima de Edward.

—Senhor, o que faz aqui? – Armstrong questiona.

—Por que a pergunta? Estou visitando um amigo. -Estende uma cesta a Ed. – Gosta de melão?

—Oh... Sim. Obrigado.

Edward estava prestes a desconfigurar inteiro com aquela interação tão inusitada quando pôde escutar um grito abafado vindo do seu lado. Ao voltar seu olhar em sua direção, pode ver Alphonse suspirar enquanto usava sua mão para tapar a boca de Ani que agora tinha olhos grandes e brilhantes em cima de King Bradley, enquanto esperneava querendo que Al a soltasse. Parece que seu irmão também estava adquirindo reflexos para reagir as atitudes doidas de sua aprendiz.

—Se comporte! — Al a repreende baixinho, recebendo alguns grunhidos abafados em protesto.

Felizmente, aquela cena fez com que Ed acalmasse os nervos.

—Soube que andou investigando os militares de maior escalão, Major Armstrong.

Aquela fala repentina faz com que todos voltem o olhar para o Fuhrer, surpresos por ele saber daquela informação da investigação que até então achavam estarem mantendo tão discretamente.

—A-Ah! Bem, senhor, como..?

—Não subestime minhas forças de informação. – Volta seu olhar para Ed. – Além disso, Edward Elric... a pedra filosofal?

Edward estremece, assim como seu irmão. Vendo que haviam sido pegos no pulo daquela forma sem nem terem uma desculpa para inventar, fazendo com que até mesmo a empolgação de Ani se apague, parando de tentar sair os braços de Alphonse e arregalando seus olhos apreensiva com o que aconteceria.

O Fuhrer se aproxima um passo.

—O que descobriu? Dependendo do quanto sabe...

Encaravam ao Fuhrer aflitos, enquanto esperavam que ele concluísse aquela frase, afinal, naquele ponto, não podiam dizer que haviam descoberto pouca coisa. A mão que cobria a boca de Ani até vacila um pouco e deixa de tapa-la, mas a garota permanece em silêncio. Era a primeira vez que ela via o Fuhrer ao vivo, mas definitivamente ele era bem mais assustador do que parecia quando o via nos jornais ou no rádio.

Aquele clima pesado permaneceu durante alguns segundos, assim como o olhar imponente do Fuhrer sobre Edward. Porém, deixando todos confusos novamente, Bradley de repente começa a gargalhar.

—Brincadeira! – Coloca a mão no ombro de Ed. – Não precisa ser tão defensivo.

—É o que?

—Eu sei muito bem que há uma inquietação entre as patentes. Temos que resolver isso. – Calmamente, o Fuhrer estica sua mão até a mesa onde estavam todos os arquivos que haviam recolhido sobre o mistério do quinto laboratório, nem mesmo dando uma chance para que eles se explicassem quanto aquilo. – Uma lista com os nomes de quem pesquisou sobre a pedra filosofal. – Observando os nomes escritos. – Todos esses homens desapareceram.

—O que?

—Eles desapareceram alguns dias antes do laboratório desabar. – Suspira. – Parece que nosso inimigo está sempre um passo a nossa frente. E mesmo com as minhas fontes de informação, no momento eu não tenho ideia de quantos são esses inimigos, quais seus objetivos ou como se infiltraram.

—Em outras palavras, é perigoso bisbilhotar por aí. – Diz Hughes.

—Exato. Tenente Coronel Hughes, Major Armstrong, irmãos Elric, sei que posso confiar em vocês. Mas não permitirei que se metam mais nesse assunto ou que contem a outras pessoas. Nessas circunstâncias em que não sabemos quem é o inimigo, não podemos confiar em ninguém. Considerem todos os militares como seus inimigos e ajam com discrição! – Afirma com a voz firme. – Porém... – Abre um sorriso. – Quando a hora chegar, terei muito trabalho para vocês. Então estejam preparados.

Instantaneamente, ao fim do discurso de Bradley,  Hughes e Armstrong batem continência, concordando com aquela ordem. Edward e Armstrong permaneciam sem entender nada, mas estavam mais calmos com a presença dele. Quanto a Ani, mesmo que agora não estivesse quase berrando, mantinha seu olhar admirado no Fuhrer.

—Vossa excelência! Onde o senhor está?

A voz ecoando do lado de fora do quarto, faz Bradley ter um leve sobressalto.

—Essa não. Meus subordinados irritantes vieram atrás de mim.

Tranquilamente, o Fuhrer caminha até a janela no quarto, porém, interrompe seus passos assim que está na frente de Ani. Com os braços atrás do corpo, volta seu olhar para ela por alguns segundos.

—Você é nova para mim, jovenzinha.

—A-Ah! – Quase sem acreditar que ele estava falando consigo. Por um momento Ed temeu que ela fosse ataca-lo como fez com Mustang, mas contrariando suas expectativas, ela permanece civilizada e apenas se curva educadamente, embora os olhos ainda gritassem. – E-Eu sou Ani Harris, senhor.  Aprendiz do Edward-san.

“Edward-san”? Ed arqueia a sobrancelha, quem era aquela?

—Prazer em conhece-la. – Ele acena com a cabeça. – Posso contar com você também para manter esse segredo?

—S-Sim, senhor!

Embora tivesse sido imperceptível para todos, naquele momento, King Bradley fecha um pouco mais seu olhar enquanto sutilmente arqueava uma de suas sobrancelhas.

—Se acabar se tornando uma alquimista boa como seu mestre, porque não tenta se tornar uma alquimista federal? – Abre um sorriso. – Estamos precisando de mais energia no exército.

—A-Ah! C-Claro! S-Seria uma honra, senhor!

King Bradley direciona mais um sorriso educado para Ani, antes de seguir até a janela, subindo sobre ela, pronto para pular.

—Eu saí escondido do trabalho. Então, até mais!

Pleníssimo como só ele conseguia, Bradley pula a janela, assumindo novamente uma postura perfeita enquanto caminhava tranquilamente para longe do hospital, buscando despistar seus subordinados novamente. Ainda boquiabertos, os demais dentro do quarto olhavam pela janela sem acreditar o que haviam presenciado.

—... Eu falei com o Fuhrer. O-O Fuhrer falou comigo... Eu acho tô passando mal. – Se apoia na parede.

—Para de drama. – Ed repreende.

Enquanto ainda se recuperavam do baque daquela visita, Winry entra o quarto com um sorriso no rosto, que logo mudou para uma expressão confusa ao ver a cara de todos.

—O que aconteceu?

—É como se um furacão estivesse acabado de passar. – Ed explica, ainda meio chocado.

Winry não compreende aquela explicação, mas deixa isso de lado.

—Bem, eu comprei a passagem que me pediu. O trem é amanhã ao meio-dia, está bem?

—Sim. Obrigado.

—Você está fazendo muito esforço. – Armstrong comenta. – Ainda não se recuperou totalmente.

—Há! Se o senhor conseguir fazer o Ed pegar leve, me ensine como fazer isso, Major! – Ani o provoca num tom brincalhão, recebendo um olhar mau-humorado de Ed.

—Esperam que eu fique nesse lugar com cheiro de desinfetante pra sempre?

—Pelo menos até esse ferimento cicatrizar direito.

Ani cutuca a barriga de Ed, onde estava o curativo do corte provocado por Slicer, no mesmo instante o alquimista faz uma careta.

—Eu devia falar o mesmo desse seu braço!

Lhe dando o troco, Ed segura o baixo enfaixado dela, a fazendo dar um grito de dor.

—Seu bruto!

Suspirando com aquela briguinha besta, Al coloca as mãos sobre as cabeças dos dois, os mantendo afastados enquanto trocavam olhares emburrados.

—Desse jeito os dois vão ter que ficar mais tempo no hospital.

Revirando os olhos pela cena, Winry volta o olhar para Hughes quando ele se aproxima de si.

—Para onde vão agora? – Winry lhe mostra as passagens em sua mão. – Dublith?

—É. Nós conversamos ontem. – Edward deixa sua cara feia de lado, batendo uma de suas mãos em Al. – E decidimos ver nossa professora.

No entanto, Edward estranha quando sente a armadura abaixo de sua mão começar a tremer, provocando sons metálicos aflitos. Encarou ao irmão confuso.

—Estou com muito medo, Nii-san! – Até mesmo a voz de Al estava tremula. – Eu sei que ela vai nos matar!

Vendo o desespero do irmão, Edward fica igualmente desesperado, o encarando com o olhar em pânico enquanto tentava manter o controle.

—N-Não fraqueje, irmãozinho. Eu também estou com medo!

—Quem é essa professora afinal? – Winry quentiona.

—Eles tremem desse jeito sempre que falam dela! – Ani ri. – Ela não deve ser assim tão ruim, poxa! Vocês foram alunos dela e ainda estão vivos!

—Continue falando isso e eu juro que te jogo numa ilha pra sobreviver. – Resmunga.

Ani revira seus olhos, mantendo o sorriso divertido no rosto, nem um pouco abalada com a ameaça dele.

—Mas a estação mais próxima não fica em Dublith. – Armstrong observa. – Vocês terão que parar na cidade mais próxima.

—Onde, exatamente? – Winry questiona, curiosa.

—Bem... – Al pega o mapa que ainda estava sobre a mesa onde antes discutiam e o abre sobre ela, apontando para uma área. – Aqui, bem no meio da região sul.

Plena, Winry observa o local que Alphonse apontava... e em 3 segundos toda a plenitude dela se esvai se transformando num grito eufórico.

—O-O que foi?

—Aqui!! Pouco antes de Dublith! – A garota abre um sorriso admirado, deixando-se levar     por toda a emoção que sentia em seu jovem coração por simplesmente pronunciar aquele nome. – A terra sagrada dos Automails! Rush Valley! Eu sempre quis ir lá!

—Heeeh~ – Ani também abre um sorriso. – Rush Valley! Eu já ouvi falar desse lugar! É onde são criados os mais modernos automails!

—Me leve! Me leve! Me leve!!! – Winry implora como uma criança empolgada com um brinquedo de um parque.

—Vá sozinha.

Edward corta toda sua empolgação, mas a loira não se deixa abalar, o encarando com uma cara feia.

—E quem paga as despesas da viagem?

—Está tentando me explorar?!

—Ah, vamos! Calma! – Al intervêm para acalmar a outra dupla de crianças briguentas. – Que mal tem? Está no nosso caminho mesmo!

Edward suspira, dando as costas e cruzando os braços.

—Se insiste...

—Oba!!!! – Winry rodopia animada.

—Isso quer dizer que vamos poder viajar juntas!

—Sim!

—Yaaaay!!! – É a vez de ambas comemorarem dando pulinhos animados.  

Ainda animada, Winry sai novamente do cômodo para telefonar para Pinako e avisar sobre seu desvio de trajeto. Enquanto olhavam para a porta onde ela havia saído, Hughes coloca sua mão sobre o ombro de Ed.

—Ela será uma boa esposa.

No mesmo instante em que ouve aquilo, Ani tem que segurar o riso, enquanto Edward o encara irritado.

—Ah, mas não tão boa quanto a minha. – Completa todo besta.

—Claaaro. – Revira os olhos.

—x-

No dia seguinte, juntamente com Winry eles partem em direção à Rush Valley, depois de se despedirem de Armstrong e Hughes e sua família.

Enquanto o grupo se distanciava da cidade Central, continuando a conversar sobre a professora dos irmãos e sobre a visita que fariam à Rush Valley, mal sabiam eles da crueldade que seria cometida na noite daquele mesmo dia, quando Hughes, contrariando o dito pelo Furher, continuou procurando pro respostas e em meio a suas investigações acabou descobrindo mais informações do que lhe era permitido saber para permanecer vivo.

Quando a figura de Envy, agora com uma nova fisionomia some por entre as sombras das ruas mal iluminadas logo após dar o tiro que finalizaria a vida de Maes Hughes, outra pessoa se fez presente naquele mesmo lugar. Alguém que já estava ali há algum tempo, seguindo o rastro dos homunculus e observando atentamente os movimentos dos dois.

Caminhando calmamente enquanto saia de seu esconderijo dentre os arbustos, a garota de longos cabelos castanhos e olhos avermelhados se aproxima daquela cabine telefônica, mantendo o olhar na direção onde Envy havia ido embora, a principio nem demonstrando interesse no corpo de Hughes.

—Continuam fazendo sujeira por aí...

Seu olhar se volta ao corpo desfalecido no chão, acompanhando aquela poça de sangue se formar pelo chão, pintando-o de vermelho. Ina estava prestes a ignorar o corpo no chão e continuar a seguir o homunculo, mas tem seus passos interrompidos ao ouvir uma fraca e dolorida voz.

—Eu d-disse... Que voltaria cedo... pra casa...

Aquela voz faz com que ela vire sua cabeça para ele, o encarando com o canto dos olhos. Seu corpo acompanha o movimento e se volta ao corpo caído de Hughes, que havia perdido a consciência logo após proferir aquela frase.

Ao retornar para próximo dele, pôde sentir que havia pisado em alguma coisa e ao olhar para baixo, encarou a foto de Hughes e sua família sob seus pés, parcialmente coberta pelo sangue daquele homem. Por longos segundos apenas manteve seu olhar preso a imagem, especialmente, no rosto da pequena Elisia que sorria junto aos pais.

—Se ela de repente não puder mais te ver... Ela vai sentir falta de você todos os dias... – Se agacha, encarando a foto mais de perto.  – Igual eu sinto falta da minha mãe... – Ina encara a foto por mais alguns segundos e então se levanta, voltando o olhar para o rosto dele, parecendo perder-se em seus próprios pensamentos. – ... Se escolher morrer, então pelo menos se despeça dela direito, ok senhor militar?

E então, as mãos negras voltam a surgir, levantando-se a partir das plantas dos pés dela e se esticando até o ferimento provocado pelo tiro. Assim que cobrem o sangramento, as faíscas vermelhas brilham sobre o local, parando aquela hemorragia.

Quando o sangramento é estancado, Ina recolhe as mãos que voltam a se ocultar em sua própria sombra. Após encarar Hughes por mais alguns segundos, caminha para longe da cabine, deixando-o para trás. Entretanto, interrompeu seus passos novamente, alguns segundos depois.

—Mas se escolher viver, então escolha também ser outra coisa. Ela e sua esposa também... Devem esperar ansiosas que você volte pra casa. Então escolha um trabalho mais seguro, por elas.

Dito isso, Ina retoma seu objetivo, voltando a marchar atrás de Envy, também sumindo por entre as ruas mal iluminadas e deixando Hughes para trás.

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Seu coração ainda batia.


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Notas finais do capítulo

Você gostou do capitulo? Não gostou? Tem alguma sugestão, pergunta ou elogio? Se sua resposta a alguma dessas perguntas for "sim", por favor deixe seu comentário aí embaixo! Isso me incentiva muito a continuar com meu trabalho!
Dá uma conferida lá no meu instagram, onde eu posto o andamento da escrita dos capítulos e também posto umas coisas nada a ver e uns desenhos que eu faço as vezes. ;) https://www.instagram.com/tord_thewriter/
Até o próximo capitulo!

—Tord.



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