Vozes da Eternidade escrita por Koushirou


Capítulo 3
Festa estranha com gente esquisita


Notas iniciais do capítulo

Bom dia sras e srs. Como estão?
Cá estamos com uma atualização com teor cômico (como toda a fanfic) e espero que gostem e se divirtam. Espero, também, que estejam todos a salvo da pandemia e com as mãos devidamente lavadas.
Boa leitura e até logo! ♥



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“Ah, fala sério...” foi a única coisa que passou pela cabeça de Camus naquele meio-tempo. Nada estava dando certo nos últimos dias, pelo visto, principalmente pelo fato de Milo estar ali. Nunca algo lhe agradava, verdade, mas agora parecia ser pior.

A mais pura e sincera verdade é que Camus é aquele tipo de pessoa impossível de agradar. Não gosta de conversar, não gosta de interagir, não gosta de viver, não gosta de gostar das coisas e nem de desgostar, porque ele teria que gostar de algo para tal. Seguindo esta linha de raciocínio, adicionando o destino maldito, é de se perceber que nenhuma das atividades em grupo que eles propusessem o ruivo aceitaria de bom grado ou concordaria.

Principalmente quando todos, exceto Shaka e Camus, decidem que seria interessante ir a um bar com música ao vivo para comemorar a chegada da maldição com cachos louros.

— Vamos lá, Kamiyu — Kanon sorriu, passando o braço sobre os ombros do ruivo. — Vai ser divertido, eu prometo.

Ele merecia um tiro pelo apelido idiota, já que nenhum dos dois era japonês, e dez tiros por existir. Era sempre assim. Arrastado pelos amigos, comovido por Shaka sofrer sozinho, sempre acaba acompanhando as peripécias alheias.

— Isso é apenas uma questão de opinião — respondeu lentamente, se afastando do contato, desejando enfiar o braço de Kanon em um refrigerador e dizer que ia ser puramente divertido no mais sincero dos tons de sarcasmo.

— Não vamos aceitar que ninguém fique — Aldebaran sorriu gentilmente. E então você pensa: como não se comover com um grandalhão desses sorrindo desse jeito? Quem não se comoveria? E então a resposta vem cruel: Camus e Shaka não se comovem sequer um pouco. Ambos observaram aquilo com a mesma expressão e desejaram sumir, compartilhando um único pensamento: “onde clico para desaparecer daqui sem rastros?”.

— Acho perda de tempo irmos a um lugar desses — o virginiano por fim se manifestou, para o alívio do francês. Talvez a ele escutassem. — Se desejam comemorar algo, é perfeitamente possível ficar aqui ou em qualquer outra casa.

Um instante de silêncio se fez... E silêncio vindo daquele pessoal não era boa coisa, com toda a certeza do mundo.

— Já que vocês dois não querem ir para o bar e acham que é melhor em casa... – Mask sorriu repentinamente, e passou cada braço pelo ombro de Camus e de Shaka. – Então decidamos na casa de qual de vocês dois que nós vamos.

E foi assim que tudo se resolveu. Se deseja arrastar Camus e Shaka para algum lugar, diga que irá sujar a casa deles, povoá-las com barulho, e pronto. Feito.

—-----Vozes da Eternidade ------

Apenas uma frase pode descrever a sensação dentro do bar: festa estranha com gente esquisita.

Um ambiente esquisito até não poder mais, música ruim tocando ao vivo, pessoas conversando e uma mesa redonda com todos acomodados ao seu redor. Letreiros e placas neon piscando de forma ensandecida. Nas outras mesas, pessoas chegavam a chorar de tanto rir, outras se mantinham mais sérias, e sinceramente... Shaka se admirava com a capacidade humana. Como se não bastasse que todas essas pessoas se preocupassem tanto com coisas desnecessárias, ainda gastavam seu tempo livre em bares bebendo uma bebida ruim e aguentando a bebedeira alheia. Gastavam dinheiro – que não era pouco – com aquele tipo de interação mundana e sem objetivo. Os prazeres da carne, afinal, são estranhos e dispensáveis.

Milo estava sendo paparicado por todos, Shura estava na enésima dose e nem sequer mostrava alguma alteração. Camus estava ocupado demais com sua própria cara de peixe morto, observando a situação, enquanto Gustav Aphrodite e Ettore Mask Adami tinham as mãos juntas debaixo da mesa como se nenhum idiota fosse perceber. Até mesmo Shaka, que estava longe – e sem óculos, notou.

Aos olhos de Shaka, o recém chegado seria aquele tipo estranho de pessoa cuja nem mesmo a fisionomia se anima a mudar um pouco, desrespeitando o passar dos anos. Milo permanecia com a mesma expressão fielmente divertida, quase debochada, estampada naquele sorrisinho de canto que provavelmente ele nem percebia ter. Ainda fazia as mesmas piadas idiotas, tinha os mesmos gestos levemente infantis e obscenos. Se divertia cantando Gangsta Paradise pela décima vez, imitando Snoop Dog como se já não tivesse o feito pelos últimos 35 minutos e como se uma coisa tivesse conexão com a outra.

Shaka negou com a cabeça, muito sutilmente, por sobre os próprios pensamentos perante o escorpiano, levando seus olhos mais para o lado apenas por instinto enquanto bebericava a água que tomava. Mu estava lendo o rótulo de uma das bebidas com concentração quase palpável. Os orbes verde-água corriam pelas linhas finas como se elas contassem maravilhas, mas, na verdade, era apenas a listagem de ingredientes. Algo não muito interessante ou irresistível para se aprender.

— Eles colocam... — o tibetano ergueu os olhos dali para falar e então percebeu que todos estavam afogados demais em suas atividades para ouvir-lhe. — Bem... — abaixou o tom de voz ao perceber que ninguém o ouvia.

— Estão muito ocupados entre si — o jovem virginiano de olhos azuis deu-lhe atenção por pensar que era frustrante ser ignorado. — O que eles colocam? — querendo ou não, era de seu interesse. Se fosse algo ruim, poderia usar isso para incomodar os amigos mais tarde dizendo que a bebida estava cheia de tal artefato.

— Lúpulo — respondera. — Eu não sabia — mas Shaka sim. Esse ingrediente era o responsável pelo sabor amargo da bebida.

Mu era uma pessoa muito interessante, de fato. Se conheceram em meados do ensino médio, mas não frequentavam as mesmas aulas. O que lhes aproximou, assim por dizer, fora a biblioteca da escola e um trabalho gigante de matemática. Pode-se dizer que o jovem arietino tem um dom excelente com biologia e linguagem, mas nunca com exatas. Já Shaka, sim. Ambos ótimos alunos, não foi difícil para que um professor indicasse um ao outro para ajudar os que não entendiam as disciplinas.

“As cortinas esvoaçavam levemente com o vento, a janela entreaberta para que o ar circulasse dentro da grande biblioteca cujo silêncio mortal só fora quebrado ao barulho da porta pesada de madeira se abrir e fechar com rapidez, e, em seguida, os passos ritmados e rápidos contra o assoalho polido e claro.

Com licença... ouviu-se a voz baixa chamar, tímida. O rapaz, dono do chamado, não tinha mais do que 14 anos e grandes olhos verde-água. Segurava contra o peito um livro de física e tinha os cabelos num tom quase absurdo: lilases. Naquela época, era normal que se criasse um movimento de jovens rebeldes nas escolas, mas o garoto não parecia nem sequer um pouco com alguém que faria parte de algo deste tipo, a despeito dos fios tingidos.

Estou ocupado a quem o rapaz chamava respondeu sem sequer erguer os olhos do livro que lia. Bem, fora avisado que ele era um pouco arrogante e petulante, portanto, não desistiria tão fácil. E exatamente pelas descrições físicas e por estes dois adjetivos que pôde ter certeza de que tinha encontrado quem procurava. Louro, cabelos compridos, olhos azuis, belo.

Desculpe interromper, mas preciso que me ajude com matemática tentou de novo e só então recebeu o olhar do rapaz em questão. Puramente azuis como o céu.

Não estou aceitando alunos respondeu sem sequer pensar. Já tenho meus próprios problemas.

Mu olhou para ele e teve vontade pura e sincera de sair batendo os pés e também bater a porta, pois aquela arrogância não era necessária, mas precisava daquela ajuda. Sua nota dependia daquele trabalho.

Todos os professores me indicaram seu nome tentou mais uma vez, talvez se o bajulasse, conseguisse algo. Dizem que você é o melhor aluno em Exatas. É minha única chance, não vou ocupar muito do seu tempo.

O louro, então, o olhou, analisando. Demorou-se nos cabelos compridos e lilases, se questionando se deveria mesmo ajudar aquele rebelde sem causa.

Sou Shaka Lalitmohan por fim, apresentou-se, vencido. Depois das aulas, sem atraso, aqui na biblioteca.

Obrigado! agradeceu e sorriu sincero, triunfante, e já ia virando-se para sair. Esquecera de algo importante Ah, sim... Mu Ohitsujiza.”

Lembrar de como conhecera Mu fez Shaka ter uma sensação estranha.

Eles se tornaram amigos depois daquilo, Mu era uma pessoa muito paciente e gentil, apesar de ser do signo de Áries. Aguentava o mal humor comum ao indiano, respeitava-lhe a religião e não impunha nada que o louro não gostasse. Mas não é como se o virginiano fosse um monstro e o outro um santo! Quase ao contrário, na verdade.

Pense o seguinte: Mu é uma pessoa calma demais, gentil. Pacifista, até. E então ele pede algo e você tem duas opções: fazer e morrer após, ou não fazer e permanecer vivo. Você prefere fazer e morrer, pois dará no mesmo que não fazer.

Ao que Mu lhe pede algo e você não o faz, você morre ou deseja morrer depois de horas de tortura. Se Mu disser “não” a algo e você o fizer, prepare-se para um rapaz de bizarros cabelos lilases (não, ele não deixou de os tingir) lhe perseguindo pela casa e incomodando porque, cargas d’água, você decidiu fazer a maldita coisa. Se não por isso, ele era uma pessoa ótima para se conviver. Ótimo cozinheiro, ótimo ouvinte e conselheiro, ótimo para ser invisível quando você quer ficar sozinho. E tinha boas piadas também... Ao menos para Shaka.

Mu? Shaka chamou ao entrar no apartamento, porém as luzes estavam apagadas e não recebeu resposta. – Mu?

Muuuuu e, então, o arietino apareceu. Mugindo em brincadeira para o amigo. O indiano tentou ficar sério, chegou até a rezar, mas caiu na gargalhada cinco segundos depois.”

Certo, talvez o Shaka gostasse de piadas idiotas.

— Shaaaaakaaaaaa... — foi arrancado de seus pensamentos por um Shura finalmente bêbado. Ele lhe estendia um copo com algo que parecia água. — Bebe isso aqui... É bom. Faz bem pra saúde, abre os pulmões. Melhora a visão.

— Melhor não — respondeu desejando sumir de novo, mas o capricorniano lhe empurrou o copo nas mãos e os mais bêbados do grupo começaram a rir e a torcer em nome do indiano, batendo palmas e mando-o virar a dose. Bem... Uma dose não lhe mataria, certo? Portanto, virou o copo e sentiu sua garganta queimar sob o olhar atento e surpreso de Mu e Camus, os únicos mais ajuizados e sóbrios ali. Os únicos que consideraram que Shaka não bebia e nem deveria beber.

O que se sucedeu merece uma narração a parte, quase futebolística, pois bastou um copo para que todos se animassem e mandassem mais um para as mãos de Shaka, que, levado pela má índole alheia, virou-o também e assim fez até estar na quinta dose e já enxergando unicórnios de nome Charlie. E o único que teve a noção do perigo fora Mu, que bem conhecia o virginano, e sabia que ele nunca bebia.

Uma só dose não lhe faria mal, certo? Errado.

— Ei, acho que é melhor parar com o álcool — pedira enquanto o louro sorria fracamente, com os fios lisos e compridos bagunçados e os olhos azuis perdidos entre os rostos dos amigos. — Ele já está de porre.

— Aí é que é bom! — Saga riu, meio bêbado. Era gentil, ajuizado, mas como todos, tinha um desejo secreto: embebedar tanto Camus quanto Mu e, principalmente, o chato-e-careta-além-de-pé-no-saco-religioso-de-merda mais conhecido como Shaka.

— Como eu nunca tinha feito isso antes? — o santo riu descontraído. Aparentemente era o tipo de bêbado que ri de quase tudo. Ao menos não filosofa. – É divino!

E, com toda a certeza do universo, ele não estava nem um pouquinho sóbrio.

— Pra onde a gente vai agora?! — Shura questionou, levantando-se e largando um pouco de dinheiro sobre a mesa.

“Pra casa, eu espero...” — Camus pensou.

— Será que tem alguma boate por aqui? — Kanon, sóbrio como se nunca houvesse bebido uma gota de álcool, sugeriu. Então todos deixaram um pouco do valor da conta e levantaram-se, exceto o indiano, que permaneceu sentado.

— Shaka? — Mu questionou, se aproximando dele. — Vamos pra casa. Eu vou te levar e você vai dormir — o puxou pelo braço para levantar-se e ele obedeceu com movimentos lentos e raciocínio retardado. E, mesmo com os protestos dos amigos e o desespero de Camus, os dois deixaram o bar e ganharam as ruas frias da Grécia.

Apesar do cheiro insuportável de vodca, de estar falando um pouco enrolado e estar andando lentamente, Shaka era bonito bêbado daquele jeito. Seus cabelos estavam bagunçados e caiam sobre os olhos, sua face estava corada e sorria como nunca. Sorria para tudo, todos. Um sorriso, apesar de bobo, ainda encantador. Um sorriso milagroso, inclusive, pois nunca sorria. A expressão sempre tão séria, fechada, austera, até soava estranha quando esboçava aquele mover de lábios alegre e suave.

— Ei, Mu — chamou, de repente, enquanto andavam juntos pelas ruas vazias. Estavam quase perto da casa do arietino. — Posso te contar um segredo?

— Você sabe que sim — respondeu, o encarando com o canto dos olhos.

— Mas é segredo mesmo, não pode falar pra ninguém... — sorriu e aproximou-se dele para sussurrar. — Você tem um rosto lindíssimo. O mais lindo que eu já vi. E seus cabelos... Eles cresceram.

E aquilo bastou para o tibetano sentir-se corar absurdamente.

— Você não pode beber, Shaka, cá entre nós — mudou de assunto repentinamente, fugindo do suposto elogio.

— É claro que posso! — reclamou demorando-se a falar, esticando as palavras. —Sou adulto, capaz e tenho renda. Além do mais, não menti – Mu ofegou.

— Finalmente... — ciciou quando pararam em frente à casa pequena e gentil de dois andares. Pintada em um tom delicado de amarelo, sutil e clarinho, tinha janelas pequenas e talvez parecesse uma casa de conto de fadas por ser tão graciosa. O tibetano abriu o portão e entrou com o amigo bêbado, o fechando em seguida e o guiando para dentro de casa.

— O que vamos fazer, Mu? — inquiriu curioso ao ver que iam em direção ao banheiro, distraindo-se com a decoração minimalista em tons de tabaco e branco.

— Vou te dar um banho de água fria para ver se você volta um pouco ao normal — respondeu e ligou a água.

— Por que?! – questionou. – Eu não gosto de água fria.

Antes que ele pudesse continuar reclamando, foi jogado com roupas e tudo debaixo do chuveiro ligado. Gemeu pelo frio e apoiou-se na parede, a testa colada no vidro do box enquanto procurava um pouco de equilíbrio e lógica. Logo acalmou-se a ponto de poder sair da água sozinho e pedir uma toalha, o que foi atendido pelo dono da casa.

Shaka despiu-se das roupas ensopadas, de costas, enrolando sua cintura na toalha, ignorando Mu que se mantinha desconfortável ao sair do banheiro. Eram melhores amigos, mas nunca a este ponto. Talvez, mais tarde, refletisse sobre isso e fosse se odiar um pouco.

— Me ajuda a secar o meu cabelo antes que eu decida raspar a minha cabeça — pediu indo em direção ao quarto de Mu e sentando-se em sua cama. Áries lhe seguiu e sentou atrás de si, secando os fios dourados com calma enquanto analisava que Shaka, mesmo bêbado, ainda era Shaka. A despeito do riso frouxo e do falar enrolado, ainda era o mesmo homem meio arrogante e imperativo, com uma presença opressora e um porte invejável.

— Mu — chamou, de repente. A voz rouca, quase sonolenta. — Falta muito?

— Não. Quase acabando — o tranquilizou. — Por que?

— Estou morrendo de sono e ainda quero fazer uma coisa essa noite.

— Ainda quer fazer algo hoje?! — surpreendeu-se. — Você não consegue nem ficar de pé e amanhã não vai lembrar disso.

— Mas é exatamente por isso — disse como se fosse óbvio. — Eu não faria uma coisa dessas se eu estivesse sóbrio.

O arietino afastou-se do loiro ao terminar de lhe pentear os cabelos, pegando uma camisa e uma calça para ele, deixando que se vestisse enquanto arrumava o banheiro. E, então, sentou-se ao lado dele.

— Vamos dormir — chamou-o e recebeu o olhar profundo dos olhos azuis.

— Eu quero fazer mais uma coisa — repetiu.

— O que você quer fazer? — questionou. Perderia a calma se ali não fosse seu melhor amigo bêbado e incrivelmente fofo com os cabelos úmidos, ainda corado e com cara de sono. Shaka era um homem distinto, ares masculinos e portar austero. A forma como encarava o jovem tibetano era bem significativo, precisava admitir. Virginianos são incertos, refletiu, pois nunca se pode saber sobre o que pensam ou o que pretendem. Uma coisa, ao fim, é certa: Virgem é um signo surpreendentemente direto e simplista.

— Eu quero te beijar, Mu.

E, então, o silêncio se fez.


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