Vozes da Eternidade escrita por Koushirou


Capítulo 2
O chute e o biscoito


Notas iniciais do capítulo

Olá! Tudo bem?
Sejam bem-vindos ao novo capítulo da nossa cômica história sobre como Camus desenvolveu Alzheimer xD
Espero que gostem e se divirtam!
Boa leitura e até logo ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800067/chapter/2

Sabe aquele momento bizarro onde você olha de canto de olhos para alguma coisa da qual você não viu nem mais gordo, nem mais baixo e se pergunta “porquê raios isso me parece familiar?” e, para auxílio, ainda sobe aquela sensação fria de que você se ferrou por não lembrar? Mais ou menos a mesma de quando esquece um trabalho do ensino médio e o professor cobra por culpa do CDF que perguntou se é pra entregar no começo ou no fim do período. Não se sabe se tem mais ódio do aluno, do professor, do trabalho ou de si mesmo.

Camus observou os cabelos louros e cacheados ondularem sobre a jaqueta de couro. A postura despojada e o sorriso animado, de canto, sensual. Acabou virando-se para aquele que lhe chamara e tentou ainda mais lembrar dele, sem sucesso. Por que não lembrar? O que tinha de tão especial naquele homem?

— Milo — tentou, apenas para ter certeza, disfarçando com perfeição a incerteza num tom de voz firme e frio. Sua expressão inerte era perfeita e imaculada como sempre fora. Camus era o mestre disso, e sabia muito bem construir uma máscara, que mais parecia um esquife de gelo, para suas inseguranças e até mesmo a pitada de sarcasmo e ódio que havia em sua personalidade.

— Ah, você lembra de mim — o louro riu e o ruivo poderia suspirar em alívio se não estivesse tão tenso internamente. Oh, céus. — Achei que talvez não lembrasse… Saga disse que você não parecia muito familiarizado com o meu nome.

— Eu tenho uma boa memória — deixou escapar para confirmar para si mesmo, talvez devesse parar de fazer toda essa propaganda.

— Percebi! — Milo riu novamente, desatando a falar enquanto começava a caminhar para o lado contrário do que deveriam ir.

— Por aqui — chamou num momento —, é por aqui — e, então, tomou o lado certo, virando-se. Milo esboçou um quê de satisfação e graça, coçou a cabeça e jogou a própria mala sobre o ombro para ir atrás do francês.

— Foi mal — desculpou-se. — Faz tempo desde a última vez que eu vim. Nem sei mais como é por aqui, se as coisas continuam iguais. Na verdade, tenho quase certeza de que quase tudo mudou, né? Eu vim especialmente nessa época por causa da Feira de Primavera. Espero que tenha aberto a vaga no meu hotel. Eu fiz uma reserva no hotel… Athena. Conhece?

— Sim — Camus respondeu, desejando cortar os próprios pulsos. O tal hotel era próximo ao seu apartamento. Aparentemente Milo era daquelas pessoas gentis e falantes, extrovertidas, participante da letra E no MBTI, portanto, as chances desse furacão ambulante emergir das trevas em sua casa para conversar sobre qualquer coisa eram perigosamente altas. E Camus amava sua paz e silêncio, sua tão amada solidão. Talvez devesse se antecipar e cortar os fios da campainha.

Estava infeliz, também, por não conseguir entender a si mesmo. O motivo de estar desconfortável com a presença de Milo quando sequer lembrava-se dele era uma incógnita. Não era como se o rapaz o tivesse mordido ou algo assim, mas sentia como se tivesse, no mínimo, chutado sua canela e roubado seu biscoito quando eram adolescentes.

— Você continua não sendo de muita conversa, né? — o louro continuava tagarelando. — Não mudou nada. Continua alto, magro, cabelo comprido e mal humorado.

— Como pode lembrar tão bem? — questionou o observando com o canto dos olhos, talvez picado por não lembrar de nada, talvez desconfiado. Ele era um stalker?

— Você andava com Shaka e Mu no segundo ano — continuou, pensativo. Saíam da estação de trem, ganhando o estacionamento e recebendo uma golfada de vento frio. — O grupo maior, Saga, Kanon, eu, Aldebaran, Shura, Mask... Aphrodite chegou por último, e eu lembro do jeito que o Mask ficou — riu gostosamente. — Estava na cara que ele gostou do Frô na hora! Eles não se deram nada bem, mais ou menos como cão e gato, mas depois se tornaram muito amigos.

— Eles estão juntos — deixou escapar, agora realmente puto pela boa memória do desgraçado ao seu lado, e então se arrependeu.

— Jura?! — perguntou animado. — Nossa! Desde quando?

— Não é como se eles admitissem — o ruivo cortou o nó pela raiz. — Mas estão nisso há alguns anos.

— No que cada um anda trabalhando? Tipo, eu não fiquei sabendo bem o que vocês ficaram fazendo aqui. Então... Eu estou trabalhando como palestrante e designer.

— Shaka é professor de engenharia — começara a listar mentalmente cada nome, exasperado pela animação de Milo que não parecia acabar. Se direcionavam ao meio dos carros, procurando um em especial. — Shura é advogado. Kanon é fotógrafo. Mu se tornou historiador. Ettore... — deveria ser coveiro, completou mentalmente — Ele é médico legista, especialista em acidentes e mortes críticas. Aphrodite se tornou paisagista. Aioria e Aioros abriram uma empresa de advocacia, onde Saga é sócio. Aldebaran é arquiteto.

— E você? — o encarou quando Camus parou em frente a um Civic preto.

— Sou professor de filosofia — respondeu abrindo o porta-malas com a chave, simples.

— Uau — sorriu colocando a mala lá dentro e observando o outro fechar o compartimento e destrancar as portas do carro, guiando-se ao motorista. — Vai ser legal passar esse tempo com vocês, sinceramente! — deixou-se dizer sentando-se ao passageiro.

— Claro - disse, colocando o cinto de segurança e esperando a visita fazer o mesmo para então dar partida. Não alimentou o assunto, tampouco puxou outro. Não comentou sobre o quanto achava idiota chamarem Ettore de Mask, considerando que não era graças ao seu sobrenome, e sim por causa de um joguinho online onde seu nickname era Máscara da Morte. Patético.

O silêncio perdurou e o francês pode respirar aliviado. Oh, sinceramente. Onde raios havia se metido na companhia daquele falante idiota? Se abismou com o tanto de informação inútil ele conseguia guardar. Daquele tempo a única coisa que tinha eram pequenos momentos e os ensinamentos dos professores, além de que ele realmente...

— É... Camus...?

——Sim? — incentivou desejando abrir a porta e jogar Milo para fora, mas seu tom de voz saiu perfeitamente normal para o Padrão Camus-Frio-E-Calculadora de Qualidade.

— Você pode ligar o rádio? Eu não gosto muito do silêncio.

Não respondeu, ligando o maldito rádio e esperando que um raio lhe atingisse na testa. Seria egoísmo pedir para morrer sem aplicar a prova para a sua turma? Talvez, não.

“Can't you see that you're smothering me holding too tightly, afraid to lose control?”

E, com isso, Milo deu um sobressalto no banco. Se Camus fosse uma pessoa fácil de assustar, teria batido o carro e tudo teria explodido.

— Eu adoro essa música! — disse genuinamente animado, fazendo o aquariano se questionar como uma pessoa podia se sentir contente com coisas tão pequenas como aquela. A si não animava sequer com coisas grandes, imagine com uma música de seu gosto tocando numa rádio qualquer num dia de chuva. — Eu ouvia muito quando tinha 15 anos. Essa banda embalou o meu primeiro amor.

Ah, ótimo. Além de tudo, Milo ainda era um cara apaixonado e romântico.

Estacionou o carro em frente à casa de Saga, desejando que ela pegasse fogo agora mesmo com todos, repito, TODOS dentro. Desligou o motor e desafivelou o cinto de segurança, saindo do carro.

— É a casa de quem? — inquiriu. A bela casa, de tijolos à vista e fundação branca, tinha algumas plantas bonitas como samambaias, suculentas e flores pelo jardim. Os amigos costumavam, de tempos em tempos, discutir se Kanon plantava, escondido, maconha. Apesar dos batentes das janelas e da porta também terem uma bela camada de tinta branca, quase fresca pela recente reforma, nada ali parecia tão bonito assim considerando que a construção estava recheada de pessoas tagarelas.

— Saga.

E, então, abriu o porta-malas, esperando Milo pegar suas coisas para fechá-lo e tocar a campainha. Observou a animação e comoção com a qual o recém-chegado fora recebido, a abraços, apertos de mãos, cervejas e fraternidade. De certa forma, animou-se com aquilo – gostaria que tudo fosse mais silencioso –, mas ainda algo em si odiava o louro com uma intensidade frenética e intensa e quis que ele tropeçasse e caísse de volta no avião, rumo qualquer lugar.

— Ei, Camus. — Mu chamou o ruivo de repente, o guiando até a cozinha com sutileza. — O que achou do Milo?

— Nada — respondeu sincero, encarando o tibetano sem entender de fato onde ele pretendia chegar. — Por?

— Você realmente não achou nada? — o fitou crítico, como se o sondasse.

— Não. Agora deixe de bobagens. Porque haveria de achar algo?

— Nada... — sorrira. — Esquece. É besteira minha. Vamos voltar pra sala antes que Kanon destrua tudo. Shaka deve estar enlouquecendo sem a nossa companhia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vozes da Eternidade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.