Eu sou a Protagonista escrita por Vatrushka
— Xaveco! — Gritei, correndo até ele. O agarrei pelo colarinho e o sacudi, para que ele prestasse atenção no que eu ia falar. — Polêmica! Caos! Calamidade!
— O quê? O que foi?! — Xaveco desesperou-se. — É o Lorde Coelhão?!
— Pior!
Ele levou as mãos à cabeça, aflito. — O que foi então?!
— Marina e Franja terminaram! — Contei, em um tom de urgência.
O queixo de Xaveco bateu no chão e seus olhos arregalaram. — O quê?!
— Sim, sim, chocante. Mas a maior questão não é essa. — Puxei Xaveco para o canto, com receio de que as pessoas a redor ouvissem. — Pense nas implicações, Xaveco. Pense.
Xaveco fez uma exagerada expressão de concentração, mas não conseguiu trazer nenhuma conclusão. — Desisto. Quais são?
Bufei, revirando os olhos. — Algo vai acontecer!!
A expressão dele se fechou em ainda mais dúvida. — Quê?
Cristo, estou cercada por idiotas!
— Quando alguma mudança repentina inesperada assim acontece, é o principal indicador de clímax! Ainda mais quando é tão absurda! Franja e Marina nunca realmente ficariam separados por muito tempo, sabe disso. No mínimo deve ser algum vilão maligno da vida que se fingiu ser a Marina pra terminar com o Franja, e vai se revelar a qualquer momento! Temos que ficar atentos!
Os olhos de Xaveco se iluminaram. — Ah! Faz sentido! Aí o conflito se resolve, e no final eles voltam a ficar juntos!
— Isso! Exatamente, Xaveco! — Me entusiasmei, orgulhosa.
Repentinamente, ouvimos gritos. Nos escondemos atrás de uma pilastra, tentando observar de longe a confusão que se formava à distância. Algumas pessoas fugiam, desesperadas.
Parei uma delas ao longo do caminho para perguntar o que estava acontecendo.
— Cabeleira Negra! — Respondeu a pessoa, desesperada. — Está atacando a nave! Os piratas já estão aqui!
E saiu correndo.
— Cabeleira Negra? — Perguntei, descrente. — Só acredito vendo.
Do final do outro lado da base, vi Cabeleira Negra tocando o terror.
— Não acredito. — Murmurei.
Xaveco apressou-se a me puxar para debaixo de uma bancada.
— Xaveco... — Fiz uma facepalm. — Mas que porra é essa?
— Ué... O que eu sempre faço quando o pau come. — Ele respondeu, com simplicidade. — Me escondo até as coisas se resolverem.
Suspirei de frustração. — Todo o ponto é a gente fazer diferente! Vem comigo! — O puxei, mas ele continuou intacto no chão.
— Não vou! Não vou! Não vou! — Ele me abraçou forte. — E não vou deixar você ir também!
O encarei por alguns segundos. — Vamos continuar sendo irrelevantes para o resto das nossas vidas, Xaveco?
Ele me encarou de volta, entendendo a dor de meu olhar. A proximidade e o excesso de contato visual normalmente me deixariam constrangida, mas ali, tudo pareceu natural.
— Por que eu não vou aceitar isso mais. — Sussurrei. — E eu gostaria que você também não.
Xaveco engoliu à seco, pegando na minha mão. — Vamos lá.
E como dois loucos desorientados, fomos correndo em direção da noiada de peruca.
O trajeto era um pouco longo, ainda que corrêssemos. A nave era muito grande...
— A gente nunca vai chegar?! — Xaveco reclamou, já suado e bufante. — Vou morrer de infarto até lá!
— Estamos quase lá, Xaveco! — Gritei de volta. — Não desista do seu futuro!
Foi quando, inexplicavelmente, Mônica apareceu correndo da lateral da nave.
— Vai tomar no c-...! — Não resisti xingar, desistindo de correr. Xaveco parou do meu lado, apoiando suas mãos em seus joelhos, recuperando o fôlego.
— A gente vai viver! — Ele gritou apontando para o alto, aliviado.
Entretanto, ainda mais inexplicavelmente, um pedaço de metal dependurado do teto — consequência do estrago até então provocado por Cabeleira Negra e sua tripulação — caiu bem na cabeça de Mônica, desacordando-a.
Um silêncio de cinco segundos se seguiu.
— A gente vai morrer! — Gritou Xaveco, desesperado.
A indiscrição do Xaveco fez os piratas olharem em nossa direção.
— Corre! — Xaveco gritou, me puxando para segui-lo.
Vendo que os piratas começaram a correr atrás da gente, não pensei duas vezes em obedecê-lo.
—
Passamos por um longo corredor estreito, fechando todas as cabines possíveis atrás de nós.
Sabíamos que eles conseguiriam abrir as cabines, mas tínhamos a ilusão de que aquilo nos daria alguma espécie de tempo.
Ao abrirmos a cabine seguinte, fomos puxados por Astronauta e Xabéu para atrás de uma coluna em que estavam escondidos. Perguntaram se estávamos bem.
— O que vocês estão fazendo aqui?! — Indaguei. — Foge, minha gente! Vamos ficar encurralados!
— Já estamos encurralados. — Astronauta respondeu, sério.
— Moleques... Vocês não tem para onde fugir! — Ouvi a voz doce e provocativa de Cabeleira Negra ecoando até nós. — Se entreguem logo, e pensaremos em ter misericórdia...
— Por que demônios eles estão aqui?! — Questionou Xaveco, aflito.
— Excelente pergunta. — Observei. Gritei de volta para Cabeleira Negra: — Por que vocês estão aqui?!
A porta da última cabine se abriu. Cabeleira Negra sorriu maliciosamente ao nos ver fragilizados daquela forma. Estava montadona como sempre. Até elogiaria o look, se não fossem as circunstâncias.
— Oh. — Cabeleira Negra riu. — Vocês não sabem? O Astronauta e essa outra aí esconderam de vocês, então?
Xabéu e Astronauta se posicionaram na nossa frente, a fim de nos proteger.
— Por que acham que eles abriram mão do cargo deles comandando a nave Hoshi, hm? — Cabeleira Negra se aproximou de nós perigosamente, como um gato manhoso. — Foram chamados para esta nave de combate com urgência, para tentarem barrar os avanços da minha frota.
— Nave de combate? — Xaveco se virou para Xabéu. — Me falou que era de exploração espacial...
— É o que falaram para todo mundo. — Expliquei. — Até o formato da nave não é de combate, para tentar despistar a maioria e evitar pânico generalizado... Agora tudo faz sentido!
— Era uma estratégia para que não percebêssemos que seríamos atacados, não é? — Cabeleira Negra se aproximou de Astronauta, provocativa. — Inteligente, devo confessar. Quase não desconfiei.
— Então a doença ainda não te matou? — Astronauta murmurou, entredentes.
— Um pirata sempre dá um jeito. Obrigada pela preocupação, meu anjo. Agora... — Cabeleira jogou seu cabelo para trás e apontou seu sabre de luz em nossa direção. — Morram.
— Caraaaalho brother... — A voz de Xaveco saiu aguda. — Desde quando os cara matam na Turma da Mônica?
— Não são vocês que sempre se gabam que cresceram e amadureceram? — Cabeleira Negra riu, com os olhos sanguinários. — Pois nós também.
E com um movimento rápido, Astronauta jogou uma bomba de gás em sua direção. Saímos os quatro correndo pela saída de emergência, enquanto nossa última distração ainda valia.
— E qual o plano B? — Perguntei, no meio da correria.
— Não morrer? — Sugeriu Xaveco.
— Já estávamos preparados para esta possibilidade. — Garantiu Astronauta. — Nossos reforços já devem estar aqui.
De longe, ouvimos os barulhos de combate: pancadaria, dedo no cu e gritaria.
— Como podem ter arrastado cidadãos comuns no meio desse caos? — Questionei os dois.
— Ordens lá de cima. — Justificou Xabéu.
— E quem é o demente do chefe de vocês?! — Me indignei.
Minha pergunta foi respondida quando abriram a porta e vimos quem estava comandando as tropas de defesa.
Licurgo.
Enterrei meu rosto em minhas mãos. — Como que o meu ex-professor de matemática louco foi parar nessa...?
— O seu ex-professor de matemática louco tem pós-doutorado em Ciências Aeronáuticas pela Harvard. — Explicou Astronauta, ignorando nossa completa expressão de WTF. — Fiquem aqui até tudo ter acabado.
E nos deixaram para trás, completamente atônitos.
—
Xaveco e eu nos sentamos nos degraus. Apoiei o meu rosto em minha mão, entediada.
— Não tem nada de errado em ficarmos esperando, certo? — Tentei me convencer. — É o mais sensato deixar pessoas treinadas lidarem com isso.
— Aham. — Concordou Xaveco. — Sem dúvida.
Voltamos para os nossos próprios pensamentos, quase que alheios aos barulhos de explosões.
— Será que alguém atendeu a Mônica? — Me recordei da possível fratura em sua cabeça, depois de ter sido basicamente esmagada por aquela chapa metálica.
Xaveco deu de ombros. — Será que a gente realmente liga?
— É... Não mesmo, na verdade. — Admiti. — Tenho certeza que ela vai renascer como uma fênix em poucos minutos.
Nova pausa, acompanhada de mais gritos e barulho de tiros.
— Talvez a gente não tenha nascido pra isso mesmo. — Supôs Xaveco. — Pra pegar a liderança de uma história, tipo. Nem força a gente tem pra quebrar ninguém na porrada, sabe?
Dei de ombros. — É. Talvez tenha razão.
De súbito, me lembrei de algo que não deveria ter esquecido. Me levantei, apavorada.
— A Dorinha!! — Me desesperei, me virando para Xaveco com os olhos esbugalhados. — Precisamos ir atrás dela!
E o puxei para correr em direção ao meu quarto, sem pensar duas vezes.
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