— Senhorita Sara, este é seu nome, não é? – O agente fitou-a. – Viemos dos Estados Unidos para cá para fazer as fotos exclusivamente com você, não queremos outro fotografo. Gilbert me contou soube o envolvimento de vocês, mas se não fizer as fotos o contrato será rompido.

Sara lançou um olhar acusador para Gilbert, ainda em choque por ter sido pega tão de surpresa. Como podia fazer aquilo? A abandonou, xingou-a de todas as maneira possíveis, a deixou grávida e sem rumo. Agora ele simplesmente voltava a obrigava aquela convivência? Ela o amava e agora tinha mais certeza disso. Seus hormônios a flor da pele por conta da gravidez, seu coração disparado e uma vontade enorme de sumir. Sara pegou sua bolsa, e saiu em disparada daquela sala, com lágrimas escorrendo pelo seu rosto, lágrimas que havia tentado segurar por um mês inteiro sem Gilbert.

Tentava se convencer durante esse mês que as coisas melhorariam, que ela contaria tudo para ele, e que poderiam viver separados de qualquer forma. Ela não queria mais ele, não daquele modo. Na realidade seu orgulho não queria, por que ela o amava.

Aquele reencontro a fez ter um choque grande, fez acender o amor que estava escondido em algum canto de seu coração. Aquele que a segurou de chorar, que a segurou de ligar, que a fazia raciocinar. Agora, ela nem se quer pensava.

— Deixa que eu vou falar com ela. – Gilbert disse levantando-se.

Por um momento Gilbert sentiu que fizera tudo errado, já havia feito coisas erradas e agora estava envolvendo até o lado profissional de Sara nisso, porém nunca pensou que ela iria reagir tão negativamente.

— Sara. – Tocou o ombro dela quando finalmente a encontrou encostada em uma parede no corredor.

— Gilbert. – Disse seca, ainda de costas para ele.

— Olhe para mim, me desculpe Sara. Por tudo, foi tudo uma grande confusão, me deixe explicar. – Murmurou perto dela, tentando puxar para ele.

— Você me colocou entre a cruz e a espada. – Disse ela tentando conter as lágrimas. – Você simplesmente me xingou tanto quanto pode, se divertiu com Teri, e agora quer arruinar minha carreira. – Disse irritada, sem nem o deixar negar aquelas acusações. – Não se preocupe, farei as fotos. Não irei estragar o nome da empresa. – Falou tentando ficar mais calma, virando-se para ele. – Mas antes de qualquer coisa, quero te dizer algo.

— O que? 

— Eu estou grávida, e esse filho é seu. 

Aquelas palavras saíram duras e chocara Gilbert, Sara então sem esperar qualquer resposta, voltou a sala de reuniões. Respirou profundamente, e olhou o rosto de cada um daqueles homens que a fitavam como se não tivessem entendido nada. Gilbert ficou parado por alguns minutos digerindo o que ela acabava de comunicar, no fim segui-a e entrou na sala logo depois.

— Desculpem meu pequeno surto. – Disse ela simples. – Ando um pouco sensível por problemas de saúde. – Explicou. – Irei fazer as fotos sim, porém peço que mantenham o artista de vocês longe de mim fora das sessões. – Aquilo pareceu hostil e na realidade era, ela queria parecer dura para não mostrar sua fragilidade naquela situação. – Não irão se arrepender de contratar essa empresa para fazer as fotos. – Então olhou para Gilbert de canto, tentando lançar um olhar irônico, mas ele percebeu a tristeza que continha ali.

Gilbert suspirou. Aquilo seria mais difícil do que parecia. Sara estava magoada e não era para menos. Teri havia aprontado muito, e ele resolveria as coisas com ela depois, primeiro resolveria com Sara. Iria reconquistá-la. E iria querer saber mais sobre seu filho. Céus, ele iria ser pai.

Quando a reunião acabou, Sara parecia mais cansada emocionalmente que fisicamente, ficar duas horas presa em uma sala com Gilbert e ser completamente profissional não fora fácil, mas ela conseguiu montar um briefing assim como os clientes queriam, e as primeiras fotos seriam feitas ainda naquela tarde.

Eram somente onze horas da manhã, Sara recostou-se em sua cadeira. As fotos seriam somente as duas horas da tarde, teria tempo suficiente de almoçar a voltar. Ela estava com seu notebook aberto sobre a mesa, tentando distrair sua cabeça pensando na campanha.

Era difícil não pensar em Gilbert e distrair-se enquanto tinha que pensar justamente na campanha de Gilbert. Suspirou.

Quando ouviu duas batidas na porta, sua resposta fora automática:

— Entre.

Ela não desgrudou o olhar do computador. Ouviu a porta se abrir, e alguns passos se aproximando, ainda sim não levantou os olhos, estava concentrada em seu computador. Relendo o briefing e tentando imaginar como seriam as fotos. O silêncio a intrigou, e a fez levantar o olhar, e então gelou.

— O que faz aqui? – Disse hostil assim que seu olhar atingiu os olhos azuis e penetrantes de Gilbert.

Ele então largou um potinho branco com algumas frutas picadas dentro sobre a mesa de Sara e sentou-se a cadeira a frente de sua mesa.

— Disseram que iam trazer essas frutas para cá agora, e eu fiz questão de entrega-las pessoalmente. – Ele sorriu.

— Entregou, agora já pode ir embora. Não precisa se abancar no meu escritório. – Só então Sara percebeu que ainda estava falando em português, e teve de traduzir para inglês, porém sua tradução não saiu tão hostil quanto ela queria demonstrar.

— Não vou sair daqui, até que me diga se é verdade o que me falou no corredor. – Ele levantou o olhar para ela, encarando-a sério.

Sara suspirou profundamente, olhou aquelas frutas sem a mínima vontade de comer, porém levou o garfo até um cubo de mamão cortado que havia entre as frutas e levou até a boca, mastigou calmamente como se Gilbert não estivesse ali, e somente depois de engolir fitou-o novamente.

— Gilbert... – Bufou em um suspiro.

— Prefiro Gris. – Ele sorriu.

— Gilbert, - disse agora determinada – sei que não deveria ter falado daquele modo, mas sim eu estou grávida, sim o filho é seu, e eu descobri faz quase um mês. – Ela levantou o olhar. – Tentei me comunicar com você, mas você me parece incomunicável desde o dia que pus meus pés no Brasil só consegui te fazer uma ligação, e ela foi o suficiente para nunca mais querer olhar você.

— Desculpe-me Sar, foi tudo um grande engano. – Ele suspirou profundamente. – Eu quero me redimir, e me explicar, mas não agora. Agora quero saber mais sobre você, mais sobre o bebê. E por favor, mesmo que você tenha todos os motivos do mundo para me odiar, não me prive disso. – Seu olhar era suplicante.

— Não vou te privar disso. – Sara então olhou para o melão e sentiu um enjoo somente pelo cheiro, o mamão ainda lhe apetecia mais, e então comeu mais um cubo. – O bebê está bem, atualmente estou com dois meses de gravidez, e só descobri graças as tuas queridas fãs... – Disse irônica.

— Até pouco tempo atrás você se incluía no grupo. – Ele respondeu desafiador.

— Você não diria isso, se soubesse que fui agredida por uma delas e quase perdi meu filho por conta disto.

— Como? – Ele exaltou-se.

— Já passou. Certo? – Respirou pesadamente. – O bebê está bem, os exames estão bons, mas desde a segunda semana, ainda nos Estados Unidos, o que eu achava que era glicose, era o bebê. Tenho tonturas, enjoos, e sinceramente, eu já conversei com ele, mas ele está acabando comigo. Além disso, tem as mudanças de humor que são insuportáveis, e os desejos... Malditos desejos. – Finalmente ela soltou um sorriso.

— Oh meu Deus. E eu estava perdendo tudo isto? – Ele se levantou em seguida, fez a volta na mesa e ajoelhou-se ao lado de Sara. – Posso? – Fez menção de levantar sua blusa.

— Pode. 

Delicadamente Gilbert levantou a camisa social de Sara, colocou a mão sobre a sua barriga e encheu-se de ternura ao saber que ali dentro tinha uma parte de si. Logo que ele se afastou, levantando-se, ele voltou para o seu lugar e sentou.

— Sar, nós temos tanto para conversar, tanto para resolver...

— Não. – Disse enfática. – Nós não temos nada para resolver, a única coisa que temos em comum é esse trabalho de dois dias, e o bebê. Todos os nossos assuntos serão exclusivamente relacionados a ele. Não existimos mais nós Gilbert, não importa o que tenha acontecido, quantos mal entendidos tenha havido, você disse que nunca mais queria saber de mim Gilbert, e eu vou respeitar isso. – Disse com a voz embargada.

As lembranças da última conversa ainda eram fortes:

— Eu não entendi nada errado. Um disse que se eu gritasse com você, nunca mais iria querer nada comigo. – Gritou. – Então quem está gritando sou eu, por que eu não quero saber de você nunca mais Sara.

— Sar, por favor, me deixe explicar.

— Não importa o quanto explique, nada vai apagar o que você me disse. Pode dizer-me que estava bêbado, e talvez nem se lembre, mas as palavras ferem e elas marcam. – Os olhos de Sara estavam marejados. – E eu não estou pronta para te perdoar, mas estou pronta para aprender a conviver com você pacificamente por conta dessa criança. Desculpe-me se isso não for o suficiente para você, mas isso é o máximo que você irá ter.

— Tudo bem, eu entendo. – Respirou profundamente. – Ainda sim queria ter a oportunidade de explicar tudo que aconteceu.

— E você terá, poderemos conversar sobre isso em qualquer outro momento que não seja meu ambiente de trabalho. E gostaria de manter, ao menos por enquanto, a gravidez em segredo pelo bem do bebê.

— Está certo. – Gilbert concordou, e novamente fitou o olhar duro de Sara para ele. Aquele olhar triste e machucado, ele nunca se perdoaria, era o culpado por aquilo.