Westwood - O medalhão do poder escrita por Thomaz Moreira


Capítulo 1
O último dia de trabalho


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo toda sexta feira!



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O último dia de trabalho

            Não conseguia acreditar que estava chovendo de novo. Já era a quarta vez seguida. — Eu sei que a cidade de Westwood já é bastante conhecida por esse temperamento nublado, seguido de longos dias de chuva, mas isso já estava me matando.

            Nem conseguia trabalhar direito. Era sexta feira, deveria estar com Theodore ajudando ele com algum trabalho ou só jogando. Eram quase vinte e duas horas e eu ainda estava nesse centro de atendimento para animais. Não que eu não goste, eu amava ser assistente de veterinário, mas já estava bem tarde. Era o meu último dia como voluntário, mas estava sendo o pior também. — Confesso que esperava uma festa de despedida ou algo do tipo, pelos longos e bons momentos que tive. Era um trabalho voluntário do qual eu simplesmente amava. E o mais curioso é que medicina veterinária não é a minha área. Posso me considerar alguém de exatas.

            Eu consegui ver algumas gotas de água caindo no vidro das janelas da clínica. Estava sozinho, Joe confiou em mim a chave para trancar tudo no final. Ele deveria estar curtindo em alguma balada agora ou dormindo. — Eu não tive a minha festa, mas ele aparentemente teve. — Joe e eu nunca fomos muito próximos. Talvez esse tenha sido o motivo pelo qual ele mal se despediu de mim. Estava mais preocupado em chegar cedo na festa, do que fazer todo o ritual de despedida.

            Estava terminando uma papelada, coisa que tomou toda minha tarde e me deixou completamente sem paciência. Esse trabalho nem era meu. Creio que era do outro estagiário, que por acaso também havia saído com Joe, ou era do próprio Joe. Olhava para o relógio a cada cinco minutos, bastante ansioso. Ele às vezes parecia estar andando para trás. Podia jurar que vi o ponteiro voltar alguns segundos. O fato de eu morar praticamente sozinho, significa que quando eu chegasse em casa ainda teria que cozinhar alguma coisa, o que só me deixou com mais preguiça ainda.

            Depois de um tempo assinando documentos, dando baixa no sistema e outras coisas, eu finalmente terminei. Dei uma última olhada nos pobres animais que estavam em suas jaulas recebendo tratamento e me despedi. Eles muitas vezes foram meus psicólogos, quando eu tinha de enfrentar esse lugar sozinho. Foi um tanto quanto triste ter que dizer adeus.

Peguei as chaves e corri para a saída. Entrei no carro e dei partida. Estava chovendo bastante do lado de fora. E as estradas por quais eu passei são sempre vazias e em grandes montanhas próximas a florestas. Na rádio estava tocando alguma música aleatória que foi fortemente abafada pelo péssimo sinal e pela própria chuva. Por mais que o Green Mountain fosse um dos pontos mais altos de Westwood, ainda havia bastante interferência na rádio, o que era bem estranho.

            Acelerei mais ainda. — Ninguém costuma passar por essas ruas, nesse horário. — O Green Mountain é um ponto turístico durante o dia, cheio de pessoas batendo fotos, já que de lá de cima dá para ver a cidade inteira, e um grande pedaço da Alfheim Forest. Mas somente durante o dia.

De noite chega a ser um pouco assustador. Já ouvi lendas de uma mulher que aparece mais ou menos nesse horário, toda de branco e pede carona para os homens, quem lhe dá carona nunca mais é visto. As lendas que abordam o Green Mountain não são poucas, existe de tudo. Por sorte nunca esbarrei com nada do que o pessoal vive comentando. Alguns dos meus conhecidos chegam a me admirar por conseguir descer o Green Mountain durante a noite com um carro sozinho.

            A rádio não parava de emitir aquele chiado. Eu fiquei rondando nas estações até desistir e colocar alguma música de um CD. Ouvir um pouco de Of Monsters and Men, foi o suficiente para me deixar mais calmo.

Mas foi durante uma curva que eu avistei algo estranho. Algum animal atravessando a rua lentamente, o problema é que o meu carro estava em alta velocidade e pará-lo seria um pouco impossível. Pisei no freio com todas as minhas forças. Mas o maior problema eram as decidas escorregadias pelas quais eu estava passando. E a chuva naquele ponto não ajudava em nada.

            Graças a deus consegui joga-lo contra o mato sem atingir o bicho. O carro foi um pouco danificado, e eu sinceramente fiquei mais preocupado com o animal. — Meu pai iria me matar, já que o concerto não sairia nada barato.

            Abri a porta e saí sem pensar duas vezes em me molhar naquela chuva. Pareceu um cachorro, mas na realidade era uma loba. Ela estava bem machucada e me encarava com medo e raiva ao mesmo tempo.

            O meu trabalho era cuidar de animais, não pensaria duas vezes em salvar qualquer um. Ela deveria estar se sentindo indefesa, já reparei que é fêmea, e que estava machucada o suficiente para não conseguir me atacar.

            Possuía vários arranhões e seu pelo estava coberto de sangue, parecia que esteve fugindo de uma briga horrível. — Mas cadê seu bando? — Lobos geralmente andam em bando... E por isso eu deveria tomar cuidado. Se caso eles aparecessem, iriam me ver como uma ameaça, e eu viraria espetinho.

            Andei lentamente até ela, sem assusta-la. Ela olhou meus sapatos sem fazer som algum ou sem se mover. Me agachei chamando pelo animal que tímido e com receio tentou ignorar, mas depois de dar uma boa olhada no meu rosto se levantou com dificuldade da estrada.

            Nessa altura do campeonato eu já estava coberto de chuva, mas tivemos um progresso e é isso era o que importava.

            Ela caminhou até mim, lentamente. Atraí a loba até o meu carro e abri a porta. Ela pulou para o banco de trás, mesmo com muita dificuldade, pareceu ter confiado em mim de algum jeito. A coitada estava realmente muito machucada, e precisava de cuidados urgentes.

            Sem pensar duas vezes dei partida no meu carro e fui em direção a minha casa, que ficaria a pelo menos uma hora de onde eu estava. A cada esquina virada eu dava uma olhada no retrovisor para ver como ela estava. Sempre silenciosa e nem parecia se mover. Já havia sujado o banco com seu sangue. O mais estranho é que mesmo com todos aqueles machucados, ela não agia como se estivesse sentindo dor. Estava apenas ali, deitada sem fazer barulho algum.

            Finalmente cheguei, entrei na garagem fechei tudo e trouxe a loba nos meus braços até a minha sala. Tinha o meu próprio kit de primeiros socorros em casa para emergências, a pobre coitada estava quase desmaiada, foi a primeira vez que eu ouvi seu choro. Coisa que não tinha acontecido nem quando eu a encontrei.

            Deitei ela no meu sofá e fiz alguns curativos, que por incrível que pareça não lhe causou dor alguma, ou pelo menos ela não aparentava sentir. Fiz alguns pontos nela, seus machucados eram profundos. Com certeza foi atacada por algum outro animal, no meu palpite outros lobos.

            Me levantei indo até a cozinha para molhar um pano e limpar o sangramento do lindo pelo branco dela. Só conseguia pensar na briga feia que esse animal tinha conseguido arranjar.

            Eu não estava nem um pouco surpreso por ter encontrado uma loba no meio da estrada. Por mais que eles fossem muito mais comuns em Alfheim Forest, ainda era possível encontrar alguns no Green Mountain, principalmente pela noite.

            A minha surpresa veio quando eu voltei para a sala. A cena que eu vi não me deixou só bastante confuso e também com muito medo.

            Ao invés de encontrar a loba que eu trouxe da estrada, eu encontrei uma menina nua deitada no meu sofá. Uma linda garota que aparentava ter a mesma idade que eu, entre dezesseis a dezessete anos, de pele clara, olhos bem azuis, incomuns e muito belos, tão azuis quanto o próprio mar. Cabelos loiros e lisos. Um tipo de runa parecendo um “Z” tatuado em seu pescoço. Ela me encarou assim como a loba que deveria estar ali, maus olhares de desconfiança.

            Estava com os pontos que eu fiz na loba e com bastante sangue no corpo.

— Quem é você? — Perguntei após o susto.

            Ela continuava a me olhar, mas não me respondeu. Tentei mais algumas vezes até aceitar que ela simplesmente não sabia falar ou não entendia a minha língua.

            Respirei fundo achando toda a situação muito bizarra, mas ela ainda era uma garota que precisava de ajuda. Então eu me aproximei com o pano na mão para limpar o sangramento.

            Pedi a permissão dela e como já esperado ela nem abriu a boca.

            Esfreguei lentamente o pano molhado sobre o sangue seco em suas coxas, ela não me atacou ou algo do tipo, o que foi bom, mas ainda tinha muitas perguntas na cabeça.

            Não sabia se essa garota tinha casa ou até mesmo história, estava chovendo muito lá fora e eu não queria deixar ela ir com toda essa chuva.

— Eu vou pegar uma camisa antiga minha para cobrir você, volto em alguns minutos. — Disse mesmo sabendo que ela provavelmente não iria entender nada.

            Subi as escadas indo até o meu quarto e procurei alguma coisa velha e útil no meu guarda-roupas. Revirei todo o meu guarda-roupas em busca de algo. — Aquele lugar precisava de uma limpeza urgente! — Depois de tanto procurar, e jogar muitas camisas para longe, eu a achei. A minha velha camisa da comic con de alguns anos atrás. Uma camisa que me trouxe grande lembranças. E que deixou Theodore com muita inveja.

            Desci as escadas voltando para a sala, mas quando eu olhei para o sofá, notei que a garota já não estava mais lá. E a porta da minha casa estava escancarada. Apenas o vento gélido e alguns pingos de chuva entraram.

            Fugiu com certeza, eu não sabia o que tinha acabado de acontecer, mas tinha certeza que contaria para o Theodore.


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Notas finais do capítulo

Os próximos capítulos serão postados em conjunto, dois capítulos em um!



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