Depois da intromissão nos planos dos mais velhos, JungKook levou uma dura por duas horas seguidas. Seu pai, irritado pela imparcialidade daquele que carregava o futuro do pack nas costas, não conseguia entender o porquê do ato de rebeldia tão repentino.  

Já o Jeon mais novo não conseguia entender em que momento de seu questionamento ele havia sido rebelde, sinceramente. Mas, não adiantava tentar dialogar com o pai. Nunca adiantou, não seria agora que adiantaria. Além do mais, a história era muito mais cabeluda do que gostaria e sentia que, se seu pai o olhasse mais um tantinho com aqueles olhos negros persuasivos (no sentido ruim da palavra), soltaria o verbo e isso sim seria uma tragédia. 

Sua mãe apenas o fitava com dúvida no olhar, quase como se conseguisse sentir o rebuliço em seu peito. Não disse uma palavra, nem mesmo um julgamento, apenas entrou em seu quarto no meio da madrugada e, quando o encontrou sentado no carpete felpudo com a cabeça entre os joelhos, deu-o o colo que necessitava tanto, tanto, para poder pôr o coração no lugar. 

Foi ótimo o imprintng ter acontecido em plena sexta-feira com um feriado (aleluia, Hécate!) na segunda. Foi maravilhoso poder ter tido tempo para organizar suas emoções. Porém, também foi frustrante feito o cacete ter que conter seu lobo todo santo minuto pela saudade persistente de seu... argh!... seu vampiro. Não podia acreditar que o choramingo que saía vez atrás de vez de seu peito fosse pelos olhinhos azuis daquele sanguessuga maldito. Não podia, mas teria. Teria porque, querendo ou não, aquele era seu destinado e se seu lobo o escolheu foi por algum motivo importante. Tinha que haver algo embaixo daquele poço de presas estranhas, parasitismo, deboche ferino e mau-caratismo.  

Quase gemeu quando avistou o Park o aguardando na entrada da sala de aula, encostado confortavelmente à pilastra, o sorrisinho ridículo no canto dos lábios cheios.  

—Você veio! Pensei que ia fugir por mais tempo, lobinho. Vai falar comigo hoje ou vai me fazer esperar mais um pouquinho? Sabe, posso ter todo o tempo do mundo, mas não sou uma das pessoas mais pacientes. 

JungKook tentou com todas as forças não revirar os olhos. Tinha que ter um motivo, Hécate! 

—Eu não estava fugindo e eu não deveria, mas vou falar com você.  

A surpresa que tomou o rosto pálido do vampiro faria o Jeon rir se ele não estivesse tão concentrado em controlar as batidas erradicas do coração. A pose ácida caída por terra. 

—Sério?! Jurava que... 

—Você tira muitas conclusões precipitadas, vampiro. - Sussurrou, olhando ao redor só para confirmar se ninguém prestava atenção. -Tem um parque aqui perto. Amanhã, depois das aulas, me encontra lá. 

Jimin respirou fundo o encarando com algo brilhando no olhar, algo bom. Parecia tão afetado pela magia quanto ele. Avermelhava suas bochechas.  

Em casa, tão ansioso pelo próximo dia quanto nunca admitiria, à luz da luminária amarelada com o som ambiente de Wonderwall nos autofalantes do celular num volume baixo, JungKook não acreditou que entre versos pensava em Jimin.