O Dia em Que... (Coletânea de Oneshots) escrita por Vanilla Sky


Capítulo 3
O dia em que Visão consertou a televisão.


Notas iniciais do capítulo

Então....... Ouvi dizer que uma leitora lê algumas fics na terça, e resolvi adiantar a postagem dessa oneshot que, surpreendentemente, fluiu muito bem. Estou há alguns dias trabalhando nela todos os dias antes de dormir, mas admito que não revisei tão bem o final -q se tiver algum erro me avisem por favor!
E, Rox, espero que goste dessa história feita com todo o amor e carinho! (não é angst, eu prometo)
Aproveitem a leitura ♥



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Wanda Maximoff desceu o corredor principal da Base dos Vingadores a passos lentos, uma sensação de dever cumprido misturada com cansaço após um dia bem sucedido de treinos junto de  Natasha. Uma toalha pequena pendia do seu ombro direito, a qual usou para enxugar algumas gotas de suor no alto da testa enquanto observava o dia de outono através de uma grande janela na passagem entre uma área e outra do Complexo dos Vingadores. As últimas folhas tom castanho das árvores se agarravam na ponta dos galhos antes de lentamente caírem ao chão. Era a época do ano favorita de Wanda; o suspiro final antes da neve cobrir o ambiente pelos meses seguintes.

Naquela noite, um canal de televisão iria passar vários episódios em sequência de "A Feiticeira", série de TV tipicamente americana que Wanda adorava assistir quando mais nova. Na época do Natal, quando Tony Stark planejasse um amigo secreto, ela certamente iria pedir, na lista de sugestões de presentes, por algum box de seriado antigo, e secretamente torceria que fosse das aventuras de Samantha e seu marido perfeitamente humano, James, junto das divertidas intervenções de sua mãe e bruxa maior, Serena. Mas aquele era um pensamento para só dali algum tempo e, naquele instante, ela só precisava de um banho e uma xícara de chocolate quente com marshmellows para aproveitar sua pequena maratona até a hora de dormir.

Seu banho foi demorado, mas merecido, relaxando Wanda por completo através dos pingos de água quente caindo e desfazendo os nós presentes em sua musculatura como uma massagem. Vestindo roupas casuais, e o cabelo molhado pingando no tecido agasalhado da blusa, ela caminhou até a cozinha. O relógio indicava oito e quinze, tendo tempo suficiente para Wanda bater o leite, o açúcar e o chocolate em pó em um liquidificador antes de despejar a mistura em uma panela larga e mexer vagarosamente usando uma colher de pau, acrescentando uma rama de canela para deixar a bebida ainda mais aromática. O cheiro delicioso transcendia as barreiras da cozinha e chegava aos narizes de todos os presentes na Base, fossem os que relaxavam em seus aposentos, fossem os que estudavam no laboratório.

Visão não costumava participar dos treinamentos junto dos colegas, utilizando os momentos possíveis para testar a extensão dos seus poderes no laboratório da Base. Contudo, foi instantaneamente atraído para o andar de cima pelo delicioso aroma de chocolate, algo que não estava acostumado a comer ou beber, todavia, que admirava de qualquer forma.

Ao chegar na cozinha, porém, quem preparava a bebida quente já estava em um cômodo diferente, deixando para trás somente três louças sujas na pia que Visão resolveu lavar de uma vez. Quando pôs a panela, o liquidificador e a colher de pau no escorredor, ouviu um suspiro de frustração advindo de um dos quartos.

Sem pensar duas vezes, flutuou pelo corredor até alcançar a porta entreaberta do quarto de Wanda e, com a ajuda de sua audição hiper sensível, escutou-a dizer alguma palavra em outro idioma, tão baixo que ele supôs ser algo para si própria. Contudo, em se tratando da mais nova colega de equipe, não poderia deixar de ajudar. Atravessou a parede ao lado da porta após diminuir a densidade corpórea para ser mais fina que a atmosfera e falou:

— Imagino que signifique “que droga” em Sokoviano?

De frente para a televisão, Wanda se virou em um sobressalto.

— Que susto, Vizh! – Ela pôs uma mão sobre o peito, enquanto a outra segurava uma xícara. – Você parece um… Um…

— Fantasma? – Visão sorriu, um pouco sem jeito, já que ainda se acostumava ao costume humano de exibir os dentes quando alegre. – Eu escuto bastante isso dos nossos colegas. Peço desculpas.

— Não, não, está tudo bem. – Ela escondeu um sorriso por trás da beira da xícara. – Será que pode me ajudar? – Ela suspirou, incomodada. – Minha televisão não quer ligar de jeito nenhum.

— Claro. Permita-me dar uma olhada.

Wanda se afastou e indicou o aparelho com um movimento de cabeça, buscando o conforto de sua cama para observar Visão trabalhar. Ele falava baixo consigo próprio, e a moça não resistiu à tentação de perguntar:

— Você conversa com eletrônicos também?

Uma gargalhada sincera escapou de seus lábios, e Wanda percebeu ser a primeira interação com risadas deles. Ela bebeu um longo gole do chocolate, ainda com a boca em um sorriso quando o escutou responder:

— Não, eu não converso com eletrônicos, apesar das semelhanças em minha composição. Porém, há rumores que máquinas de refrigerante possuem um interruptor escondido que libera suas emoções reprimidas.

Visão fez uma súbita pausa enquanto mexia em alguns cabos.

— … É sério? – Questionou Wanda, incrédula.

— Não, Wanda, isso foi uma piada… Aparentemente sem graça, peço desculpas.

Foi a vez de Wanda gargalhar alto. Suas maçãs do rosto tomaram uma coloração avermelhada, e ela ria tanto que sentiu-se sem ar, quase derramando uma parte do líquido dentro da xícara em suas roupas. Visão parou e se virou para ela, admirando com carinho a felicidade em seu rosto após uma tentativa aparentemente falha.

— Vizh, a sua tentativa de contar uma piada foi a melhor. Obrigada.

Ela seguiu tomando sua bebida, o chocolate quente descendo por sua garganta e trazendo uma sensação de alívio dado o clima frio ao lado de fora. Os marshmellows, que haviam derretido e se incorporado à bebida, deram um toque especial. Wanda descobrira aquela receita na internet algum tempo antes e, desde o início do outono, preparava com relativa frequência. Secretamente, em cada gole, lembrava de Pietro, e de como gostaria de ter sua companhia para dividir o conteúdo da xícara jumbo, bem como outras receitas as quais gostava de preparar.

Ao recostar nos travesseiros e relaxar, sentiu os olhos fecharem devagar, o sono quase tomando conta dela, sendo a sua maratona de “A Feiticeira” a única coisa capaz de mantê-la acordada. Visão, percebendo o silêncio prolongado, indagou:

— Algo que vá assistir hoje, Wanda?

— Um canal vai passar episódios de “A Feiticeira.” – Ela pôs a xícara sobre uma mesa de cabeceira e acendeu o abajur para, em seguida, se aproximar da beirada da cama. – Já ouviu falar?

— Meu conhecimento referente a entretenimento americano é um tanto limitado, mas gostaria de aprender um pouco mais a respeito… Oh!

Como num passe de mágica, um barulho indicou que a televisão estava pronta e a postos para ser ligada. Wanda buscou seu controle remoto com um sorriso, pulando para fora da cama, além de pegar novamente a xícara com a mão oposta e retornar para o lugar anteriormente ocupado na ponta do colchão. Visão observou de longe sua excitação ao ligar a televisão, bem como a moça rapidamente passar os canais até encontrar o referido canal, uma abertura em desenho animado com uma música alegre e cativante preenchendo o ambiente com empolgação.

Ao ver que a televisão funcionava, Visão disfarçou um sorriso e fez menção de se afastar, sendo parado pela voz de Wanda ecoando em seus ouvidos:

— Aonde pensa que vai?

— A televisão está funcionando, então…

Ela fez um gesto com a mão junto de três batidinhas no colchão, indicando que ele deveria se juntar a ela. Um pouco receoso a princípio, logo aceitou, já que a noite caíra e não havia mais utilidade permanecer no laboratório.

A cama de Wanda era macia. Visão não estava acostumado a dormir, apenas a entrar em um modo de repouso enquanto na leveza de uma pena no quarto praticamente desprovido de mobília. Na densidade normal, de um homem adulto, percebia o quanto aquele colchão era agradável. A luz estava amena, e a televisão iluminava boa parte do cômodo. Ele notou que seus joelhos de vez em quando se enconstavam, porém isso não parecia incomodar Wanda, completamente absorta no programa de televisão, e tampouco incomodava a ele, inclusive, trazendo uma sensação diferente de contato humano a qual não estava acostumado.

Mas era uma sensação boa. Que poderia rapidamente se adaptar.

Em algumas cenas, Wanda ria. Em outras, ela gargalhava. Em todas, Visão se encontrava observando qual seria a reação dela, desde os movimentos simples, como a boca contorcida prestes a sorrir, até o cenho e o nariz franzidos nas cenas amáveis entre o casal principal. Aos poucos, porém, os reflexos em relação as cenas foram diminuindo, os olhos de Wanda pesaram e ela se tornou menos responsiva. Buscando mantê-la mais um pouco acordada, o sintozóide puxou assunto:

— Então a história é de uma bruxa que gostaria de se esconder entre humanos?

— Exato. – Ela bocejou uma vez.

— E porque ela faria isso?

— Porque ela ama um humano.

— Uma bruxa tão poderosa apaixonada por um mortal sem poderes e querendo se esconder?

Wanda bocejou novamente e disse, com a voz arrasta:

— Se fôssemos nós dois, Vizh, daria muito mais trabalho.

Ele pensou em responder algo, porém, quando notou, Wanda adormecera com o rosto encostado em seu ombro. Chacoalhou devagar a menina, porém, ela permaneceu na mesma posição, parecendo confortável com a bochecha grudada na blusa de Visão, a boca entreberta e a respiração pesada com a xícara vazia sobre as pernas cruzadas.

Visão queria se mover, sair dali, lavar a xícara. Ainda que não fosse a posição mais confortável para ele, permaneceu imóvel como uma rocha, apreciando a televisão a poucos metros de distância. Esboçando alguns sorrisos, sem falar nada para não perturbar a moça de seu sono tão pacífico. Eventualmente, ele passou um braço ao redor da sua cintura esguia, trazendo-a mais para perto, e apoiando melhor seu corpo no dele enquanto assistia aos episódios da série.

Seria demais pensar que Wanda, ainda que por um momento, cogitara passar a vida ao seu lado? Possivelmente sim.

Ou, talvez, nem tanto.


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Notas finais do capítulo

Uma atualizaçãozinha leve para essa noite de terça-feira terminar muito tranquila :) estou com mais ideias de oneshot que pretendo postar assim que possível, uma baseada no MCU e outra full quadrinhos que talvez vocês gostem de ler ♥ Ainda estou pensando se vão fazer parte dessa coletânea ou não, então fiquem de olho!
A razão para eu ter usado "A Feiticeira" é que é o sitcom que eu mais gostava de ver quando mais nova. E também por ter super a ver AUHSAUHS. Foi muito engraçado pq eu perguntei para a minha mãe, "ô mãe, qual o nome da Feiticeira?" e ela, "a Escarlate? Wanda" SUHASUAHSHUAS aí eu refinei a pergunta e disse, "a feiticeira da série" e ela, "ah, é Samantha!"... para vocês verem como a Wandinha está presente por aqui :v
Aceito críticas e sugestões ♥
Um beijão e um abraço bem quentinho da Vanilla Sky ~ ♥ ~



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