Lenora e Phillip — Um amor quase impossível escrita por Sami


Capítulo 25
Capítulo 24




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Capítulo 24 

(...)  

 

A mãe insistiu para que ela fosse até a modista a fim de escolher um vestido para o baile da mãe que aconteceria dentro de três dias. A modista, claro, era uma grande amiga e confidente da mãe e fingia ignorar todos os inúmeros comentários feitos por Lenora sobre a insistência da mãe quanto a casamento. 

Ah, se ela soubesse... 

Lenora não fingiu não perceber que a mãe notara a mudança — outra vez drástica — no humor da filha, vinha a observando em completo silêncio desde a noite do recital das irmãs Hollow, contudo — para sua felicidade — a mulher não fizera nenhum comentário a respeito. Pelo menos nenhum diretamente a ela.  

Seus pais andavam conversando mais nos últimos dias, desde o recital, na verdade e desde então, Lenora estava sob constante vigia dos dois. Recebia olhares duvidosos e desconfiados, sabendo que algo tinha acontecido, apenas não sabiam o que era.  

No momento, Lady Barrington tagarelava algo sobre querer que a filha estivesse deslumbrante para atrair a atenção dos solteiros, exigiu à modista o melhor tecido e deixou que a mulher escolhesse o melhor corte. Algo que deixasse a jovem bela o bastante para que — de acordo com o que Grace falara — os solteiros caíssem aos seus pés.  

Lenora conseguiu manter o bom humor mesmo com os constantes comentários que eram feitos pela mãe apenas porque sabia que seus esforços eram em vão. Em poucos dias, Phillip estaria diante de seus pais e pediria permissão para um cortejo. Sem que percebesse, ela sorriu em satisfação. Antes, quando pensava em cortejos e nos possíveis cavalheiros que o tentariam, estremecia apenas de imaginar-se com qualquer um deles, mas agora, quando associava o cortejo a Phillip e ao que sentia por ele, Lenora sentia que explodiria de felicidade. 

— Vejo que está gostando do vestido — comentou a mãe, encarando a filha através do reflexo do espelho na sua frente.  

Ao piscar, reparou que sua expressão era leve. Existia um sorriso fazendo-se presente em seus lábios e a mãe o interpretara como algo relacionado ao vestido em seu corpo e não ao que realmente se passava em sua mente.  

Tudo bem, o vestido escolhido era muito bonito. O tecido era um tom claro com detalhes minúsculos de flores bordadas — as mesmas sequer eram notadas — e sua cor combinava com o tom de seus olhos; os deixavam em maior destaque. E o corte sobre seu colo, permitia um decote discreto, mas ainda sim atrativo. Lenora gostou dele, apesar de preferir as cores mais vibrantes, mas dessa vez — após muita insistência de sua mãe — ela deixou que Grace escolhesse o que ela vestiria no baile.   

— É mesmo muito bonito — comentou, apenas para tornar verdade o que a mãe viu.  

Isso evitaria futuros questionamentos sobre o sorriso bobo em seus lábios.  

A modista prosseguiu com os vários ajustes, ainda precisava acertar alguns pontos para deixá-lo na medida certa do corpo de Lenora e novamente, ela se pegou distraindo-se com os próprios pensamentos.  

Lenora nunca compreendera muito bem seus sentimentos, mas desde a noite do recital e o que fizera com Phillip às escondidas, ela já estava conseguindo associar melhor tudo o que lhe aconteceu. O que realmente sentia por ele e como foi tola por demorar tanto para perceber isso.  

Seu corpo ainda era tomado por um turbilhão de sentimentos e sensações, principalmente quando se deitava para dormir. Se com o primeiro beijo seus sonhos se tornaram... agitados, depois daquela noite do recital e do que quase fizeram, seus sonhos eram verdadeiras depravações. Não se fingiria de ingênua, até porque não era, ouvia as conversas das criadas, ouvia fofocas e todo o tipo de história depravada que seus pais faziam questão de esconder dela para saber o que tudo aquilo significava. 

Desejo.  

Desejava Phillip. 

E isso estava se tornando cada vez mais óbvio, não apenas seu corpo ansiava por mais dele, mas seus sonhos eram um sinal claro do que precisava. E não negaria, precisava de mais de Phillip, de seus beijos, de seu toque... Precisava dele por completo.  

Ela se perguntava se estaria assim tão eufórica se tivessem chegado ao limite naquela noite, seus sonhos seriam apenas desejos ou seriam uma mistura da realidade e do que seu corpo exigia?  

— Ai! — exclamou, despertando de seus devaneios quando a ponta da agulha veio de encontro com sua pele.  

Ser espetada a fez acordar, percebeu que sentia sede, a garganta se encontrava seca, mas ela sabia que era apenas uma sensação que passou a sentir sempre que pensava em Phillip e em seus beijos.  

— Se ficasse completamente parada, ela não a espetaria, querida — comentou a mãe, aproximando-se dela para olhá-la de cima abaixo. 

Grace gostou do que viu, mesmo que o vestido ainda não estivesse completamente finalizado, a imagem de sua filha muito lhe agradou. Lenora estava no auge de seus vinte e dois anos e, naquele vestido era uma visão perfeita de uma moça bela e casável.  

— Eu estava parada — retrucou de volta, encarando a mais velha. — Mas já estou cansada de ficar aqui de pé, minhas pernas doem. 

A reclamação era verdade, o tempo em que estava ali de pé e parada já mostrava os primeiros sinais de exaustão. E suas pernas eram as primeiras a quererem reclamar.  

— Ela já parou antes, se precisar fazer mais uma pausa seu vestido não ficará pronto a tempo do baile, Lenora — replicou a mãe.  

— Me explique de novo por que eu preciso de um vestido novo quando eu tenho vários em meu guarda roupa? Alguns que usei apenas uma vez. — questionou, ainda encarando a mãe pelo reflexo no espelho.  

A mulher que estava responsável por arrumar o vestido fez menção de espetá-la mais uma vez e Lenora se adiantou em esquivar-se. Tendo certeza de que ela o fez de propósito. 

— Porque haverá muitos cavalheiros presentes no baile e quero garantir que seja a moça solteira mais deslumbrante da noite — Lady Barrington mostrou um sorriso simples. — E mesmo se nenhum solteiro se sentir atraído, ainda conseguirá chamar a atenção do conde Fox.  

— E só por isso os vestidos que tenho não são o bastante? — questiona outra vez. — Eu tenho um lilás que ficaria perfeito com a máscara que escolhi e sequer o usei... 

— Aquele trapo velho? Por Deus Lenora!  

Seu rosto ganhou um ar confuso.  

— A senhora quem o escolheu, ora! 

A primeira resposta da mãe foi um aceno despreocupado com a mão.  

— Ele não é adequado para o baile que vai acontecer — disse simplesmente. — Além disso, este combina muito mais com você e a deixa mais deslumbrante também. 

Lenora jamais iria concordar com a mãe em voz alta. Era verdade, Grace fora certeira em escolher aquele vestido e ela não precisava saber disso.   

Em resposta, um suspiro escapa de seus lábios, a batalha entre qual vestido poder usar para a noite do baile era uma guerra perdida e Lenora sabia disso. Queria evitar uma possível humilhação por ter seus argumentos — alguns realmente muito bons — vencidos pela mãe.  

A modista pediu que ela se endireitasse, pois queria ter mais um vislumbre de seu busto, em dois minutos, o lugar já estava sendo marcado por alfinetes e comentários de um novo ajuste eram feitos. Os quais Lenora simplesmente ignorou.  

— Quero um decote que a valorize, mas nada muito estravagante, a última coisa que quero é que os homens tenham pensamentos inapropriados sobre minha filha. — pediu a mãe, dando uma de suas centenas de sugestões para a amiga modista.  

A mulher apenas assentiu e logo, Lenora tinha parte de seus seios sendo apertados de modo que ficassem firmes sobre o corpete. O decote não era grande, mas ainda sugestivo demais, na opinião de Lenora.  

— Depois dessa noite, duvido que não encontrará um bom marido.  

Ela revirou os olhos.  

— Não acredito que realmente irá usar seu baile de aniversário para suas artimanhas de casamento — reclamou.  

Lady Grace não se incomodou com o comentário da filha, apenas deu com os ombros de forma despreocupada e desdenhosa.  

— Bem, você está na idade para se casar, já esperou demais para encontrar um marido — responde. — Não a quero como uma solteirona.  

— Não acho que seria tão ruim assim — comenta com humor, sabendo que isso iria apenas irritar a mãe. — Não sou uma herdeira, é claro, mas conseguiria sobreviver muito bem sem um marido.  

Os olhos de Grace encontraram com tanta rapidez os de Lenora que, por um segundo ela sentiu que a mais velha fosse capaz de matá-la apenas por encará-la. Ela juntou os lábios, forçando o riso a ser controlado, mas a farsa não durou mais do que alguns segundos e levando a mão em direção a boca a tempo, gargalhou alto com a reação exageradamente assustada de sua mãe.  

— Um dia Lenora, guarde bem minhas palavras, você ainda me matará.  

— Não diga isso — pediu, o riso já estava mais controlado. — Sei que não gosta da ideia de ver como uma futura solteirona e não se preocupe, não serei uma.  

A mãe não entendeu a promessa e Lenora esperava que não, afinal, Phillip iria falar com seus pais logo depois do baile e mesmo que houvesse a possibilidade de uma recusa forte por parte de sua família, seus pais não iriam poder negar um pedido de cortejo de um visconde. Ao menos ela acreditava que não.  

Claro, a rixa era mentira e tudo o que veio dela também, mas Lenora não seria ingênua por achar que bastaria contar a verdade para que Barrington e Weston vivessem de mãos dadas felizes como se nunca tivessem se odiado ao ponto de querer matar o outro. E tinha certeza de que parte da recusa viria pela rixa e a mesma teria de ser revelada no mesmo dia.  

— E antes que me esqueça — a voz de sua mãe lhe tirou de seus pensamentos. — Eu tomei a liberdade de prometer uma valsa para o conde Fox, então não pense em sumir do baile até ao menos dançar com ele.  

O impulso de retrucar com algum comentário sarcástico ou desdenhoso quanto ao assunto é controlado — e Lenora não faz ideia de como conseguiu tal façanha — e esquecido quando a modista a espeta novamente. Se não fosse pela modista e sua agulha incrivelmente rebelde, ela teria retrucado e reclamado bastante sobre ser forçada a dançar com Jonathan.  

E na frente de toda uma multidão.  

Não que isso fosse um problema, afinal muitos a viram dançar com ele no baile de Andrew, mas uma segunda valsa após uma visita trazia muitos significados e todos comentariam a respeito. Para sua grande infelicidade.  

Em três dias, ela e toda a família estaria reunida em peso na casa Barrington Um — como Andrew fez questão de nomeá-la muitos anos antes — cercada por convidados, porque sabia que a mãe chamara toda a sociedade para aquele evento, e muitos iriam comentar sobre ver ela dançar com o conde outra vez.  

E dentre os muitos convidados, estaria Phillip.  

Sabia que ele não pensaria que existia algo por trás da valsa, afinal, deixaram claro para o outro o que realmente queriam e isso era a única certeza que tinham desde então, mas fofocas eram fofocas e isso sempre poderia ser um problema.  

E pensar em Phillip trouxe a ela uma ansiedade por vê-lo novamente e claro, por querer secretamente conseguir ter um momento a sós com ele de novo.  

 

●●●

 

Três dias se passaram muito mais rápido do que Lenora imaginou e lá estava ela.  

Parada próxima de seus pais, num ponto em que conseguia ter uma visão completa de todo o salão, Lenora se encontrava observando atentamente todos os rostos que avistava, procurando dentro deles um certo alguém em especial e se frustrando quando não o encontrava.  

Como esperado, a mãe realmente estava usando o próprio baile como meio de fazer a filha ser apresentada para alguns vários cavalheiros solteiros. Alguns Lenora fez questão de espantar, como Anthony que mesmo após ter seu nariz quebrado ao ofendê-la, insistiu para que ela aceitasse dançar com ele. Obviamente ela recusou, com a promessa de que se ele a abordasse novamente iria sentir a dor de ter dentes quebrados.  

Anthony se afastou no mesmo segundo, sendo o único a acreditar que ela realmente teria tanta força para tal. Nem mesmo ela sabia se conseguiria, mas foi uma boa jogada. 

O baile seguia seu ritmo esperado, todos estavam celebrando em grande alegria o aniversário de Lady Barrington e vibraram em felicitações e brindes quando a mulher anunciou junto ao marido a chegada de mais uma criança. Afinal, se a criança a chegar fosse um menino, em poucos anos estaria sendo disputado a matrimônio como aconteceu com os três mais velhos. 

Lenora dançou com os três irmãos, rindo alto e trocando fofocas entre si. Deixando o decoro de lado quando também trocavam provocações e beliscões, sua mãe a repreendeu, mas em resposta ganhou apenas o que deveria parecer com um sorriso inocente e arrependido.  

— O conde está vindo! — anunciou a mãe animada, não escondendo seu claro entusiasmo ao ver Jonathan caminhar em direção a elas. — E é melhor ser gentil.  

— Eu sempre sou gentil. — responde, com falsa inocência. 

— Lenora, estou avisando, não tente espantá-lo. — advertiu a mãe, a ameaça ali era clara e por mais que Lenora se sentisse tentada a testar a mãe e o conde também, sabia que não poderia fazê-lo.

Acenando de forma a mostrar que entendera o aviso, Lenora exibiu seu melhor sorriso forçado ao ver Jonathan parar na sua frente. Ele era muito charmoso e certamente tinha consciência disso, pois lançava olhares que Lenora interpretou como alguém claramente disposto a conquistá-la.  

Ela quase, quase, revirou os olhos diante a tentativa inútil. 

— Srta. Barrington.  

— Vossa graça. — curvou-se em uma reverência breve, conforme o cortejo exigia que ela fizesse.

Lenora respirou fundo quando ele ofereceu o braço e precisou de muito autocontrole para não sair correndo quando começou a se deixar ser conduzida ao centro do salão.

Aquela seria uma dança longa. Para sua profundamente infelicidade. 


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