Lenora e Phillip — Um amor quase impossível escrita por Sami


Capítulo 2
Capitulo 1




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Capítulo 1

(...) 

 

Em sua quarta temporada, Lenora já se mostrava mais acostumada com tudo o que deveria fazer e na forma como deveria agir e claro, com o que a rondava, parada na extremidade do salão de baile de Lady Plistzzen, ela encontrava-se distante do enorme grupo de convidados e de muitos dos olhares que bem sabia estar recebendo. Ousaria em dizer que estava completamente satisfeita com sua posição.  

Seguir novamente a mesma rotina de uma nova temporada muito lhe aborrecia por motivos óbvios, não apenas pela disputa absurda que tudo aquilo se tornou, mas também na forma como passou a ser tratada pela sociedade. Por vir de uma família influente e rica, conhecida por todos, era óbvio que sua solteirice também viesse a público e não demorou para que passasse a ser olhada como se já fosse uma das solteironas.  

Lenora não tinha muitas esperanças para aquela temporada, estava em seu quarto ano e todos os cavalheiros solteiros ainda disponíveis não lhe agradavam, ainda era cedo para julgamentos, ela sabia disso, mas tinha quase certeza de que não seria naquele ano que encontraria o amor para si.  

Sua mãe, Lady Grace Barrington já havia desistido completamente das devidas apresentações que costumava fazer para a filha, apesar de vez e outra trazer consigo um rapaz que julgava ser adequado para ela e forçá-los a dançar ao menos uma vez, a mulher deixou claro que não mais se esforçaria para casá-la quando ela mesma não mostrava tal iniciativa. Mesmo que ela temesse ver a filha tornar-se uma solteirona aos vinte e dois anos.  

Nem mesmo o aumento de seu dote pareceu funcionar, seu pai Lorde Barrington imaginou que dobrando o valor do dote de Lenora traria mais opções de solteiros para a filha caçula de toda a Londres, mas duas semanas se passaram desde o início daquela nova temporada e Lenora conseguiu afugentar pelo menos quatro possíveis pretendentes; os demais simplesmente a evitavam.  

Só naquela noite, pelo menos cinco cavalheiros se afastaram com a mesma rapidez em que se aproximaram dela.  

— Você quer parar com isso? — sussurrou Lady Grace, cutucando as costelas da filha de maneira sutil quando chegou perto o bastante dela.  

— Parar com o quê? 

— De espantar todo cavalheiro que se aproxima de você! — a aproximação repentina de sua mãe não lhe foi uma surpresa, Lenora percebera seus olhares sérios e repressivos de longe e quando o quinto moço se afastou quase correndo, a mulher achou que era hora de intervir.   

— A culpa não é minha — defendeu-se. — Sigo o decoro como fui ensinada, mas sempre que abro a boca para falar eles se assustam e saem correndo, incapacitados de falar mais do que apenas do clima e suas carruagens.  

Suas palavras eram verdade, Lenora sempre foi muito tagarela e gostava de conversar e odiava quando todos os moços apenas pareciam interessados em falar sobre suas carruagens e o clima. Gostava de falar de tudo, assuntos triviais, assuntos sérios... Mas não eram todos que apreciavam isso.  

Lady Barrington aproximou-se um pouco mais da filha e arrumou o laço discreto de seu vestido lilás — escolha que fora feita pela própria jovem — e tornou a falar:  

— Se continuar afugentando todos que se aproximam nunca conseguirá encontrar alguém que lhe agrade — alertou a mais velha, apesar da grande calmaria existente em sua voz existia ali um toque nada sutil de repreensão.  

Lenora limitou sua resposta em apenas um simples franzir de lábios, pois não queria admitir que a mãe estava correta em sua fala. Entretanto, aquela era sua quarta temporada na sociedade, todos os pretendentes possíveis já haviam sido apresentados a ela; até os mais velhos em idade e nenhum lhe interessara.  

Em verdade, Lenora apenas afastava intencionalmente os cavalheiros que se aproximavam porque não acreditava que fosse de fato sentir algo por eles, tão pouco conseguiam conversar com ela sem que se assustassem com a quantidade de palavras que saia de seus lábios em segundos. E se fosse para casar-se com alguém, que acontecesse o mesmo que ocorrera com seus pais e seus irmãos mais velhos; que ela viesse a se apaixonar por alguém.  

Mesmo que acreditasse que isso não aconteceria com ela.  

— Eu sei, mas não há alguém aqui que seja interessante — comentou a moça, correndo os olhos pelo salão à procura de um rosto conhecido em especial para se livrar logo daquela conversa.  

— Não seja tola. Tenho certeza de que há muitos bons pretendentes e também aqueles que ainda não foram apresentados a você. — a mãe assegurou com um sorriso firme. — E ouso dizer que muitos estão ansiosos por conhecê-la.  

— Conhecer o meu dote isso sim.  

Lenora não era o que os homens da sociedade buscavam em uma dama, ela não era delicada como as debutantes de sua idade e nem as mais novas. Ainda que muitos lhe dissessem o quão bela era, admitia que muitos não se interessavam por ela por causa de sua beleza e sim pelo seu generoso dote.  

Enquanto a grande maioria das demais debutantes pareciam bonecas de porcelana de tão perfeitas e delicadas que eram, Lenora não se encaixava nesse padrão tão específico. Com a pele morena e traços firmes adquiridos com a união de seus pais, seu rosto apesar de feminino e bonito, possuía traços e feições firmes e nada delicados para uma dama londrina. E também tinha a questão de sua semelhança com seus irmãos mais velhos, ela sabia que muitos dos cavalheiros não conseguiam olhá-la nos olhos porque sempre enxergavam nela a imagem dos três gêmeos mais velhos.    

O cabelo escuro e fino era o único detalhe que realmente a diferenciava deles.  

Os olhos castanhos quase mel e os lábios finos e largos, assim como toda a sua fisionomia os deixavam deveras semelhantes quando todos os quatro estavam juntos.  

E muitos preferiam evitá-la para que não se assustassem quando passasse a enxergar nela a imagem de seus irmãos. O que quase sempre acontecia.  

— Não fale dessa maneira — Lady Barrington lhe deu um tapinha em seu braço. — há aqui muitos cavalheiros que fariam de tudo para levá-la ao altar e nenhum deles pensam em seu dote.  

Mentalmente ela listou todas as possibilidades e em cada nome citado estremecia.  

— Você faz com que todos os possíveis candidatos pareçam uns abutres. — observou a mais velha quando notou que a filha estremecia. — E a lista que lhe dei dias atrás? Não há alguém que lhe interesse? 

— Todos que listou são libertinos, mãe.  

— Libertinos são maridos excelentes — a mãe sussurrou. — Ao menos é o que ouço ser dito.  

— Libertinos são maridos que vão acabar lhe comparando com alguma conquista anterior — argumentou a mais nova. — Estará em sua noite de núpcias e ele irá lhe dizer que uma moça com quem esteve antes fazia tudo melhor e que sabiam como satisfazê-lo melhor e... 

— Lenora Anne Barrington! — a mais velha exclamou mais alto para cortar sua fala antes que ela a terminasse. — Olhe o linguajar!  

Apesar de repreendida a moça queria rir, muitos dos solteiros mais cobiçados pelas mães casamenteiras eram verdadeiros libertinos e Lenora considerava-se esperta o bastante para saber reconhecê-los e afasta-se desse tipo. Principalmente desse tipo.  

E o principal deles estava se aproximando. Edward Haskett era conhecido por suas inúmeras conquistas, nem mesmo ele as negava e se mostrava sempre muito orgulhoso disso.  

Enquanto que muitas moças suspiravam quando passava, Lenora sentia vontade de fugir para longe dele, Edward tentara cortejá-la um ano antes, mas antes mesmo que o rapaz e futuro duque conseguisse sequer enviar-lhe flores, Lenora Barrington fizera questão de colocá-lo para correr. Pelo que acabara de notar, isso não bastou para ele, pois Haskett se aproximava cada vez mais.  

— Lady Barrington, Srta. Barrington — o rapaz as cumprimentou de maneira cortês, esboçando o que considerava ser o seu melhor sorriso galante.  

As duas fizeram um cumprimento rápido, inclinando-se brevemente.  

— Oh que surpresa agradável, não acha Lenora? O futuro duque Haskett!  

Lenora lançou um olhar pouco reprovador para a mãe, uma vez que ela parecia agir como uma garotinha descontrolada diante a presença dele.  

— É. — conseguiu sorrir. — Agradável.  

O futuro Duque, Lenora notou com grande irritação, era um homem muito bonito e atraente. Vestia preto e azul, que realçava a cor de seus olhos. Ele era alto, de uma postura firme e orgulhosa e tinha cabelos incrivelmente dourados que caíam sobre suas sobrancelhas. Muito bonito, admitiu ela a contragosto. Mas não o homem certo para ela, gostava de deixar isso claro. 

— Gostaria de pedir a oportunidade de uma dança com a Srta. Barrington.  

O rosto de Grace Barrington se iluminou no mesmo instante, os lábios se esticaram num sorriso amplo e nada discreto. Não era sempre que Lenora era tirada para uma dança, na realidade, com aquela, seria a terceira dança da jovem em quatro anos.  

— Creio que... 

— Lenora adoraria dançar com o senhor. — a mãe cortou a fala da moça antes que ela sequer conseguisse formulá-la.  

Lenora pensou seriamente em agir de modo impróprio, de todos os homens presentes que sua mãe pudesse jogá-la, ela o fazia para Edward Haskett! Ela entrelaçou as mãos com força, de modo que suas unhas feriram levemente a pele através da luva de seda. E ela não teve outra opção que não fosse aceitar dançar com o libertino a quem tinha pouca estima.  

O que tornou aquela noite ainda menos suportável.  

 ●●●

 

Não tinha como escapar, Lenora percebeu isso tarde demais e com grande desânimo. Negar uma dança ao futuro duque seria algo que todos iriam comentar e ela não queria ser alvo de novas fofocas; já bastasse o que todos diziam sobre sua solteirice.  

Edward Haskett a conduziu até o meio do salão lotado, verdade seja dita, Lenora gostava de dançar, mas o detestava quando a pessoa a tirá-la para uma valsa era alguém como o futuro duque.  

A chegada ao centro do salão foi o bastante para atrair alguns olhares, era do conhecimento de todos que Haskett fora uma das vítimas de Lenora e a surpresa em vê-los juntos a dançar a valsa foi algo que nenhum convidado conseguiu disfarçar.  

— Está calada, Srta. Barrington — ele observou, girando-a logo em seguida.  

— Não costumo falar enquanto danço, vossa graça.  

Ele arqueou uma sobrancelha e sorriu.  

Estar tão próxima a ele era muito desconfortável, não apenas pelo título que muito em breve herdaria, mas por ser um dos libertinos que mais repudiava. Tudo naquele homem parecia gritar a alertando de um perigo iminente e sempre que tentava afastar-se dele, Edward a puxava de volta e a trazia para mais perto. Segurando sua mão e apertando a outra em sua cintura, forçando-a a dançar mais próxima a ele.  

— Todos estão olhando — contou com orgulho.  

Lenora não precisou olhar ao redor para saber que era verdade, bem sabia que sua mãe era quem não tinha desgrudado os olhos dos dois desde que começaram a valsar. A moça reprimiu um suspiro, ser o centro das atenções não lhe agradava, apesar de vir de uma família conhecida e que quase sempre era assunto em rodas de conversas, preferia sempre estar longe dessa atenção exagerada que recebia das pessoas.  

Ela se lembrava de um baile — em sua primeira temporada — em que fora aplaudida por onde passava, alguns faziam reverências como se ela pertencesse à realeza e outros até a tratavam como tal. Isso a fez tomar um gosto incomum por ficar nos cantos dos salões, escondida de muitos e longe de todos.  

— Claro que estão olhando — respondeu. — Estamos dando a eles um show.   

— E por qual razão parece não estar gostando disso?  

— Porque de todas as companhias que poderia ter para uma valsa, a sua, vossa graça, é a última que desejei ter na noite — respondeu ela, orgulhosa de si mesma por não ter gaguejado em momento algum. 

Esperou por alguma reação, mas o futuro duque apenas esticou mais os lábios e o sorriso sempre tão presunçoso e orgulhoso que carregava por onde andava apenas se intensificou. 

— Estou apenas sendo gentil com uma dama.  

Ela controlou a vontade de revirar os olhos no mesmo instante.  

— Não, apenas tirou-me para dançar porque teve o ego ferido no ano anterior e quer mostrar a todos que é melhor do que uma recusa — disse ela, percebendo seu tom de voz tornar-se aos poucos cada vez menos agradável.  

— Não quero cotejá-la, senhorita Barrington. — assegurou Haskett.  

— Sei disso — ela assentiu. — Deixei claro um ano atrás que jamais aceitaria seu cortejo. Mas não entendo o que procura com isso, quando sabe que não tenho qualquer estima por você... — Lenora fez uma pausa e então finalizou. — Vossa graça. 

Edward sorriu de maneira maldosa.   

— A convidei para dançar porque sei que nenhum outro moço o fará, nem nessa noite e nas que virão — disse ele, simplesmente. — Exceto pelo único homem que realmente parece suportá-la nessa sociedade.  

A moça piscou. Mas não de surpresa, Edward Haskett não era o primeiro a jogar em sua cara o fato de ela nunca ser tirada para dançar nos bailes e bem sabia que não seria o último a fazê-lo. E por mais incrível que aquilo pudesse parecer, ela não se ofendeu com suas palavras.  

Não quando as mesmas vieram de alguém como ele.  

Ela teria lhe dado uma boa resposta se ele não a tivesse girado mais uma vez e a trouxesse para perto com habilidade. Lenora preferiu e achou que seria mais sensato calar-se, a valsa estava chegando ao seu fim e logo estaria livre daquele homem.  

Mas isso não significava que ela não podia vingar-se dele.  

Gostava de dançar e apesar de nunca ser convidada para as valsas, sabia como fazê-la com graça e perfeição. Mas tinha momentos, como aquele em questão, onde a falta de graça mostrou-se algo necessário e, quando os músicos encerraram a melodia harmoniosa e dançante da valsa, Haskett fez menção de dar mais um de seus giros — os quais já estavam a deixando zonza —, contudo Lenora foi mais rápida. Deu meio passo para frente e com um sorriso inocente e juvenil pisou em seu pé.  

Usando toda sua força para fazê-lo.  

O futuro duque libertino soltou um gemido nada atraente e fez uma careta que tentou disfarçar tarde demais. Satisfeita com a própria ação, Lenora fez uma reverência, agradeceu pela valsa — ainda que a tivesse detestado — e seguiu para longe do libertino.  

Caminhando por entre os convidados, tinha a intenção de se esconder em algum canto e torcer para que a noite acabasse logo e ficar longe de sua mãe e possível artimanhas para apresentações até encontrar um rosto conhecido. 

Era fácil reconhecê-lo entre os demais, não só por sua aparência, mas a sua postura também o diferenciava dos demais presentes.  

Era Phillip. O único cavalheiro com quem realmente gostava de passar seu tempo naquele baile. 


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