Lenora e Phillip — Um amor quase impossível escrita por Sami


Capítulo 14
Capítulo 13




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Capítulo 13

(...)

Em Plambley, os  jantares entre os três irmãos Weston eram sempre repletos de muita conversa, provocações por parte dos mais novos e claro, brincadeiras que geralmente resultavam em ervilhas voando de prato em prato.

Mesmo com toda a bagunça e claro, as inúmeras provocações, Phillip apreciava demais esses momentos, porque sentia-se mais próximos a seus irmãos. Apesar de toda a sua responsabilidade como visconde e tudo o que seu título exigia dele, eram esses momentos em que ele simplesmente parava tudo o que estava fazendo para ser apenas o irmão mais velho deles.

No momento, apesar de ter contado pelo menos cinco ervilhas cairem em seu prato, os pensamentos de Phillip encontravam-se um tanto distantes. Seus olhos estavam fixos nos gêmeos a conversar de forma animada, mas sua mente o levou — diversas vezes — de volta para o encontro inesperado com Lenora no parque.

Ele não esperava encontrá-la e muito menos encontrá-la com o diário. Tudo o que se seguiu, com ele terminando o dia com o diário de Bartholomeu em mãos para traduzir e a promessa de que procuraria pelas cartas do homem foram surpresas incomuns. Ele notou que, toda essa história das cartas e o incomum relacionamento entre ele e Isobel estava deixando-o mais preso a Lenora.

Claro, ele também sentia uma estranha necessidade de desvendar a verdade sobre a rixa e tinha suas próprias dúvidas e questões sobre a mesma, sua curiosidade nunca fora algo muito evidente, mas depois que Lenora encontrou e começou a bisbilhotar o diário, Phillip se via cada vez mais envolvido na estranha trama.

E então, após relembrar da conversa sobre o diário, sua mente o levou para o assunto que seguiu depois e a estranha reação de ambos.

— Amigos. — murmurou baixo demais para que seus irmãos o escutassem.

Havia algo de errado naquela única palavra. Ele sabia o que era, porque, se dependesse dele não seria apenas amigo de Lenora. Contudo, com as atuais circunstâncias, era tudo o que ele poderia ser para ela.

Um amigo.

Phillip decidiu deixar de lado o pensamento quanto a reação dela sobre a afirmação do que eram para o outro, ele notou que ela pareceu claramente incomodada com aquele título e primeiro pensou que seria apenas algo criado por sua mente. Afinal, não era incomum que alguém fantasiasse reações de outras pessoas, mas quando ela repetiu amigos, ele teve certeza de que algo estava errado.

Não só com ela, mas de como aquela palavra pequena pareceu pesar sobre eles. E mesmo que ele quisesse continuar remoendo o que houve, não podia se dar a esse luxo. Ao menos não naquele momento.

Sua atenção estava sobre seus irmãos travessos e descontrolados, os dois agora pareciam discutir sobre o assunto anterior e faziam ameaças como, usar os talheres como armas de defesa.

— Ei, não brinquem com a comida — pediu o mais velho, livrando-se de seus pensamentos e concentrando-se finalmente nos dois. — Já perdi a conta de quantas ervilhas voaram para meu prato.

Os dois se viraram para Phillip.

— Não estávamos brincando — respondeu Kate. — Apenas conversávamos sobre o que ouvimos recentemente.

— É mesmo? E o que escutaram que fez com que os dois parassem de comer?

— Ficamos sabendo sobre a descontrolada que têm atacado os solteiros — Charles contou, os olhos estavam arregalados e apesar do tom levemente assustado, havia um brilho de puro entusiasmo em seus olhos.

— Sim! — exclamou Kate. — Ela atacou o imbecil do Anthony Nosten e até quebrou seu nariz.

Phillip sentiu que iria engasgar.

— Como souberam disso? Que conversas andam escutando pela casa?

Kate deu com os ombros.

— Todos estão comentando sobre isso, Phillip — respondeu. — Nós não ficamos apenas presos em Pambley, se lembra?

O gêmeo concordou.

— As rodas de fofocas estão falando apenas sobre ela — ele prosseguiu, completando a fala da irmã. — Alguns até estão fazendo apostas sobre quem será o próximo a ser ferido.

— Eu acho que será aquele exibido do Haskett, ele bem que merece  — Kate comentou com Charles, virando-se para o mais novo enquanto voltavam a conversar.

— Não, não — o outro sacudiu a cabeça. — Talvez seja o estúpido do Benedict, ele é um daqueles libertinos que desonram a primeira moça que aparece nos bailes e desaparece.

Dessa vez, Phillip engasgou.

Ele nunca ouviu os irmãos falarem sobre isso e tão pouco sobre suas opiniões quanto aos libertinos da sociedade. Sequer imaginava que eles tinham conhecimento sobre o assunto.

— Vocês... — ele tossiu antes de repreendê-los. — Não deveriam estar falando sobre isso! Não é assunto para crianças!

— Não temos culpa!

Protestou a menina.

— É o que todos estão comentando!

Justificou Charles.

A surpresa tomou o rosto do mais velho, ele bem sabia que os dois eram fofoqueiros demais e estavam sempre ouvindo atrás de portas, atentos a conversas de adultos e buscavam sempre ficar próximos às rodas de conversas quando saíam de Pambley. E ele já esperava que o assunto sobre a descontrolada que está ferindo solteiros chegasse aos ouvidos deles, mas saber que eles tinham opiniões sobre os libertinos e conversavam sobre quem seria o próximo a ser ferido era uma novidade.

— Não importa — disse. — São novos demais para falarem sobre isso, principalmente os libertinos.

Kate olhou fixamente para o mais velho e estreitou os olhos com indignação. Diferente do irmão ela não tinha tanto controle sobre a língua e sabendo que ela iria atormentá-lo, Phillip já se preparava para o futuro ataque.

— Estamos apenas comentando o assunto do momento e não nos culpe por termos opiniões fortes, afinal é você quem está nos criando. Puxamos isso de você.

Phillip piscou assustado.

— O quê?

— Ora, não aja como se isso fosse novidade — ela reclamou. — Somos os mais novos, nos espelhamos em você e nas suas atitudes. Tudo o que faz, imitamos.

Sem reação, ele apenas piscou novamente. Incrédulo e completamente desconcertado. Não estava pronto para ouvir o que acabara de ouvir de Kate.

— E você também é fofoqueiro, Phillip — Charles se defendeu também. — Nem pense em negar.

— Como?...

— É amigo de Lady Coublepett, ela só tem amizades com pessoas quase tão fofoqueiras quanto ela mesma — a resposta de Charles apenas o surpreendeu mais. — E nem pense em negar, você sabe que estamos certos.

Ele suspirou.

— Vocês dois... — ele nem mesmo conseguiu terminar a frase sem que começasse a rir.

Sim, era um fofoqueiro, mas não como os irmãos e não como os outros fofoqueiros da sociedade; ele conhecia piores. Mas Charles estava certo, Lady Coublepett tinha poucas amizades e todas — ele percebeu tarde demais — eram apenas com pessoas fofoqueiras. Sendo ele e Lenora suas principais amizades.

— Temos uma fofoca sobre você também, irmão. — revelou Kate, atraindo a atenção do mais velho. — Gostaria que contássemos?

Phillip pensou sobre aquilo. Seu nome estava também nas rodas de fofocas pelos motivos de sempre: Phillip Weston, o visconde de Pambley precisa encontrar uma viscondessa e rápido.

— E por acaso se eu responder que não, isso impedirá os dois?

Os gêmeos mostraram sorrisinhos desdenhosos.

— Claro que não.

Responderam ao mesmo tempo.

— Prossigam. — pediu, sabendo que mesmo se insistisse, os dois não lhe dariam sossego tão cedo.

— Todos estão ansiosos sobre seu casamento até o fim da temporada — começou Kate, ela até mesmo se inclinou sobre a mesa, dando mais ênfase para suas palavras. — Há alguns nomes que estão sugerindo como candidatas excelentes para futura viscondessa. Todos dizem que você está na caça para uma esposa!

Ele assentiu. Disso ele já sabia, antes mesmo da temporada começar seu nome já era um assunto muito comentado entre a sociedade, especialmente sobre a felizarda que conquistaria seu coração.

Se eles soubessem... Pensou com humor.

— Não é apenas isso — a menina continuou. — Acredito que sejam cinco nomes das moças solteiras que todos acreditam serem adequadas para viscondessa, mas há um que além de impossível chega a ser piada.

O visconde franziu o cenho, aquilo o interessou, pois ele sabia dos nomes das solteiras em potencial. E até onde se recordava, nenhum deles parecia assim tão impossível.

— Conte a ele, Charles — pediu ela de maneira apressada.

O menino segurou o riso e imitou a irmã, se inclinou sobre a mesa como alguém prestes a contar um segredo.

— Ouvimos o nome de Lenora Barrington no meio das moças adequadas — Charles estava quase rindo e fez um esforço notável para não gargalhar logo de cara, contudo não conseguiu segurar por muito tempo.

Ele foi o primeiro a rir alto e Kate o imitou. Ambos gargalhando.

Phillip pensou em fingir achar graça disso, mas não conseguiu e não tinha relação com sua amizade com Lenora, mas sim sobre a questão de seu nome ter sido citado como uma candidata a viscondessa. Claro, ele pensava nisso havia quatro anos, mas apenas ele. Ninguém sabia sobre seus sentimentos para com ela, tão pouco suspeitavam disso.

E, se ela estava sendo citada nesse tipo de fofoca e seus irmãos estavam sabendo, não iria demorar muito para que sua família ficasse sabendo.

Ele conseguia até imaginar a cena. Ela seria questionada sobre isso e não saberia o que responder, porque, até então não tinha conhecimento disso.

Céus!

— De quem ouviram isso? — perguntou interessado, um pouco temeroso também.

Após consideráveis longos minutos de uma gargalhada estranha, os gêmeos finalmente pararam de rir.

— Na roda dos libertinos — Charles deu com os ombros. — Eles estão fazendo apostas sobre quem você irá desposar porque temem que escolha a melhor das moças.

Phillip encarou Charles Weston completamente chocado.

— Primeiro, o que diabos estava fazendo na roda dos libertinos?

— Minha aposta, ora. — respondeu indiferente. — Cinquenta libras que irá se casar com Margareth Preston.

Tanto Phillip quanto Kate se assustaram com a fala do irmão.

— O quê?!

Exclamaram ao mesmo tempo, ambos chocados.

— Você não me contou que fez aposta! — reclamou Kate, apanhando a colher e a usando para golpear o irmão.

— Eu não conto tudo a você, Kate. Ai! — gritou quando o primeiro golpe o atingiu.

Phillip nem mesmo sabia o que dizer.

— E foi um grande tolo em apostar na Margareth, não está sabendo que ela pode se casar com Mark ou Thomas?

Os dois começaram a discutir sobre aquilo e enquanto isso Phillip encarava os irmãos e simplesmente não sabia o que responder. Nem como prosseguir com a bronca por Charles ter se envolvido em uma roda de libertinos e ainda por cima fazer uma aposta sem que ele soubesse.

Cinquenta libras! Assustou-se. Cinquenta libras em Margareth Preston! A moça já estava perdida em sua própria trama para pensar em tornar-se viscondessa, com Thomas e Mark a perseguindo como dois cachorros.

Mas essa não era a questão. Olhou novamente para os dois irmãos a se golpearem com os talheres, tinham apenas dez anos! Dez! E já faziam apostas, fofocavam... Ele estava perdido.

— Parem os dois!

Kate e Charles recuaram, seus pratos já eram uma mistura bagunçada do jantar.

— Eu vou ignorar que os dois têm acompanhado rodas das quais não são adequadas para crianças e ir direto para o pronto principal: — ele fez uma pausa. — O que escutam não podem levar em consideração ou carregar como uma verdade. Eu não estou caçando esposa, não sei quem começou com isso, mas não é verdade.

Os dois assentiram.

— Sabemos disso, irmão — sua irmã o tranquilizou. — Você caçar uma esposa como se fosse um animal é tão verdade quanto a possibilidade daquela imunda da Barrington se tornar uma viscondessa.

Phillip já esperava pela ofensa aos Barringtons.

— Não faz sentido acharem que ela se adequa a uma viscondessa — prosseguiu a menina, suas palavras eram ríspidas. — Primeiro que ela é uma Barrington, aquela família é pior do que o fedor de Charles e segundo, ela não é aquela que sai espantando os homens?

Charles concordou.

— Com toda certeza espantaria Phillip — comentou ele rindo.

— Ela jamais faria isso porque Phillip é um ótimo partido, é o que todas comentam! — corrigiu Kate. — E mesmo se não fosse, Phillip não chegaria nem perto dela. Não é?

Os dois o olharam.

— Claro, claro. — respondeu ele, nem mesmo sabendo a exatamente o que estava concordando. — Jamais.

Eles terminaram o jantar e Phillip fez questão de mudar de assunto, comentando sobre qualquer outra fofoca que não tenha chegado aos ouvidos atentos dos gêmeos e se surpreendeu quando se deu conta de que ele era mesmo um fofoqueiro também. Isso foi o suficiente para que eles se esquecessem do assunto casamento e da lista de candidatas a viscondessa; uma lista que Phillip desejava nem mesmo ter conhecimento.

E agora, a única preocupação de Phillip era em se livrar das centenas de ervilhas que voavam misteriosamente para seu prato.


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