Lenora e Phillip — Um amor quase impossível escrita por Sami


Capítulo 12
Capítulo 11




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Capítulo 11

(...)

Uma semana depois, Lenora caminhava pelo Hyde Park apenas porque queria se livrar de todos os milhares de pensamentos que enchiam-lhe a mente desde o recital das irmãs Hollow. Claro que o fato de sua mãe lhe dar intermináveis sermões sobre ela ter ferido um cavalheiro e ter agido como uma moça sem criação também tinha certa influência em sua decisão.

Espantar mais um pretendente não foi o problema, mas feri-lo com um golpe no nariz foi. Seu pai não viu problema, porque sabia que a filha não agiria dessa forma sem um bom motivo, mas sua mãe não queria desculpas. Se negava a aceitar que a filha agiu dessa maneira.

Phillip era um nome constante em sua mente, porque em quatro anos completos de amizade, ela nunca sentiu o que passou a sentir naquela noite.

Primeiro era apenas um pensamento tolo, mas depois, principalmente quando aconteceu aquele cumprimento ela soube que algo estava mudando em seu ser. E que também mudava a forma como o via.

O passeio era para isso; pensar melhor, reorganizar-se e ter consciência de que estava sendo uma grande tola por ter pensamentos como aqueles. Queria poder esquecer-se disso e se concentrar apenas no diário que sua dama de companhia estava carregando escondido.

Só que ela não esperava encontrá-lo.  

— Phillip!

Exclamou quando o viu, alguns passos adiantes. Sua voz saiu em uma entonação estranha, mas ele não pareceu notar isso. Lenora realmente não esperava encontrá-lo ali.

— Olá Lenora.

Ele sorriu e se aproximou; fazia uma semana inteira que não se viam.

A cumprimentou depositando um beijo leve nas costas de sua mão e Lenora sentiu algo estremecer em seu interior, porque imediatamente recordou-se do que houve sete noites atrás.

— Tem escutado as fofocas? Há uma dama descontrolada ferindo solteiros. — puxou conversa, primeiro sempre com algum assunto do momento.

O qual tratava-se de Lenora, mas muitos dos fofoqueiros ainda não tinha conhecimento desse detalhe.

— Somente uma moça criada com lobos para agir assim! — ela fingiu indignação ao repetir o que também escutou em rodas de fofocas.

Anthony Nosten não contou que foi ferido por Lenora — o que ela agradeceu —, mas não controlou a própria língua ao contar uma história insana sobre a moça que o feriu sem piedade. Não demorou muito para que todos já estivessem falando a respeito, aumentando a história a cada nova conversa ao ponto de criar uma mulher que feria solteiros em potencial pelo próprio prazer de vê-los sofrer.

— E sua mãe? O que ela diz a respeito dessa moça?

Lenora torceu os lábios.

— Ela associou as fofocas quando viu o sangue na minha luva e acabei contando a verdade, — revelou. Sem que percebessem estavam caminhando juntos pelo parque. — Meu pai não pareceu muito abalado com isso, mas ela…

— O quão ruim foi?

Você vai ficar sem marido por causa disso e então vai acabar uma solteirona com vinte e três anos! — ela fez uma imitação barata de sua própria mãe, os dois riram ao mesmo tempo.

— Isso foi muito específico. — observou ele.

— Sejamos honestos, muitos já me classificam como uma solteirona, então ela está se preocupando sem necessidade e exagerando um pouco. — brincou.

Era verdade e apesar de ser uma dura realidade, Lenora praticamente se acostumou com sua classificação de solteira, não tinha desistido por completo, mas também não se deixaria desesperar. Viver como uma solteirona não parecia ser tão ruim como sua mãe fazia parecer.

— São apenas fofocas — disse, como se a tranquilizasse.

— Não me importo com isso. — admitiu. — Quero dizer, às vezes é melhor ser dita como uma solteirona do que fazer todos criarem uma grande expectativa sobre quem será o insano a levar-me para o altar.

Phillip dessa vez apenas concordou. Ele não sabia como era isso, apesar de também ser cobrado por um casamento, essa cobrança dele não era igual a que Lenora ou outras moças recebiam dos demais.

Mas citar seu futuro matrimonial a fez lembrar de algo importante: Phillip não era um pretendente em potencial e sua família jamais permitiria que fosse.

— Já que estamos falando sobre fofocas, tem lido o diário de Bartholomeu?

A mudança de assunto fez com que Lenora abrisse um sorriso largo, falar sobre o diário que descobriu dias atrás e a história que ele trazia era realmente mais interessante do que falar sobre seu futuro ou sobre os pensamentos que teve nessa semana.

— Li quase metade do diário — contou ela com orgulho. — A outra metade está em italiano e parei por conhecer apenas duas palavras neste idioma.

O visconde mostrou-se surpreso.

— Espera, podemos falar sobre isso perto da sua dama de companhia? — ele olhou em direção a moça mais atrás deles. — Ela não irá?…

Lenora fez um gesto despreocupado com a mão. 

— Não se preocupe com Rose, digamos que fiz um acordo muito vantajoso para ela — assegurou. — Ela não dirá nada sobre ter me visto com um Weston e nem sobre o diário.

Phillip acabou percebendo que a dama de companhia de Lenora se mantinha exatos seis passos mais atrás deles. Distraída com o casal de amigos mais adiante.

— Então, quais as novidades? 

Lenora era uma fofoqueira quando bem queria e curiosa sempre que possível, não era incomum que ela vez e outra trouxesse consigo algum escândalo que descobriu ou até mesmo alguma história sobre algo que descobriu.

E contar sobre o diário era uma fofoca e tanto para ela.

— Há páginas que ele narra encontros secretos com Isobel e alguns assuntos sobre suas responsabilidades depois que ele assumir o título da família, — começou a contar. — E depois de algumas páginas percebi que ele é um verdadeiro libertino, mas não é isso que interessa.

Phillip riu rapidamente. Todos sabiam que ela odiava libertinos e apesar de Bartholomeu ser parte de sua família, isso não anulava seu ódio por eles.

— Depois do último encontro que tiverem, metade do diário se encontra escrito em italiano e não consegui decifrar quase nada do que foi escrito desde então, como já contei — ela prosseguiu, havia certa decepção em sua voz. — Mas as cartas de Isobel contou sobre algo… Bem interessante.

O surpreendendo, Lenora parou e virou-se para sua dama de companhia, estendeu a mão e a mulher tirou de debaixo de uma camada de seu vestido um livro de capa marrom.

— Não me diga que é o diário.

— Claro que é. — respondeu. — Não posso deixá-lo longe de vista.

Phillip achou que seria melhor não fazer perguntas enquanto Lenora retirava algumas cartas e pegou uma em especial.

— Isobel contou nessa carta que durante passeio que fizeram — mostrou e entregou para Phillip. — Os dois esconderam algo próximo a um labirinto de flores e que apenas ela e Bartholomeu sabem disso.  

— Ele disse um labirinto de flores?

— Sim.

— Foi em Pambley esse passeio — ele contou um tanto espantado. — O jardim é exatamente como um labirinto, apesar de não tão alto como um.

Lenora arregalou os olhos.

— Bartholomeu esteve em Pambley!?  Com ela?!

Os dois se encararam por um longo momento. Encontros desse tipo não eram bem vistos, porque sempre resultava em escândalos. Moças já foram arruinadas por isso.

— E Isobel escondeu algo lá. — finalizou Phillip. — Até onde sei, não há quase nada que pertencia a ela na propriedade.

— Então não sabe sobre o que possa ser esse algo que ela tenha enterrado?

Ele negou.

— E também acredito que tenha sido perdido, a propriedade passou por uma reforma anos antes — contou, ele viu quando o semblante do rosto de Lenora pareceu um tanto desanimado.

— E quanto aos pertences dela?

— Bem, quando ela se casou mudou-se para a Itália, desde então parte da família que ela formou vive por lá. — respondeu. — Tudo o que poderia ser dela foi levado, há apenas uma pintura e uma grande cômoda onde ela costumava guardar seus pertences no escritório principal nada mais.

O cenho de Lenora se franziu.

— E sabe o que tem nessa cômoda?

— Nunca me interessei pelo que poderia encontrar lá. — deu com os ombros. — Mas, estudei italiano quando jovem — anunciou ele — Posso traduzir o restante do diário, se quiser.

Ela sorriu largamente.

— Claro que quero. — Lenora segurou o diário com um pouco mais de força por entre os dedos. As cartas estavam separadas e as seguravam com a outra mão. — Mas precisa me prometer que irá contar tudo o que descobrir no próximo baile.

Ele assentiu.

— E a cômoda? — questionou ela.

Phillip a olhou, era como se já soubesse o que ela pretendia pedir.

— Vou ver o que encontro nela — garantiu.

— Ótimo! — exclamou. — Seria maravilhoso se encontrássemos as cartas de Bartholomeu, acho que algumas enviadas por Isobel fariam mais sentido.

— Por que acha isso?

— Isobel parece contar apenas uma parte do que eles fazem ou sentem, a carta que lhe mostrei no recital, percebeu como ela simplesmente termina? Não há um final, ela apenas, para de escrever e assina seu nome. — diz. — É assim com todas as outras.

Phillip esticou a mão em direção ao bolo de cartas e Lenora lhe entregou algumas, ele correu os olhos por seu conteúdo e fez o mesmo com mais três delas.

— É verdade — observou pensativo. — Essa aqui, por exemplo, é como se ela tivesse escrito apenas um trecho do passeio e nada mais.

A moça assentiu.

— Bem, encontrando ou não essas cartas o que realmente me interessa descobrir é o que eles enterraram em Pambley — o interesse na voz de Lenora era claro.

— Será que foi esse algo que causou a rixa entre as duas famílias?

O rosto de Lenora ganhou um ar pensativo. Ela não tinha pensado a esse respeito até aquele momento.

— Se for por causa disso, espero que seja algo de valor — disse ela. — Não quero nem imaginar que nossas famílias se odeiam tanto por causa de alguma bobagem.

Ele riu e concordou.

— E a ideia de que eles viviam um amor proibido? Já a descartou?

Lenora deu com os ombros.

— Não totalmente — revelou. — Mas passei a imaginar que esse algo que esconderam tenha relação com esse relacionamento, uma situação foi puxando a outra. Até resultar em ambas famílias brigando.

Os olhos dele se estreitaram.

— Ainda não acredita que talvez eles simplesmente não podiam ficar juntos?

A moça negou.

— Nenhum amor é proibido, Phillip. — ela lhe deu um leve empurrão no ombro. — Você é um romântico, deveria acreditar nisso também.

Lentamente seus lábios se esticaram em um sorriso muito discreto.

— Não é isso, apenas… — houve uma pausa longa, Leonora percebeu que as palavras dele pareceram simplesmente travar ali. — Faz mais sentido que seja proibido porque se pararmos para pensar bem sobre tudo, olha só a que ponto chegamos.

Ela esperou que ele continuasse com sua fala.

— Eles se relacionam e conforme os anos se passam as duas famílias vivem uma rixa da qual não entendemos, algo que nos proíbe até de sermos amigos.

Lenora ergueu o rosto e o encarou. Suas sobrancelhas pareceram se unir, como se ela pensasse sobre o que acabara de ouvir. E sem que percebesse seu rosto formou uma careta.

Não foi algo visível, Phillip pelo menos não pareceu percebe isso, ele também a olhava e teria dito algo a respeito.

Ela não soube o que aconteceu, sentiu-se diferente, estranha e incomodada quando a palavra amigos saiu por entre os lábios do moço. Notou — tarde demais — que sentiu-se igual no recital, quando ele disse que alguns amores são simplesmente impossíveis.

— Amigos.

Repetiu a palavra, percebendo como aquela palavra tão simples lhe atingiu com uma força estranha. Até mesmo sua mente pareceu entrar em colapso ao dizê-la outra vez.

— Grandes amigos. — ele se corrigiu. — Todos os demais sabem de nossa amizade, mas nossas famílias não podem sequer imaginar isso porque começaria uma verdadeira confusão.

Lentamente ela assentiu.

— Será que eles viviam como nós? — perguntou num tom baixo. — Olhe só para nós dois, dançamos escondidos de nossas famílias, nos escondemos pelos cantos para que não sejamos vistos, fingimos nos odiar quando somos… Grandes amigos.

Lenora sentiu algo mais uma vez. Seus olhos grandes e redondos o encararam com mais pesar quando tais palavras saíram de sua boca.

O que diabos estava acontecendo com ela?

— Acha que foi isso o que aconteceu entre eles? Começaram como amigos e depois se tornaram amantes?

A moça assentiu.

— Não acha?

Ele uniu as sobrancelhas.

— Então isso também pode acontecer entre nós?

Novamente se encararam, segundos se tornaram minutos e então, estavam os dois rindo.

Lenora deu um tapa leve no braço de Phillip.

— Não seremos amantes — assegurou.

— Continuaremos amigos. — a frase saiu de seus lábios sem que ela se desse conta do que acabara de ouvir e até mesmo dizer.

Apesar de sorrir logo em seguida, Lenora sentiu que algo parecia lhe incomodar com a frase que ela mesma dissera.

Suas mãos se agitaram, os dedos apertaram as cartas com mais força ao ponto de ameaçar rasgá-las.

— Srta. Barrington — sua dama a chamou, interrompendo a conversa entre os dois. A moça aproximou-se deles, o rosto direcionado apenas para Lenora. — Devemos ir, a senhora sua mãe disse que não deveria demorar em seu passeio.

Ela piscou. Olhou para Rose e em seguida para Phillip.

— Claro, claro. — disse ela de maneira despreocupada.

Seus olhos caíram sobre o diário ainda em suas mãos e por um segundo foi como esquecer-se do que iria fazer. Rapidamente o entregou para Phillip, com a promessa de que ele iria traduzir toda a parte em italiano e lhe contaria o que descobriu.

— Preciso ir — anunciou ela. Olhando-o com expectativa. — Não se esqueça de traduzir o diário.

Fez uma tentativa de sorrir de maneira descontraída, mas falhou. Sentiu que falhou.

— Eu o farei — prometeu ele. — E vou vasculhar a cômoda de Isobel também.

Lenora assentiu, não houve cumprimentos formais, apenas um aceno de cabeça. Ela seguiu de volta para sua casa, a mente um tanto confusa e agitada demais.

Apenas amigos. Repetiu irritada, mas irritada com o que exatamente?


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