THE SEASON — Interativa escrita por Excelsior, Victoire Winter


Capítulo 4
The Smythe Brother


Notas iniciais do capítulo

Aqui temos mais um teaser, esperamos que vcs gostem!



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THE SMYTHE BROTHER 

The eye of the hurricane



Colin Smythe evitava passar qualquer tipo de tempo desnecessário em Grantham. A propriedade, o orgulho de seus antepassados até a morte súbita do pai, se estendia até onde os olhos alcançavam — pelas colinas do sul onde damas e lordes um dia cavalgaram juntos, e imensos bosques ao leste, por onde as ilustres caçadas inglesas ocorriam sazonalmente, há vários séculos. Era o lar do Barão de Grantham, como fora de seu pai e o pai dele, e o pai dele. Não era seu lar. 

De fato, Colin passava mais tempo em Londres que no lar ancestral dos Smythe. A residência em Mayfair fora reformada logo quando sua mãe, a atual baronesa viúva, casou-se com o pai. Na sua juventude, era um lugar sempre bem iluminado e cuidado. Ainda se lembrava dos preparativos animados em Grantham quando partiam para a temporada londrina, a euforia dos criados que partiam na frente para arejar a mansarda e assear os cômodos. Colin geralmente se juntava ao pai em Londres uma semana antes da mãe e irmãs, ansioso para absorver cada segundo de sabedoria com o barão — se sentido especial e diferente, e não do modo ruim como lhe era usual. Porém, todos os anos o pai lhe decepcionava. Eventualmente, Colin parou de tentar.

Haviam também os bailes, os esplendorosos debutes das irmãs com a presença de príncipes estrangeiros, e reuniões de negócios no escritório do pai que davam a ele um ar de demasiada importância. De tudo isso, dos momentos que mais sentia falta em Smythe House, era o petit déjeuner com todos à mesa; o modo como o pai recitava o periódico por trás do jornal numa voz séria demais para as notícias matinais, enquanto as irmãs riam de algo absolutamente impróprio, como a baronesa sempre os repreendia. As risadas... Céus. Sentia como se aqueles dias não fossem jamais acabar. Como se fossem partir para Londres todas as temporadas, os homens na frente, e rir à mesa dos pretendentes desajeitados de Amy todas as manhãs, e fazer um esforço conjunto para dar nos nervos da mãe antes do chá da tarde, juntos, sempre. A formação de guerra dos irmãos Smythe.

Mas os anos foram cruéis com a Smythe House. Apesar do polido chão de mármore do saguão permanecer o mesmo, e as obras de arte inestimáveis continuarem presas às paredes, e as cortinas serem abertas todas as manhãs e os quartos asseados como se fossem receber uma comitiva, o palacete era não mais que uma casca. Não reluzia com o brilho dos bailes e som das quadrilles no salão, nem com a risada fácil das assombrosas Irmãs Smythe. Apenas ecoava o vazio de si próprio. O solitário Barão de Grantham. 

Assim, Colin evitava não apenas os campos de Grantham, mas também os corredores de Smythe House. Era um intruso em seu próprio lar, apesar do direito real e irrevogável a tais, concedido ao nascimento. Era um intruso na própria vida, reconhecia.

Quando o pai morreu, Colin se sentiu um monstro. Os anos o haviam afastado do pai, é verdade, mas alguém deveria sentir algo além de alívio com a morte do pai. Anthony Smythe tinha duas qualidades redimíveis: o amor que nutria pela esposa e o carinho com as filhas. Infelizmente, esse amor e carinho não se estenderam a Colin. Talvez tivesse nos primeiros anos de vida, antes do pai se preocupar demais com a personalidade e as escolhas do primogênito. Porém, o fato irrevogável era que, quando Anthony Smythe, o Barão de Grantham, faleceu de forma súbita anos antes de seu tempo, Colin sentiu paz pela primeira vez em muito tempo. Não teria que se justificar, não teria que se explicar nem aturar os desrespeitos. 

Essa paz não durou muito. 

Quando sua irmã Amelia morreu, Colin sentiu uma tristeza inabalável. Foi uma tragédia, e a pior parte foi ter que encarar os olhos, sorriso e maneirismos da irmã no filho dela. Dorian. Dorian era um Blackburn no nome, mas um Smythe na aparência e na personalidade — tinha os olhos e a serenidade de Amelia, bem como seu coração generoso e sua misticidade. Porém, onde Dorian outrora fora um nevoeiro como a mãe, agora era uma tempestade de raios — tal como o cataclismo, era dinâmico, mas aparecia apenas de vez em quando. O acidente dos pais havia enrijecido o jovem Conde, tornando-o anos mais velho do que realmente era. Colin amava o sobrinho mesmo assim. 

Porém, nada se comparou a perda de Aurelia. A caçula dos Smythe causou muito desgosto, é verdade. Mas ela era sua irmãzinha, e Colin nunca superaria os meses em que ela esteve acamada, lutando pela própria vida. Era uma das razões pelas quais não podia se sentir confortável em Grantham — como poderia viver onde sua amada irmã, a mais amada delas, morreu? A única coisa pior que isso foi o choro de Michael, o único filho de Aurelia, na noite em que a mãe partiu. 

Michael já era um homem na casa dos vinte anos, louro como um Smythe e eloquente como um Saint Clair. O pai do menino, com quem Aurelia havia fugido para a América para se casar, havia morrido quando ele era apenas uma criança, vítima de uma confusão política. Tudo que Michael tinha naquele país era a mãe, e vice-versa. Ainda que tivesse nascido na Inglaterra, Michael era um americano, um revolucionário que citava Thomas Jefferson com a mesma facilidade do Papa citando a Bíblia. Assim, quando Aurelia adoeceu e voltou para o Velho Mundo, ela era de fato tudo que Michael tinha — seu pai, seu país, seus amigos… Tudo estava para trás. 

Então, na noite em que Aurelia Saint Clair deu seu último suspiro, Michael se sentou ao lado do corpo dela e chorou por horas. Até que não chorou mais. Colin não o vira chorar desde então. 

Por ser o único homem de linhagem Smythe sem demais títulos, Michael era também o herdeiro do título e propriedades do Barão de Grantham — com muito desgosto, diga-se de passagem. Não se considerava um inglês, muito menos um Lorde. Mas iria aceitar o título, Colin sabia, pois não havia homem maior do que a ambição. Entretanto, aceitar o título era uma coisa simples, ser autorizado a herdá-lo era outra. Já no fim da vida e em paz com suas escolhas, ainda que em perpétuo luto, era essa a única preocupação de Colin: os Lordes dariam o título e a fortuna do Barão de Grantham a um jovem que havia expressado seu desprezo com a Inglaterra e a monarquia tantas vezes? Colin confiava que sim; confiava em Michael e sua ambição de ser alguém na vida.

Ambição essa que Colin Smythe nunca teve.

A lista de tragédias dos Smythe não era curta, é verdade. Mas a pior de todas, para Colin, era não poder mudar quem ele era. 

Queria se casar, gerar herdeiros e encher Grantham e Smythe House daquela felicidade juvenil e viver a vida aristocrática perfeita. Mas não podia. Não era ele, e por mais que tentasse, era como morrer um pouco em vida toda vez que sorria e mentia e agia como se não houvesse nada errado. Muito se especulava a respeito de Colin. Era incomum, e deveras estranho, que um Barão inglês com tantas posses e títulos não houvesse desposado alguma dama em tantos anos, e não houvesse jamais gerado herdeiros. Houveram boatos, incontáveis — os mais românticos contavam com uma paixão da juventude, arrancada de si pelo fantasma da morte ou pelo matrimônio indesejado. Os mais céticos apostavam numa amante e bastardo, e embora isso nunca houvesse sido empecilho na vida de outros lordes, faziam-no refém de sua mui estimada reputação e de suas irmãs. Mas não se importava com isso — desde jovem e até agora já numa idade avançada, a única preocupação que nutria era sua família. Mesmo que quase inexistente.

Com as irmãs e o pai mortos e a mãe já muito idosa, além dos filhos de Amy e Aurelia, os únicos reais parentes de Colin eram Vivianne e seus filhos, os Whitetorn. Eles também eram uma máquina de guerra, como os Smythe um dia foram, mas muito mais eficientes. Graças a Deus as crianças de Viv refletiam mais dela do que do odioso pai, o falecido Duque de Carstairs.

Jamie, o charmoso e confiante Lorde James Whitethorn, já não era mais o rapaz que fora nos dias de Oxford, quando aparecia no meio da noite na porta de Smythe House pedindo ajuda ao tio para esconder a mais nova namorada, descoberta clandestinamente no dormitório da faculdade. Aquelas peripécias faziam com que Colin se sentisse jovem novamente — não fez muitos amigos na universidade, e James fora um bom substituto para as aventuras joviais que perdera, mas nos últimos anos, tornara-se um homem. Responsável por um ducado e pela família. A aristocracia combinava com Jamie de uma forma que nunca combinaria com Colin. 

James era como Vivianne de tantas formas. Era o Sol, uma força gravitacional que atraia todos ao seu redor. Como a descendência Smythe tinha sorte de ter James como protetor. Os familiares do Duque de Carstairs nunca desejariam nada, nunca nada lhes faltaria — Jamie garantiria isso. 

Havia também os gêmeos, George e Georgiana — George e Georgie. Sempre achara uma brincadeira de mal gosto por parte de Viv, mas a irmã sempre se defendeu com o nascimento no dia de Dia de Saint George. Afinal, seus outros dois filhos foram batizados de acordo com o Santo do dia de seu nascimento. Como seria diferente com os gêmeos?

Como o Santo que lhes dera o nome, George e Georgiana eram soldados. Tinham um forte senso de dever, e eram os dois muito fortes, tanto física quanto emocionalmente. Georgie mais que o menino — caso a sociedade permitisse, a menina seria uma ótima general de guerra. Os comentários dela sobre Waterloo eram precisos e estratégicos, o que deixava todos boquiabertos. Colin via um pouco de si na sobrinha mais nova, aquela falta de pertencimento simplesmente por não se adequar às regras absurdas da sociedade. 

E então havia Elizabeth. Eliza. Como Colin, Elizabeth era o olho do furacão. A tempestade os rodeava. Porém, enquanto o Barão de Grantham fugia das confusões o máximo que podia, Lady Whitethorn aceitava seu papel e o cumpria com maestria. Lembrava-se da sobrinha ainda criança roubando um cavalo dos estábulos e indo atrás de James, Dorian e Michael nas colinas de Grantham. Outra vez, a menina esticou o pé quando um Marquês qualquer passava, jogando-o no chão. Lembrava-se dela também revirando os olhos um dia no Palácio Real, a meros metros da Rainha. Das peripécias de Eliza, essa última foi a que mais lhe rendeu bronca dos pais. Mas ela não se importava, e isso era visível em seus olhos Smythe. 

Eliza tinha partes de Amelia e Aurelia. Tinha partes de Viv, e do próprio Colin. Ela carregava o legado Smythe mais que qualquer um de seus sobrinhos, até mesmo Dorian, isso era claro. Infelizmente para a menina, esse legado era muito ligado às tragédias que rondavam a família, como névoa e chuva. 

Colin imaginava, ainda que com pesar, quais seriam as tragédias de Elizabeth Whitethorn. 

Só o tempo diria… Mas ele tinha alguns palpites.


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