THE SEASON — Interativa escrita por Excelsior, Victoire Winter


Capítulo 1
FIRST


Notas iniciais do capítulo

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Aubrey Hall,
1815

 

 

Vivianne Whitethorn andava pelos corredores de Audrey Hall com o queixo erguido e passos largos. Os criados que por ela passavam faziam breves reverências, e ela os cumprimentava com um aceno de cabeça gracioso. Obviamente, não queria que eles detectassem sua pressa. Fosse ela um homem, poderia passar pisando duro e de cara fechada que ninguém se incomodaria. Mas não. Ela era uma dama da nobreza. Não apenas isso, como era também uma Duquesa. 

Duquesa ela seria com todas as atribuições do título até que seu filho mais velho se casasse, ao menos. Não que Vivianne se opusesse ao matrimônio de qualquer um de seus quatro filhos — a não ser, talvez, o de Elizabeth, que era impulsiva e rebelde demais para o próprio bem. Entretanto, já passava da hora do atual Duque, seu primogênito, encontrar uma esposa e duquesa para Carstairs. Fosse ele ainda apenas herdeiro, poderia arcar com diversos anos de libertinagem e boêmia pela frente, mas Jamie não dispunha mais dos luxos reservados aos demais homens Whitethorn até certa idade. Ele era Sua Graça agora.

E este era justamente o motivo pelo qual Vivianne se apressava pelos corredores da casa de veraneio da família. Cada passo era ligeiramente mais apressado que o anterior, e os cachos dourados da Duquesa ameaçavam cair do penteado elaborado. Ela agarrava uma pasta cheia de papelada — papelada esta que Vivianne, como uma respeitável dama, não deveria nem ver. Mas seu falecido marido havia criado um caos tão grande no ducado que se fosse possível pedir ajuda para os cachorros, a família o faria. 

A Duquesa de Carstairs ainda usava os tons sóbrios do meio-luto pela morte de seu marido, falecido há dois anos e meio. Neste tempo, Vivianne e James haviam feito o possível e o impossível para conservar o ducado das escolhas no mínimo duvidosas de John. Todavia, o passado do falecido Duque estava alcançando a família e mesmo ela, sem quaisquer qualificações matemáticas por Cambridge ou Oxford, podia ver o tremendo caos financeiro e moral no qual se encontravam.

Não debateu consigo mesma, como decerto teria há dois anos, sobre a moralidade de invadir o escritório principal da mansarda sem sequer ser anunciada. Afinal, o homem ali era seu primogênito. Ele também sequer titubeou, sentado atrás da imponente mesa de mogno sobre a qual pilhas e mais pilhas de papéis ameaçavam tombar.

James Whitethorn levantou os olhos claros, espelhos idênticos daqueles de todos seus irmãos e primos, para saudá-la, mas não se incomodou com formalidades.

— Mamãe — se reclinou para trás na cadeira e soltou um grunhido, como se apenas ali se lembrasse de trocar de posição. Naquele instante, Vivianne notou que ele parecia mais velho que os vinte e sete anos, um tanto separado da juventude fácil que esbanjava há não muito tempo atrás. Preocupação não lhe caía bem, e mesmo assim, o jovem Duque conseguiu esboçar um sorriso cansado. — Espero que esteja trazendo boas notícias nesses papéis, porque se estiver prestes a me mostrar mais um carregamento de ópio embargado, peço que volte e não…

— O Senhor Winthrop deixou esses documentos aqui esta manhã. Passei o dia... — Vivianne interrompeu de súbito, engolindo em seco. Encarou o primogênito. Olhos turquesa como os seus a encararam de volta. — James, estamos arruinados. 

Ele piscou uma, duas vezes. Devolveu a caneta ao tinteiro num movimento deliberado.

— As coisas estão difíceis, sim, mas dificilmente diria que estamos arruinados. — afirmou, os olhos grudados aos dela. Levantou-se, as pontas dos dedos grudadas na mesa. — Temos um ducado, oras. Nem todo esforço homérico de papai seria suficiente para falir um ducado.

— Querido... — desta vez olhou para o chão, para a própria barra do vestido lilás, sentindo-se mais culpada do que deveria. Culpada por estar entregando as más notícias, culpada por ter deixado que acontecesse bem debaixo do próprio nariz. Como se o título de Duquesa não passasse de uma mera formalidade, pois não opinara nas decisões financeiras do marido… E ali estavam as consequências. Estendeu os papéis em sua direção. — Não temos mais dotes.

— O que disse?

— Os dotes de suas irmãs, as economias individuais… estavam todos atrelados a um fundo de investimentos.

— Sim. Privado e seguro. Ligado à conta do próprio Duque, eu olhei — James tombou a cabeça para o lado, vasculhando os documentos que acabara de receber. Os cabelos marrom-dourados caíram um pouco em seu rosto, trazendo de volta um pouco do ar jovial do Duque — Eu mesmo me certifiquei. São bens praticamente da Coroa. O Senhor Winthrop disse…

— Jamie, eu respeitava seu pai e disso você sabe, mas, por Deus, o homem era estúpido. Você bem sabe dos investimentos dele, e da natureza dos demais negócios com os quais ele era envolvido... — Vivianne mordeu o interior da bochecha, odiando ver o olhar aflito de seu filho. A duquesa viúva respirou fundo antes de continuar — Jamie, seu pai investiu em Napoleão.

Novamente, o jovem Duque piscou uma, duas vezes. Foram-se alguns minutos antes que falasse novamente.

— Eu diria que arruinados é a palavra certa, então.

James caiu na cadeira, levando as mãos direto às têmporas. De fato, a preocupação não lhe caía bem, e somente naquela tarde envelhecera anos. Céus, o que fariam? 

— Mãe, decerto a senhora entende a gravidade da situação. Isso é traição. Se alguém fora deste cômodo souber disso, nós não teremos nada. Nada. Comércio ilegal de escravos e investimentos em bordéis são piadas em comparação. Eu perderei o título, nós perderemos a casa, Elizabeth e Georgiana certamente serão solteironas... Mãe. Ninguém pode saber. — O Duque disse com voz austera, apoiando os cotovelos na mesa, enquanto observava sua mãe sentar na cadeira do lado oposto. 

Vivianne fechou os olhos. Obviamente não estava registrado com todas as letras o que John havia feito, o crime que ele havia cometido há anos e que somente agora, com Waterloo, vinha à tona. Mas a duquesa era inteligente, e conhecia bem o marido que teve durante quase trinta anos. Apesar de já terem se passado anos do falecimento de John, Vivianne nunca se esqueceria como ele era bom de surpresas. Aparentemente, as póstumas eram suas prediletas. E a Batalha de Waterloo, poucas semanas atrás, havia mudado o destino da guerra, da Inglaterra, do mundo. Mas, acima de tudo, havia sido o golpe final na família Whitethorn.

Verdade seja dita, a maior preocupação que Vivianne tinha após o desfecho trazido por Waterloo era o futuro de sua filha mais velha. Elizabeth. Eliza. Não bastasse todo o caos deixado por John, Elizabeth havia herdado o gene de péssimas decisões e a maestria em criar seu próprio inferno. De qualquer forma, o fato era simples: a jovem precisava se casar, urgentemente. Fosse com o maldito tenente que partira para a guerra por quem ela era apaixonada ou qualquer outro pretendente adequado. 

Elizabeth havia ficado brilhante com felicidade ao receber a benção da mãe e do irmão mais velho para se casar com o tenente William Allen. Era tudo que sempre quisera — não o casamento em si, mas Will. Contudo, a notícia da morte do tenente na maldita batalha de Waterloo havia selado o destino que a filha mais velha dos Whitethorn tanto temia. Ela teria que se casar, com urgência e sem um amor que a consumisse.

Assim, quando a papelada lhe fora entregue, a duquesa não soubera o que fazer. Elizabeth precisava se casar, e para tal, precisava de seu dote. Um generoso, belíssimo dote. Além disso, Vivianne não sabia como esconder essa informação, e definitivamente tudo que lhes restava era esconder e esperar os rendimentos do ducado acertarem as contas da família. Por sorte, não deviam nada a ninguém. Ainda que John tivesse conseguido gastar praticamente cada penny da fortuna da família, ele não havia deixado dívidas mirabolantes. Uma pequena benção.  

Vivianne apertou os olhos um pouco mais, lutando contra as lágrimas.

— Ninguém sabe, Jaime. Apenas nós. O senhor Winthrop não tem os neurônios necessários para juntar uma coisa à outra. 

O Duque acenou uma vez com a cabeça, se recostando contra a cadeira. 

— A… condição… de Eliza. — James começou, cautelosamente. Os olhos perfeitos do filho estavam brilhando, encarando a paisagem revelada pela grande janela à sua direita. 

Apesar de tudo, Vivianne era grata por ter um filho tão maravilhoso. Se apenas fosse menos teimoso e desse as caras na cidade durante a temporada social, seria considerado um grande partido no mercado casamenteiro de Londres. Um duque com uma beleza daquelas? Impecável. Porém James era quase um recluso, passando todo o seu tempo em Aubrey Hall e visitando a Casa Carstairs na cidade apenas para cumprir as responsabilidades na Câmara dos Lordes das quais não conseguia escapar ou delegar. 

— Essa deve ser nossa prioridade. — James continuou, olhando para a mãe com o rosto sério. A face perfeita de um aristocrata. — Nossa prioridade, logo após terminamos de enterrar ou destruir ou assassinar qualquer evidência das diabruras de papai. Então hei de conseguir um empréstimo.

— Como pedirá um empréstimo? Não queremos que ponderem sobre nossa situação financeira, e como disse, se souberem…

— Então devemos manter dentro da família. — tamborilou os dedos sobre a mesa, e ergueu uma sobrancelha, ponderando. — Dorian… Digo, Ravenscar…

— James, não.

Os olhos do jovem Duque se perderam em algum lugar atrás da Duquesa. Olhos, e com isso ela nunca deixava de se impressionar, Smythe. James era tão parecido com sua própria família, consigo mesma, que por vezes Vivianne queria gritar. Lembrava seu pai, o falecido Barão Anthony Smythe, de mais maneiras que podia contar. Os retratos pintados de seu pai e seu filho, lado a lado em seus aposentos privados, pouco se distinguiam. Quando olhava para James via, naqueles olhos turquesa ligeiramente dourados no centro, além do pai, as irmãs — todos agora mortos. E todas as vezes Vivianne tinha que desviar o olhar para que não percebessem que estavam marejados.

Tragédias e escândalos não eram estranhos à família Smythe. Por exemplo, o irmão mais velho de Vivianne, o atual Barão Grantham e seu único irmão vivo, Colin, nunca se casou. Alguns diziam que por libertinagem, outros especulavam um caso com uma criada que havia para sempre partido o coração do barão. Mas a Duquesa sabia a verdade; sabia das preferências românticas de seu irmão. Por isso, Colin Smythe nomeou Michael Saint Clair, o único filho da irmã Aurelia, como seu herdeiro. E Aurelia… Ah, Aurelia. Que tragédia viva a irmã havia sido. Só não superava, talvez, a tragédia que fora a vida da outra irmã Smythe, Amelia. Sempre que se lembrava das irmãs, o coração de Vivianne apertava. Tanto delas vivia em sua filha mais velha. Decerto, era possível ver toda a família nos olhos Smythe dos filhos, mas era em Eliza que Vivianne via os reflexos mais claros das personalidades de seus amados que há muito haviam partido.

— Eliza precisa se casar, mamãe. Isso vem primeiro. Dorian irá entender. 

A duquesa não pode deixar de achar graça no comentário. Claro que Dorian entenderia. Ele era um perfeito cavalheiro — certamente não só entenderia, como não faria perguntas. Tinha o coração, bom e generoso demais para o seu próprio bem. Coração este que, como o da mãe, tinha uma tendência a se apaixonar por jovens rebeldes de cabelos negros como a noite. Certamente, Dorian entenderia. Mas também era um fato que o conde não se alegraria com a razão do empréstimo. 

— Decerto, Dorian entenderá...

Percebendo o olhar divertido de Vivianne, James não pode deixar de abrir um sorriso um tanto quanto malicioso. Ambos sabiam o motivo. 

— Isso é cruel, Duquesa. — A expressão do Duque suavizou —  Enviarei uma carta para a residência Ravenscar cedo amanhã então. E pelo menos isto estará resolvido.

Vivianne sorriu, feliz em trazer ao menos um pouco de humor para um dia terrível. Ver o filho sorrindo era uma benção, e uma rara nos dias atuais. E como James era bonito quando sorria… Ele sempre era bonito, na verdade. Não se parecia em nada com o pai, que quando se casou era um pouco desleixado. James Whitethorn era incomparável, e seria a sensação das jovens da alta sociedade em busca de um marido. 

A duquesa piscou uma vez, deixando o sorriso morrer enquanto encarava o filho. Muito bonito, de fato. Era um homem teimoso, mas de índole impecável. Um duque de reputação imaculada. Talvez no momento não fosse rico, mas disso ninguém precisava saber e era algo que se consertaria com o tempo. Seria um ótimo marido para uma jovem sortuda. Um excelente marido, na verdade. 

O duque conseguia ouvir as engrenagens se movendo na cabeça da mãe. 

— O que foi? — James perguntou, chegando para frente na cadeira. A mãe se levantou com tanta intensidade que algumas mechas do cabelo louro caíram em seus ombros, os olhos brilhando de uma forma assustadora  — Mamãe? 

Ela sorriu.

— O Duque está procurando uma esposa. — Juntou as mãos. — Uma jovem excepcionalmente adequada. Inteligente, culta e ciente de suas responsabilidades. Com um dote mais que generoso. Essa parte é de extrema importância, é claro. O duque procura...

— De qual Duque estamos falando, mulher?

— De Carstairs.

— Eu?

— Você.

— Eu não. — seus olhos se arregalaram, procurando, como que por instinto, uma saída. E a saída, é claro... — Dorian está.

— Também? Que maravilhoso. 

Infelizmente, o Conde de Ravenscar não estava presente para se defender. Mas a Duquesa não se importava.

— Vivianne Whitethorn, se essa é a sua forma de casar todos os seus parentes em sagrado matrimônio, saiba que foi uma péssima brincadeira.

— Você frequentou Oxford, querido. Use toda essa educação para pensar. Com o seu casamento, garantimos o dote de Georgiana. Não só isso, mas o dote de sua esposa garantirá a sua irmã vestidos e dinheiro para a temporada. É a primeira temporada dela, e como sabe, as chances são nulas de que Georgie não tenha uma dúzia de pretendentes aos seus pés em alguns poucos meses. E George precisa continuar com seus estudos,  Oxford é uma escola cara, você bem se lembra. Talvez se lhe encontrássemos uma esposa…

— Ele tem dezenove anos, por Deus.

— Georgiana também. — Vivianne arqueou uma das sobrancelhas perfeitamente loiras, o que serviu para calar seu primogênito — Com o empréstimo de Dorian, poderemos resolver a questão do dote de Elizabeth. E com seu casamento, a de Georgiana. E ainda teremos como pagar a faculdade de George sem atrasos. 

— Mamãe… 

—  James, você mesmo disse. Ninguém pode saber o que seu pai fez. E, por Deus, as irmãs de um Duque faltarem com o dote vai gerar muita especulação. Sem dizer que George perder um semestre porque não tem os fundos para pagar as mensalidades é muito alarmante. As pessoas irão questionar. Não podemos arcar com isso, de forma alguma. Está decidido. 

James sabia que não adiantava discutir com a matriarca. Não adiantava muito quanto ela estava errada, quiçá em momentos como agora, quando estava perfeitamente e inalteravelmente correta. Ele se recostou na cadeira, deixando o corpo praticamente derreter no assento.

Estava decidido, então. O Duque de Carstairs está à procura de uma esposa. 

Que Deus ajudasse todos


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Notas finais do capítulo

Por favor, deixe seu review e faça duas autoras feliz!! Estamos animadas por estar de volta no mundo das interativas, e ansiosas para ler suas fichas.

Aqui o tumblr da história:
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