Amor Perfeito XV escrita por Lola


Capítulo 4
Grande decisão


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥
* perdão por não ter vindo no fim de semana e pelo post enorme ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799583/chapter/4

Murilo Narrando

Já estava quase chegando a hora de ir embora, mas ainda restavam alguns poucos dias e eu pretendia aproveita-los apenas com minha família em minha casa. Sem amigos, primos, avós nem nada. Só meus com pais e minha irmã.

— Sim Paty, era exatamente isso que eu tinha que passar. – minha mãe confirmou rindo ao contarem um caso engraçado sobre mim mais novo.

— Você me ama mamãe. – apertei o queixo dela.

— É lógico que amo. Mas você sempre foi impossível Murilo. E coitado de nós se não fazíamos suas vontades.

— Por falar nisso... – olhei meu pai. – Eu sei que você quer passar esses últimos dias só com a gente, mas... Nicolas pediu para ir lá em casa hoje. – o olhei sério. – Como já combinamos de vim almoçar aqui, eu o chamei pra jantar lá.

— Por que você fez isso pai?

— O garoto tá deslocado. Kevin está o hostilizando. E sabemos que é Kevin quem conduz a cabeça de todo mundo.

— Se ele está sendo hostil deve ter algum motivo. Não devia ter chamado.

— Vocês adolescentes tem confusões demais! – minha mãe exclamou desinteressada.

Não havia o que ser feito. Passar por cima de um convite do MEU PAI era o mesmo que passar por cima das falcatruas do Caleb. Você podia até tentar, mas no fim só pioraria as coisas.

— Demorou a descer. – o garoto comentou assim que me viu. – Sua casa é muito bonita, bem rústica. – sorriu. – Ah, e sua namorada é muito legal a propósito. – fiquei olhando em seus olhos e depois fingi dar um abraço nele.

— Estou acostumado com gente como você, não me impressiona em nada. – me afastei e sorri.

— Só quis fazer um elogio. – falou baixo. Percebi que ele ficou magoado. Mas eu não podia me importar com isso.

— Por que você não chamou o Arthur pra vim também? – Alice me perguntou me fazendo ficar olhando pra ela.

— Sem sentindo nenhum essa sua pergunta. – reclamei.

— Tadinha amor, ela quer ficar perto dele. – Paty falou e selou nossos lábios.

— Fica tranquila, ele te ama. Quando a gente saia eu percebia isso. – olhei o dono das palavras.

— Não dê esperança a ela. Arthur não é mais o mesmo. – mandei e minha mãe me olhou.

— Murilo vem aqui na cozinha me ajudar a terminar esse jantar filho, eu não pago aquele curso caríssimo pra você atoa. – Paty riu e eu revirei os olhos. – Você é mesmo difícil né? – perguntou me encarando.

— Eu estou errado? Arthur não tá nem aí pra Alice.

— Precisava falar daquele jeito com o garoto? Você... Murilo. – respirou fundo. – Kevin bateu no garoto e você automaticamente passou a odiá-lo. Não deixe esse amor te cegar.

— Eu não o odeio. Eu fico desconfortável na presença dele porque mesmo sabendo que namoro e que sou ex namorado do irmão dele ele deu em cima de mim. – ela ficou paralisada por alguns segundos. – No que quer que eu te ajude? – olhei a cozinha. – estranhamente ela me olhou e sorriu.

— Você é igualzinho ao seu pai. – franzi a testa.

— Não acho que o meu pai tenha ficado com algum cara na vida. E eu não vou ganhar dinheiro batendo em pessoas.

— Não fale do trabalho dele como se fosse algo depreciativo.

— Não é novidade. Sempre falei.

— E sempre foi violento para impressiona-lo. – desviei o olhar. – Você o admira Murilo. Esse discurso de adolescente perdido já está um pouco ultrapassado.

— Por que eu sou igual a ele mãe?

— Ficar desconfortável é sinal puro de caráter. – seus olhos encheram de água. – Não me importo quantos problemas vocês dois tenham, mas o mais importante é isso, é saber não ferir as pessoas. – puxei seu pequeno corpo e a abracei. Meu pai chegou e ele nem precisou perguntar a ela o motivo de estar chorando.

— Se continuar emocionando sua mãe eu te coloco em um avião antes da hora.

— Porque a esposa vem antes dos filhos né Vinicius? – perguntei o encarando.

— Não me chame pelo nome, sou seu pai. Claro. Se não fosse ela eu nem teria feito você. E foi ela que te carregou na barriga e que sofreu pra te ter... Sua pergunta é totalmente descabida Murilo. Sempre vai ser ela primeiro.

— Então por que se separaram por nossa causa? – ele ficou me olhando.

— Vai lá ficar com sua namorada, vai. – minha mãe riu.

— Ele te pega sempre Vinicius. – ela comentou enquanto eu voltava pra sala.

Na hora do jantar não aconteceu nada relevante, o convidado especial se aguentou e ficou mais na dele. Mas depois ele pediu para conversarmos. Fui com ele pra trás da minha casa. Lembrei de quando ficávamos ali antes de irmos para o abrigo, todos juntos. De repente fiquei nostálgico. Mas tratei de deixar isso de lado. Como as luzes estavam acesas eu me sentei e esperei ele começar a falar.

— Por que disse aquilo de gente como eu? – suspirei. – Não quer falar sobre isso? Tudo bem. – meu celular vibrou, peguei e vi que era uma mensagem de Kevin.

“O que ele tá fazendo em sua casa? Fica longe de Nicolas. Ele é igualzinho ao meu pai. Estou falando sério Murilo, isso não é uma brincadeira.”

— O que você tá fazendo aqui Nicolas? – perguntei ao guardar o aparelho.

— Eu não sei. Só precisava vim. – nos olhamos. – Não consigo parar de pensar em você e fazer essas coisas ridículas faz parte de tudo isso.

— Tudo isso? - franzi a testa.

— Eu me apaixonei Murilo. – dei uma risada. – É. Deve ser engraçado mesmo.

— É. Você nem me conhece.

— Sei que você tem uma paixão admirável por culinária, sabe fazer várias coisas até tocar piano, tem pânico de mariposas e agradece por nunca as encontrar mesmo morando perto de uma floresta, detesta ver filmes e pretende se casar em Paris. – fiquei olhando pra ele. – Ficamos conversando na boate o tempo todo.

— E eu não me lembro nada do que me disse sobre você. – sorri.

— Não tem problema. Era eu que estava interessado em você e não o contrário.

— Você e Caleb combinaram isso? – ele respirou fundo.

— Você é muito esperto. – desfez o sorriso. – Ele tem um ódio incomum de você.

— Fui eu que trouxe o Kevin para o lado bom. – ri. – Mas... Se tá me contando isso...

— É... Eu fui contra ele. Você não é burro Murilo. Consegue ver que eu realmente estou apaixonado. Não consegue?

— Conta isso tudo direito Nicolas.

— Ele queria que eu te conquistasse e acabasse com você... Eu te fizesse sofrer. Então me aproximei por isso. Mas... Eu que fui conquistado. E foi pior pra mim porque tive que brigar até com... – ficou me olhando. – Você sabia que o Kevin é semelhante ao Caleb né? Porque quando o Caleb me abordou pedindo que eu fizesse tudo isso ele me contou tudo que o Kevin era capaz. E pelo ódio que estou vendo nos olhos dele... Esse garoto não é normal. Ele me trouxe aqui só por uma vingança ao nosso pai Murilo.

— Ele é pior do que você possa imaginar. – ele ficou me olhando.

— Como você consegue amar alguém assim? – dei uma risadinha.

— Por que tem ciúme de mim Nicolas? Eu não vou ficar com você.

— Mas agora eu já sinto isso Murilo e não dá pra controlar.

— Isso tudo é uma grande merda. Porque eu não sei se você tá dizendo a verdade. Ou se isso não passa de um grande plano do Caleb para perturbar Kevin.

— Você é esperto demais. Sabe que não é. – pegou minha mão e colocou em seu peito. – Meu coração dispararia ao encostar em você? – Patrícia apareceu e tirei minha mão rápido.

— Vocês estavam demorando. – ela constatou enquanto se aproximava de mim. Envolvi meus braços em sua cintura e encostei minha cabeça em sua barriga. – Acho que vou subir para o quarto, estou um pouco cansada. – a olhei.

— Tudo bem, daqui a pouco estou indo. – nos beijamos. Assim que ela saiu notei que ele estava mal. Não podia me fazer de bobo ou cego, ele estava dizendo a verdade, estava mesmo apaixonado por mim.

— Não nutre esse sentimento. Vai ser pior pra você. – aconselhei com sinceridade.

— Eu sei. Mas... – deu um suspiro bem triste. – Infelizmente eu tenho que admitir que eu herdei um pouquinho do meu pai. E... – nos olhamos e vi aquele maldito olhar do Kevin cheio de ódio e escuridão. – Eu não consigo ver que você o ama. E... Já que ele facilitou as coisas pra mim, agora eu vou viver para tornar a vida dele um inferno.

— Nicolas a vida dele já é difícil demais.

— Olha como você se importa! – balançou a cabeça.

— Muito. E a ponto de... O que eu preciso fazer pra você desistir dessa ideia sórdida e louca? – ficou me olhando e depois olhou pra baixo.

— Vou embora. Eu não sou assim Murilo. Eu nunca te pediria nada que você não quer. E Kevin é um imbecil, ele merece tudo que vou fazer.

— O que você vai fazer? – sorriu. – Nicolas. – me levantei. – Parece que não, mas ele é frágil. Eu te peço, se você sente algo por mim, por favor, deixe Kevin em paz. E além de frágil ele é obstinado, se ele começar uma guerra com você ele só vai sair morto.

— Por que você não cogita a ideia de ele sair vencedor?

— Ele tá distraído demais com Rafael. Não vai pensar como antes. E você... Por mais que esteja apaixonado, não ser correspondido é o combustível perfeito para te dar mais ódio ainda.

— Você é muito sagaz. – concluiu com admiração. – Tá. Se acha que fazer algo vai me fazer mudar de ideia, pode tentar. – Kevin transou com aquela loira por mim, pra me livrar de uma incriminação injusta. Eu devia isso a ele. Independente do quanto ele me magoasse, se tem alguém por quem eu me sacrificaria seria ele. E se tem alguém que merecia paz na vida depois de tudo que já passou, era ele.

— Vou só avisar que vou sair. – ele me puxou antes que eu fosse.

— Isso não é só por ele, não é? – fiquei olhando em seus olhos que eram quase da cor do de Caleb, Kevin e Arthur. – Bom... Não quero me iludir, mas eu notei que você se sentiu atraído por mim desde o início.

— Você é lindo Nicolas. Simpático. Interessante. Mas nunca vai deixar de ser o irmão do meu ex namorado. Então você notou o que quis notar. – me soltei dele e subi até meu quarto após avisar meus pais que iria sair. Paty estava sentada na cama, me sentei ao seu lado.

— Quer conversar sobre isso? – ela questionou me fazendo sentir frio no estômago. – Eu quase fiz a mesma pergunta quando te vi muito próximo ao seu primo, mas... Resolvi deixar pra lá. Agora não deu.

— Não é isso que você tá pensando.

— Não tem como pensar outra coisa com vocês dois daquele jeito. – me olhou nos olhos. – Só que eu me nego a acreditar que você agiria pelas minhas costas. – mais uma vez o Kevin acabando com a minha vida. – Murilo...

— Eu já sei. Você adiantou as passagens e tá indo embora amanhã.

— Não. – pareceu se assustar. – Eu quero te dizer que eu estou com você e preciso da sua sinceridade. É o que você quer? – perguntou com a voz calma e compreensiva.

— Patrícia eu quero você e só você. É inacreditável, mas aquilo ali é um assunto de família.

— Eu já entendi que essa família é complicada demais. E não é de se estranhar você ter chegado tão mal em Paris, esse ambiente é tóxico. – suspirou. – Faça o que tem que ser feito. – ela viu em meu olhar que eu estranhei sua fala. – Nunca encontrei alguém que fosse tão bom pra mim quanto você. Eu não tenho poder sobre você, como eu disse quando cheguei aqui, você é livre. Acho que é por isso que você sempre volta pra mim. – meus olhos encheram de água. Segurei seu rosto e a beijei demoradamente. – Não se sinta culpado. – enxugou meu rosto. – Eu juro que estou bem com isso.

— Não vou demorar. E vou dormir no quarto de Alice hoje.

— Chegue, tome um banho e durma comigo. – fez carinho em meu rosto.

— Prometo que te conto tudo desde o início. E talvez você me entenda, entenda que eu não consigo deixar alguém que fez uma das piores coisas da vida dele viver dias terríveis podendo interferir.

— Não preciso saber, eu confio em você. Essa troca assim como muita coisa que eu vi aqui é... – respirou fundo. – Nociva. Perturbadora. Mas não vamos nunca mais falar disso. – selou nossos lábios. – Vai.

O papo de Nicolas de “se você não disser que realmente me quer eu não vou conseguir ir adiante” me enojou. Kevin estava certo. Ele era mesmo igualzinho a Caleb. O pior é que eu era igualzinho o meu pai como minha mãe disse. E após aquilo tudo acontecer, eu o mandei sumir da minha frente.

— Murilo eu preciso te levar pra sua casa. – ele insistia pela quinta ou sexta vez. Ou seria sétima? Nem sabia mais.

— Vou chamar Arthur pra me buscar. Agora vai de uma vez por todas.

— Por que você tá fazendo isso? – sua tristeza quase me comoveu.

— Porque eu não queria ter feito isso e você sabe muito bem. Mas não influencia em nada no resultado. Você vai deixar o Kevin em paz!

— Você merece mesmo sofrer muito por ele, sabia? – enfim foi embora, bastante nervoso e até cantando pneu do carro. Desejei mal a ele e logo me arrependi, pedindo perdão mentalmente. Peguei meu celular e liguei para o Arthur, inutilmente. Yuri estava com celular desligado. Mas que inferno. Tentei a única pessoa possível de me atender. Sabia que ele tinha o sono leve.

“Oi.”— suspirei ao ouvir sua voz sonolenta.

— Desculpa te acordar, mas eu preciso que você me busque em um lugar.

“Tem certeza que ligou pra pessoa certa?”

— Kevin não é hora pra brincadeira. – ele percebeu que minha voz não estava nada boa.

“Manda o endereço por mensagem. Estou indo.”

— NÃO DESLIGA! – gritei antes que ele desligasse.

“Quer acordar o Rafael também caralho?”

— Já se acertaram? Novidade. Enfim... Eu estou em um motel. Quando chegar me liga pra eu abrir a garagem.

“Se alguém me ver saindo com você de um motel eu juro que eu te mato.

— Acorda o seu namorado e vem com ele.

“Se eu fizer isso não saio daqui. Espera, já vou.”

Não demorou nem cinco minutos e ele estava aqui. Assim que a grande porta de aço fechou ele ficou me olhando de dentro do seu carro. Sentei nos primeiros degraus da escada.

— Achei que eu te buscaria, você entraria no carro e iriamos embora. – falou ao sair continuando parado ao lado da porta do carro. Não consegui responder nada. – Não tem ninguém morto lá em cima né? – apenas o olhei e desviei o olhar. – O que você precisa? Que pague? Vou pegar minha carteira. – ele abriu a porta.

— Já tá pago. – ele se virou novamente pra mim. – Só fica comigo um pouquinho.

— Em um motel? Nem fodendo. Ou você entra nesse carro e vamos embora cada um pra sua casa ou... – parou de falar e ficou me olhando. – Que merda você fez Murilo?

— Como você conseguiu ficar com aquela garota e não sentir vontade de morrer depois?

— Não estou entendendo. – chegou mais perto. – Você não é igual a mim. Isso não faz sentido.

— Fiquei com alguém sem sentir a mínima vontade. – falei baixo.

— Por que fez isso? – nunca contaria a verdade se não todo o meu sacrifício iria por água abaixo porque eu o conheço muito bem e ele iria iniciar uma guerra contra Nicolas.

— Porque eu queria ver o que eu iria sentir.

— Você é doente? – se sentou ao meu lado. – E a sua namorada Murilo? Você a traiu então?

— Não. Ela sabe. Quando fui abrir o jogo com ela eu fui até bem recebido.

— Tem certeza que ela gosta de você? – dei uma risadinha.

— Tenho. Muita certeza.

— Eu não preciso perguntar quem é, eu já sei. Eu só queria entender. Eu te pedi pra se afastar dele. Ah, isso não importa. – pegou em minha mão e começou a fazer carinho nela, a mesma mão que ele machucou há poucos dias. Acho que ele se sentia culpado por isso. – Eu não quero te ver assim. Sabe que por mais que eu tenha vacilado nos últimos tempos, eu ainda me importo com você. Se quiser desabafar, dizer como está se sentindo.

— Só tá doendo. Parece que... – comecei a chorar silenciosamente. – Por mais que meu relacionamento seja de alguma forma aberto e eu não tenha traído Patrícia, trai a mim mesmo. E essa é com toda certeza a pior das traições.

— Não faz isso, não chora. Sabe o quanto odeio te ver chorando. E eu sou capaz de quebrar a cara toda daquele idiota se isso continuar acontecendo.

— A culpa não foi dele, foi minha. Eu que fiz uma escolha. – ele ficou pensativo, daquele jeito que eu não gostava nada. – Kevin... Toma cuidado com o seu pai. Nicolas me disse que ele queria que ele me conquistasse e me fizesse sofrer. Foi por isso que ele se aproximou de mim. Faz todo sentido, porque o seu pai me odeia muito já que fui eu que te tirei dele.

— É tudo mentira Murilo. A reação do meu pai quando eu contei que Nicolas estava apaixonado por você foi muito espontânea. Ele disse isso pra te conquistar. Porque assim ele sairia como o bonzinho que abandonou a missão horrível.

— Você tá mesmo ficando burro. – o olhei. – O fato dele se apaixonar pode sim ser novidade para o seu pai. Isso não isenta a armação dele. – ele ficou pensando.

— Não sei. Eu acho que não. Acho mais fácil ele querer te impressionar. - ficou me olhando. - Eu iria querer. 

— Se for eu cai. – encostei a cabeça em seu ombro.

— Não é sua culpa. Você é bom demais pra esse mundo. – nossas mãos ainda estavam juntas. Fiquei olhando aquilo e imaginando um outro contexto.

— Kevin... Desculpa ter sido hostil na festa. Na verdade, aquilo não éramos nós. Aqui agora estamos mais parecidos com a gente... Desabafa comigo. Você precisa tirar essa raiva de você. Vou transforma-la em algo bom. – não podia ver completamente, mas sabia pelo movimento da sua bochecha que ele sorria.

— Estou vivendo um inferno na maioria das vezes. E quando as coisas ficam legais, eu apenas me pergunto quando vai vim a próxima crise. Sei que relacionamento é fazer escolhas o tempo todo. Se eu quero estar com ele eu tenho que escolher me ausentar de tranquilidade, é o jeito dele, tenho que ser compreensivo. Mas... Até quando? Qual é o limite?

— Ele tem que se esforçar também Kevin. Uma relação é uma via de mão dupla. Se tá te fazendo tão mal assim e vocês estão brigando tanto ele tem que parar e refletir, saber qual é a raiz do problema.

— Acho que eu devo voltar pra Torres. Aqui a gente era muito feliz. Não existia isso. Ele sempre foi ciumento, mas nunca com esse excesso todo. Estar distante fez com que ele ficasse descontrolado.

— Você vai abrir mão do seu futuro por Rafael?

— Sabe por que nunca fui a Paris atrás de você? – nos olhamos. – Olha pra você hoje. Eu sabia que era distância de mim e de todo esse mal que eu tenho que você precisava. Eu abri mão da minha felicidade por você. Pelo seu bem. Se por ele eu tenho que abrir mão do meu futuro, sim... É isso que farei.

— Por que com ele dá certo Kevin?

— Não é bem assim. Não é tudo mil maravilhas. O meu pai também tenta nos separar o tempo todo. Já até ofereceu dinheiro a ele. Se fosse outro com certeza teria me largado há muito tempo. A gente se esforça muito pra fazer dar certo. Mas pelo menos não existe a chance de eu acabar com a vida dele como era no seu caso.

— Pelo contrário. Parece que é ele que está acabando com a sua. Desculpe a sinceridade.

— Acho melhor irmos. Já passou um bom tempo, daqui a pouco nos expulsam. – nos olhamos. Eu o beijaria facilmente. Ele não desviou o olhar e isso fez com que minha vontade apenas aumentasse. – Você ainda vai viver a vida que era pra você viver antes de se envolver comigo, antes de tudo dar errado. – afirmou com a voz suave.

— É uma pena que tudo que eu quero é viver uma vida com você. – o abracei e senti seu cheiro. Aquele cheiro que era como droga pra mim. Todas as lembranças vieram com tudo. E as emoções que eu consegui deixar guardadas também. Kevin era um ponto de partida que eu nunca conseguiria sair. Não sei se ele fez tudo muito bem feito ou se tinha que ser assim... O fato era que eu não conseguia me livrar desse sentimento. E quanto mais eu tentava, mais inútil parecia.

— Murilo... – ele me afastou e olhou em meus olhos. Nossos rostos estavam próximos demais. – Não me deixa fazer isso, por favor. – manteve os olhos no meu. – Eu não posso olhar pra sua boca agora. – seu desespero me fez sorrir. Sua respiração estava extremamente pesada e eu sabia que se ele fosse adiante eu significaria algo muito ruim pra ele, pra sempre. E ele me odiaria. Eu me levantei e me afastei.

— Vou embora amanhã. Foi ilusão minha achar que conseguiria resistir a você por mais que alguns dias. Isso já foi muito longe.

— Você até que se saiu muito bem. Eu é que estou... Vulnerável.

— Então você vai mesmo voltar pra cá pra melhorar as coisas? - perguntei encostando meu queixo no corrimão da escada.

— Sim. Mas só ano que vem. Vou esperar sua irmã concluir os estudos. – sorri.

— Você é tão fofo com ela. – ele se levantou.

— Nunca mais – olhou em meus olhos. – Se aproxime tanto de mim. Agora vamos.

Tentei ficar em silêncio durante o caminho, mas não consegui. Minha ansiedade como sempre falava mais alto.

— Ele sabe sobre o seu perfume? – me olhou de relance. – Claro que não né?

— Namoramos em um abrigo, não teria como você me dar um perfume.

— Somos primos. Ele poderia ter cogitado a ideia de isso ter acontecido antes.

— Não Murilo. Ele não sabe.

— Você tem vários perfumes, por que tá usando esse? – ficou me olhando por alguns segundos. – Notei isso desde que cheguei à cidade.

— Porque não tem como eu não lembrar de você com você aqui. – me olhou me fazendo suspirar. – Geralmente não o uso.

— Isso... Quer dizer alguma coisa? – ele ficou em silêncio. – Se eu não significasse nada você não evitaria algo que me lembra. – ele não respondeu. – É em respeito ao seu namorado surtado? – me olhou sério.

— Não o chame assim.

— Quero respostas Kevin!

— Tá. – ele parou em frente a minha casa e me olhou. – Não é o que você tá pensando, a única pessoa que eu amo é Rafael. Só que parece que... Parece que eu só consigo ser a minha melhor versão quando eu estou com você por perto. Você me faz querer ser mais do que um Kevin amaldiçoado. E a minha disposição muda inteiramente de foco. É como uma cura para todos os meus traumas. Não entendo todo esse poder que você tem. Mesmo quando estou em completa paz com Rafael eu ainda preciso lutar com os meus demônios. Com você... De alguma forma você os aprisiona.

— Se nem dizendo tudo isso você consegue enxergar o que realmente sente é porque não é mesmo pra ser. – dei um sorriso triste. – Boa sorte Kevin, desejo que você seja muito feliz. Vamos fazer aquilo de evitar nos encontrar, eu acho que é melhor e não devíamos ter parado. Quando eu for ir ver Alice peço a ela pra te avisar. – sai rapidamente sem esperar sua resposta.

— Aquele carro que estava lá fora era do seu primo. – Paty falou assim que entrei no quarto.

— Como você conseguiu enxergar o carro daqui?

— Não foi daqui. Eu estava sem sono e estava na cozinha.

— Mesmo assim a distância é grande. Você ouviu o barulho e foi ao jardim né? – ela ficou sem graça. – É perigoso Patrícia! Aposto que não ligou as luzes. Podia ter bichos e as cercas são facilmente... – ela me abraçou.

— Achei que brigaria por eu estar bisbilhotando.

— Você tem todo direito. – afastei seu rosto e a olhei nos olhos. – Eu liguei pra ele me buscar, acabou que as coisas não deram muito certo.

— Por que ele?

— Tentei meus outros dois primos e não consegui falar com eles.

— Você o ama tanto Murilo. Podia ter ligado até para o seu pai.

— É. Seria muito interessante meu pai ir me buscar no lugar que eu estava. Não somos tão amigos assim Patrícia. Você não sabe, mas nossa relação nunca foi das melhores.

— Eu sei. Você me contou tudo na clínica. Nem mesmo se lembra? – se afastou. – Se quer que a gente fique junto não deve vim aqui. Pelo menos não enquanto não tiver esquecido seu primo.

— Não pode ser tão egoísta. Sabe que Alice... – parei de falar e fiquei olhando em seus olhos. Encerrar aquela conversa era o melhor caminho.

Voltar para o ambiente que agora eu considerava mais minha casa que a minha própria casa, era libertador. A arquitetura maravilhosa daquele lugar, as pessoas, a língua diferente, a comida e até mesmo o ar... Tudo fazia eu me sentir melhor. Eu havia tomado uma decisão.

— Nunca mais vou voltar pra minha cidade. – falei com convicção e seriedade. Adam ficou me olhando por alguns minutos.

— Foi tão ruim assim? – o olhei.

— Não é isso. É só o que é o certo. E o que eu quero. Quero ficar aqui.

— Seus pais vão definhar. São tão apegados a você.

— Eles vão se acostumar.

— E sua irmã? – soltei o ar lentamente.

— Ela tem que aprender a andar sozinha. Eu já disse isso algumas vezes.

— Mas você se preocupa com ela né? E ela tem aquele tal problema que você disse...

— Não importa Adam. Vou construir minha vida aqui. – meu olhar transmitia o quanto eu estava falando sério.

— Tá. – ele se levantou da minha cama e se sentou. – Tenho algo a lhe propor então.

— Não. Nós não vamos morar juntos o resto da vida. Eu tenho outros planos.

— Vai se casar com a doidinha? – quase rosnei. – Foi mal. – se deitou novamente.

— Era isso que iria propor? – quase ri.

— Não exatamente. Mas talvez acontecesse. – fiquei confuso.

— Não iria dar em cima de mim né?

— Você cisma que tem a pica mais gostosa do universo. – me olhou com tédio.

— Estou brincando imbecil. Fala logo o que era.

— Pra que? Você não vai aceitar.

— Nossa! Que drama. Diz logo Adam.

— São negócios Murilo. – lançou um olhar revoltado em minha direção. – Iria propor uma parceria. Para abrirmos um restaurante juntos. – arregalei os olhos e abri a boca. – O que foi? Faz todo sentido do mundo. Você estuda na melhor instituição culinária do País e vai fazer gastronomia, eu comecei administração esse ano. Você cozinha e eu administro. – seu olhar agora era arrogante. – Sou um homem visionário.

— Isso pode dar certo. – pronunciei bem devagar. Eu me levantei e ficando andando pelo quarto pensando naquilo. – Não. Não. Não. Você vai assediar todos os garçons. – me sentei de novo.

— Dinheiro é dinheiro meu amigo. Separo sexo de dinheiro.

— Vai ter que me provar.

— Ok. Vamos conseguir emprego no mesmo lugar. Veremos se eu saio com qualquer colega de trabalho. Se eu não sair você fecha o negócio comigo.

— Só uma pergunta. Você tem capital para abrirmos esse restaurante?

— É aí que você entra. Olha o valor do seu carro. É lógico que o seu pai vai investir em você.

— Passou pela sua cabeça que talvez eu não queira pedir nada ao meu pai?

— Nesse caso estaremos um pouco fodidos. Mas... Ainda há esperanças. Vamos Murilo, se anime. – se levantou e bateu em minhas costas. – Seremos os sócios mais prósperos, eu já estou prevendo. Vou anotar em meu mural dos sonhos. – saiu animado e eu fiquei pensando se aquilo realmente poderia acontecer. Não era uma loucura. E talvez dessa forma eu siga o exemplo do meu pai, indo para o caminho oposto do meu avô, Caleb e Gustavo... Ter o meu próprio negócio fazendo o que eu realmente amava e não vivendo o império da minha família. E o que era melhor, longe de toda aquela toxidade de Torres. Eu me peguei sorrindo. Eu via um futuro bom pra mim. Agora iria fazer de tudo para construí-lo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Será mesmo que Murilo vai virar um Chef em Paris?!
até quarta (ou quinta) ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amor Perfeito XV" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.