Amor Perfeito XV escrita por Lola


Capítulo 1
Explicações


Notas iniciais do capítulo

Os meus bebês não estão mortos :) é isso.



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Despertei alarmada pela segunda vez e vi Kevin ao meu lado olhando para o teto. Eu me agarrei a ele com toda força que eu conseguia. Ele manifestou uma breve e baixa risada, achando engraçando o fato de eu ser tão apegada a ele. Não era novidade. Mas isso aumentou bastante após o velório de Arthur.

Aquela ligação fatídica que fez minha mãe desmaiar e o meu mundo desmoronar, se tornou em poucos minutos um alívio. O celular do meu pai chamava com o nome do meu irmão e ele nem conseguia reagir. Atendi e o vi ficando aos prantos. Ele se odiou por ter nos feito passar por isso. Minha mãe desmaiou de novo. Isso tudo aconteceu ao chegarmos em casa. Ele explicou que havia saído mais cedo do curso e foi comprar um livro e não viu seu celular chamar. Só soube de tudo quando chegou.

Não esperei meus pais se recuperarem, corri a pé mesmo e em máxima velocidade até a casa do Kevin e contei a ele pessoalmente. Só que nada mudou. Nem pra mim e muito menos pra ele. Sua suposição sobre Arthur estar vivo não era real. Ele fez de tudo para tirar isso do pai, disse até que terminaria com Rafael em troca... Caleb não parecia mentir, afinal ter Kevin sem o namorado era o que ele mais queria na vida. E pra piorar, minhas emoções voltaram atropelando tudo, me deixando completamente em choque com a morte do meu ex namorado. O luto estava me consumindo.

Os meus pais, que até então haviam mudado de ideia sobre eu ir pra capital, pediram por favor, ao Kevin que me levasse, eles confiavam nele para me ajudar a melhorar. Ali em casa eu estava demonstrando estar cada vez pior. E segundo minha médica, Torres lembrava Arthur o tempo todo. Seria ruim estar por lá.

Só que ele também não estava bem. E por mais que ele estivesse cuidando de mim, eu percebia que aos poucos ele ia se entregando ao antigo Kevin. Quando eu estava melhor eu o puxava de volta, mas na maioria das vezes... Não conseguia fazer isso nem por mim mesma.

— Então... – era de manhã, havíamos voltada da aula. Ele deixou seu celular na mesa após trocar mensagens com alguém. – Vou pra Torres amanhã.

— Que? – o encarei sem entender nada.

— O seu irmão vai vim te ver. Você precisa dele. – fiquei pensando ainda sem conseguir ligar os fatos.

— Não entendi Kevin.

— Eu não sei quanto tempo ele vai ficar, deixei claro que pode ser o tempo que ele quiser. Ele disse que vai aproveitar e vai até Torres ver os seus pais depois e daí eu volto.

— O que é isso? Vocês estão se evitando?

— Isso é... Eu não sei Alice. Rafael surtaria ao saber de Murilo e eu na mesma casa e eu não escondo nada dele. Prefiro que seja assim. E o seu irmão também não vai ficar muito a vontade comigo aqui.

— Vocês são tão ridículos.

— Que seja. Vou ir arrumar minhas coisas.

— Sabe Kevin... – falei antes que ele saísse. – Lembra quando eu disse que ainda seriamos cunhados em dobro? – concordou. – Esquece isso. Disse quando não tinha emoções. Hoje eu sei que isso nunca aconteceria.

— Claro que não. Eu tenho um ano e dois meses de namoro. Acha que o meu relacionamento é uma brincadeira? – me olhou muito sério.

— Não, eu não acho. E acho sim que você ama muito Rafael. E faz e vai fazer de tudo pra estar com ele. Assim como ele também, eu acho. O fato aqui não é esse. É que a emoção que eu sinto ao pensar em você e Murilo juntos não é nada boa.

— Relaxa. Essa ideia é uma fantasia muito irreal.

— Com fantasia você quer dizer sonho? – ele parou quase no corredor e me olhou.

— Não estraga nossa amizade com coisas que nem vão acontecer. – foi para o seu quarto e eu não consegui evitar pensar naquilo. Murilo o amava. E muito. Ele não conseguia esquecê-lo. E Kevin já o bloqueou, já desfez dele, já o provou que o namorado é tudo pra ele e que ele não passa de um primo sem importância. E o meu irmão fazia demais por ele. Sempre. Toda vez que Kevin precisava, procurávamos o Murilo. Isso tinha que mudar a partir desse ano! Se ele amava tanto assim o namorado, que contasse com ele quando a coisa ficasse realmente feia. O amor não é isso?

O voo chegaria às dez horas da noite. E ele não queria que eu fosse espera-lo no aeroporto já que eu estava sozinha. Então esperei na porta de casa. Dei o endereço e fiquei ansiosa a espera do farol de um taxi que o trouxesse. Kevin já havia ido, claro. Quando vi o carro parando não me aguentei e corri para o lado da porta, ele saiu e me abraçou, um abraço que me fez esquecer toda a raiva que eu estava dele nos últimos tempos. Eu podia morar naquele abraço. E queria. Não queria solta-lo por nada nesse mundo. Quando vi já estava chorando. Era de se esperar. O taxista tirou as malas e se despediu, enquanto nós dois ainda estávamos grudados.

— Calma, eu estou aqui com você agora. – ouvi sua voz e sorri e funguei ao mesmo tempo.

— A última pessoa que me disse isso está morta. – dei um suspiro dolorido.

— Eu não vou morrer. – fez carinho em meu cabelo e me olhou. – Precisa entender isso. Lembra que sou o mais esperto de todos? – sorriu.

— Ah não. Você nunca foi. Esse posto... – ele me interrompeu.

— Não. Ele é o diabo. E o diabo é traiçoeiro e não esperto. E por falar nele, como ele está?

— Piorando. – fechei a cara. – Achei bem ridículo vocês se evitarem.

— Eu não fiz nada. Rafael é que manda e desmanda em Kevin. – ele claramente não gostava daquilo.

— E pelo visto te incomoda.

— Alice desde que o relacionamento deles ficou sério de verdade eu nunca fiz nada pra atrapalhar. Muito pelo contrário. Já até ajudei várias vezes quando o Rafael recorreu a mim. E eu sempre sou o vilão, sou a sombra, sou o que não pode ser pronunciado nem visto. Ele mal fala comigo. – nos olhamos. Percebi sua mágoa e aquilo me doeu tanto. – É como se eu fosse ataca-lo a qualquer instante. Quer saber? Foda-se o Kevin e o relacionamento sem limites dele. Vem, vamos que eu quero saber só de você.

Aquela noite foi tão especial. Murilo era mesmo o que todos diziam. Lembro quando ele foi embora como a galera ficou em clima de enterro. Ele era paz, era calmaria, era humor e deixaria tudo muito mais leve. Não combinava nada com o que ele passava. Tudo era tão difícil de entender.

— Você tá em modo de completa emoção. Tudo tá muito. Tá amplificado, exagerado. A mamãe disse que a médica não sabe ainda quanto tempo durará essa trajetória.

— Se é que vai passar. O meu problema é tão incerto.

— Acho que ela disse ter certeza. Vai tudo se controlar. Os seus medicamentos vão fazer isso. Tá tomando direitinho? – concordei.

— Quanto tempo você vai ficar?

— Uma semana só. Tenho que estudar. Fico três dias aqui com você e três dias lá. No sétimo pego um avião e vou embora. – nos olhamos.

— E você e a Paty? – ele sorriu. – Pelo visto tem novidades.

— Estamos namorando. – arregalei os olhos e me sentei no sofá, saindo do seu colo.

— Por que não me contou nada?

— Não sei. Acho que estava feliz demais e queria guardar só pra mim.

— Mas... E o seu coração?

— É todo dela Alice. Não estou brincando com alguém tão especial. Ela é boa demais pra mim.

— Você o esqueceu Murilo? – ele ficou me olhando.

— Lembrar quer dizer que não esqueci? – riu. – Penso nele Alice. Mas é como... Um ciclo encerrado. Acabou. É assim que tem que ser. – beijei seu rosto.

— Isso. Demorou, mas você conseguiu. Deixa o Kevin no passado. Nunca aceite que ele saia de lá pra te atormentar.

— Que seriedade.

— Eu o amo, só que eu não amo o que ele faz de você. Promete pra mim que nunca mais vai se humilhar pra ele?

— Não existe chance de isso acontecer. – sorriu. O mais importante pra mim é que isso realmente fosse verdade.

Murilo Narrando

Cheguei a Torres e fui recebido com uma festa. Literalmente. Com certeza foi ideia do meu pai. Mesmo que ele estivesse zangado comigo por eu ter magoado minha mãe, o fato de eu ter vindo semanas após a virada de ano o deixou alegre. Ela ficaria transbordando de felicidade. E pra ele era tudo o que importava.

Duas pessoas não estavam presentes além de Arthur, que eram Kevin e Rafael. O primeiro voltou pra capital e o segundo dizia estudar, mas claro, me ver não era prioridade pra ele. E eu não ligava nem um pouco pra isso. Mesmo que no passado tivéssemos tido uma amizade bem próxima.

Ver todos os meus amigos era muito bom. Eu me sentia completamente em casa. Alê fazia as gracinhas forçadas dele enquanto Ryan saia da minha casa pra fumar um cigarro. Lari estava cabisbaixa, fiquei sabendo que perder Arthur a deixou assim. Já sua irmã Sophia ria do nosso amigo e de qualquer coisa. Giovana não entendia a piada, pra variar. Otávia estava da mesma forma que Lari e Yuri tentava não ficar igual a elas. Aline me surpreendeu ao estar tão enturmada entre eles.

— Acho que você tomou o meu lugar no grupo. – falei ao chegar ao lado dela e ri.

— Nunca. Você é insubstituível.

— Estou brincando. Achei legal você estar aqui.

— Como sua irmã está? Tenho falado com ela e a sinto cada vez mais desanimada e triste.

— Ah... – suspirei. – Levando. As emoções dela a dominam às vezes.

— Posso te fazer uma pergunta que todos estão curiosos?

— Claro. – sorri imaginando ser alguma besteira.

— Você não fica chateado por seu primo estar fazendo tão pouco caso de você?

— Não. Eu fico chateado por outra coisa. – parei de falar e peguei um pedaço de torta com minha mãe. Depois a olhei e continuei. – Por ele deixar seu namoro chegar nesse nível. Mas também não é problema meu.

— Se não der certo entre eles e ele se arrepender e te pedir perdão, acha que ainda serão amigos?

— Hum... – pensei um pouco. – Não. Algumas coisas tem conserto. Mas se você a quebra por diversas vezes, fica impossível.

— Deve ser difícil ser ignorado por uma pessoa que você tem consideração e carinho.

— Eu já entendi que Kevin vai me tratar como nada pra sempre. E se não for Rafael, vai ser outro namorado... Esse laço familiar e de união que temos não significa nada pra ele.

— Arthur me disse uma vez que só você o escutava e brincava com ele. – nos olhamos. – Acho muita sacanagem ele agir assim Murilo. Minha opinião não é muita coisa, mas queria que soubesse. – sorri com afeto.

— Obrigado. E obrigado por se importar tanto com Alice também. A gente bem que podia ter dado certo né? – rimos juntos.

 - Não estava nem lembrando disso, faz tanto tempo. – ela comentou ainda rindo. – Foi antes do vírus.

— Na verdade foi no início. – a corrigi. – Mas que seja, agora estou encoleirado. – a contei sobre meu namoro e ficamos um bom tempo conversando. Aline era uma das poucas meninas com quem eu passava horas sem perceber.

Quando voltei pra casa encontrei uma loirinha me esperando. Ela estava tão linda e sorridente. Suas crises do fim do ano haviam passado e agora ela estava radiante, parecia outra pessoa.

— Como foi lá? – tirei minha camisa e me joguei na cama, me deitando ao seu lado.

— Tirando o fato que fiquei ainda mais preocupado com a minha irmã, foi delicioso.

— Ela não tá legal né? – concordei e selei nossos lábios. – Você tem que ir vê-la mais Murilo.

— Eu sei disso. E a partir de agora é o que eu vou fazer. Já combinei com ela dela ir pra Torres mês que vem e eu vou pra lá também. Quer ir comigo? – a olhei.

— Conhecer os seus pais? Já? – perguntou surpresa.

— Não só os meus pais, mas também os meus primos e amigos. E te garanto que vai ser um teste e tanto. – dei uma risada.

— Ah... Lembro de Kevin comentando sobre eles. – falou se referindo ao Kevin da clínica. – Por falar nele, ele me ligou outro dia. Combinamos um passeio, não quer vim? – fechei a cara.

— Sabe que eu deteste esse garoto. Não sei por que você é amiga dele.

— Ele é legal Murilo. Você só não gosta dele porque ele diz verdades... – sorriu. – Um teste e tanto seria ele nos ver juntos. Ele com certeza iria dizer se tem futuro ou não.

— Virou Deus agora? Quem é ele pra dizer se algum relacionamento vai dar certo?

— Que lindo, ficou todo bravinho. Não quer que ninguém diga que não temos futuro juntos?

— Vou tomar um banho, é melhor que ficar te ouvindo. – ela me envolveu entre suas pernas.

— Não vai não. Por que é tão difícil pra você admitir as coisas? – nos olhamos.

— Acho que duas pessoas que fizeram anos de terapia juntas não vai dar certo. – segurei o riso.

— Aí que você se engana. Vai dar muito certo. Saberemos lidar com nossos problemas.

Esperava mesmo que ela estivesse certa, porque eu estava me entregando de verdade nesse namoro e apostando tudo. Depois de um bom tempo sofrendo e remoendo as lembranças que eu tinha com Kevin, eu vi finalmente uma chance de ser feliz. Não era igual a Eliot. Isso era diferente. Era muito mais real. Mais verdadeiro. Eu não estava usando Patrícia para fugir dar dor ou esquecer alguém. Eu apenas queria ficar ao lado dela. Cada dia mais.


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Notas finais do capítulo

Não sei ao certo quando venho, mas eu venho ♥



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