Amor e Ódio escrita por Olívia Ryvers


Capítulo 17
Esclarecimentos




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​—Obrigada por me acompanhar a Londres, Andrew. Realmente não era necessário se incomodar._Marguerite disse depois que o homem tomou espaço na poltrona em sua frente. _Eu sei que foi um pouco de abuso pedir o favor de me incluir na tripulação militar, mas eu não tinha a quem recorrer e também não queria que ninguém soubesse do meu retorno. Em um voo comercial, minhas informações seriam facilmente rastreáveis._justificou-se.

​—Ainda tenho alguns bons contatos nas forças armadas, não foi nenhum sacrifício conseguir o nosso embarque._tranquilizou-a._Muito embora o que me preocupa seja a sua fuga repentina da Escócia._ele percebeu quando ela desviou o olhar, estava claro que não era sua intenção falar sobre tal assunto, entretanto ele insistiu._Eu sei que você pediu que não lhe fizesse perguntas, porém, não consigo afastar de mim o receio de que corre perigo ou de que alguém a tenha feito mal._tocou sua mão fazendo com que ela o olhasse novamente._Diga-me, Roxton a machucou?

​Marguerite fechou os olhos controlando a emoção e buscando coragem. Era injusto negar a Askwitch algumas respostas. Naquela manhã quando chegou a sua casa trazendo uma pequena mala e pedindo que ele a ajudasse a ir embora de Inverness o ex-oficial não lhe fez qualquer questionamento. Deu algumas ligações e em menos de meia hora estavam na Base Aérea de Inverness a bordo de um avião de carga da Força Aérea Real com destino a Londres. De fato ela tinha muito que agradecer ao capitão, ele por certo percebeu sua vulnerabilidade e decidiu acompanhá-la até que finalmente estivesse mais calma e disposta a responder algumas de suas dúvidas.

​—Ele me magoou sim._respondeu depois de um longo silêncio_mas não da forma como você imagina. John não foi violento, tão pouco estou fugindo por medo. Apenas preciso de um tempo para pensar nos rumos que minha vida vai tomar de agora em diante.

​—Você parecia com bastante pressa de ir embora…

​—Trata-se de outro assunto urgente que preciso resolver em Londres. Tenho que impedir que minha irmã continue a destruir mais coisas, como fez com o meu casamento.

​Andrew pareceu confuso, ponderou se poderia adentrar a assuntos tão íntimos na vida da jovem que se despunha a escoltar. Marguerite não era uma desconhecida, era sua amiga e estava disposto a ajudá-la no que quer que fosse. Desde a primeira vez que a viu, a linda morena o fez lembrar alguém que ele amou muito no passado e por isso sua proteção e carinho foram espontâneos e genuínos.

​—Você pretende se divorciar de Lorde Roxton?

​—Eu realmente não sei._foi sincera._John traiu a minha confiança e subestimou os meus sentimentos por ele. Não sei se algum dia serei capaz de perdoar isto.

​—Saiba que sempre estarei ao seu lado para o que precisar._ele tornou a pegar as mãos dela colocando-as entre as suas.

​Marguerite retesou com a atitude de Askwitch. Não queria dar a ele algum tipo de falsas esperanças. Ainda que sua decisão fosse se apartar de John, não estava em seus planos iniciar um novo romance com quem quer que seja. Também não era mesquinha a ponto de descontar sua mágoa em uma relação extraconjugal passageira, que tipo de valor ela teria se agisse deste modo. Seria honesto deixar isto claro a Andrew, seu coração machucado não estava disponível.

​—Andrew, eu realmente agradeço tudo que tem feito por mim. Você tem sido um amigo incrível, mas eu não quero que pense que eu estou…

​—Nem termine a frase._interrompeu ele._Não acha que eu estou lhe ajudando por que tenho interesse em conquistá-la?

​Ela afastou o olhar envergonhada.

​—Escute, Marguerite._ele continuou_ você é uma mulher linda e altamente desejável, entretanto, meu carinho e empatia por você tem outro fundamento._ele respirou fundo antes de relembrar fatos dolorosos do seu passado. Era necessário, só conhecendo a sua história na íntegra Marguerite seria capaz de confiar nele sem reservas._Eu tinha uma irmã._revelou com carinho._o nome dela era Catherine, ela era alguns anos mais jovem que eu. Tinha cabelos encaracolados e olhos vívidos como os seus._ não conteve o sorriso com a afetuosa lembrança._Perdemos nossos pais cedo, e eu tomei para mim, com apenas 18 anos, a responsabilidade de cuidar da minha irmã. Achei que seguindo a carreira militar eu asseguraria a Catherine uma proteção por toda a vida. Mesmo que eu lhe faltasse ela ainda teria uma aposentadoria que a manteria de forma digna. Eu subi rapidamente de patente, era um soldado de dedicado, só não me dava conta que quanto mais me dedicava a carreira e ao país mais me afastava da vida dela. Em uma das minhas ausências quando estava em missão, Catherine se envolveu com pessoas erradas e conheceu um rapaz._Sua expressão ficou sombria._ ela se tornou outra pessoa, irreconhecível para mim. Aprendeu a mentir e me enganar. Prometi a mim mesmo que quando retornasse de Falkland a afastaria dele, mas, não houve tempo…_quando Andrew afastou o olhar, Marguerite o encorajou a continuar tocando sobre suas mão frias. Ela mesma tinha os olhos emocionados pela história do amigo. _Eu estava na Argentina quando recebi um telegrama me comunicando que Catherine havia falecido durante um tiroteio enquanto participava de um assalto a banco._seus olhos buscaram os de Marguerite._Eu falhei com ela, Marguerite. Falhei com ela e com a promessa que fiz aos meus pais.

​—Eu sinto muito, Andrew._ ela conseguiu pronunciar._Você é um homem bom, não pode manter esta culpa sobre si por tantos anos.

​—Quando eu a conheci, desmaiada a beira daquela estrada eu senti que a vida estava me dando uma segunda chance. Veja… _ele tirou da carteira o retrato de uma moça morena co olhos claros_essa era Catherine, ela lembra a você.

​Marguerite examinou a fotografia. A irmã de Andrew era linda e realmente lembrava a ela mesma naquela idade. Agora entendia porque aquele homem estava sempre disposto a ajudá-la sem buscar nenhuma compensação em troca.

​—Ela era linda, Andrew.

​—Quando coloquei meus olhos em você prometi que a protegeria como não fiz com a minha irmã. Só peço que confie em mim e eu a ajudarei.

​—Muito obrigada._Marguerite assentiu com a cabeça.

​—Agora descanse, em pouco tempo aterrizaremos em Londres.

 

****

 

​—Titia, ainda acho que esta decoração está muito simples. Tem certeza que os decoradores fizeram tudo o que exigimos?_Maylenne fazia a última vistoria no luxuoso salão alugado para a recepção após seu casamento com Benjamin.

​—Claro que sim, querida._Anna tentava tranquilizar a sobrinha que não parava de reclamar desde o momento que acordara naquela manhã._Você está muito nervosa por conta da proximidade com o casamento. Vai ver como tudo estará perfeito na hora e você e Benjamin serão muito felizes.

​Maylenne exibiu um fraco sorriso. Na verdade estava irritada com a atitude pouco interessada do noivo. Sentia como se estivesse casando sozinha, pois o historiador parecia um robô concordando com tudo sem o mínimo de entusiasmo. Era obvio que não estava apaixonado por ela e que só estava fazendo isso por não lhe importava mais nada na vida desde que Marguerite foi embora. “Pouco importa se ele me ama ou não, o que me interessa é o título e com o dinheiro dos Summerlees” tentava se convencer que a indiferença não a afetava, mas em seu íntimo estava enfurecida pela rejeição.

​—Você conseguiu entrar em contato com Marguerite e John? Eles confirmaram que estarão presentes na ocasião de sábado?_questinou Anna.

​—Infelizmente não. Acho que McDusky fica muito afastada de tudo. Uma pena não ter tido tempo de levar o convite pessoalmente._mentiu Maylenne. Ela sequer havia enviado uma correspondência ou feito uma ligação para a irmã, ao contrário, queria Marguerite o mais longe possível para que não corresse o risco de estragar seus planos.

​—Isto é lamentável, seu tio ficará triste por não tê-la presente no sábado.

​—Eu também queria a minha irmã ao meu lado. Nós nem sempre fomos próximas, mas Marguerite é o que restou da minha família._disse dissimulada.

​—Eu sei querida. Mas daqui a dois dias você será nossa família, não será sozinha nunca mais._abraçou ingenuamente a sobrinha que revirava os olhos de tédio correspondendo ao abraço da mulher.

 

****

 

​—Onde está a ingrata de minha filha?_ indignado Sir Arthur Summerlee não se importou em cumprimentar o genro quando notou que John Roxton entrava sozinho em seu escritório.

​—Marguerite?_perguntou confuso. John imaginava que encontraria a esposa sobre a proteção do tio e pretendia convencê-lo a facilitar sua aproximação com ela. Mas se ele mesmo não sabia do paradeiro de Marguerite uma onda de preocupação o atingiu. Onde ela havia se metido?

​—Mas é claro… ou você tem outra esposa?_respondeu sem muita paciência. O empresário estava com saudades de sua sobrinha favorita e desde que Roxton a havia levado para longe o arquiteto não era a pessoa mais bem-vista por ele. Sabia que John era um homem bom, reconhecia um canalha quando enxergava um, ainda sim, aquele cavalheiro tinha tirado dele um de seus tesouros isto o deixava mal-humorado.

​Se ainda queria o apoio de Arthur não podia contar a ele a verdade. Sir Summerlee ficaria furioso se soubesse que ele havia engando sua amada sobrinha e pior ainda que ele tinha deixado-a partir sozinha e não fazia ideia de onde ela estava agora.

​—Por certo que não… uma esposa só já me traz ocupação o suficiente.

​—Então… onde ela está?

​—Infelizmente ela não pode vir._inventou rapidamente o nobre.

​—Como não? O casamento de Maylenne e Benjamin é em dois dias, achei que você viriam para a cerimônia.

​—Na verdade, minha visita será rápida. Estou em Londres para cuidar dos detalhes para o lançamento de nosso novo whisky._era uma desculpa pertinente embora não fosse verdadeira._Marguerite ficou em Inverness fazendo as últimas análises._Roxton odiava mentir, porém aquela era uma situação extrema e muitas coisas estavam em jogo, inclusive o seu casamento e a sua reconciliação com o amor de sua vida.

​—Mas pelo menos você representará a família no casamento não é?

​—Sim… com certeza._ ele concordou. Sabia que se Marguerite não estava ali é porque pretendia aparecer em outro momento e o casamento seria a oportunidade perfeita para desmascarar  Maylenne e sozinha ela não conseguiria convencer a família que a futura Lady Summerlee não era quem dizia ser.

 

****

 

​Roxton sorvia o último gole da bebida quente no bar do hotel que sempre se hospedava. Um turbilhão de emoções e preocupações povoavam seus pensamentos. Queria poder desabafar com alguém, porém qualquer pessoa a quem contasse o que havia feito iria lhe condenar, era de fato imperdoável o seu erro.

​—Afogando as mágoas, milorde?

​A voz feminina com sotaque mediterrâneo quase o assustou.

​—Danielle? Mas como você…

​—Challenger me telefonou. Me contou tudo que aconteceu.

​—E você veio de Milão pra me dizer que tinha me avisado que isso aconteceria?

​—Eu poderia fazer isso… porém não. Eu vim vigiá-lo para que não faça mais nenhuma besteira e para ajudá-lo também.

​—Me ajudar?

​—Você precisará d e reforços para reconquistar Marguerite._ disse a morena piscando um dos olhos.

​Roxton sentiu-se um pouco feliz por ver sua amiga ali. Esse sopro de contentamento revigorou suas energias e esperanças em recuperar o amor de Marguerite.

****

 

​—Sente-se preparada?_ Askwitch ofereceu-lhe o braço quando a ajudou a sair da limousine estacionada em frente a abadia de Westminster. ​

​—Nunca tive tanta certeza do que é o certo a fazer._respondeu Marguerite com firmeza. Ela trajava um lindo vestido longo de alças finas costurado em cetim celeste quase na tonalidade de seus olhos. Seus cabelos presos para um lado do seu rosto e os brincos de diamantes que usava eram herança da família de Andrew.

​—Então vamos.

​A linda mulher prendeu a respiração ao ver a igreja lotada e o casal ajoelhado de costas para entrada. O celebrante mencionava as palavras mais importantes do rito de casamento:

​—Se alguém aqui presente sabe algo que possa separar este casal, fale agora o cale-se para todo o sempre…

​—Maylenne Summerlee, você é uma farsa!_ a voz de Marguerite rompeu o silêncio e se espalhou por toda a abobada fazendo com que os convidados se virassem._Este casamento não pode acontecer!


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