Amor e Ódio escrita por Olívia Ryvers


Capítulo 12
Provando do seu próprio remédio.




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​—Vocês conseguem imaginar o quão absurda essa cena parece ser?_ Marguerite ainda empunhava a arma para o alto, mas agora, vitoriosa, ela tinha conseguido atrair a atenção dos dois homens.

​—Marguerite! Largue essa arma, você pode se machucar!_ ordenou John se desvencilhando de Andrew.

​—Seu marido tem razão, Marguerite. Alguém pode se machucar.

​—Finalmente os dois concordam em algo._ disse com sarcasmo enquanto abaixava a pistola e a guardava no alforjes._Agora, parem de agir como dois garotos brigões e peçam desculpas! John, o Andrew me ajudou depois do acidente a cavalo e me ofende que pense que ele me faltou ao respeito…

​—Não é isso, só que…

​—Não me interrompa!_ fez sinal para que ele parasse de falar._E quanto a você, Capitão Askwitch, não lhe dei a intimidade de questionar o tratamento do meu marido comigo. Não lembro de tratar com o senhor sobre minha vida conjugal.

​John sorriu em silêncio pela lição que Marguerite aplicara ao capitão, embora ele mesmo tenha levado o seu puxão de orelha.

​—Eu sinto muito, Marguerite. Não era minha intenção ofendê-la._ o capitão se desculpou.

​—Oh… não sinta, eu sei que suas intenções foram as melhores e eu sou muito grata por sua ajuda. Tenho certeza que meu marido compartilha da mesma gratidão._ a esposa olhou para Roxton e ele apenas exibiu um meio sorriso._O que aconteceu aqui foi um grande mal entendido. Espero que aceite o convite de jantar em nossa casa em alguma oportunidade para que possamos apagar definitivamente esta má impressão.

​O arquiteto não pôde evitar a virada de olhos acompanhada de uma longa bufada. Marguerite ignorou a atitude. Ele parecia uma criança que quando repreendida pela mãe era obrigada a apertar a mão do amiguinho com que acabou de discutir.

​—Eu adoraria._ respondeu Andrew com um sorriso de vitória._Lorde Roxton, eu sinto muito que nosso primeiro encontro tenha se dado nesta circunstância. Espero que num futuro próximo tenhamos uma convivência pacífica._estendeu a mão ao nobre.

​—Tenho certeza que sim._respondeu o arquiteto com um sorriso falso._ E mais uma vez obrigada por ter ajudado minha esposa.

​—Foi um prazer.

​—Não tenho dúvidas disso.

​Marguerite semicerrou os olhos para o marido, sabia que aquele podia ser o gatilho para um novo confronto. John entendeu e finalmente apertou a mão de Askwitch. Ainda não estava convencido das boas intenções do capitão, imaginar que ele tocou Marguerite ainda que para ajudá-la, o perturbava a mente e já era motivo suficiente para querer socá-lo, mas, não o faria na frente da esposa. Não perderia a vantagem sobre a briga e nem daria motivo para que seu adversário se passasse por vítima ganhando ainda mais a confiança dela. Ao mesmo tempo conhecia a teimosia e obstinação da morena, e uma imposição ou proibição seria mais que o suficiente para estimular seu espírito rebelde e fazê-la se tornar a melhor amiga de Andrew. A melhor escolha seria aceitar sua derrota ainda que momentânea e engolir a solicitude do tal oficial.

​Despediram-se rapidamente, John ajudou a esposa a montar no cavalo. Ele assumiu posição logo atrás. Marguerite ainda que relutante aceitou se envolver na manta que Roxton lhe ofereceu, estava frio e ela estava gelada. Depois de um tempo, ela silenciosamente encostou-se em seu peito viril. Não falaram uma só palavra apenas aproveitaram aquele contato, e a deliciosa troca de calor entre eles, no fundo, tinham medo que qualquer coisa que fosse dita pudesse quebrar a magia daquele momento.

 

****

 

​—Boa noite, Marguerite._ disse ele em frente a porta do seu quarto que ficava ao lado do dela.

​—John… espere._ ela se aproximou e acarinhou seu rosto afastando o cabelo bagunçado que caia sobre a testa._Você está ferido._notou um pequeno corte no supercílio.

​—Isso não foi nada. Você precisa descansar… amanhã gostaria que fizesse uma consulta para saber se a queda não lhe causou algum dano.

​—Estou bem._ignorando a sugestão do marido, Marguerite anunciou._ Vou buscar algo para limpar sua ferida. Me espere aqui.

​—Realmente não é necessário.

​—Eu não perguntei se era. Deixe de ser teimoso e me espere em seu quarto, eu já volto.

​Ele assumiu que era inútil tentar impedi-la, e dentro de poucos instantes a esposa voltava com uma caixa que parecia ser um kit de primeiros socorros.

​—Isso não vai doer nada._tranquilizou-o enquanto suavemente encostava o algodão embebecido na ferida. John gemeu.

​—Você me enganou dizendo que não doeria._ele brincou.

​—É bom que doa um pouco…da próxima vez pense melhor antes de entrar numa briga sem propósito._aproveitou para repreendê-lo.

​—Sim… mamãe._ usou de uma boa dose de sarcasmo que foi rebatido com uma compressão mais violenta do algodão sobre a ferida._ Ai ai, Marguerite._reclamou.

​—Você não vai me explicar por que sempre espera o pior sobre mim?

​—Não sei do que está falando._ ele ergueu os olhos para mirá-la. Marguerite estava inclinada e ele pôde enxergar através decote da camisa de botões as protuberâncias de seus seios. Eram lindos e delicados. Gostaria de saber textura da pele e o sabor de sugá-los. Ela estava perigosamente próxima dele e sua vontade era agarrá-la. Afastou rapidamente esses pensamentos antes que seu corpo desse sinais de seu desejo.

​—Você sabe sim!_ ela se ergueu e John lamentou ter perdido a visão que tinha._Você atacou Andrew porque não confia em mim.

​—Não é isso!

​—Então o que é?

​—Eu não confio nele, nem nas suas boas intenções._ sentou-se no sofá enquanto Marguerite sentava-se a sua frente sobre mesa de centro.

​—Mas você nem o conhece._argumentou.

​—Conheço muito bem homens como ele e sei bem o tipo de reações que uma mulher bonita como você pode provocar.

​—Você realmente me acha bonita?

​Roxton julgou a pergunta ridícula, tão absurda que demorou alguns segundos para entender que Marguerite realmente duvidava de sua genuína beleza.

​—Você é a mulher mais linda que eu já conheci._ confessou.

​—Então por que… por que… evita qualquer contato comigo?_ ela baixou os olhos envergonhada pela pergunta.

​Ele não foi capaz de responder. Não podia lhe contar a verdade, porém, a tristeza que percebia nela o condoeu. Se aproximou mais e ergueu seu rosto com suavidade. Seus hálitos se misturavam e ele desistiu tentar parar um beijo que era inevitável. Tomou os lábios da mulher com desejo, sua língua explorava toda sua boca e percebia que ela fazia o mesmo. Haviam esperado demais para se contentarem apenas com beijos. Marguerite subiu sobre seu colo enlaçando suas pernas na cintura dele. Imediatamente sentiu sua ereção evidente, isto provocou reações em seu corpo também. Sua pele se arrepiou, seus mamilos se tornaram rijos e ela sentiu-se úmida inesperadamente. Seus dedos finos desabotoavam a camisa dele enquanto o marido deliciava-se beijando seu pescoço e colo, envolvendo as mãos nos sedosos cachos negros.

​Em um dado momento, John a deitou sobre o sofá. Ela já havia se livrado de sua camisa e estava vestindo apenas o sutiã preto. Ele afastou uma parte da peça sem se importar em tirá-lo completamente. Aproximou seus lábios e depositou beijos delicados por toda a parte até que finalmente encontrou seu esperado objetivo. Sentia como se estivesse saboreando um fruto exótico, então ouviu a mulher gemer com deleite.

​—John… eu te amo.

​O som da sua voz ao emitir tal declaração lembrou a voz de seu irmão, e quando ergueu-se para olhá-la, não foi Marguerite a quem viu, e sim, William. Em sua mente o falecido irmão gritava “Você me traiu, John! Eu a amava!”

​Ele se afastou assustado. Marguerite também levantou-se confusa com sua atitude.

​—O que aconteceu?

​—Eu sinto muito, estou cansado.

​—John… _tentou tocá-lo mas ele se esquivou.

​—Nos falamos amanhã. Boa noite.

​Ela não insistiu. Com o orgulho miseravelmente esmagado recolheu a camisa e foi para o seu quarto. Fechou a porta atrás de si e desabou em prantos. John estava lhe tirando tudo, principalmente sua dignidade, mas isso ela não permitiria.

 

****

 

​Ciente que não dormiria tão cedo, Roxton decidiu descer para buscar uma bebida quente. O dia havia sido recheado de grandes emoções e julgou que uma dose de o whisky o ajudaria a relaxar. Custava a acreditar no que acabara de acontecer, aonde estava com a cabeça quando se permitiu chegar aquele ponto com Marguerite? Ela podia ter sido sua cunhada e além disso, foi a irresponsável indireta pela morte de seu irmão. Amá-la parecia ser algo tão inadequado e ao mesmo tempo inevitável. Questionava-se a todo momento se tinha feito a escolha certa em manter essa vingança que, a cada hora que se passava parecia mais absurda. Por outro lado, duvidava que seria capaz de deixá-la ir, precisava de Marguerite como do ar que o enchia os pulmões. Lamentava não poder viver plenamente esse sentimento e se perguntava até quando conseguiria controlar seus instintos.

​Depois de sorver o primeiro gole do líquido escuro, John notou sobre uma das mobílias o ramalhete de rosas com o qual presentearia a esposa naquela noite. Imediatamente lembrou de sua fisionomia magoada ao sair de seu quarto, minutos antes. Sentiu-se um crápula por despertar na mulher amada sentimentos tão vis. Marguerite era jovem, linda, cheia de vida e altamente apaixonante, mesmo assim, foi capaz de duvidar de seu próprio carisma quando insegura o perguntou se a achava realmente bonita. Ele tinha o direito de destruir a autoestima de uma mulher desta forma? A resposta era simples e clara: Não.

​ Uma onda de repulsa por si mesmo o acometeu. Havia se tornado um ser desprezível. Era arriscado vê-la novamente naquela noite, entretanto, não conseguiria dormir sem lhe oferecer uma desculpa. Recolheu o ramalhete e foi procurá-la.

​Antes de bater à porta da esposa anunciando sua chegada, John respirou fundo dizendo a si mesmo que só entregaria as flores pediria desculpas e voltaria para o seu quarto, sem nenhum contato físico. Quando se convenceu de que estava pronto para essa simples missão ele bateu à porta. Ninguém respondeu. Ele tentou novamente, de novo nada. Começou a se preocupar e decidiu  entrar mesmo sem o consentimento de Marguerite.

​O quarto estava vazio, porém, um barulho de água correndo chamou sua atenção. Ele sabia do que se tratava. Hipnotizado pela expectativa do que aquele som significava ele o seguiu. O banheiro estava entreaberto e Roxton pode ver com clareza o que era o agradável barulho. Agradeceu a Deus o dom da visão pois através dele conseguia enxergar a coisa mais linda que já houvera visto.

​Era como está diante da própria Afrodite de Doidalses, escultura grega de Bitínia. Marguerite era perfeita, ainda mais linda do que ele imaginava em seus sonhos e delírios. Sentiu inveja das gotas d’água que podiam tocavam seu corpo sem nenhuma culpa. Quis por um momento ser a espuma que represava em suas partes mais íntimas e com movimentos graciosos eram enxaguadas. Envergonhava-se por uma atitude tão pouco honrosa, mas era impossível não admirá-la.

​Como se percebesse sua presença, a mulher fechou os olhos e num gesto muito sensual jogou sua cabeça para trás permitindo que a água caísse sem nenhum pudor por seus seios nus. Sua vontade era entrar no chuveiro junto com ela, e precisou de muito esforço para não fazê-lo. Provavelmente provocou algum ruído que a fez despertar de seu transe pessoal.

​—John?

​—Oh Marguerite eu não queria…_ começou se justificar envergonhado.

​Ela não exibiu nenhum sentimento. Fechou o registro com calma e nua passou por ele com as gotas d’água ainda pingando de seu corpo. Ele não sabia ao certo o que dizer.

​—Tem algum problema?_ ela perguntou com indiferença.

​—Não… quero dizer… eu não queria estar aqui._ estava tão constrangido e confuso com a atitude dela que não escolhia com certeza as palavras e não se fazia ser entendido.

​—Então por que está?_ ela vestiu o roupão felpudo e começou a escovar os cabelos dando pouca atenção ao que o marido dizia.

​—Na verdade eu vim me desculpar._ até o ato pentear os cabelos era extremante atraente para John, mas, pelo menos vestida ele conseguia se concentrar melhor.

​—Pelo que?_ fingiu-se de desentendida.

​—Bem… pelo que ocorreu esta noite, não era minha intenção fazê-la se sentir mal.

​—Você não o fez.

​Roxton foi pego desprevenido por sua frieza.

​—Eu pensei que você pudesse ter se magoado…

​—Pensou errado. Você tinha razão, eu estava cansada e você também.

​Desconsertado ele concordou.

​—Sim, foi isso mesmo…

​—E eu ainda estou cansada, então, se você não tiver mais nada a dizer… boa noite.

​John emitiu um sorriso sem graça.

​—Era só isso… boa noite.

​Antes de sair Roxton a olhou mais uma vez, mas ela ainda estava virada de costas escovando suas madeixas. Inexplicavelmente experimentou frustração por ter concluído sua missão com êxito. Tentaria dormir, se a imagem de Marguerite nua o permitisse.


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