Amor e Ódio escrita por Olívia Ryvers


Capítulo 11
Onde você está?




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—John… _ a voz de Marguerite era apenas um gemido de dor enquanto se acordava lentamente sustentada pelas mãos firmes de alguém. Percebeu que já havia anoitecido, embora uma luz focal produzia alguma iluminação. Sentiu frio e instintivamente tentou se levantar, mas, uma nova onda de desconforto a fez gemer novamente.

—Cuidado… você está ferida?_ o dono das mãos que a amparavam não era John, contudo, Marguerite foi incapaz de sentir medo. Estava tão sozinha e perdida que qualquer manifestação de ajuda ou preocupação, ainda que de um desconhecido, lhe inspirava aceitação.

—Eu estou bem… _ tranquilizou ao seu benfeitor_ um pouco dolorida, entretanto acho que não tenho nenhuma fratura.

—Você ficou desacordada algum tempo… pode haver alguma concussão.

—Eu preciso encontrar meu cavalo e voltar para casa._nesse instante percebeu que seu senso de direção estava comprometido e ela estava sem nenhuma luz, como cavalgaria de volta a McDusky?

—Acho que sua montaria a deixou sozinha à sua própria sorte._comentou o desconhecido.

—Não foi o primeiro a fazer isto hoje._ disse com sarcasmo e tristeza.

Marguerite conseguiu sentar-se, embora ainda estivesse um pouco confusa. Então, ela pôde examinar o homem que a ajudava. Seu salvador aparentava ter cerca de 45 anos, cabelos e olhos claros. Toda a composição de sua fisionomia sugeria gentileza e inegavelmente ela o julgou atraente.

—Sou Andrew Askwitch_ estendeu a mão para a mulher percebendo que ela o media.

—Marguerite Roxton._ retribuiu ao gesto.

—Lady Roxton, suponho.

—É o que dizem por aí._ sorriu admirada por mesmo naquelas circunstâncias conseguir emitir uma ironia._ Você conhece meu marido? Sabe para qual direção é minha casa?

—Não o conheço pessoalmente, porém sei a direção de McDusky… se aceitar uma carona no meu alazão acredito que esta será uma boa oportunidade de conhecer Lorde Roxton._ retribuiu a brincadeira.

—Eu aceito a carona, porém, receio que seu encontro com Lorde Roxton terá que esperar. Ele não se encontra em Inverness e só Deus sabe quando pretende voltar._ Marguerite se arrependeu de mencionar algo tão pessoal a alguém que acabara de conhecer, contudo, Askwitch lhe inspirava confiança e como um cavalheiro não exigiu maiores detalhes. Em um impulso ajudou-a a montar em seu cavalo subindo logo atrás dela. Passou as mãos em volta de sua cintura e alcançou as rédeas. O contato era inevitável e fez Marguerite corar, entretanto, ela não percebeu da parte do homem nenhum tipo de abuso.

—Está pronta?

Ela concordou com a cabeça. Eu um som desconexo Andrew fez com que o animal começasse a trotar em um ritmo suave levando em consideração o estado debilitado da mulher. Marguerite teve vontade de apoiar a cabeça em seu peito, depois de dias de tanta indiferença sentia-se por fim, protegida novamente.

 

****

 

As luzes da ala norte de McDusky ainda estavam acesas indicando que os empregados não haviam se recolhido. John foi tomado por uma súbita alegria ao imaginar que Marguerite provavelmente ainda acordada por isso não os havia dispensado.

Roxton tinha apressado o retorno e extraído do veículo sua maior potência a fim de diminuir o tempo viagem entre Edimburgo e Inverness. Tão concentrado no objetivo de reencontrar a esposa, o arquiteto sequer notou o caminho que percorria e quando se deu conta estava atravessando novamente as muralhas de pedra do castelo. Estacionou o automóvel sem muita preocupação, pegou o ramalhete de flores que comprou para a mulher e em movimentos rápidos subiu a escadaria principal.

—Marguerite!_chamou com entusiasmo. Sua voz ecoou pelo imenso saguão de entrada. Em resposta recebeu o silêncio. Ele então tentou novamente._Marguerite, onde está você?_ Começou a subir as escadas mas parou quando viu Verônica e Malone surgindo._Oh… você estão aí. Lady Roxton já se recolheu?_ Roxton notou olhares preocupados e receosos._Digam alguma coisa!_exigiu um pouco irritado.

—Eu sinto muito, Lorde Roxton… milady… ela não está no castelo._ começou Malone sabendo que havia falhado na missão que lhe foi dada.

—Como não está no castelo? Aonde ela foi?_perguntou aturdido.

—Esta tarde, milady dispensou minha escolta e seguiu a cavalo para Inverness… a pouco o cavalo que montava retornou sozinho para o estábulo, não sabemos da senhora.

—O que você está dizendo?! Dei a você uma ordem simples e você não a cumpriu!_ as palavras eram cuspidas com ira, todavia, o medo era o principal sentimento que o consumia.

—Eu argumentei, senhor… disse que eram ordens suas, mas… milady disse que…_o jovem hesitou.

—O que ela disse? Fale de uma vez!_ordenou o patrão.

—Milady mencionou que o senhor não se importava com o que ela sentia ou pensava e que provavelmente não se importava com sua proteção._reproduziu o diálogo com constrangimento.

As palavras de Marguerite afetaram John de uma maneira que nem ele mesmo sabia que poderia ser tocado. Era seu objetivo feri-la em seu orgulho, porém, isso não incluía pôr em risco sua segurança. Já era noite escura e a temperatura caía mais e mais a cada hora que se passava. A ideia de vê-la em perigo, por ventura machucada e perdida o tirava de órbita. Uma angústia irracional tomou conta de todo o seu ser. Se algo de mal chegasse a acontecer a ela jamais seria capaz de se perdoar.

—Reúna o maior número de homens que conseguir. Traga meu cavalo e lanternas. Vamos encontrar minha esposa. AGORA!_ gritou com o Malone.

 

****

 

Como um general comandando um fronte de batalha, Lorde Roxton dava ordens estratégicas aos homens que o ajudariam na busca por Marguerite. Separados em grupos saíram em várias direções. John partiu solitário a galope pela estrada principal, dispensou companhia alegando não querer dividir as forças. Ignorou o quanto era arriscado viajar a cavalo por aquela estrada deserta, a única coisa que importava era encontrá-la e certificar-se de que ela estaria bem.

Cavalgou algumas léguas até notar um feixe de luz aproximando-se lentamente. Com toda certeza outro cavaleiro solitário. Incitou seu animal a se aumentar a velocidade, poderia ser alguém com notícias de Marguerite. Não pode conter a surpresa e o alívio quando a reconheceu montada no alazão a sua frente.

Dispensando qualquer explicação ele gritou por seu nome.

—Marguerite!_apeou da montaria e correu em na direção dela que com ajuda também desmontava.

—John… você voltou!_disse enquanto encontrava seu abraço.

—Sim! Eu voltei… estava preocupado com você_ sentiu o suave perfume de seus cabelos negros, era como se inspirasse a própria vida._Você está ferida?_ examinou-a rapidamente.

—Eu estou bem… acho que com alguns hematomas, mas nenhuma fratura.

—O que é muita sorte…_ uma voz desconhecida de Roxton brotou da escuridão.

Só então o arquiteto se atentou para o fato de que a esposa não estava sozinha. Deveria estar feliz por vê-la bem, e ele estava, mas, um lado irracional se manifestou novamente e o que sentia agora era um terrível ciúme.

—Quem é você?_perguntou de forma acusatória.

—John… esse é Andrew Askwitch. Ele me ajudou.

A voz agradecida de Marguerite, seu olhar doce e o sorriso terno só fez piorar o sentimento pouco nobre que ardia no peito de Lorde Roxton.

—Askwitch… eu conheço seu nome._ignorou a mão estendida de Andrew.

—Provavelmente._ Andrew recolheu o cumprimento e respondeu no mesmo tom ofensivo.

—Capitão Askwitch assediou a compra da Dusky recentemente._ disse a esposa, mas sem tirar os olhos do homem.

—Você não mencionou que era oficial._ Marguerite continuava sorrindo e parecia muito à vontade na presença do estranho. Isso para John era por demais irritante.

—Na verdade eu fui… há algum tempo. Agora sou apenas um fazendeiro em busca de ampliar meu negócio de produção de Whisky.

—Tentando se aproveitar de empresas em ascensão. Um belo oportunista!

—JOHN!_ Marguerite o reempreendeu.

—Não há problemas, Marguerite. Seu marido tem certa razão, oportunidades estão para serem aproveitadas.

A provocação e a intimidade no tratamento com sua esposa não passou despercebida por Roxton. Tinha vontade de esbofetá-lo, mas, tentava se controlar.

—Bem… como pode ver, fui eu quem aproveitou desta oportunidade, espero que esteja conformado._ o arquiteto respondeu a provocação, todavia, não sabia mais ao certo de que questão disputando a Dusky ou Marguerite.

—Você está certo, Lorde Roxton… entretanto, aconselho você a ter mais zelo por sua empresa do que demonstrou ter por sua esposa esta noite.

—Como ousa!_ o punho esquerdo de John atingiu o queixo de Andrew que revidou.

Em pouco tempo os dois rolavam pelo chão acertando golpes sob gritos desesperados de Marguerite pedindo que parassem. Ela parecia ser inaudível por ambos, então, decidiu tomar uma atitude mais imperativa. Correu até os alforjes do cavalo de Roxton e encontrou uma pistola, sem saber ao certo o que fazia, engatilhou a arma e disparou dois tiros para o alto. O som da arma ecoou no silêncio da estrada, imediatamente os homens cessaram os golpes e a olharam assustados. Ela havia alcançado seu objetivo.

 

 

 


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