Amor Perfeito XV - Versão Kevin escrita por Lola


Capítulo 9
Consertando tudo


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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Kevin Narrando

Peguei aquele microfone destinado a acabar com a reputação do meu pai, entretanto, uma pequena atitude dele me fez repensar. Ele me mostrou discretamente o número do pai de Rafael em seu celular. Não sei o que ele era capaz de fazer. E aquilo era um aviso certo que ele iria o prejudicar mais uma vez de alguma forma.

— Só quero dizer que eu amo ser filho desse homem tão especial, inteligente e íntegro. – falei rapidamente com o maior ar de sarcasmo que eu conseguia.

— Você usou de um recurso para dizer o oposto do que se quer de maneira mordaz e amarga. – meu pai afirmou em um tom quase inaudível me encarando. – Não foi nada convincente. Já estou muito nervoso com você, não me faça ficar ainda mais.

— Que isso?! – dei dois tapinhas em seu ombro direito. – Foram os melhores elogios que eu encontrei. – sorri e desci dali indo de encontro aos meus amigos.

— Não entendi. – Ryan me encarou.

— Tem coisas que é melhor não entender. – respondi e procurei Rafael pelo salão.

— O que você e o seu namorado tem hein? – Sophia questionou sabendo que eu o buscava com o olhar. Nem disse nada e fui embora dali. Um pouco mais tarde ele me encontrou e não estava nada satisfeito.

— Eu te procurei pela festa toda e falaram que você foi embora, fui até sua casa, não te achei e quando eu te ligo... – me olhou deitado em sua cama.

— Poderia ter ligado desde o princípio. Evitaria todo o trabalho, no entanto, tá fazendo pirraça.

— Sou eu? Qual o motivo de não me procurar e avisar que queria vir embora?

— Você havia sumido. – sorri de um jeito tranquilo. – Eu estava sem paciência para te procurar.

— Não tem medo de me deixar largado assim não Kevin? – olhei em seus olhos.

— Você não foi largado e sim desapareceu.

— E você não procurou. Então eu considero isso um abandono.

Entrei em um modo que eu não discutia mais com Rafael. Ele falava e eu comecei a apenas concordar. Era melhor assim. Quando ele se acalmou veio até mim e ficou manso, me fazendo esquecer até que eu queria fazer algumas coisas no outro dia.

— Você tem que conversar com Luna. – o olhei após sua fala na tarde do domingo. – Dizer o que Arthur faz e como ele anda agindo. Ela irá tratar disso com a terapeuta dele, com certeza.

— Posso saber por que eu? Ele tem que odiar logo a mim?

— Não me sinto bem me intrometendo desse jeito Kevin. E ela vai dar mais confiança a você.

— Ele está indo a terapia? – o olhei novamente.

— Sim. Penso que se não estivesse já teria morrido. – olhou para a porta. – Vamos ir ver como ele está.

— Não. O combinado era que não sairíamos do quarto hoje. – riu como se eu não falasse sério.

— Até parece que não se preocupa com o seu irmão mais que tudo nesse mundo.

— Tá bom, vamos lá. – resmunguei e fui sem imaginar o que encontraríamos. Arthur estava em meio a uma crise de choro. Pedi a Rafael que me deixasse sozinho com ele e esperei que meu irmão melhorasse. Entendia o que ele sentia. Sofrer na mão de Caleb era devastador, ainda mais para alguém sensível como ele.

— Ele é um cara muito inteligente, por isso está onde está. – afirmou após um bom tempo e me olhou. – Nunca vai pagar por nada que já fez.

— É isso que você quer? Que ele pague? – concordou. – Podia começar parando de se afundar e tentando ser feliz. Ele detesta pessoas felizes. Principalmente as que ele prejudica constantemente.

— Como eu consigo fazer isso Kevin? – quase voltou a chorar.

— Fica com a Alice, Arthur. Vocês se amam. Não tem que esperar coisa nenhuma. A oportunidade perfeita não vai existir. Ela tem um problema incoercível, sou o melhor amigo dela, sei o que estou dizendo. E você não está indo bem sem ela.

— E se só piorarmos tudo?

— E se der certo? Só vão saber tentando. – ficou me olhando parecendo ter sido persuadido.

— Vou até a casa dela. – se levantou de uma forma veloz e saiu entusiasmado.

— Foi outra pessoa que saiu daqui. O que você fez? – meu namorado questionou e eu sorri.

— Magia amorzinho.  – o beijei. – Agora podemos deixar de nos preocuparmos com ele e voltarmos para cama? – riu da minha necessidade e cedeu com facilidade. 

Ainda frequentava a faculdade e tinha a esperança que conseguiria continuar estudando quando voltasse para Torres daqui pouco mais de cinco meses. Nem fazia ideia de como faria isso, e era algo que não me preocupava agora.

Ignorava o meu colega de sala me encarando há alguns minutos. Aquilo começou a me irritar fortemente. Eu o encarei de volta de uma forma nada amistosa. E ao contrário do que eu previa, ele sorriu.

— Prazer, me chamo Felipe. – continuou olhando em meus olhos.

— Não perguntei o seu nome. – respondi com descontentamento.

— É tão simpático quanto imaginei. – riu.

— Já me viu conversando com alguém? – ergui as sobrancelhas. – Seguramente não. Isso não vai mudar. Então não tenta ser meu amigo, não existe essa possibilidade.

— Falou demais para quem não quer conversa. – continuou me incomodando. – Venho te observando... Em todos os trabalhos em grupo você é o que menos discorre e o que mais faz. Só pensei... – o cortei.

— Não quero saber o que pensou. – fui extremamente grosso. – Isso não é uma brincadeira. Não quero você tentando conversar comigo de novo. – eu sai da minha mesa que era ao lado da dele e fui para o canto oposto da sala.

— Ei, espera. – o tal Felipe me abordou quando sai para o intervalo. Continuei andando e ele me seguiu. – Qual o motivo de ser tão antipático assim? – não respondi e acelerei o meu passo. – Só queria que me ajudasse. Estou com dificuldade em anatomia. – parei e o olhei com uma expressão não muito boa. – É sério. Você parece que nasceu estudando isso. Sabe todos os nomes, conceitos e... – o mandei calar a boca.

— Vai ter que pedir outra pessoa. E não vem atrás de mim de novo. Caso contrário, você vai conhecer mais de anatomia, na prática.

— É pelo seu namorado? – aquela pergunta me fez parar na mesma hora.

— Foi ele? – respirei fundo. – Ele mandou que você me cercasse e tentasse atrapalhar meu namoro?

— Ele quem? – franziu a testa e olhou ao seu redor. Refleti muito sobre a possibilidade de o meu pai estar no meio daquilo.

— Qual o motivo de perguntar se é pelo meu namorado que não quero deixar você se aproximar?

— Tá na cara. Primeiro vi a aliança em seu dedo, depois a foto no plano de fundo do celular e em seguida, o fato de você já ter saído da sala várias vezes para atender alguém que suspeitava ser ele... Essa suspeita foi consolidada quando sai logo após você e ouvi você discutindo com ele. Parece que ele é ciumento né? Então concluo ser esse o motivo. – fiquei em silêncio. – Não tem ninguém, fica tranquilo. Todo esse seu nervosismo é devido a uma conspiração que não consegue parar de pensar? – não respondi. – Se quiser pode conversar comigo. Eu só peço que me ajude... Não posso ir mal em nenhuma matéria.

— Tenho quase certeza que não tenho nada a ver com isso. – me puxou segurando o meu pulso. Virei a palma da minha mão para cima, aproximei um pouco meu corpo do dele e rodei o meu braço, o ouvindo gemer de dor em seguida. – Você já conhece o melhor anti-inflamatório né? Vai precisar. – continuei meu caminho. Ele se recuperou rápido, como era esperado e veio me acompanhando novamente.

— Você faz algum tipo de luta ou defesa pessoal? – dei uma risada e ele ficou me olhando. – O que faz?

— Só tive um treinador excelente desde bem cedo.

— Ele é bom mesmo, porque eu sou mais forte que você e mesmo assim... – o interrompi.

— Eu utilizei o corpo inteiro para fazer o movimento. É o meu corpo contra um músculo. – o olhei. – Você é mesmo lerdo né?

— E você é grosso, prepotente, satírico e arrogante.

— Você colocou dois adjetivos praticamente iguais juntos. – o provoquei. – É mesmo lerdo.

— Engano seu. Posso não ser muito bom em anatomia, agora a diferença entre prepotente e arrogante eu sei. – fiquei olhando para ele. – A prepotência é algo que pode fazer parte da personalidade de alguém enquanto a arrogância é mais uma escolha e pode ser evitada. – fiquei pensando naquele contexto. – Um exemplo que eu já li e posso encaixar nesse caso: você tem o seu namorado e acredita verdadeiramente que ele te ama e que o casamento é só uma questão de tempo. De repente, surgido do nada, aparece uma pessoa na vida dele, pela qual ele perdidamente se apaixona, dando um fim ao seu relacionamento e as suas expectativas. O que aconteceu? Você não tinha dúvidas de que era o homem dele. Que ele te amava. E certamente ele te amava, contudo, você foi prepotente ao supor que esse amor não poderia ser superado por outro maior. Por um amor arrebatador, incontrolável do seu amado por outro indivíduo. O que aconteceu é que vocês são dois seres humanos, que a exemplo de todos os outros, estão sujeitos aos caprichos do nosso cérebro. Outro fato importante, é que o seu namorado também foi prepotente, não porque o deixou optando por outro, mas sim porque ele também tinha convicção de que te amava e de que vocês construiriam um futuro juntos. Vocês dois foram prepotentes quando acreditaram que o destino já estava traçado, e que nada seria capaz de mudar isso.

— Tinha mesmo que usar o meu namoro para exemplificar isso? – sorriu.

— É que eu já percebi que você vive por ele. Só assim entenderia.

— Não precisava entender nada, porque eu já sabia. E quanto ao exemplo, o que acontece é que nós, humanos, necessitamos ter convicções para que vida possa se traduzir em segurança e felicidade, o que explica porque a prepotência é inevitável.

— Sábio. O oposto ocorre com a arrogância. Então você poderia evita-la para ser só um pouco mais agradável. Não o faz porque não quer.

— Acertou. - dei um sorriso debochado. - Eu não quero ser agradável.

— Assim nunca vai arrumar novos amigos.

— É algo que eu também não estou querendo. – sorriu despretensiosamente.

— Prazer Kevin, Felipe. – estendeu a mão.

— Não disse querer ser seu amigo.

— Estou sentindo outra vibração de você. – quase ri. De alguma forma ele estava com razão. É que o jeito com que nossa aproximação ocorreu causava isso. – Não sou uma ameaça para o seu namorado. Se ele tiver uma irmã solteira posso provar.

— Por que se aproximou de mim?

— Já disse. Você sabe tudo sobre a matéria que eu tenho a maior dificuldade. Quero a sua ajuda. E agora eu quero o telefone do seu treinador. – massageou o pulso.

— Ele não é qualificado para isso. - sorri. - Posso te ensinar um dia. Eu sei mais de cem saídas e ataques simultâneos. Mesmo sem ter passado por nenhum exame de nenhuma luta. – lembrei de Vinicius e do quanto ele ficaria revoltado ao saber disso.

— Vai pensar em me ajudar? – concordei com evidente má vontade. Sai daquele lugar e corri para buscar Alice, já estava atrasado.

Mais tarde daquele dia fiz uma chamada de vídeo com Danilo e contei que alguém queria ser meu amigo, mesmo que por um favor. Primeiro ele riu muito da situação inusitada e imprevisível e depois disse que eu não aceitaria devido a Rafael, isso era evidente. Nem tanto. Estava pensando em aceitar. Eu me privava de absolutamente tudo por causa dele, não era justo uma coisa a mais. Eu senti algo bom vindo desse cara.

“Você sabe que dizer a Fael que ele é hétero não muda nada né?”— Danilo perguntou e deu uma risada escandalosa, fazendo Diana que estava dormindo deitada em seus braços resmungar.

— Os seus pais sabem que vocês dormem juntos? – franzi a testa tentando não fazer uma expressão muito julgadora.

“Somos irmãos Kevin. Isso é normal.”— se mostrou incomodado. – “E aí, o que vai fazer? Estou curioso.”

— Não é porque aconteceu comigo e Rafael que vá acontecer com todos. Não é assim Danilo. Eu e você sempre fomos amigos.

“Sabe que ele vai usar o Murilo como exemplo né?”

— Vai ser um inferno na terra. – suspirei. – Acho melhor desistir.

“Você conhece o namorado que tem.”— sorriu. – “E eu a minha. Devo desligar, ela já está se remexendo.”— era espantoso a forma como ela o levava na coleira. Porém, se parar para pensar, já era assim antes. E quem sou eu para julgar? Agia da mesmíssima forma com Rafael. O amor antes de te fazer feliz, ele certamente te desonra. 

Rafael Narrando

Desde quando ouvi da boca de Kevin as palavras “Eu quero conhecer os seus amigos” eu não penso em outra coisa. São dois mundos totalmente diferentes que não se misturam. Eles não têm absolutamente nada em comum, esse encontro iria ser um desastre. Era só ele lembrar que bem no início, antes de sentir algo por ele, nós dois nos evitávamos. Esse seria o cenário. O pior de todos.

— Estamos prestes a fazer um ano e seis meses de namoro, indo para a sua cidade e dando um passo grande na nossa relação e parece pela sua expressão facial que estamos prontos para a guerra.

— Kevin eu não quero discutir. – encerrei aquele assunto antes mesmo que ele começasse.

— Você esqueceu as coisas no hotel, tivemos que voltar duas vezes. Passou mal ontem. Fez de tudo para que cancelássemos.

— É claro que eu nunca conseguiria. – o encarei com fúria. – Você é bem duro na queda.

— Quer me dizer o motivo de tamanha resistência?

— Estou dirigindo Kevin. Não quero conversar agora. – ele viu o quanto eu estava nervoso e ficou em silêncio. Em poucas horas chegamos em casa. O meu pai o recebeu muito bem, como não podia deixar de ser. Ele o adorava.

— Você sabe o motivo pelo qual ainda não desisti da minha ideia? – perguntou assim que seu sogro parou de falar no quanto arrumou o meu quarto para nós dois e foi para a sala. Apenas o olhei. – Por saber qual é o seu incômodo.  

— Pensei que não soubesse. – respondi bastante surpreso.

— Não sou idiota Rafael. Você ainda não sabe com quem namora. – chegou mais perto de mim. – Eu não quero falar sobre esse assunto... Faz com que nós voltemos ao início do nosso namoro. E isso é tão cruel.

— O que vai acontecer é que é.

— Você realmente não pensa que eu posso passar por essa situação?

— Sua impaciência é muito grande Kevin. E eles... – me cortou chegando mais perto ainda.

— Sabe o que é maior que minha impaciência? Meu amor por você. Vou ser legal com os seus amigos.

— Por que em momento algum não passou por sua cabeça que eu poderia estar com medo de assumir o namoro para eles?

— Olha bem para mim. – sorriu. – Quem não assumiria um namoro comigo? – o soquei levemente. – Você expõe nosso namoro na internet, sendo assim, eles já sabem.

— Nossa! – analisei sua fala.

— O seu ciúme de Murilo e necessidade de esfregar nossa felicidade na cara dele sempre foi tão grande que jamais pensou nisso né? – me encarou sério.

— É que como nunca comentaram nada... – dei um suspiro me sentindo vencido. – Kevin... Eu estou assim por me preocupar com você.

— Cresci com Caleb. Você realmente pensa que meia dúzia de idiotas me chateiam?

— Vem aqui. – o abracei. – Estou sentindo que no final disso tudo vou ficar sem amigos e sem namorado. – ele deu uma risada.

— Pode até perder seus amigos, o namorado é difícil. – olhou dentro dos meus olhos me passando a segurança que eu precisava para enfrentar aquele dia atípico e inacreditável.

Combinamos um churrasco em minha casa. O motivo principal era por ser um lugar comum entre as duas partes. Outro fator importante era que se tudo saísse dos trilhos, era seguro estar lá. Fora que outras pessoas não seriam expostas à agressividade que poderia vir a ocorrer.

— Não entendo qual é o seu medo. – meu pai chegou perto de mim, olhei o céu enquanto apagava meu cigarro. Já eram quatro horas da tarde. – Os meninos vão gostar dele, Kevin é legal Rafael.

— Já acendeu a churrasqueira? – ele me olhou ficando sério.

— Sinto que você vai estragar tudo. Não quer nem falar sobre o assunto.

— É difícil namorar alguém como Kevin pai. Você não o conhece totalmente. Se ele resolver, ele vai transformar esse encontro em um inferno.

— Você devia dar mais crédito ao que ele sente. Ele não te decepcionaria tanto. – vi meu namorado vindo.

— Qual cerveja os seus amigos gostam? Estou indo comprar. – meu pai me olhou com o ar de quem dizia estar certo.

— Não precisa, eles... – me interrompeu.

— Seja como for, prefiro que eles se sintam bem recebidos. Se não quer dizer não tem problema, acredito que entendo um pouco de homens, vou acertar. – me mandou um beijo saindo da casa.

— Você está sendo injusto. E eu só espero que isso não te cause danos futuros.

Fiquei sem responder à fala do meu pai e sem conseguir relaxar. A tensão tomava conta de mim. Quando o momento chegou, apresentei Matheus, Rafinha, Fábio e o irmão dele para Kevin. Conversas superficiais sobre eu ter um amigo com o mesmo nome e o Math ser trapaceiro e ter roubado no último jogo entre eles tomaram conta do ambiente. Não demorou muito para as gracinhas e o jeitão intolerante surgir.

— Você demorou a apresenta-lo. – Fábio disse e sorriu. – É tão inacreditável. – riu.

— Não o leve a mal. – o irmão dele pediu a meu namorado. – É que Rafael nunca foi de se prender a ninguém.

— Você não está o coagindo né? – meu amigo o perguntou e Kevin deu uma risadinha que por conhece-lo, sabia que por dentro não estava gostando nada daquilo.

Depois disso as coisas foram escalando o nível de complicação. Ele não se esforçou mais para ser simpático. Entendeu que os meus amigos só vieram para ver com os próprios olhos o que eles não acreditavam. Eu não os culpo. Sei quem eu sempre fui, nem eu acreditaria.

— Você gosta de futebol? – Math tentou iniciar uma conversa recebendo um olhar extremamente intimidador.

— Não. – Kevin respondeu apenas, sem acrescentar nada. O clima que eu julguei que não podia piorar acabou piorando.

— Acho melhor irmos embora. – o irmão de Fábio falou após um tempo e me olhou. – Se quiser bater uma bola amanhã, só ligar.

As coisas se encaminharam exatamente como eu previ. E não parou por aí... Kevin e eu brigamos muito feio. Eu disse coisas horríveis e diferente da maioria das vezes, ele não aceitou calado.

— Olha o que está fazendo Rafael! Estou precisando me justificar para você por uma situação que você e os seus amigos causaram. Era só se posicionar diante das falas deles e eu continuaria sendo o Kevin bobo de sempre.

— Bobo? – meu semblante mudou e ele ficou me olhando.

— Não finge que eu não faço tudo o que você quer e que sempre me coloca como errado independente da circunstância.

— Kevin...

— Não Rafael. Isso é manipulação, vivi isso a minha vida toda e sei o que estou dizendo.

— Você está sendo injusto. – se afastou. Usei as palavras do meu pai contra mim contra o meu namorado.

— Injusto eu estarei sendo se eu começar a dizer coisas que sei que podem te machucar. E... – deu um suspiro que fez com que meu coração ficasse apertado. – Por isso mesmo acho melhor eu procurar um lugar para dormir essa noite. Não é legal estarmos juntos agora com todo esse clima. – eu queria dizer algo, porém, tudo o que eu conseguia dizer era o seu nome. Sem eu conseguir impedir ele se foi.

Antes que eu fosse me deitar, meu pai segurou meu ombro e perguntou se eu precisava de algo. Olhei bem em seus olhos e soltei um suspiro derrotado.

— Que não me diga que me avisou. – ele deu um sorriso compreensivo.

— Jamais faria isso. Boa noite meu filho.

Quase não consegui dormir. Sabia muito bem que devia ter defendido Kevin. O que acontece é que estive tanto na posição de fazer o que os meus amigos estavam fazendo... Não respeitar as pessoas, seja minimamente como ontem ou do jeito mais brutal. No fundo, eu merecia o que eu estava passando.

Acordei com meu pai conversando e rindo. Só podia estar ao telefone com alguém. Essa era uma das inúmeras coisas que eu não sentia falta de casa, o barulho. Levantei e fui tomar um banho, se eu me encontrasse com ele iria reclamar e acabaríamos discutindo. Não queria mais problemas em minha vida agora.

Quando sai do banheiro com o braço esquerdo segurando a toalha que secava freneticamente o meu cabelo e a mão direita fazendo o trabalho de escovar os meus dentes, deixei os dois objetos caírem. Meu pai não estava conversando ao telefone.

— Vai ter que comprar outra. – Kevin avisou após vim até mim e pegar minha escova no chão e me entregar. Fui lavar a minha boca e pendurar minha toalha. Não imaginava o que ele estaria fazendo ali tão cedo.

— Veio para irmos embora? – perguntei rapidamente ao me sentar à mesa. – Podia ter ido. Sabe que eu posso ir sozinho. Era só me falar e eu pegava um ônibus depois.

— Cala essa boca Rafael. – meu pai mandou e o olhei perplexo. – O seu namorado fez o favor de aparecer com coisas deliciosas para nosso café da manhã e tudo o que você sabe fazer é perguntar se ele quer voltar para casa? – bufei. Odiava ficar sem entender as atitudes de Kevin.

Senti sua mão se encostar a minha e percebi que ele não estava na defensiva. A noite de ontem parecia ter ficado no passado. Sem conseguir me segurar eu descansei minha cabeça em seu ombro e acabei afundando meu rosto em seu pescoço sentindo as notas olfativas mais perfeitas que poderiam existir. Seu perfume era viril, picante e forte. Entre todos os que ele tinha alguns eram até mais fortes que outros, que chegam na frente, com o aspecto amadeirado ou verde, levemente mentolado. Porém, qualquer um deles em sua pele sempre fazia uma mistura arrebatadora.

— Você está me dando medo. – me olhou e sorriu.

— É muito bom ter você tão perto. – aspirei seu cheiro mais uma vez. Meu pai nos deixou sozinhos e ele olhou em meus olhos.

— Não dormi nada essa noite. O melhor hotel da sua cidade é péssimo. – dei uma risada. – Mesmo se ele fosse bom, o problema era outro... Queria vir atrás de você ainda de madrugada, assim que me acalmei. – abri a boca para dizer algo que eu nem mesmo sabia o que era e ele pediu que eu esperasse. – Desculpa. Não devia ter deixado que esses sentimentos com o meu pai viesse à tona e não tinha o direito de me sentir manipulado por você. Sei que, no fundo você só ficou entre a cruz e a espada... Eram os seus amigos e o seu namorado. É compreensível.

— Você não me odeia por entende-los? – lancei um olhar de cachorro perdido.

— Não tem como eu te odiar. – fez carinho em meu rosto. – Feliz um ano e seis meses de namoro meu amor. – sua mão direita segurou a lateral do meu pescoço e apressadamente começamos a nos beijar. O seu polegar se encostando em minha orelha e seu corpo ficando cada vez mais perto me fez reagir e o afastar. – Você é tão insensato. – olhou em meus olhos. – Respeite o seu pai. – pronunciou a última frase em um tom de voz bem baixo. Demonstrei a minha insatisfação revirando os olhos de um jeitinho que uma criança faria. – Desfaz esse semblante. Tenho um presente para você. – pegou sua mochila na cadeira ao lado e a abriu.

— Combinamos que não nos daríamos nada. – semicerrei meus olhos. – Não trouxe chocolates né? Isso não vai amenizar sua culpa. – sua risada saiu contagiante.

— Sei que combinamos. O meu presente inicialmente era simbólico, fazer mais parte da sua vida ao conhecer seus amigos... – dei um suspiro leve. – Como não deu muito certo e eu sabia dessa possibilidade... Tinha um plano B. Não se preocupe, não é nada de valor monetário, continua sendo simbólico. – franzi a testa.

— Ainda não entendi. – mostrei minha confusão com sua fala.

— Você conhece a minha história... – olhou dentro dos meus olhos e algo me dizia que ele não desviaria o olhar até terminar tudo o que iria dizer. – Superficialmente eu digo. Porque eu não gosto de contar os detalhes a ninguém. – não aguentei e baixei o rosto. – Desde bem cedo o meu pai começou com isso de que eu deveria ser alguém igual a ele. Então ele tentou de alguma forma injetar a sua maldade em mim. Primeiro ele me fez acreditar que eu não era querido, depois que eu era indesejado e por fim, que eu devia me transformar no pior pesadelo do meu irmão. Foi bem fácil, já que uma criança é influenciável e inocente. Ele como psicopata sabe manipular tudo muito bem. Porém, no meio disso tudo ele queria que eu superasse expectativas fantasmagóricas. Tudo isso era pesado demais para mim. – peguei em sua mão enquanto ele respirava fundo. – E... Eu tinha algo que de alguma forma me dava forças para continuar vivendo aquela vida infernal. – tirou da mochila um ursinho tradicional marrom escuro, muito fofo, com uma gravata borboleta verde. – Esse urso, que eu chamava de Teddy na época, me passava a segurança de que tudo ficaria bem. E era ele que eu abraçava quando estava em meus piores momentos. Com ele eu podia ser o fraco que o meu pai não me deixava ser. Ele estava como filho adotivo do ursão que você me deu, mas tenho que separa-los para que você fique com uma parte minha que ninguém nunca ficaria. – peguei o urso o abraçando, sorrindo em seguida e percebendo que os meus olhos estavam úmidos. – Quero também que compreenda isso como uma forma de te dizer ser você que eu vejo como a minha segurança e o meu porto seguro. Por isso o Teddy agora é seu e não meu.

— Você fazer isso é... Muito lindo. – fiquei mergulhado naquela piscina esverdeada que eram os olhos dele. – Preciso dizer que ele só me pertence porque não deu tempo de ser de outra pessoa.

— Tem que estragar tudo sempre né Rafael? – seu questionamento não estava carregado de nenhum sentimento negativo. Pegou o celular e leu uma mensagem. – Yuri quer saber porque não o responde e se vocês vão a uma tal de... – estreitou os olhos e pareceu ler o conteúdo duas ou três vezes. Peguei o aparelho.

— Domingueira arrasta-pé. – sorri e respondi ao questionamento no celular.

— O que é isso? – dei uma risada da sua falta de conhecimento, visto que ele era tão inteligente.

— É um evento que tem forró e samba. – sua cabeça fez movimentos vagarosos de um lado para o outro.

— Rafael o que você faz quando sai com meu irmão? – vi que ele estava segurando o riso. – Ah... Você obviamente arrasta o pé. – suspirou e passou os braços em volta da minha cintura. – Não sei como estou um ano e seis meses ao seu lado.

— Nem eu, não temos nada a ver. – ri alto.

— Para mim isso é um elogio. – o mordi bem forte e ouvi seu gemido antes de cair na gargalhada novamente.

Sabia que era sempre ele que dava os primeiros passos para nos resolvermos em nossas brigas e que isso poderia soar injusto. Entretanto, eu não podia dizer que não gostava disso. Esse detalhe tornava tudo muito mais fácil. Além de esperançosamente me fazer acreditar que poderíamos sim, ter algum futuro junto, já que ele sempre consertava o que eu estragava.


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Notas finais do capítulo

Nem vou prometer dia certo, rs.



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