Amor Perfeito XV - Versão Kevin escrita por Lola


Capítulo 6
Nove meses


Notas iniciais do capítulo

Ontem deu um pique de energia quando eu estava quase postando, como uma boa leonina eu fiquei muito nervosa e fui tentar dormir :) (nem sei se é característica msm, mas culpar o signo é de lei)
Boa Leitura ♥



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Rafael Narrando

Uma coisa que todos falavam, mas que quase ninguém realmente reparava de verdade era no quanto a adaptação de Arthur estava sendo difícil. Eles olhavam o que ele estava passando superficialmente, mas eu que vivia com ele sabia o inferno que ele estava atravessando.

“Se eu tiver que te perguntar de novo o que você tem, amanhã de manhã você vai me ver ao seu lado na sua cama.”— ouvi a fala de Kevin do outro lado da tela e sorri. – “Não disse isso pra te agradar Rafael, não leve como uma coisa boa.”

— É que não é sobre mim, então não queria falar nada.

“O que aconteceu? Diz logo.”— seu tom de imposição não me deixou outra alternativa, então tive que contar tudo.

— Arthur quase teve um ataque de pânico. – sua expressão mudou totalmente.

“Igual aconteceu comigo aquela vez?”

— Não. Ele conseguiu focar em alguma coisa e se acalmou, mas... Eu estou muito preocupado com ele. É a pessoa mais teimosa que eu conheço no mundo. Ele nunca vai admitir que não está bem.

Ficamos nos olhando. Se ele tocasse no nome do Murilo eu juro que eu iria quebrar aquele telefone.

“Vou ir esse fim de semana. Acho que vai ser bom pra ele ter Alice por perto.”

— Então... – respirei fundo. – Só que Larissa não sai daqui.

“Posso dormir com você?”— ouvi a voz da irmã do meu “inimigo”. Kevin sorriu positivamente para a garota.

— Vou deixar você com ela e vou desligar. – notei que ele não gostou nada da minha fala. – Eu estou cansado Kevin. Trabalhei muito hoje.

“Tudo bem Rafael. É o que você diz todos os dias. Só fica de olho pra mim, por favor. Quando ele volta a trabalhar?”

— Quando a psicóloga dele liberar. Ainda não sabemos. Achei que seria por esses dias, mas...

Vi Alice se deitar e passar os braços em volta do corpo de Kevin. Sorte a dela poder dormir com ele todas as noites. Nos despedimos e eu fui até o quarto de Arthur ver como ele estava. Eu o encontrei sentado na beirada da cama, ele segurava os dedos e sua respiração era carregada. Isso não era nada bom.

— Arthur? – ele me olhou e começou a passar as mãos nas pernas.

— Não quero deitar pra dormir. Sempre que faço isso... – esfregou uma mão na outra e respirou fundo por diversas vezes. – Vem várias coisas ruins na minha cabeça. – me sentei ao seu lado.

— Quer que eu fique aqui conversando com você até que durma? – ele não me olhou e continuou com os movimentos repetitivos e a respiração pesada e irregular. De repente ele se levantou e pegou um remédio, voltando a se sentar em seguida. – O que é isso? Sua vó te deu os dela para dormir também? – quase sorri. Era a cara da Isadora fazer isso.

— Não. Só você a convence dessas loucuras. Não sei que apego é esse. – respirou ainda mais fundo. – Foi o meu médico.

— E você não decidiu ainda se vai tomar? – ele ficou pensando no que iria responder.

— Na verdade não. Eu já sei que não quero. Mas estou com tanto pavor de perder o controle.

— Em todos esses anos que eu te conheço eu nunca te vi tão assustado. – parei de olha-lo e encarei o chão. Pensei bastante em alguma forma de ajuda-lo. Peguei o remédio de sua mão e voltei com ele para onde estava. Depois me sentei novamente. – Quer ligar para o seu primo? Talvez ele te ajude. Acho que ele melhor que ninguém pode te entender.

— Você sabe muito bem que eu não me sinto confortável para fazer isso.

— Se eu que morro de ciúme dele, todas às vezes que precisei mesmo desconfortável pedi por sua ajuda, por que você não faria?

— Isso não envolve alguém nu em cima de mim. Acho que você tem motivação o bastante. – dei uma risada.

— Certamente. – concordei. Ficamos alguns segundos em silêncio. – Não sei se ajuda, mas eu te entendo. Não completamente, claro, mas... Sei como é ser atingido pelas atitudes de Caleb. – olhei para a minha perna e a cicatriz.

— Monstros existem e ele é o maior deles. – desabafou com uma voz baixa e frágil, demonstrando fraqueza.

— Você se acalmou bastante. – observei suas mãos. – Só que está bem triste. – o olhei nos olhos. – Vamos jogar um pouco? É bom que você fica cansado e consegue dormir. – ele não disse nada. Apenas se direcionou a sala e ligou tudo para que começássemos a jogar. Com o tempo ele relaxou e iniciamos uma conversa enquanto jogávamos. Eu o fiz rir como fazia no início quando ele era sério demais e eu o idiota que só falava besteiras. Ficamos horas naquilo, mesmo que amanhã meu horário de acordar fosse bem cedo. Não importava porque pela primeira vez eu senti que não precisávamos tanto assim do Murilo. Eu podia ajuda-lo sozinho e isso era muito gratificante.

Acabamos dormindo no sofá mesmo e no meio da madrugada ou um pouco antes de amanhecer, não sei ao certo, Arthur teve um pesadelo. Ele começou a se mexer muito a ponto de me acordar.

— Você tá em casa. – sussurrei levemente e ele me abraçou parecendo dormir de novo. Peguei meu celular que estava na mesa no canto do sofá e tirei uma foto mandando para o Kevin.

“Ele realmente não está bem.”— ele respondeu na mesma hora.

“Você ainda não dormiu Kevin?”

“Estou preocupado com ele. Sabia que toda aquela agressividade escondia alguma coisa. E Alice também não está legal. Desde que eles ficaram e ele não foi mais atrás dela percebi que suas emoções novamente estão derrapando. A médica já havia dito que qualquer grande estímulo muito negativo faria isso. O pior é que eu não posso nem brigar com ele agora.”

“Entre os dramas deles e os nossos dramas sobra algum tempo pra pensar em seu próprio bem? Você precisa dormir.”

“E você também. Amanhã a gente conversa.”

Não sei se era mais uma das minhas paranoias, no entanto eu sentia que Kevin e eu estávamos cada vez mais distantes. Mesmo que totalmente juntos. E enxergar isso era doloroso. Eu tive vontade de chorar e implora-lo para mudarmos isso. Ficou só na vontade. Sabia que o que devia fazer mesmo era deixar o tempo passar e tudo se resolver sozinho.

Kevin Narrando

Não estava em meus planos ir todos os fins de semana a Torres. Era longe, cansativo e não valia a pena por apenas um dia praticamente. Porém se fosse preciso fazer isso pelo meu irmão, eu faria.

— Isso aqui foi o que eu vi? – questionei a ele após ver Larissa sair da cobertura. Ele ficou extremamente sem graça. – Que passe por todas as histórias que tiver que passar Arthur. Mas eu imploro que ao menos seja fiel aos seus sentimentos.

— O que estou sentindo é que não consigo estar com Alice. – se sentou no sofá. – O que eu posso fazer? – ergueu as sobrancelhas. – Ficar sozinho pra sempre?

— Até perde-la de vez. – ele ficou me olhando de um jeito enigmático. – O que foi?

— Engraçado você dizer isso. Ele ainda te ama... Mas pode não amar mais amanhã. – o meu silêncio demonstrava que ele não podia estar falando sério.

— Que loucura você está dizendo?

— Você acha que não importa quantas pessoas passem por mim, eu sempre vou retornar a Alice e eu acho que todos os caminhos levam você a Murilo. – pra ele dizer isso com tanta tranquilidade e em um tom de voz tão elevado Rafael não devia estar ali. – É sábado de manhã, só que ele teve que ir acompanhar uma obra. – sorriu adivinhando os meus pensamentos.

— Por que você está dizendo essas coisas?

— Porque se não fosse assim não seria ele o único a conseguir te trazer de volta do inferno e o Rafael aquele que infelizmente é temperamental o suficiente pra te fazer ficar perdido.

— Você é meio confuso. Um dia luta por nós dois e não o deixa me perder e no outro diz isso.

— Quando eu contei a ele que não vejo mais vocês dois juntos eu sabia o que estava dizendo. E eu não jogaria isso na sua cara se você não tivesse dado a sua opinião sobre mim primeiro.

— Dizer que é errado você estar com a Larissa te incomoda tanto?

— Não. Eu só sou justo. E não sou cego. Só dei minha opinião, igual você. Desculpa se doeu. – me olhou demonstrando estar tranquilo.

— Você costuma estar certo sobre as coisas... E se for isso mesmo? – me rebaixei e ele se sentiu ainda mais seguro.

— Eu estou certo. É muito óbvio que todos os caminhos levam você a ele. E é fato que ele consegue coisas que ninguém consegue. A dúvida não deveria ser “e se for” e sim outra.

— Qual? – ele sorriu novamente.

— Quando vai deixar de ser. – sorriu mais ainda.

— Não sei pra que perder meu tempo com você. – suspirei. – Rafael vai demorar?

— Estou com cara de Ravi? – dei uma leve risada.

— Pelo menos o sexo com ela tá te fazendo bem né?

— Você não acha que tá próximo demais de Alice? – sorri. – O que foi?

— Tá mudando de assunto. – me encostei a bancada e cruzei os braços.

— Só estou constatando o que estou vendo. – nos olhamos. – Cuidado que daqui a pouco o seu namorado vai implicar com isso. – continuei sorrindo. – Não me olhe como se isso fosse impossível, conhecemos muito bem o Rafael.

— Não acho que seja esse o caso. – seus olhos se estreitaram e ele ficou me analisando. – Só a levei para passear ontem, qual é o problema nisso?

— Nada. – se virou pra frente. – Foram a um parque de diversão? – mordi a boca para não rir. Ainda bem que ele não podia me ver.

— Se você viu as fotos e os vídeos então você já sabe. – sua cabeça girou para trás e eu pude sentir seus olhos me fuzilando. – Sim Arthur, fomos a um parque de diversão. Quais são suas outras dúvidas?

— Nenhuma. – não era legal eu ficar fazendo isso com tudo o que ele estava passando então resolvi ser pelo menos um pouco sincero.

— Ela tá voltando a ficar bem triste. Eu a levei para ver se a animava um pouco.

— Não parecia nada triste. Pelo contrário, eu vi muita risada e brincadeira.

— A ideia era essa. Se fosse pra sair e continuar do mesmo jeito não fazia nenhum sentido.

— E além de se divertirem tanto tiveram a ótima ideia de parar algum desconhecido e pedir para ele tirar uma foto de vocês dois abraçados, você com os braços na cintura dela e ela no seu pescoço e com os rostos quase colados. Uma foto de casal. Que tal se ajoelhar e pedi-la em casamento? – não aguentei e ri.

— Você realmente está com ciúme de mim?

— Vocês têm uma porra de uma foto de casal Kevin.

— Isso é o de menos. A gente dorme junto Arthur. Já nos vimos nus. Ah e se você esqueceu... A gente também mora junto.

— E se você já esqueceu, ela já se apaixonou por você.

— E se você também se esqueceu eu nunca me apaixonei por ela. E eu não gosto do que ela tem a me oferecer.

— Será mesmo Kevin?

— Ah! – me sentei no outro extremo do sofá. – Agora você vai duvidar da minha orientação sexual?

— Por que você parece estar se divertindo com isso? É um assunto bem sério, não é? Otávia me ensinou muita coisa.

— Claro que ensinou. – sorri. – Ela é ótima nisso.

— Você continua sorrindo Kevin.

— E você continua nervoso.

— Você não está pagando de casalzinho pra me provocar né?

— Por que eu faria isso? Você fez a garota ter a primeira vez dela e nem a procurou mais... Mesmo já sabendo que isso era importante pra ela. – afirmei de um jeito bem sério. –  Então eu não tenho motivos pra te provocar. Só estou preocupado com a minha amiga e tenho essa proximidade com ela.  – me virei pra frente. Depois voltei a encara-lo. – Eu queria saber mais sobre seu nervosismo.

— Eu já disse. Ela já se apaixonou por você. Esse assunto é muito  delicado.

— Essa é uma ferida que nunca vai se fechar?

— Não é isso. Ela tá magoada, é frágil. Você tá próximo demais. Conheço Alice... Por favor, Kevin... Se afasta só um pouco.

— Semana que vem eu faço um ano e quatro meses de namoro e ela está me ajudando a pensar em alguma coisa, já que eu já fiz tantas surpresas para Rafael... Se – o encarei. – Você der uma ideia melhor que a dela eu te faço esse favor. Caso contrário... Deixa minha pequenininha no meu colo porque eu não vou deixar de cuidar dela.

— E tudo termina em Rafael. Como sempre.

— Não posso evitar. Eu o amo.

— Oi. – aquela coisa linda entrou e eu sorri no mesmo minuto. Ele veio me dar um beijo e percebeu que havia acontecido algo.

— Ele tá incomodado com o fato de Alice estar muito próxima a mim. Isso te incomoda?

— De jeito nenhum. – afirmou de uma forma bem sincera e convincente. – Amorosamente não. Às vezes eu me sinto um pouco deixado de lado por causa dela e outras vezes eu a associo ao irmão, mas... Na maior parte do tempo consigo entender que não passam de melhores amigos. E além do mais ela é uma garota. – sorriu e me beijou novamente. – Isso é o que mais me deixa tranquilo.

— Até o meu namorado possessivo acha essa ideia ridícula.

— Ele acha mesmo que vocês dois podem ter algo? – nos olhou. Concordei.

— Você só acha impossível porque quando ela estava apaixonada por ele você estava chapado demais pra prestar atenção. Isso existiu no início do abrigo, lembra?

— Sabe o que também existiu no abrigo? – Rafael o encarou friamente. – Se tem algo que eu não gosto de lembrar é desse período. – foi para o quarto.

— Pronto. Você já arrumou problemas pra mim. Satisfeito? – sorriu descaradamente.

— Não era essa a intenção, mas estou sim.

— Minha oferta foi retirada. – me levantei. – Não precisa pensar em nada porque eu não vou te fazer nenhum favor. Aguente conviver com o fantasma da dúvida se ela vai se apaixonar de novo ou não.

— Isso não é uma brincadeira. – eu o encarei. – Eu já disse que ela está muito fragilizada e Alice tem um problema sério Kevin. Não brinca com as emoções dela.

— Você devia dizer isso a si mesmo. Ah não. Agora já é tarde demais. – ficou sem respostas deixando meu sorriso ainda mais espontâneo.

Entrei no quarto e Rafael estava indo tomar banho. Sabia que ele estava bravo por lembrar do meu namoro, então me deitei e esperei que ele voltasse e estivesse mais calmo.

— Sabe o que eu acho? – ele perguntou enquanto se secava. – Para de me olhar com essa cara de safado, é sobre o Arthur. 

— Não pode ser outra hora? - questionei esperançoso.

— Eu acho que você tem que ouvi-lo.

— Um ciumento sempre entende outro. – sorri.

— Faz o que achar melhor Kevin. Só que seu irmão já está sofrendo e trazer mais um motivo para ele sofrer é muita covardia.

— E o sofrimento dela não conta?

— Ele foi sequestrado, o prenderam e bateram nele por semanas, tudo por culpa do próprio pai. Ela apenas teve seu sonho de princesa destruído. Alice vai superar. Aquilo que ele passou eu não sei se tem alguma forma de superação. – fiquei sem saber o que dizer. Talvez ele estivesse certo.

— Mas eu ainda me preocupo muito Rafael. Ela tem esse problema que faz com que seja elevado demais o jeito com que ela sente tudo.

— Vamos ser sinceros? Ela tem o mesmo poder que o irmão e os dois te controlam. Eu já disse isso.

— Não é esse o motivo. Eu me preocupo porque mesmo após eu fazer tanta coisa suja e cruel ela foi capaz de me perdoar e quando eu estava quase morrendo de dor sozinho, ainda que com motivos para me odiar, ela não saiu do meu lado. Alice é digna de toda minha preocupação. Se você não entende isso infelizmente não é a pessoa certa para estar ao meu lado. – sua testa enrugou e os olhos se iluminaram.

— Você terminaria comigo por causa dela? – estranhei o quanto seca sua voz ecoou.

— Não seria fácil, mas terminaria sim. – respondi pausadamente.

— Você tem noção que está colocando Alice em um lugar de importância bem maior que o meu?

— A questão aqui não é essa. É a sua incapacidade de compreender o quanto faz sentido eu me preocupar com ela. Você está em um daqueles momentos em que a associa ao irmão e isso é errado. Os dois não se unem, não são a mesma coisa e muito menos a mesma pessoa.

— É tudo ele. Consegue entender?

 - Consigo. E eu não vou discutir sobre isso, acordei antes de amanhecer, dirigi por horas e estou cansado. Vim só pelo Arthur e ele já me recebeu cheio de pedras, você pode pelo menos ser um bom namorado e ficar comigo? – ele ficou me olhando e começou a morder uma unha, o que achei bem fora do comum já que ele quase nunca fazia esse tipo de coisa.

— Você acha que isso que estamos fazendo é certo?

— Isso? – minhas sobrancelhas se juntaram.

— Nosso namoro. – bateu as mãos. – E se for a hora de pararmos de tentar?

— Eu não vou conseguir sair desse relacionamento te amando, então se for... Você vai ter que chegar nessa conclusão sozinho e terminar comigo.

— Nada faria você sair desse relacionamento se ainda me amar Kevin? Agora mesmo você... – o interrompi.

— O único motivo real que me faria terminar com você seria se me traísse. Caso não entenda minha relação com Alice eu vou te fazer entender.

— Eu entendo. Eu tenho ciúme é de outra pessoa e ela é muito próxima a ele.

— Então pronto. Se eu não terminei até hoje por causa do seu ciúme não termino mais, agora cala a boca e vem cá.

— Com esse carinho todo não tem como dizer não. – se deitou ao meu lado.

— Com você é só usando a estupidez mesmo. – o olhei. – Se não fosse tão difícil talvez eu ainda não estivesse ao seu lado. – ele enfim deu um sorriso.

— É. Eu tenho que concordar. Você ama um desafio. – fiquei olhando em seus olhos e fiz carinho em seu rosto. – O que foi?

— Tudo o que eu estava querendo há minutos atrás era o seu corpo e essa cama, mas eu mudei de ideia ao perceber que talvez você precise de outra coisa.

— Que coisa? – selei nossos lábios.

— Conversar. – ele sorriu parecendo concordar.

— Tenho que te contar como foi a terapia dessa semana. – contou animado. – Até que fizemos um progresso. – dei uma risada.

— Na sua cidade o aprendizado é um pouco ruim né? – me olhou sem entender. – Você não sabe muito bem o conceito de progresso. Depois disso tudo que aconteceu hoje você tem coragem de afirmar que fizeram algum progresso? – perguntei quase rindo. – Você sabe que eu estou brincando né?

— Sinto falta de você aqui todos os dias, a gente brincava tanto. Lembra?

— Só mais nove meses. E aí você vai dizer que sente falta de mim longe. – rimos juntos.

— Eu acho que você tem razão.

— Sim, eu tenho. Eu não vou desgrudar de você. Não vou te deixar em paz. Você vai dizer que quer se mudar, que se sente sufocado e talvez até me peça um tempo. – me beijou rapidamente.

— Isso nunca vai acontecer. – nos olhamos de perto e eu quis ter o poder de fazer esses noves meses virarem nove dias.

Duas e quarenta. Sábado. Ryan estava me esperando na casa dele e eu cheguei atrasado, já que fiquei pra almoçar com Rafael e não queria jamais sair de lá. Mas minha mãe havia me convocado para uma reunião, que segundo o drama dela era de vida ou morte. O fato é que a deixei esperando e fui primeiro resolver outro assunto.

— Você fumando? – perguntou quando me atendeu na porta.

— Só você pode? Exclusividade sua? Comprou o direito de ser o único fumante? – ele riu e ficou me olhando.

— Entra. – continuei parado.

— Não. Vamos conversar aqui fora. Estou com pressa. – fechou a porta e nos encostamos em meu carro. – Fez o que te pedi? – o olhei.

— Fiz. Não descobri nada. – bufei.

 - E Nicolas? – balançou a cabeça negativamente.

— Foi pra cidade dele. Passou para o curso que ele tanto queria e está estudando. Talvez você não o veja mais com tanta frequência e ele deixe de ser um problema. – tirou o cigarro da minha mão e jogou no chão pisando em cima. – Isso não combina nada com você. Você não fuma. O que tá pegando? Tá apaixonado por uma mulher? – o encarei com tédio.

— Para isso acontecer eu teria que gostar de mulher.

— Só quis descontrair. – sorriu. – Sério, o que tá rolando? Tá inseguro com o plano? – ele percebeu que sim. – Eu disse desde o inicio que é kamikaze, você não se importou.

— Só faz sua parte. Foda-se se der errado.

— Sempre que dá errado Caleb ganha, já percebeu? Vai ser catastrófico e ele vai só comemorar.

— Seu pessimismo embrulha meu estômago. Eu não devia nem ter vindo aqui. – entrei no carro e fui embora.

Cheguei em casa e minha mãe me recebeu cheia de sermão sobre eu não ter ido pra lá quando cheguei e sim direto pra cobertura. Depois de falar muito é que ela entrou no assunto que tanto queria.

— O seu pai te criou te ensinando tudo para que pudesse substitui-lo. Eu não sabia que entre tantos ensinamentos houvesse tanta coisa ruim... – a cortei.

— Pode pular a introdução?

— É que como eu sei que você tem ciência de tudo o que ele faz... Eu preciso de você agora. O seu pai está totalmente fora de controle. Ele tem feito negócios com coreanos. E meu pai já me disse que eles são impiedosos. Eles não vão aceitar as traições e armações do seu pai igual o pai de Kemeron ou os sócios dele de Alela ou os daqui. A lista de inimigos dele já é grande Kevin. Você precisa protegê-lo. – dei uma risada alta.

— Ficou louca? Eu? Proteger aquele doente que deixou o filho ser sequestrado?

— Era pra ser você. – a olhei na hora. – Ele mentiu que amava mais Arthur e implorou que não fizessem nada com ele, sabendo que logicamente fariam. Todos sabem que Yuri não significa nada pra ele, mas Arthur ele ainda consegue aumentar o sentimento que já tem por ele. Já com você... Ele não admite que encostem em você. Ele morreria. E ele fez tudo pra salvar o seu irmão Kevin. Eu sei disso.

— Não foi o suficiente. E hoje ele sofre de uma forma que você não pode imaginar. Ele devia ter deixado ser eu. Sabia que eu aguentaria. Foi ele mesmo que me preparou pra isso.

— Eu ainda não disse a ele que você vai desistir da faculdade. – me olhou nos olhos. – Sei que isso vai fazer com que ele já comece a tramar uma forma de te colocar no hotel. Você já pensou no que vai fazer? Não pretende voltar pra cá e viver do seu namoro né? Já tem idade o suficiente, não é mais um menininho.

— Vou começar a fazer uma lista. Você quer que eu proteja meu pai, que eu decida meu futuro... Mais o que? Estou anotando mentalmente.

— Deixar de ser sarcástico podia entrar nessa lista.

— É um dom, não tem como. – me olhou com raiva. – Mãe... Eu não vou fazer nada por ele.

— Nem por mim? – passei a mão em meu cabelo. – Você sabe que eu o amo Kevin. Não posso perdê-lo.

— Ama mesmo? Por que então perde tanto tempo trabalhando viajando e não aqui com ele?

— O que adiantaria eu estar aqui se ele só trabalha também?

— Vocês só pensam em dinheiro. É isso que me afasta tanto de vocês. E sabe de uma verdade? Nossa família sempre foi desestruturada, se não fosse Mark e Isadora para trazer essa ideia de união, acho que não continuaríamos juntos.

— Eu já teria te colocado em um internato.

— Por que? As coisas que eu fazia eram só herança do meu pai. O diabo mora dentro dele e você é que nunca percebeu. Mãe nossa conversa encerra aqui.

Sai antes que ela continuasse tentando me manipular com chantagens emocionais ou qualquer artifício que fosse. Eu não cederia. Se ele estava se arriscando, o problema era somente dele. As escolhas eram dele. Me colocar no lugar de culpado, pensando que ele estava fazendo isso para deixar um bom legado e conforto era idiotice. Eu era mais eficaz que isso.


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Notas finais do capítulo

Acho que até amanhã (ou terça ou quarta rs) ♥



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