Nosso querido Dumbledore está afastado de sua cadeira cativa no Profeta Diário, então temos uma novidade por aí! Vamos torcer para alguém à altura! #ForçaDumbledore #Novidadeavista

Rita Skeeter - via Twitter

Já fazia quase uma semana que os burburinhos dentro da Rede Grifinória de Telecomunicações não falavam de outra coisa além do afastamento de Albus Dumbledore - o jornalista mais experiente da casa - de seu posto como apresentador do Profeta Diário. O senhor de idade avançada estava com alguns problemas de saúde que o impediam de continuar aparecendo diariamente nas telas do país inteiro como fizera por anos.

Hermione Granger estava entre as pessoas mais preocupadas com o caso. Há seis meses a jornalista tinha sido escalada para atuar na posição de companheira do velho Dumbledore no telejornal noturno de maior audiência da emissora. Ainda se lembrava, com uma felicidade juvenil, do dia em que recebera a notícia de sua promoção. Os seis anos em que trabalhara duro na parte editorial do jornal serviram para que seu talento fosse reconhecido.

Aprendera muito ao apresentar o programa do lado de alguém tão cheio de conhecimento. Dumbledore tornara-se um mentor de primeira qualidade, além de um amigo querido, no entanto, sua licença acarretava outro problema: havia um local vago ao seu lado. Por mais que não fosse se importar de apresentar o jornal sozinha, ela sabia que os idealizadores do programa, bem como os produtores e diretores, preferiam a dinâmica em pares.

Ela não podia negar que estava um tanto apreensiva para saber quem seria colocado para dividir a tela com ela. Não suportaria ter que trabalhar com alguém desagradável, mas preferia manter a crença de que seus chefes não escolheriam uma pessoa imprópria. A morena sabia que, na noite anterior, a emissora havia dado uma declaração oficial sobre a saída do jornalista mais velho, de forma que a probabilidade da internet já ter espalhado a notícia era altíssima.

Desde que assumira como âncora do Profeta Diário, passara a checar mais suas redes sociais, pois o interesse popular por ela tinha aumentado exponencialmente, então abriu o aplicativo do twitter para verificar como andavam os ânimos. Não ficou surpresa com o fato de Rita Skeeter já ter alardeado notícias e suposições aos quatro ventos.  A blogueira era uma das maiores influenciadores digitais do país e nada passava incólume de seus olhos de lince. Essa exposição toda não a agradava então mantinha sua vida sempre discreta, não gostaria de milhares de pessoas sabendo cada um de seus passos. 

Faltando precisamente dez minutos para as duas da tarde, horário em que seu expediente começava, Hermione atravessou, sem prestar atenção aos detalhes, o estacionamento subterrâneo de funcionários onde deixava seu carro todas as tardes. Passou pela catraca da recepção, parando apenas para acenar um cumprimento para Flitwick. O senhor baixinho cuidava da portaria dos funcionários desde que a empresa tinha surgido, sempre muito atencioso e simpático com todos.

Dividindo o elevador com mais três pessoas que não conhecia, Hermione subiu os andares checando o feed do instagram, até que a voz metálica anunciasse a chegada ao seu destino. O décimo andar era todo destinado aos estúdios jornalísticos do programa matutino e noturno da emissora. A correria de funcionários de um lado para o outro era algo totalmente corriqueiro, notícias mudavam o tempo inteiro e, portanto, as pautas também, fora que uma miríade de imprevistos parecia fazer questão de surgir para contribuir com o clima já agitado do local.

Hermione passou cumprimentando a todos que encontrava no caminho e se dirigiu rapidamente para o corredor que levava ao seu camarim. Mal tinha passado da primeira porta na fileira de cômodos que terminava com aquele que lhe pertencia e foi alcançada pelo rapaz de cabelos escuros que sempre tinha o script de seu dia em mãos. Harry Potter era o produtor do programa que a morena apresentava, além de ser seu amigo mais antigo na casa. Os dois começaram praticamente juntos na empresa, por mais que Harry fosse filho de ninguém menos que os fundadores daquele império todo. 

Mesmo podendo se cercar de privilégios e regalias, o jovem Harry nunca quis ter mais do que fosse capaz de merecer por seu esforço, então começou de baixo assim que saiu da faculdade de comunicação. Claro que em um local como aquele, a fofoca corria solta, mas não era de senso comum que o garoto fosse, na realidade, herdeiro de tudo ali, o que ele preferia manter assim. Sempre dizia à amiga que era mais fácil ter uma vida tranquila quando as pessoas não conheciam sua cara como o rosto de um jovem milionário herdeiro de um império.

—Já ouviu a novidade? - Harry alcançou a amiga a caminhou ao seu lado carregando o tablet onde averiguava as pautas do dia.

—Aparentemente não, pode me dizer que eu sei que está doido para isso - a morena riu com a cara de falso ultraje do amigo. Harry era sempre ligado em tudo que acontecia dentro daquele prédio e, aparentemente, de todos os outros, além disso, adorava ser a pessoa a dar notícias, Hermione se perguntava por que ele nunca se interessou em seguir a carreira de jornalismo.

—O novo âncora do Profeta Diário já foi selecionado.

—Já? Quem é? - o sorriso satisfeito de Harry aumentou ao ver o interesse crescente da amiga.

—Eu ainda não recebi o portfólio, mas aparentemente é um dos nossos correspondentes dos Estados Unidos que retornou recentemente à Londres.

—Só espero que não seja um babaca - Hermione destrancou a porta do camarim, acendeu a luz e se jogou no sofá, sendo seguida de perto por Harry.

—E eu espero que não estrague o meu jornal, a audiência subiu bastante desde que você entrou no ar - Hermione se sentia feliz de saber que seu trabalho vinha agradando os espectadores. Tinha consciência que a mídia televisiva estava perdendo muito espaço para a internet nos últimos anos, portanto, conseguir ser relevante nesse meio era um desafio que ela estava adorando encarar.

—Quando ele chega?

—A McGonagall me mandou uma mensagem dizendo que o cara vai aparecer aqui ainda hoje, como é sexta, você ainda vai apresentar sozinha, mas a partir de segunda já estaremos com o quadro preenchido. Precisamos passar todos os detalhes para ele durante o final de semana para que isso não seja um fiasco. 

Minerva McGonagall era a diretora geral do jornal, a senhora tinha muito domínio do que fazia e não brincava em serviço. Se ela decidiu que o novo âncora começaria na segunda-feira, então assim seria.

—Qual é a experiência dele com apresentação? - a morena estava ansiosa de ter que lidar com alguém cru e acabar sendo levada junto para um mar de baixa audiência.

—Até onde eu sei, nenhuma, mas você sabe que isso não quer dizer nada, você também era inexperiente quando foi escalada e olha só como se saiu.

—Não adianta me adular, só vou ficar tranquila quando constatar com meus próprios olhos - Hermione passou os dedos pelos cachos revoltos que em breve seriam meticulosamente estilizados pela equipe de maquiagem e figurino.

—Mione, relaxa, mesmo que o cara seja uma porta, não é como se o Profeta Diário fosse ser cancelado, no máximo ele vai ser trocado - Harry deu de ombros, sabendo que o que falava era verdade. Certos programas eram tão tradicionais que ultrapassavam a “cara” que se desse a eles.

Ele tinha feito uma grande campanha para repaginar o jornal assim que soube do afastamento de Dumbledore. Gostava muito do senhor e sabia que o programa tinha qualidade, porém Harry queria trazer a emissora para o século 21 e isso implicava em novos rostos, novos ares, mais informalidade e interação com o público. Sua esperança era de que tivessem contratado um rapaz mais jovem, como Hermione, e carismático para fisgar o público além da necessidade básica de ser informado.

—Bom, vou te deixar trabalhar, as pautas já estão no seu e-mail e a equipe de direção vai passar daqui a apouco - Harry levantou com um pulo, pronto para começar seus afazeres também, um jornal não se produzia sozinho - quando o novato chegar, eu mando te chamar.

—Obrigada, Harry, até mais tarde.

Hermione ainda respirou fundo mais algumas vezes antes de se sentar diante da mesa ampla, que continha seu notebook e outros apetrechos tradicionais de escritório, e iniciar o equipamento para começar o trabalho do dia. Estava entretida com o material, lendo com atenção sobre as tensões políticas com os outros países do bloco europeu quando uma batida firme soou em sua porta e uma cabeça loira surgiu entre a fresta recém aberta.

—Olá, senhora Granger, boa tarde - a jovem de longos cabelos pink entrou com seu costumeiro sorriso no rosto.

—Olá, Olívia, já falei que nada de senhora! Vamos precisar de mais seis meses pra você se acostumar - ela sorriu para sua assistente.

—Tudo bem, eu sempre esqueço - Olívia deu de ombros - a minha mãe me mataria se me ouvisse te chamando de Hermione.

—Besteira dela, sou só uma pessoa.

—Uma bem famosa - ela caminhou até a mesa de Hermione para deixar os papéis que viera trazer.

—Você já trabalha comigo tempo o suficiente para saber que isso não importa - a morena passou os olhos pelos memorandos.

—É você é legal - Olívia zombou, fazendo a chefe rir.

Hermione gostava de ter Olívia como sua assistente. A menina era jovem e completamente o que você não esperaria encontrar dentro de uma tradicional emissora de Tv, porém era esforçada e muito competente, além de bem humorada. Estavam se dando muito bem.

—A Luna pediu pra avisar que o figurino já chegou, posso mandar ela entrar?

—Claro.

Não demorou muito depois que Olívia saiu para que mais uma batida soasse em sua porta.

—Hermione, posso entrar? - Luna esperou que a morena assentisse para caminhar com as roupas que trazia penduradas em um cabide.

—Ah, adoro esse terninho azul - ela ficou feliz ao ver o que tinham separado para que vestisse aquele dia. 

Luna era uma das integrantes da equipe de figurino, ficando responsável pela seleção das peças que ela, e o seu acompanhante, usariam. No começo, Hermione estranhara isso de usar roupas que não lhe pertenciam, mas depois viu que era um mal necessário já que nunca teria um armário tão vasto quanto o que precisava para aparecer cinco dias por semana na televisão.

—Também gosto, combina com seu tom de pele e contrasta bem com seus cabelos - a loira era sempre muito gentil e simpática, geralmente parecia com o pensamento longe do ambiente, mas Hermione aprendera que era apenas seu jeito meio avoado.

—Pode fazer a prova rapidinho para ver se tem algum problema? Depois você tem que ir até a sala de reunião, Harry e os outros figurões estão te esperando em vinte minutos - ela avisou.

—Posso, claro - Hermione concordou - você sabe do que se trata a reunião? - ela já imaginava que iria conhecer o novo apresentador, mas queria estar preparada.

—O novo âncora chegou - Luna não pareceu muito inclinada a dar mais informações.

—Você o viu? 

—Sim, o moço vale a pena olhar - o que Luna queria dizer com aquilo? Ela não era das pessoas que mais faziam sentido ao falar, então Hermione decidiu não insistir e descobrir sozinha dentro de alguns minutos.

Assim que a loira foi embora, ela se trocou rapidinho em seu banheiro. Saiu para se olhar no grande espelho que ocupava uma das paredes inteira, de frente para a penteadeira onde era maquiada e penteada diariamente. Gostando do resultado, ela voltou para onde estava antes e desfez o processo, colocando as peças de roupa de volta à maneira impecável onde tinham vindo.

Enquanto colocava de volta o vestido preto social com o qual viera, ela não deixava de pensar nas várias possibilidades para o novo colega de trabalho. Fechou o zíper que ficava na lateral do corpo, alisou o tecido que acabava logo acima dos joelhos e por último se certificou de que estava tudo no lugar com suas roupas e deixou a sala.

Ela notou um cochicho estranho pelos corredores enquanto caminhava para a sala de reunião, parecia que todos tinham visto algo de diferente no lugar e não paravam de falar sobre. Hermione só conseguiu escutar fragmentos de conversas entre os funcionários, mas o que conseguiu entender, lhe pareceu positivo. O novo apresentador não devia ser um inútil, no final das contas.

A sala da reuniões era cercada por paredes de vidro que, no momento, se encontravam fechadas por persianas. A morena estava se adiantando para abrir a porta quando Harry apareceu do outro lado, com um sorriso satisfeito.

—Ah, aí está você! Venha - ele a deixou passar e sussurrou para que apenas ela pudesse ouvir - não é um tapado.

O comentário fez Hermione morder a língua para não dar risada, mas o alívio logo a invadiu. No entanto, tão rápido quanto o alívio veio, ele se esvaiu.

—Hermione, quero te apresentar o mais novo jornalista do Profeta diário - a Diretora McGonagall falou assim que a garota se juntou ao restante dos chefes na mesa comprida - esse é Ronald Weasley

—Weasley?- ela repetiu, sem nem prestar atenção ao fato de parecer estranho, pois tinha problemas maiores para pensar.

Ali, olhando para ela e trajado com toda elegância em uma calça jeans escura e uma camisa social preta, estava a última pessoa que esperava encontrar para ser seu colega de trabalho. Os anos podiam ter passado, mas o ruivo dos cabelos, o azul daqueles olhos e - principalmente - o desenho daquela boca demonstrando um sorriso irritante nunca a enganariam.

Ronald Weasley estava de volta à sua vida.

—Olá, Hermione, só me falaram coisas boas de você - ele se levantou, ignorando totalmente o choque no rosto da morena e se adiantou para cumprimentá-la com um aperto de mãos que ela demorou alguns segundos para computar e devolver.

O ruivo parecia não se importar em ocultar o fato de que se conheciam de uma vida prévia àquele momento, então Hermione decidiu continuar com a dança, até entender  o que ele queria com aquilo. Ficou um pouco irritada por ele fingir que ela era uma desconhecida, mas era bem a cara dele…  Foram colegas de turma na faculdade e por anos disputaram as melhores notas e posições, não seria agora que ele facilitaria sua vida.

O número de brigas entre os dois no período da graduação tinha passado do aceitável e era sempre um espetáculo para os outros alunos. Ambos eram os melhores da sala e não queriam deixar de bom grado o primeiro lugar. Claro que ajudava o fato de que discordavam em quase tudo, Hermione costumava pensar que o ruivo fazia questão de querer as coisas de forma diferente do que ela propunha só para irritá-la. Em contrapartida ela fazia o mesmo.

Ainda lembrava que até no discurso de orador que ele fez durante a formatura, o ruivo conseguiu inserir provocações a ela e deu graças a Deus no dia em que seu convívio diário cessou e cada um foi para um lado diferente. Nunca se interessou em saber por onde o antigo rival se encontrava, porém, não esperava ter que lidar com ele de novo, principalmente para dividir espaço em horário nobre, ao vivo, em rede nacional. Ronald Weasley já tinha lhe causado tantos problemas que a última coisa que tinha por ele era confiança e interesse.

 Não foi com bons olhos que notou a maneira em como suas feições tinham ficado mais marcadas com o tempo, perdendo o ar juvenil e trazendo traços mais decididos. Os olhos continuavam desconcertantemente bonitos, duas piscinas cristalinas, a diferença de altura dos dois permanecia irritante e a voz ainda tinha o mesmo timbre grave que ela lembrava tão bem.

Os diretores levantaram alguns tópicos importantes nos quais Hermione não prestou a menor atenção, sua cabeça estava girando a uma velocidade imensa, tentando calcular em como aquela revelação podia ser prejudicial à sua vida. Só percebeu que a reunião estava chegando ao fim quando todos começaram a se levantar. Ela acompanhou o movimento, porém se dirigiu para o lado do ex-colega de turma, deixando que os outros se afastassem mais para que pudesse conversar um pouco encoberta dos ouvidos alheios.

—O que você está fazendo aqui? - Hermione foi direto ao ponto, mesmo em choque, não tinha ânimos para enrolações.

—Não está claro? Fui contratado para ser seu mais novo parceiro - Ron levantou uma das sobrancelhas, conseguindo irritar a garota da mesma forma que fazia todos aqueles anos antes.

—Você já sabia dessa palhaçada, não é? - por dentro, Hermione sentia todo o ressentimento antigo renascendo, principalmente ao imaginar que ele já estava mais do que preparado para essa situação e ela fora pega de surpresa.

—Claro que eu sabia, não moro numa caverna, como eu não ia saber quem apresenta o jornal mais famoso do país? - por mais que Ron quase sempre gostasse de provocar, ele pareceu bem honesto em suas palavras, não que isso tenha aplacado o descontentamento da garota.

—Por que aceitou? Veio continuar me infernizando? - não saía da cabeça de Hermione que Ronald Weasley jamais perderia uma oportunidade de tirar a sua paz e complicar a sua vida, só gostaria que, ao menos uma vez, ele assumisse o fato.

—Pode até parecer impressionante, mas o mundo não gira ao seu redor, ninguém recusaria esse emprego - o ruivo deu de ombros e contornou a cadeira onde antes estava sentado, pronto para se juntar aos outros integrantes da sala que conversavam em torno da cafeteira que tinha café fresquinho.

—Eu não vou te deixar estragar o meu trabalho como antigamente, Weasley! - Hermione falou entre dentes ao passar do seu lado.

Muitos exemplos de vezes que Ronald Weasley a atrapalhara durante o curso de jornalismo dançavam em sua mente, não podia permitir que se repetisse ali no seu local de trabalho. Ele adorava desconcentrá-la antes de apresentações importantes, discutir por divergências bestas, chegavam a implicar pelos detalhes mais insignificantes. 

—Não estou interessado nisso - Ron a assegurou, usando sua melhor expressão de seriedade, aquela que a morena tinha certeza que ele empregava para dar as notícias do dia na televisão - aquilo tudo era coisa de adolescentes, já somos crescidinhos, podemos trabalhar juntos não é, Mini?

Estava indo tudo muito bem naquele discurso, chegou quase a balançar a resolução de Hermione em não acreditar em nada que ele falasse, mas aquele apelido! O trocadilho com seu nome e sua clara falta de altura a perseguiu pelos quatro anos que conviveram. Ainda tinha a mesma capacidade de tirá-la do sério.

—Não me chame assim! - ela praticamente rosnou, tentando manter em mente que agora era uma jornalista respeitada e não mais uma estudante jovem e imatura. Não poderiam continuar agindo como antes, porém era muito difícil quando ele a olhava daquela forma. A surpresa toda ainda impedia que ela conseguisse se situar completamente.

—Você não mudou nada - o ruivo sorriu com o canto da boca, deixando aparecer uma de suas covinhas que a maioria das meninas achava irresistível, não ela.

—Vocês já se conhecem? - a garota escutou Harry perguntar, tinham terminado por falar alto o suficiente para que fossem ouvidos.

—Ah sim, Hermione e eu viemos do mesmo lugar, não é? Universidade de Hogwarts, turma 306 de jornalismo - Ron explicou, não dando nem tempo para que Hermione abrisse a boca.

—Olha, que maravilha! Isso vai ajudar muito na interação e na dinâmica de vocês, chegaram a trabalhar juntos?

—Algumas vezes - a morena disse, tentando ao máximo esconder o descontentamento, até por ver a empolgação no rosto de amigo. Harry estivera tão preocupado com a mudança de âncora no programa, não queria acabar com seus nervos ao dizer que preferia arrancar a cabeça do ruivo do que tê-lo como companhia diária.

—Minerva, eles são amigos de faculdade, olha que coincidência! - Harry chamou a atenção da diretora e Hermione não pode evitar olhar para Ron quando ouviu aquela palavra.

Amigos. Nunca foram nada nem próximo a amigos.

Ela pensou rapidamente, com certa admiração, que os dois nunca tinham sequer parado para conversar de outra forma que não fosse por meio de implicâncias ou brigas. Tudo que ela sabia de concreto sobre a vida dele fora contado por outras pessoas, pois ela nunca fora perguntar e ele tampouco se interessou em dizer. A garota não conseguiu lembrar de nenhuma situação em que tivessem partilhado de algum momento de amizade ou… houve aquela vez no bar, durante um happy hour da turma, mas… Não, aquilo não contava! Fora apenas um momento inconsequente e do qual ele provavelmente nem se lembrava, nada digno de recordações.

—Por esse acerto eu não esperava! - Hermione não gostou nada de ver o brilho nos olhos da diretora, todos os outros presentes na sala estavam sendo contagiados pela empolgação e o estômago da garota foi afundando mais e mais pois sabia que a verdade era o oposto.

—Acho que podemos fazer um ensaio para hoje e ver se arriscamos colocar o Ronald já nessa edição, o que acham? Temos quatro horas - se não soubesse que seria tão injusto, Hermione teria torcido o pescoço do amigo assim que essa ideia imbecil saiu de sua boca, mas não tinha jeito.

A garota olhou para o rosto do ex-rival e atual colega de trabalho e viu um sorriso enorme de satisfação decorando suas feições. Claro que aquilo subiu ainda mais a temperatura de seu sangue que já fervia de raiva. Ela não ficaria por baixo, mesmo que ainda se sentisse desequilibrada com o inesperado.

—Estou à disposição de vocês - o ruivo respondeu, como se para ele, trabalhar com Hermione não fosse nada demais.

Então para ela também não seria.

—Já estou em dia com as pautas, se o Weasley conseguir acompanhar, não vejo porque não - ela deu de ombros, satisfeita em ver um ruguinha de insatisfação surgindo por entre os olhos azuis.

—Vou conseguir - o sorriso dele agora era de desafio, ela não perdeu tempo em rebater da mesma forma - podemos começar?

—Claro, venha por aqui, Ronald - Harry indicou, indo até a porta.

—Só uma coisa primeiro, Potter. Me chame de Ron, esse negócio de Ronald pra cá e Ronald pra lá, me deixa parecendo um velho - o ruivo tinha o carisma habitual na voz, daquele mesmo jeito que Hermione vira convencer muitos professores e colegas.

Não era que ela não tivesse também o dom de conseguir ser ouvida e de atingir seus objetivos com palavras, mas o Weasley tinha uma cadência quase hipnótica que prendia a atenção em si como ela nunca vira antes. Hermione, no entanto, não caia na lábia.

—Claro, mas só se você me chamar de Harry.

—Combinado!

Hermione viu os dois se afastarem pela porta, mas não antes que Ron tivesse virado para ela e dado um último sorriso enervante. Se controlou para não torcer o nariz para aquela cena diante de todos. Foi rápido que a garota percebeu o fato de que não poderia tornar clara a sua inimizade para com o novo colega. Seus superiores, e até mesmo seu amigo, haviam ficado tão satisfeitos que seria quase colocar sua carreira a perder. E se tinha algo que não atrapalharia sua trajetória que estava tão boa, era Ronald Weasley.