Meios-Termos escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 3
Três




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Notando que havia uma bandeja de salgadinhos que precisava ser resposta, Caitlin a pegou e se direcionou à espaçosa cozinha do apartamento de Barry. Percebeu pelas caixas vazias que a maioria havia acabado e, por isso, resolveu utilizar os potes de costeletas de porco fritas, esquecidos no balcão por algum motivo, mas ainda quentes o suficiente. 

Com um pegador, começou a distribuir as mesmas de forma milimetricamente calculada sobre a travessa. Cozinhava bem, mas Barry fizera questão que não precisasse durante a despedida de Cisco. No fim, os dois haviam conversado e não restava nenhuma mágoa, exceto o leve sentimento de tristeza por vê-lo partir.

Era como se uma fase longa, conturbada e muito importante da vida deles estivesse chegando ao fim. Por isso, compreendia o motivo para Barry relutar tanto em aceitar que Cisco fosse embora. Dar adeus às coisas como elas eram parecia mais complicado do que se mostrar presente para o engenheiro e a decisão nada fácil que ele tomara.

Ao mesmo tempo, também via como Cisco, durante a semana em que os dois praticamente não se falaram, ficara abalado, pois ao mesmo tempo em que queria ir, também não queria decepcionar o melhor amigo, deixar de lado essa amizade ou deixá-los como um trio para trás, ao menos fisicamente falando, afinal ainda teriam algum contato.

No entanto, olhando para ele, confortavelmente acomodado no sofá da sala usando óculos coloridos, rindo, conversando e bebendo com quem amava, percebia que as coisas estavam retornando ao eixo. Não como costumavam ser, mas do jeito que precisavam.

Antes que pudesse terminar a reposição, Barry surgiu sob o portal da cozinha com uma taça de vinho vazia nas mãos. Havia se acostumado a beber apenas por diversão, sem a intenção de conseguir ficar bêbado, afinal era exaustivo para ele, mas vantajoso, ao menos para ela, pois incluía bons exemplares na adega dele.

Com os olhos, acompanhou quando ele se abaixou abrindo um dos armários para pegar outra garrafa e deu a volta no balcão, se aproximando. Pela forma como a olhava, aparentava estar mais leve e relaxado em comparação aos outros dias, mas parecia haver algo diferente nos olhos esverdeados e na postura, que não conseguia decifrar.

O ouviu abrir o vinho e silenciosamente completar a taça vazia dela, deixada a uma distância próxima de sua mão. Sentia os músculos menos tensos do longo dia no laboratório devido ao álcool, ainda que o velocista insistisse em se estabelecer logo ao seu lado, de costas para a bancada e o portal que dava para a sala, analisando seu rosto de maneira insistente.

— O quê? – Questionou.  

— Nada. – Ele deu de ombros, guardando a mão que não segurava a bebida em um dos bolsos, e Caitlin respirou fundo antes de levantar a cabeça para fitá-lo de maneira inquisitiva. O viu sorrir brevemente, mas não era exatamente um sorriso, pois parecia mais melancólico do que qualquer outra coisa. – Você não me contou sobre a proposta da sua mãe.

O tom dele foi baixo, não exatamente magoado, embora houvesse algo que não soubesse identificar. Por isso, Caitlin se limitou a se manter calada quando os olhos dele pareceram pressioná-la, embora só quisessem uma resposta adequada, pois a pressão vinha de si mesma. Deu de ombros, buscando a taça e vinho branco para molhar os lábios.

— Eu ainda não tomei nenhuma decisão a respeito.

Por algum motivo, Caitlin decidiu contar a mãe que buscava algo novo, que pudesse inspirá-la novamente, e Carla a convidou para fazer parte de uma pesquisa muito restrita na área de neurologia. É claro que fazia parte de seus interesses atuais, mas implicava se mudar para Nova York por, ao menos, seis meses e sabia que não podia abandonar o Laboratório justamente no momento delicado da partida de Cisco.

— Carla está animada. – Ele comentou, sem querer deixar o assunto de lado.

— Ela acredita que, pelo direcionamento da pesquisa, os resultados serão promissores. – Disse vagamente.

— Você quer ir?

Com um suspiro resignado, apoiou a taça na bancada e se virou para encará-lo de verdade, sem se importar em como pareceriam aos olhos dos convidados que ainda conversavam e riam alto ao som de uma música qualquer, toda hora pulada por Nora.

— Ouça, só porquê falei que não pode impedir as pessoas de buscarem novos caminhos, não quer dizer que precisa me empurrar em direção a um na primeira oportunidade. – Barry apenas apertou os lábios, segurando o que quer que tivesse a dizer. – Ainda não tive tempo para pensar nisso com calma, isso é tudo.

— Okay, me desculpe se fui... Invasivo.

Ele pediu meneando a cabeça, mas ainda podia ver a contrariedade em todas as feições. Evitando um revirar de olhos, passou os braços pelos ombros dele, abraçando-o sem cerimônias. Barry rodeou sua cintura com um suspiro cansado enquanto ela apoiava o queixo contra ele.

— Não se preocupe com isso agora, está bem?

O ouviu concordar com um murmúrio baixo, antes de abaixar a cabeça para sentir o aroma de seu pescoço, coberto pelo cabelo ajeitado em ondas armadas. Fazia algum tempo que não usava secador ou ajeitava com ‘babyliss’, deixando os fios um pouco mais rebeldes e naturais, apesar de tão compridos quanto sempre foram.

Não conseguiu impedir que todos os poros se arrepiassem quando a respiração quente encontrou a pele logo abaixo de sua orelha. Caitlin precisou reunir todo o autocontrole que possuía para não fechar os olhos e se deixar levar pela forma como ele a puxava ainda mais contra si ao mesmo tempo em que procurava pelo ponto de sua pele que dizia ser mais perfumado, próximo à nuca, provocando cócegas no caminho.

— Você está linda. – Barry murmurou, a mão se aproveitando do fato de seu vestido ter costas quase que completamente decotadas para percorrer o caminho de sua coluna, a fazendo apertar a camisa que ele usava para conter o leve tremor do contato. – Está maravilhosa nesse vestido.

Caitlin apertou a camisa que ele usava para conter o leve tremor causado pelo hálito contra seu ouvido e respirou fundo, se afastando apenas o suficiente para fitá-lo, chamando a atenção para a sua boca. Era bom que Barry estivesse de costas para a entrada da cozinha, onde alguém poderia entrar a qualquer momento, pois a proximidade deles era normal, mas não exatamente daquele jeito e ninguém lá fora conhecia as feições dele quando queria beijá-la.

— Está tentando me seduzir. – Murmurou acompanhando o brilho malicioso nos olhos claros.

— Você quer ser seduzida? – Caitlin apenas molhou os lábios em um sorriso pequeno e confiante, se afastando sem pressa e buscando a taça de vinho para tomar um gole calculado sob o olhar dele. – Quer ficar aqui essa noite?

— Sim.

O observou sorrir em concordância, mais relaxado e, ainda nessa postura, sair com a garrafa de vinho que abrira antes. Barry e ela tinham esses momentos nos últimos anos. Começou mais naturalmente do que se poderia imaginar, numa noite chuvosa em que ficara com preguiça de voltar para a casa após o jantar de aniversário dele. Estavam meio bêbados, o que era inegável, mas não o suficiente para negar a atração crescente em meio ao clima propício.

Não parecia tão errado assim enquanto tinha a taça de vinho à mão, embora sentisse melhor o sabor presente nos lábios dele. Também não soava errado se ver tão à vontade, pois, apesar de ser a primeira vez que experimentava a respiração pesada e os dentes se arrastando por seu pescoço, ainda era Barry. Assim como no dia seguinte, quando constatou que ele lhe sorria como todos os dias e quase chorara aliviada.

Por um breve instante, julgara que fizera a maior besteira de sua vida. Não estava pronta para perder Barry por algo tão fútil, mas perceberam que continuavam a ser o de sempre e que o sexo não os estragava; pelo contrário, conferia mais liberdade a ambos. Não encarava exatamente como uma amizade colorida, pois não havia frequência. Iam e voltavam em outros relacionamentos, mas, de certa forma, tacitamente sabiam que sempre retornavam um para o outro, se necessário.

Quando parava pra pensar, não encontrava razão específica para terem mantido isso em segredo por tanto tempo, apenas o fizeram de maneira silenciosa, o que havia se tornado confortável. De certa forma, era extremamente tranquilizante não ter de dar explicações a ninguém, especialmente quando não tinham qualquer explicação, senão o fato de que se davam realmente muito bem na cama.

Assim, tranquilamente pegou a travessa de salgadinhos e voltou para a sala, se sentando ao lado de Cisco, que a abraçara fortemente pela cintura.

— Deus, não sei como vou viver sem você implorando por testes de urina.

— Eu não imploro. – O acolheu calmamente, também apertando-o contra si. Seria estranho não ter Cisco no laboratório todos os dias, mas eles se ajeitariam com Chester, Cecile, Sue, Frost e as versões de Wells, que sempre apareciam em auxílio. Jamais deixariam de ser um time de verdade. – Todos sabem que é uma ordem.

— Eu não sabia disso.

Encarou Barry em contrariedade, enquanto Cisco e ele riam sobre a careta estranha que ele lhe lançara ao pedir para urinar em um frasco esterilizado para fazer alguns exames, uma vez que era a primeira interação entre os três. 

— Bem, nós sempre iremos te aceitar de volta. – Disse sendo complementada por Cecile, que também não aceitara muito bem o que chamava de ‘deserção’.

— Apenas se implorar. Pode acontecer mais rápido, se houver lágrimas e choro compulsivo.

A investigadora deu de ombros quando Joe a lançou um olhar impressionado, enquanto Cisco a analisava de maneira desgostosa, embora todos soubessem que ele não tinha qualquer intenção de voltar permanentemente em um futuro próximo. Deus, ela sentiria falta de seu amigo e desses momentos, se deu conta apoiando a cabeça contra a dele.

Muito mais tarde, quando o abraçou pela última vez, sentindo a cabeça mais leve e os movimentos mais pesados devido a todas as garrafas de vinho esvaziadas por eles, suspirou com um sorriso lacrimoso e se afastou da porta enquanto Barry rodeava Nora pelos ombros e a acompanhava pelo corredor do prédio até o elevador, combinando de se verem no dia seguinte, quando escolheriam a roupa dele para o casamento de Iris.

Ela ainda parecia emburrada pelo fato de o pai não ter autorizado a viagem para o acampamento, mas era educada demais para estragar a noite de todos, além de saber que não conseguia ficar brava com o velocista por muito tempo. Eles eram a melhor dupla que Caitlin conhecia. Não havia nada como o amor de Barry por Nora, nada como a fascinação que ele tinha pela filha.

Encarou o próprio reflexo no espelho sobre o aparador de madeira, satisfeita que a leve maquiagem ainda estivesse ali, assim como os fios castanhos mais armados. Suas bochechas estavam mais coradas pelo álcool, combinando com os lábios vermelhos devido ao batom escuro. Com um leve sorriso ciente de como Barry gostava quando a boca dela deixava marcas, finalizou sua taça de vinho num último e longo gole e, no instante em que o viu fechar a porta, a apoiou sobre o móvel e foi até ele.

Barry somente trancou a porta, antes de se virar para recebê-la com um sorriso malicioso. Caitlin imediatamente fechou a distância entre seus lábios, sentindo-o rodear firmemente sua cintura, se deixando ser pressionado contra a porta. Ofegou antes que pudesse conter quando suas línguas se encontraram e as mãos quentes subiram por sua coluna nua até a nuca, eriçando os poros sensíveis.

A dinâmica entre eles era conhecida e esperada, mas ainda assim excitante. Seus dedos desceram do rosto dele até os botões da camisa, desabotoando com pressa, ao passo que os dentes do velocista brincavam com seu lábio inferior e a boca seguia um caminho quente e arrastado por sua garganta, com certeza avermelhando o local pela barba mal feita.

— Finalmente. – Ele murmurou antes de sugar um pedaço de pele específico, a fazendo tremer levemente. – Quis fazer isso a noite toda.

Caitlin sorriu ofegante, empurrando a camisa dele pelos ombros enquanto Barry se afastava da porta, lentamente a empurrando em direção ao aparador enquanto os dedos se enrolavam em seus fios castanhos, pois ele nunca se continha em relação aos seus cabelos. Sem pensar, fincou suas unhas nas costas lisas na altura das costelas, quando se sentiu completamente contra o móvel. Já podia sentir a excitação crescendo em seu baixo ventre, incentivada pela língua na sua e os dedos subindo por suas pernas até alcançar a calcinha de renda preta por baixo do vestido da mesma cor e, lentamente, começar a tirá-la.  

O modelo que usava era de comprimento completamente aceitável, mas não parecia assim quando ele se abaixou, acompanhando a calcinha até seus pés, onde sem pressa desabotoou as sandálias de salto, levantando os olhos para encontrar os seus, claramente analisando suas reações.

Depois de tanto tempo, sabia o que se passava na mente dele, pois era como um reflexo da dela. Apertou os dentes contra os lábios e os dedos no aparador atrás de si para evitar se contorcer no instante em que o sorriso dele cresceu um pouco, perfeitamente conhecedor de como respondia a cada estímulo.

As mãos dele voltaram a correr pesadamente por suas panturrilhas, mas invés de se levantar, Barry se aproveitou do vestido maleável para deixá-la completamente à mercê do toque lascivo e da respiração quente. Era uma tortura quase poder sentir a boca contra si, mas estar totalmente impedida devido ao vestido de seda e, por isso, apenas desejava mais.

Assim, mesmo prevendo o efeito que ele teria ao pressionar sua intimidade sobre o tecido, precisou molhar os lábios e fechar os olhos quando aconteceu. Completamente nua sob o vestido, sentiu a fisgada em seu baixo-ventre ao mesmo tempo em que queria empurrá-lo e puxá-lo para si, sem que houvesse qualquer barreira entre a boca macia e sua pele.

— Você é o demônio, Barry.

Sua mão se infiltrou nos cabelos curtos e macios enquanto murmurava, mas Barry apenas a encarou de baixo e não apressou seu caminho, a boca subindo sem pressa por seu ventre e, então, brincando com o decote solto, não muito profundo, mas revelador do vestido.

— Adoro quando não usa sutiã.

A boca dele se fechou sobre um seio e Caitlin gemeu, fechando os olhos, como ele sabia que faria, pois adorava ser tocada ali. As mãos, que ainda se encontravam em suas pernas, se fecharam em suas coxas e a impulsionaram para o aparador enquanto a boca se fechou sobre a sua no momento em que o quadril dele pressionou sua intimidade completamente desnudada.

Quase perdeu o ritmo do beijo, profundo, lascivo e quase sôfrego, no que ele riu ofegante quando Caitlin levantou um pouco as pernas que o rodeavam para puxá-lo ainda mais contra si e se alinhar ao corpo dele. Em momento algum de sua vida imaginara que Barry a conheceria tão bem a ponto de saber como funcionava, sexualmente falando, mas essa era uma realidade que adorava.

Fechou os olhos sem se importar em se apoiar contra o espelho, pois tinha a boca dele em seu pescoço, desarmando-a e arrepiando-a por completo, enquanto as mãos mantinham suas pernas no lugar certo levando ambos ao limite. Por isso, não hesitou em percorrer com os dedos o caminho até a calça dele, desapertando o cinto marrom com alguma dificuldade pelo pouco espaço entre seus corpos colados antes de desabotoar e abaixar o zíper.

Contudo, o viu desacelerar o ritmo e se afastar levemente, o lábio inchado pelos beijos e as respirações se misturando de maneira tentadora, mas os olhos claros percorrendo seu rosto com atenção.

— Está bêbada?

— Não.

Negou rapidamente como se fosse absurdo, vendo-o rir e levantar as mãos para moldar seu rosto. Quando não queria levá-la para a cama, o toque de Barry era sempre suave, quase respeitoso não fosse a situação necessitada em que se encontravam. Então, ele meneou a cabeça em uma careta charmosa.

— Eu acho que está, Cait.

— Okay, um pouco, mas... Sabe como o vinho me deixa com tesão. – Juntou seus lábios lentamente enquanto seu quadril se arrastava contra o dele, sentindo-o claramente duro contra si distraidamente concordando. – Você pode fazer o que quiser comigo.

Caitlin soube no instante em que o conhecera, que Barry era do tipo confiável de cara. Com o passar dos anos, a impressão fora apenas se sedimentando em compreensão e intimidade. Sabia que a certeza de o conhecer tão bem, da forma como beijava ao modo como tratava as pessoas, por mais desumanas que fossem, a tornava um pouco mais vulnerável a ele. Contudo, a tranquilizava saber que ele também era especialista em seus limites, opiniões e desconfortos.

— Você é impossível.

Os lábios tocaram os seus quando Barry falou, a puxando para carregá-la em direção ao quarto e Caitlin sorriu de maneira satisfeita, apenas rodeando os ombros dele.


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