Sono bugiarda escrita por Bia


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Um pouco de drama haha
E só quem trabalha ou trabalhou de telemarketing sabe!



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Chegou no trabalho e ficou realmente surpresa com a própria capacidade de dissimular. Cumprimentou os colegas com sorrisos ou acenos de cabeça e caminhou, sem desvios, para sua PA; sentou-se preferindo ignorar o calor que um ansioso olhar dourado despertava em sua nuca. Respirou fundo, rezando por um pouco de controle enquanto colocava, corajosamente, o headset. Escutou Zuko responder um telefonema e concentrou-se no trabalho.

As primeiras ligações foram calmas, coisas simples que ela conseguiu administrar muito bem, obrigada. Um pouco mais confiante e segura de que seu surto de verdade tinha passado, relaxou os ombros e suspirou contente. Seu segredo estava seguro e sempre estaria...

Então viu a mão bonita do amigo se apoiar em sua mesa e pressentiu sua aproximação pelo barulho das rodinhas da cadeira deslizando pelo chão e pelo calor que sua presença sempre incitava em sua espinha.

— Katara, me desculpe por ontem. — Zuko lamentou, encarando-a, visivelmente infeliz. — Eu não devia ter feito aquele drama. Acabei ficando nervoso porque... Não, não importa. Sem desculpas. Não devia ter deixado você para trás e é isso. Me desculpe, por favor.

Preferiu permanecer em silêncio, temendo a independência que sua língua tinha adquirido. Zuko, entretanto, deve ter interpretado como irritação, pois prosseguiu aflito:

— Tudo bem se não quiser falar agora... Eu entendo. Se precisar de um tempo, mas somos amigos... Podemos conversar. Escuta, que tal jantar hoje? Eu convido, claro... Um pedido de desculpas e... E, como eu já disse, podemos conversar... só você e eu.

Ofereceu-lhe um sorriso lindo, o que só serviu para deixar cabeça da garota ainda mais confusa. Katara desviou o olhar, o coração disparado, a verdade borbulhando entre os dentes, ameaçando derramar por seus lábios como espuma.

— E Mai? — perguntou em um fio de voz, optando pelo seguro.

A reação de Zuko foi imediata e sem hesitação.

— Não tem problema. Eu vou explicar para ela.

Fingiu limpar os espaços do teclado para ter tempo de pensar; os batuques do coração em seus ouvidos tornando a missão bem difícil. Respondeu, por fim:

— Não me sinto eu mesma hoje... Não quero sair hoje.

O rosto de Zuko se transformou naquele evidente semblante de preocupação que surgia toda e cada vez que ela falava de seus problemas - mesmo os mais ínfimos. Ah! Como queria beijá-lo!

— Mas você está bem? O que houve?

Dar de ombros foi a única coisa plenamente planejada, antes que sua boca disparasse novamente:

— Não consigo me controlar hoje...

Parou. E somente os que estavam em sua pele sabem o esforço desumano que foi terminar a frase ali.

O amigo arqueou a única sobrancelha, confuso e Katara bufou exasperada. Não adiantaria nada ele olhar daquela maneira, pois ela também não entendia o suficiente ao ponto de conseguir explicar. Dizer algo como: “Lembra do que você me disse ontem? Então, parabéns! Hoje eu não consigo mentir” era impossível, parecia loucura.

Entretanto, deixar o amigo daquele jeito a faria se sentir muito injusta e culpada. Abriu a boca cuidadosamente:

— Zuko, eu... eu quero muito...

Foi salva pelo toque de seu telefone. Zuko recolheu-se de volta em sua própria PA, cantarolando, provavelmente feliz com a resposta incompleta.

— Atendimento ao cliente. Tenha uma boa tarde, me chamo Katara. Em que posso ajudar?

Suando frio do jeito em que estava, surpreendeu-se da voz ter saído tão firme.

— Com certeza em nada! — gritou um homem irritado. — Uma pessoa que trabalha com isso não deve ter o mínimo de inteligência e educação.

Um segundo faz muita diferença na vida. Katara teve consciência desse fato naquele momento quando, de repente algo estalou nela, e um segundo depois se pegou dizendo com doçura e sarcasmo:

— Sinto muito, senhor, mas não vejo sua mãe por aqui.

— O que você disse, garota? Eu sou um cliente muito rico e importante, entendeu? Sou superior a você.

— Parabéns, senhor. Uma belíssima frase que deveria colocá-lo na cadeia.

­ ­— Que absurdo é esse? — continuou gritando o homem. — Onde está o lema da empresa de que o cliente sempre tem razão?

— O senhor liga gritando e ofendendo e quer falar de lemas? Que mau caráter.

— Escuta aqui, sua insolente, eu sou juiz. Eu sou doutor.

— Eu não me importo nenhum pouco, senhor.

— Sua pu...

— Senhor, para encerrar essa ligação... — interrompeu — Peço apenas que avalie o atendimento no final da ligação.

— QUE?

— Foi um desprazer conversar com o senhor. Não tenha uma boa tarde.

E desligou.

Katara estava ofegante e sentia-se envergonhada e chocada com seu comportamento. Ela nunca tinha perdido o controle assim. Sentiu-se pior quando levantou os olhos com lentidão, rezando para que ninguém tenha escutado, e viu que era o alvo de olhares espantados e admirados.

Corada, ergueu-se e correu para o banheiro.

Abriu a porta com força e lavou o rosto na pia, tentando acordar daquele sonho surreal. Viu as mãos trêmulas e perguntou-se se tinha como ficar pior. Demorou um tempo considerável lá dentro e, quando saiu, sua pergunta foi respondida. Podia ficar pior. Zuko estava do lado de fora, esperando por ela. Engolindo em seco, pensou em voltar e, quem sabe, nunca mais sair. Entretanto, era tarde; o amigo estava vindo em sua direção correndo e preocupado.

— Katara! Você está bem?

Olhou para ele, a beira das lágrimas

— Eu sinceramente não sei.

— O que está acontecendo? Me conte... — Zuko pediu em um sussurro gentil, aproximando-se mais para esfregar os braços dela com carinho.

— Eu também não sei...

Katara sentiu os dedos longos e bonitos do amigo em seus braços e se controlou o máximo que pode para não gemer, ainda mais quando ele se curvou para frente, na direção dela e sussurrou:

— Por que você não pede para ir para casa? Eu passo lá depois... Te levo um chá da loja do tio.

Katara estremeceu com aquela voz aveludada, mas sorriu.

— O de jasmim.

Seus joelhos fraquejaram quando Zuko riu. Oh! Deusa, ela contaria...

— Eu sei exatamente do que você gosta, não se preocupe.

Sabe mesmo? — perguntou de supetão, encarando-o com firmeza.

Os olhos dourados estavam perturbados e incertos, mas não desviaram. Quando Zuko abriu a boca para dizer algo – provavelmente questioná-la – Katara não aguentou.

— Ontem você me perguntou com quem você tinha química. — disse com firmeza e orgulhando-se de sua coragem momentânea. — E é claro que eu sei. Eu tenho química com você, idiota.

A reação de Zuko fugiu aos cenários imaginados. Seu queixo caiu e suas bochechas ficaram completamente vermelhas. Os dois ficaram em silêncio enquanto uma mulher saia do banheiro lançando um olhar estranho para eles.

— Povo doido. — a escutaram dizer.

Katara arrepiou-se quando o amigo atraiu a atenção dela mais uma vez para si, segurando suas mãos em um misto estranho de firmeza e delicadeza.

— Então, você gosta de mim... romanticamente, eu quero dizer? — perguntou, visivelmente nervoso.

A garota teve que se segurar para não rir. Não conseguia imaginar ninguém mais que precisaria de uma confirmação depois do que ela tinha dito. Abriu a boca, mas não chegou a responder uma vez que, pelo canto do olho, notou a aproximação de mais alguém. Katara e Zuko viraram a cabeça juntos apenas para encarar uma Mai muito séria.

— Me espere aqui, por favor. — ele lhe pediu. — Eu não vou demorar, prometo.

Soltou as mãos dela e aproximou-se de Mai, que cruzava os braços.

Katara sentiu-se estranha ali, esperando por Zuko enquanto ele falava com o futuro encontro. E também sentiu-se culpada, o que quer que estivesse acontecendo com ela, ocorreu no pior momento possível. De forma alguma ela queria que Mai sentisse que estavam competindo ou que Zuko achasse que eram apenas ciúmes de sua futura nova situação. Confusa, temerosa e envergonhada, disparou em direção aos armários e pegou suas coisas. Mandou uma mensagem apressada para a chefe explicando que realmente não teria como trabalhar e jurando que, no dia seguinte, assumiria as consequências de seus atos.

Correu para casa e assim que chegou, jogou a bolsa no sofá, e correu para um banho. A água quente deslizando por sua cabeça a acalmou e confortou.

Saiu um pouco mais leve, usando um shorts e uma regata, mas ainda confusa e perdida. Sentiu que tinha arruinado tudo, sua amizade, seu emprego. Pegou o celular pensando em ligar para o irmão, geralmente seus conselhos infantis a faziam rir e se sentir melhor. Paralisou, entretanto, quando desbloqueou a tela e viu dezenas de mensagens e cinco ligações perdidas de Zuko. Foi a culpa de ter causado tanta ansiedade nele que a fez responder, optando pelo seguro, a verdade:

“Estou bem, estou em casa. Me desculpe, não me sinto eu mesma hoje. Fiquei muito nervosa...”

Afastou-se do celular sem coragem de saber o que Zuko responderia e dirigiu-se para a cozinha, desejando algo doce e alcoólico, se possível. Quase derrubou a taça e o vinho quando, de repente, ouviu a campainha tocar. Engoliu em seco, temendo e pensando mil e uma vezes se deveria abrir a porta. A campainha tocava insistentemente.

Andou em câmera lenta até a porta e antes que pudesse ter noção do que fazia, abriu. Zuko estava ofegante do outro lado.

— Posso... entrar?


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