Sono bugiarda escrita por Bia


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Katara e Zuko - Existe outro ship?



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L'amore mi fa molto molto ridere

E mai, io dico mai, ci crederò.

L'amore quello vero.

Non esiste più.

Dopo all'improvviso

Arrivi tu.

 

Era final do expediente de quinta quando Katara alongou os braços e usou as pontas dos pés para impulsionar a cadeira vermelha de rodinhas para trás, a fim de aproximar-se da PA de Zuko.

A central estava silenciosa e apenas os dois no corredor, milagrosamente.

— Ei, quer sair para beber amanhã?

Ele a encarou sorrindo. Retirou o headset e girou a própria cadeira em sua direção.

— Você e eu?

— Óbvio! — respondeu com uma careta e o sorriso dele se alargou. — Sokka e Suki também vão aparecer, claro... Na verdade, a idéia foi deles, mas não sei de Aang e Toph.

Zuko abaixou a cabeça e girou de volta para a PA antes de responder. Os cabelos negros deslizaram para frente ocultando seu semblante e Katara não pôde deixar de notar a atenção desnecessária com a máquina que realizava logoff.

— Amanhã não posso, sinto muito. Tenho um encontro.

Ela não saberia dizer como foi capaz de sorrir mesmo sentindo um iceberg descer por sua garganta, gelando seu peito e estômago.

— Sério? Com quem?

— Mai. — sua cabeleira negra ocultando-o ainda mais.

Realmente não era seu desejo deixar transparecer qualquer pensamento, qualquer tipo de desagrado ou censura, porém o som involuntário que escapou por suas narinas a denunciou.

Olhos dourados voltaram-se para seu rosto com rapidez e ferocidade.

— O que?  

— O que o que?

Observou o cruzamento dos braços musculosos cobertos pela blusa vinho e percebeu que tinha atravessado uma linha.

— Você sabe muito bem.

Katara apenas piscou, fingindo inocência.

— Vamos. Qual é o problema com Mai?

— Nenhum. — apressou-se em dizer e disse com honestidade. — Ela faz um trabalho bem-feito, é bastante detalhista e criteriosa...

— Katara!

— Ah, Zuko! Por favor! Vocês juntos parecem duas geladeiras conversando. — respondeu exasperada, gesticulando para cima.

Claramente ele não queria rir, mas o fez de qualquer maneira.

— Certo, talvez não sejamos os tipos mais expressivos, mas até gosto de conversar com ela.

— Eu não disse isso. Só disse que entre vocês dois não parece ter química.

Sem deixar de encará-la, Zuko permaneceu em silêncio por segundos expectantes.

— E com quem eu tenho química? — perguntou por fim, inclinando-se no assento.

Katara esfregou os braços para disfarçar o estremecimento provocado por  sua voz mais rouca e baixa que o habitual. Seu tom encantador e convidativo, quase como se quisesse persuadi-la a se revelar, a dar a única resposta possível. Mordeu a língua e fez uso de toda a força de vontade para não gritar: “Comigo, é claro!”

— É difícil dizer.

E arrependeu-se imediatamente com a melancolia que Zuko demonstrou. Quando deu por si, já estava apertando a quente e grande mão masculina e se desculpando.

— Eu não deveria ter falado dessa forma, foi cruel. A Mai é uma garota legal... Se gosta dela, eu te apoio.

Sentiu sua mão ser apertada de volta.

— Você não se importa, então?

Katara estava muito experiente no jogo de omitir a verdade para não notar ali a nítida armadilha. Qualquer palavra mal colocada seria sua ruína. Nervosa, levou as mãos aos cabelos para prendê-los e ganhar tempo. Simulou uma dor no pescoço para fugir brevemente do seu olhar aquecido.

— É claro que me importo... — respondeu lentamente, torcendo o pescoço para o lado esquerdo. — Você é meu amigo e eu sei que será feliz com Mai.

As palavras saindo falsas até para seus ouvidos.

Escutou a mandíbula de Zuko travar e, em meio segundo, o viu se colocar de pé; os ombros e a coluna duros, tensos. Puxou a jaqueta de couro da cadeira, dizendo:

— Eu só queria que um dia você fosse incapaz de mentir pra mim. E para você também.

Vestiu a jaqueta e partiu deixando Katara boquiaberta.

 

Depois do choque inicial e ainda sem conseguir entender de todo o que tinha acontecido, bateu com a palma na testa, inconformada. Por que diabos sentia tanto medo em contar para Zuko que sim, se importava muito com quem ele saia? E não só porque era seu amigo, como tinha dito, mas também porque estava loucamente apaixonada. Tudo parecia tão clichê e arriscado ao mesmo tempo.

Se conheceram ali, naquele estágio de atendimento ao cliente e não demorou para descobrirem que estudavam na mesma universidade. Apesar da antipatia do começo, uma relação de afeto e companheirismo formou-se entre eles e se fortaleceu. Ao passar mais tempo com Zuko, Katara notou que, embora ele fosse bastante reservado, era igualmente célebre entre as moças. Preferindo poupar-se de uma aflição bem conhecida – Jet quem o diga – decidiu pensar nele unicamente como um amigo muito querido. Seu cérebro, entretanto, possuía planos distintos e a cada dia via-se mais atraída.

Um dia, de repente, após fermentar essa descoberta por dias e dias a viu escapar por entre seus lábios para Suki e Toph. Ambas arregalaram os olhos e gargalharam.

Sério, doçura? — Toph questionou com ironia, como se houvesse acabado de declarar que barro era feito da terra.

Suki, sem deixar de rir, ergueu sua lata de cerveja a modo de cumprimento:

— Já não era sem tempo! E quando vai contar para ele?

Jamais, pensou.

Esse era um assunto bastante delicado para Katara, pois não queria que Zuko achasse que seus gestos atenciosos derivavam de algum projeto romântico; não queria que se sentisse traído como ela se sentiu quando Aang se confessou:

— Eu sempre sacrifiquei tudo por você, Katara, sempre fui um bom amigo. Fique comigo.

Caso se aproximasse muito de uma possível revelação, imaginava como Zuko ficaria ofendido ao saber que depositou sua preciosa – e rara – confiança em alguém que cobiçava mais do que o que concordara em aceitar. Não permitiria que um sentimento mal organizado colocasse fim em sua bonita amizade.

Naquela noite não dormiu bem. Culpada e inquieta, cobriu a cabeça com o travesseiro, esperando por um milagre.

No dia seguinte, entretanto, Katara acordou sentindo-se disposta e leve, ergueu-se cantarolando e seguiu para a cozinha com passos delicados. Estava tomando seu café sentada no sofá e apreciando o frio da manhã quando Suki saiu do próprio quarto completamente arrumada e com a mochila em mãos.

— Bom dia, Katara. — desejou e sorriu. — Alguém está de bom humor.

Katara devolveu o sorriso e replicou com doçura:

— Não, não. É a calma do desespero.

Foi surpreendente e não apenas para Suki.

— Ok. — a cunhada retrucou, olhando-a de um modo esquisito,  dividida entre ser brincadeira ou não. — Estou indo para a aula e hoje é sexta. Vai no bar conosco?

— Não mesmo. Por mais que goste de vocês, estou um pouco cansada de segurar vela pra você e Sokka, das ironias de Toph e da carência sem fim de Aang.

As palavras que saíram de seus lábios não eram as que queria ter dito. Melhor dizendo, eram mas não dessa maneira. Levou ambas as mãos a boca, apavorada.

— Certo. — Suki respondeu dirigindo-se com lentidão para a porta, erguendo as mãos. — Acho que você precisa de um tempo sozinha. Vou para o alojamento de Sokka, mas você pode me ligar se acontecer qualquer coisa.

Antes que pudesse abrir a boca para se desculpar – ou tentar –, a outra fugira pela porta.

A porta bateu com suavidade e os passos de Suki soavam no corredor, quando Katara ergueu-se num pulo sem se preocupar com a xícara de café. Correu para o banheiro, perturbada. Lavou o rosto na pia e olhou-se alerta no espelho. Supostamente, tudo normal. Então por qual motivo não tinha conseguido controlar suas palavras? Com mãos e joelhos trêmulos, voltou para o quarto; sentou na cama e alcançou o celular na mesa de cabeceira pronta para ligar para Zuko.

Não! Pensou de supetão, jogando o aparelho com força no lençol e afastando-se. Suava frio de imaginar o que poderia dizer a ele naquele estado.

Respirou fundo, tentando se acalmar e passando as mãos pela cabeça. Talvez ainda estivesse sonolenta ou não plenamente recuperada da conversa do dia anterior. Precisava descansar mais um pouco, dormir e meditar. Faltaria na aula, repousaria adequadamente e estaria bem na hora do trabalho.

 

Não estava bem.

Soube disso no momento em que encontrou Jet na escada. Um dos alunos mais admirados do curso de educação física, estrela do time de basquete da universidade e o ex que a traíra com tantas mulheres que, juntas, formariam uma banda. Ao invés de mostrar dignidade e admitir seu erro, Jet se fez de vítima quando Katara resolveu colocar um ponto final no relacionamento e não se dispôs a desistir. Sempre que tinha a oportunidade pedia a ela mais uma chance e, embora recebesse diversas negativas cortantes, nenhuma foi tão certeira quanto aquela dita em voz suave:

— Eu prefiro ter uma serpente enrolada no meu pescoço ou saltar de um avião sem paraquedas. Eu adoraria que existisse um muro de dez metros entre nós, cercado por granadas para não ter mais que ver, ouvir ou falar com você. Era não ontem, é não hoje e sempre será não! Até.

Desceu a escada com elegância e com a cabeça erguida, fachada que não denunciava seu desespero silencioso. Por mais prazeroso que tenha sido ver o queixo de Jet cair de incredulidade, ela continuava não tendo controle sobre sua boca. Engoliu em seco seguindo para o trabalho derrotada, sabendo que seria impossível inventar desculpas para faltar e preferindo não pensar no desastre iminente.


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Notas finais do capítulo

Sono Bugiarda - Caterina Caselli



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