O Mal não deve entrar escrita por Caroline


Capítulo 2
2. O Mal aparece para mim




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Eu estava certa. Os militares começaram a atirar contra a gente. Me abaixei para me proteger das balas e minha mãe começou a dirigir em zigue-zague, indo cada vez mais rápido para fugirmos. Não seria difícil. Não havia nenhum carro ou tanque por perto. Provavelmente esses militares foram deixados lá de plantão e seriam buscados mais tarde. Até lá já estaríamos longe.

Minha irmã apontou para a esquerda enquanto observava o mapa. Ela tinha a voz calma, mas ainda balançava as pernas.

 

— À esquerda vai ter uma entrada. Vamos precisar ir pela floresta.

— O quê? Ficou maluca? - perguntei, gritando para ser ouvida novamente devido ao vento.

— Os militares devem procurar a gente na estrada principal. Não dá pra arriscar!

 

Mamãe quase perdeu a entrada, mas virou bem na hora, ainda em uma velocidade alta demais para uma curva. Me desequilibrei e bati a cabeça na porta do jipe.

Começamos a entrar na floresta, sendo flanqueadas pelas árvores e pela mata densa tropical. Podíamos ouvir alguns pássaros cantando e grilos também. Mamãe não diminuiu a velocidade mesmo quando a estradinha improvisada acabou e restou apenas mata amassada, vestígio de outros que fugiam como a gente e já haviam aberto um caminho mais estreito.

Dirigimos até anoitecer, quando troquei de lugar com mamãe para que ela e minha irmã pudessem dormir no carro. A gente não ia parar para acampar na floresta. Além de perigoso, nossos conhecimentos sobre sobrevivência na selva era perto de zero. Dirigi com concentração, visualizando apenas as estradinhas e passando por cima do que estivesse na frente. Tive muita cautela, mas queria sair dali o mais rápido o possível.

Lembrei de nossa casa.

...

 

Eu dirigia um carro menor que esse, branco e de segunda mão. Eu não tinha condução mas sabia dirigir. Meus cabelos escuros estavam presos em um coque despojado, como sempre. Eu estava triste. Era a milésima vez que brigava com meu namorado, que minha mãe tomava partido do marido contra mim em alguma bobagem sem sentido e eu me sentia mais sozinha que nunca. Então, em um ato de rebeldia, peguei o carro e fui dar uma volta. Eu precisava ficar longe de todo mundo.

Liguei meu celular numa playlist de músicas de chuva. Eu chamava de músicas de chuva toda música que me fazia imaginar que estava em uma cidade grande, observando a chuva cair através da janela de um carro ou de meu apartamento.

Apesar de ser uma playlist triste para alguns, ela me acalmava e me dava paz.

Funguei e continuei dirigindo pela minha cidade, sem rumo específico. A cidade era média; não era grande o suficiente para ter um McDonald's, mas não pequena o suficiente para ter apenas duas ruas e é isso.

Resolvi que iria parar na minha faculdade. O campus da universidade era lindo e bem arborizado. As pessoas andavam à beira do lago, fazendo caminhada, conversando, paquerando. Fiquei observando os casais e me concentrei na música que tocava no meu celular.

 

Devia ter passado pelo menos uma hora quando olhei pelo retrovisor, avistando um vulto estranho na luz de um poste. Apesar dele estar bem debaixo da lâmpada, parecia que ele absorvia toda a luz. Era um vulto completamente assustador. Um arrepio percorreu minha espinha. Meus sentidos gritaram: CORRE!

Liguei o carro e dei meia volta. Assim que passei ao lado do vulto, mesmo com os vidros fechados, senti um frio e um desespero sem iguais. Não resisti à tentação de olhar para esse estranho. Eu deveria ligar para a polícia, mas precisava de uma descrição. Mas quando olhei, não vi nada. Absolutamente nada. Não havia rosto nem nada, apenas uma figura sombria, que engolia as próprias sombras.

Aumentei a velocidade do carro. Eu precisava ir pra casa naquele instante. Mas meus instintos me diziam que aquele ser, de algum modo, estava atrás de mim. Tentei me convencer de que era bobeira.

Olhei no banco de trás para ter certeza. Não havia ninguém lá, nem nenhum carro estranho me perseguindo. Era bobagem.

Ou assim eu pensava, quando li as notícias do dia seguinte no telefone. O Mal havia chegado em nossa cidade. Minha universidade não existia mais: era apenas um buraco sem vida. Os lugares que ele passava pareciam vir em direção ao meu bairro. À minha casa. À mim.


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Notas finais do capítulo

A playlist de músicas de chuva está disponível no Spotify!
https://open.spotify.com/playlist/4TKqkU4zVbwDF70gzADAcH?si=Ird9OvnNQWOC1X4Vp_8TIA



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