Nós dois estávamos sentados em uma campina aberta completamente florescida. As violetas e as lavandas que perfumavam o local tinham um suave tom arroxeado, que combinava perfeitamente com a camiseta de Bella. Seu cabelo estava caindo pelos ombros, em suaves cachos e sua pele reluzia ao sol. Eu, nada falava. Apenas a escutava e a observava, lendo um livro. Era sempre assim, todos os dias. Apoiei-me em meus cotovelos quando ela começava a recitar algum verso. 

— “A despedida é uma dor tão suave que te diria boa noite até o amanhecer.” – Bella, assim que terminou de recitar a célebre frase de Romeu e Julieta, fechou o livro e olhou diretamente em meus olhos. Recordei-me do momento em que a deixei em casa e a observei entrar. Passei alguns minutos apenas olhando sua casa, pensando no que ela estaria fazendo. Bella sorria, mas agora ela se afastava de mim, como um espectro. Eu não conseguia mais alcançá-la. Eu não podia tocá-la. Ela, que estava tão perto de mim o tempo inteiro… 

— Bella! 

Me levantei da cama tão rápido que, no mesmo instante, minha cabeça rodou e vi meu quarto girando. Depois de algum tempo, tentei me recompor e pensar sobre aquele sonho estranho. Eu nunca tinha sentido um desespero como aquele, no momento em que eu não conseguia mais alcançar Bella. Eu não acreditava muito em sonhos, mas aquele mexeu muito comigo. Decidi deixar aquilo para lá. Não teria nenhuma resposta, e certamente não podia passar a manhã toda sentado na cama pensando em um sonho. Entrei no chuveiro e a água parecia afastar o pensamento do sonho, mas não afastava o pensamento nela. Será que ela já estava acordada? O que estaria fazendo agora? Com que roupa ela iria para a aula? Ela teria aulas à tarde? Passei um tempo considerável debaixo d 'água, pensando. Quando finalmente saí do chuveiro e abri a porta, encontrei Alice parada no meio do meu quarto. 

— Eu achei que você tivesse morrido aí dentro, Edward. – Ela disse. 

— Você sabe que eu poderia estar pelado, né? – Eu respondi, rindo da cara dela. 

— Eu não pensei nisso. Argh, que horror! – Ela tampou os olhos com as pequenas mãos. – Anda logo, já são 07h50. Papai disse que o trânsito está um horror hoje. – Alice falou e saiu do quarto. 

Me arrumei às pressas e, enquanto dirigia, meu pensamento se voltava à Bella. Alice tentou quebrar o silêncio. 

— E você irmãozinho, gostou de ontem? 

— Ah, sim. Eu adorei tudo, menos a parte que você estragou a música da Roxette. Isso não se faz. –  Falei. 

— Credo, Ed. Você deveria me apoiar. Enfim, você e a Bella ficaram muito fofos cantando aquela música. Sabia que vocês fariam um lindo casal? – Ela disse e meu coração acelerou na hora. O que era aquilo? 

— Não começa, Alice. Você sabe como eu me sinto com essa coisa de relacionamento. E outra, ela é minha amiga. Acho que ela piraria se ouvisse você falar uma coisa dessas. 

— Aham, claro, Edward. – Ela falou com uma voz debochada e balançou a cabeça. 

— O que foi? Você sabe de alguma… – Eu parava o carro na vaga de estacionamento quando comecei a perguntar, mas minha irmã saiu tão rápido do carro que desconfiei que ela fugia da pergunta. – Alice! – Eu a chamei e ela se debruçou na janela. 

— Eu não sei de nada. Eu só concordei com você. – Ela deu um sorriso amarelo. Aquela garota era maluca. 

— Tá bom. – Eu saí do carro e a acompanhei até a cantina. 

— Tchau, maninho. – Ela disse e me deu um beijo na bochecha. 

— Até mais tarde. 

Me despedi de Alice e fui para o prédio em que minha aula de didática era ministrada. Ao chegar lá, encontrei Tanya, Benjamin e uma garota morena, que eu não conhecia, juntos conversando. Ben acenou para mim, me chamando para se juntar a eles. Eu procurei por Bella enquanto me aproximava do grupo, mas sem sucesso.

— Oi, pessoal. – Eu disse. 

— E aí, Edward. Essa aqui é a Eleanor McCarty. Minha amiga. – Tanya falou e olhou para a garota de relance, que apenas assentiu com a cabeça. 

— Muito prazer, Edward. – A menina morena respondeu. 

— Igualmente, Eleanor. – Eu respondi e olhei em volta. Nenhum sinal de Bella. Ela não iria à aula hoje? 

— Pode me chamar de Ellie. – Ela sorriu. Parecia uma garota legal. 

Nós começamos a conversar e ficamos ali por cerca de cinco minutos, quando Eleanor e Tanya saíram juntas para a aula. Ben começou a falar:

— Cara, eu estava precisando de uma ajuda sua. – Ele coçou o cabelo preto. 

— No que? – Perguntei, curioso. 

— Tem uma garota… – Nós, de repente, olhamos para trás e vimos Bella finalmente vindo em nossa direção. Ela acenou para mim, mas entrou na sala de aula. – É ela. A Bella Swan. Edward, eu estou afim dela. Fiquei sabendo que ela não namora e eu queria sua ajuda. Eu sei que você é amigo dela e tal, será que você poderia me ajudar a chamá-la pra sair? – Benjamin falou e eu senti um incômodo estranho ao ouvir aquela frase. Tentei disfarçar meu contragosto. 

— Claro. Vou falar com ela. – Respondi, secamente. 

— Obrigado, cara! – Ele deu um tapinha no braço e foi para a sala. Fiquei um tempo parado no corredor como um poste, apenas pensando no que eu tinha acabado de ouvir e tentando processar meu sentimento em relação àquilo. Só saí do lugar quando o professor apontou no corredor. 

Entrei na sala e vi Bella sentada ao lado de uma cadeira vazia, como sempre. Me sentei ao seu lado e murmurei um olá. Meu coração estava disparado e queria sentir de novo o toque de sua mão na minha. Mas eu não podia. Senti uma onda de tristeza me dominar. O que era aquilo? Por que eu me sentia daquela forma? Por que eu senti tanto incômodo com a fala de Ben? Eu não sabia, mas precisava entender todo aquele novo sentimento em relação à Bella. 

Durante a aula eu simplesmente não conseguia focar no que o professor dizia. Tudo passava como um borrão, suas palavras entravam em um ouvido e saiam pelo outro. Eu olhava para Bella, a uma cadeira de mim. Ela parecia distante, longe como em meu sonho. Meu olhar se encontrou com o de Benjamin. Ele parecia feliz, esperançoso. Completamente diferente de mim. 

A aula acabou sem que eu conseguisse dizer uma palavra. Bella também parecia distante, e fomos caminhando silenciosamente até o refeitório. Ela não falou nada até que chegássemos perto do buffet recheado de comida. 

— Edward, você está bem? – Ela se virou para mim, e parou no meio do caminho. – Eu estou te achando meio distante. Foi alguma coisa de ontem? 

— Ah, Bella. Não é nada disso. – Eu disse e passei a mão pelos meus cabelos, sempre desarrumados. Tinha esse hábito quando estava nervoso. – Ontem foi ótimo. De verdade… – Eu cheguei a estender minha mão para tocar a dela, mas Benjamin parou ao nosso lado. 

— Oi, pessoal. Desculpa interromper, eu poderia almoçar com vocês? – Ben perguntou e sorriu. Eu quis agarrar o pescoço dele e não soltar mais. 

— Claro. Você é o Benjamin, né? – Bella perguntou. Como sempre, foi muito simpática, mesmo não o conhecendo. Ela era assim. Meu coração se derreteu um pouco, mas eu ainda continuava… nervoso? bravo? com raiva? Eu definitivamente estava confuso.  Por que eu me sentia daquele jeito em relação à Bella? 

— Sim. Você é Isabella Swan, certo? – Ele perguntou, como se não soubesse da resposta. Eu devo ter feito uma cara muito feia na hora que ele perguntou isso, pois Bella indagou:

— Ed, você está bem? Aconteceu alguma coisa? 

— Não, tá tudo ótimo, Bella. Eu só lembrei que eu tenho um trabalho atrasado para entregar, nada de mais. – Tentei desconversar e esquecer aquilo, enquanto Bella e Benjamin conversavam animadamente enquanto escolhiam o que almoçar. 

Mal ouvi a conversa. Apenas peguei uma maçã e uma garrafa de água; me sentei na mesa junto com eles, Rosalie e Angela. Enquanto eles conversavam, eu apenas me concentrava em um ponto na parede oposta.  Assim que deu o horário da minha aula de biologia marinha, me despedi rapidamente de todos e saí pelo refeitório, mas não sem olhar para Bella antes. A última imagem naquele dia que eu tive dela foi sorrindo animada para outro cara.