Pimentinha - La Madrastra & Triunfo del Amor escrita por Mrs Belly


Capítulo 9
Capitulo 9




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Na vida nada é perfeito e quando estamos bem de repente tudo desmorona sobre as nossas cabeças. Nos sentimos as pessoas mais fracassadas do mundo em um instante... e era exatamente dessa forma que Maria estava se sentindo naquela maldita audiência. Tudo poderia ser tão mais fácil se ela já fosse dona de si e pudesse fazer suas próprias escolhas mas uma data ainda a separava dessa sorte, o aniversário de dezoito anos - Até lá, ela teria que viver o pão que o diabo amassou, o próprio inferno em terra - em busca de uma felicidade que, ao mesmo tempo que era real se desmanchava diante de seus olhos o que era ainda pior, estava apenas começando.

— Nãooo!!! - Maria gritou indo em direção a Heriberto que de tão destruído nem conseguia olhar para ela. Os policiais a seguraram e os dois não tiveram a chance nem de se despedir, nenhum beijo, nenhum afago ou palavra de apoio. Levaram o amor da vida de Maria para longe dali sem passagem marcada para voltar e enquanto caminhava sendo praticamente arrastado para fora daquela sala, Heriberto olhou para trás em busca dela, a que por muito tempo amou e que agora o fazia pagar caro por isso.

Seria esse o preço por amar alguém proibido? O preço da felicidade? Ele não sabia mas tinha certeza que aquele dia era uma mentira, um dia que não queria viver pois não podia estar sendo acusado de um crime que não cometeu. Abuso sexual e maus tratos era um peso terrível demais para aquele homem carregar sozinho nas nas costas.

Mas ninguém podia fazer nada, estava decretado.

Um mês se passou e tanto a vida de Maria como a de Heriberto mudou. Ele passou esse tempo naquela cadeia sofrendo amargamente por sua decisão mas no final das contas os advogados dele recorreram na justiça e ele acabou sendo liberado da prisão por falta de provas porque era inocente, e o delegado vinha até ele com as chaves da cela nas mãos dar-lhe a grande noticia.

— Senhor Heriberto Rios... - bateu com a chave no ferro da grade coberta de ferrugem e Heriberto que estava sentado no chão frio de cabeça baixa, levantou o olhar sem muita esperança e sem nenhuma vontade de continuar vivendo.

— O que é? - ele resmungou fazendo força para se levantar, dormia sobre uma cama de pedra e suas costas doíam.

— Seus advogados recorreram e o juiz decretou a soltura, está livre por falta de provas e pode ir pra casa.

Heriberto quando ouviu aquelas palavras apoiou-se na parede pois as vistas escureceram. Ele estava visivelmente mais magro e abatido e muito de seu interior também havia se transformado, agora, parecia outra pessoa disposta a viver intensamente.

Depois que foi preso ele e a pimentinha não se viram mais, naquele dia mesmo ela teve que voltar para casa acompanhada de uma assistente social e dos tios para pegar algumas roupas e poucas coisas já que teria que viver com eles e sem o seu amor. Não foi uma tarefa fácil entrar no apartamento e não ver Heriberto ali, não sentir o cheiro dele que sempre foi tão marcante e desejado por ela mas não teve jeito e Maria foi embora sem olhar para trás.

Naquele dia...

— Vamos Maria, vamos embora! - Ana bateu na porta do quarto em que a sobrinha dormia, a menina tinha entrado ali sozinha para fazer as malas mas estava demorando e para a tia, tempo era o que não podiam perder agora.

Hernesto estava na sala do apartamento olhando todo o luxo que Heriberto fazia questão de ter e se imaginando no lugar dele, falava com a assistente social que também aguardava ali sentada em uma poltrona.

— De que adianta ter tanto luxo e viver sozinho né, dona assistência? - ele perguntou tirando uma pequena estátua de cima da estante.

— Senhorita Marlene, senhor Hernesto... - a mulher corrigiu revirando os olhos sem que ele pudesse notar. No fundo ela como mãe, pensou no quanto Maria teria a vida transformada e sofreria por isso, mas aquela foi a decisão do juiz e conduzir a menor até o novo lar era o seu trabalho então ela não podia fazer nada.

No quarto, Maria sofria dolorida enquanto as lágrimas rolavam sem piedade de seus olhos verdinhos. Ela pensava no quanto a vida podia ser injusta e cruel por ter tirado dela as duas e únicas pessoas que mais amava - primeiro a sua mãe que faleceu vítima de um câncer em fase terminal e agora Heriberto, seu primeiro e grande amor.

— Isso não vai ficar assim meu amor, não vai! - ela pegava no criado mudo as últimas foto que tirou com Heriberto na viagem para a Argentina, em uma sorriam abraçados e na outra se beijavam felizes - Eu sempre te quis e eu assumo esse meu lado torto de querer as coisas, sempre quis o que era proibido mas me perdoa porque eu te amo e vou fazer de tudo por nós dois!

Maria levou a foto até a boca e beijou com carinho, depois a guardou na pequena mochila que fez com algumas roupas e acessórios de higiene pessoal e foi até a porta para sair mas se lembrou de algo importante e pediu para que a esperassem ir buscar.

— Espera! Eu esqueci uma coisa minha! - ela pediu olhando a assistente social que a olhou e permitiu que fosse pegar.

E em segundos Maria voltou, era uma das camisas favoritas de Heriberto que ele sempre usava é que inclusive guardava o cheiro dele na manhã daquele dia antes de saírem de casa.

O caminho todo de carro até a casa dos tios teve o mais profundo dos silêncios, tanto que chegava a ser perturbador. Ana olhava a sobrinha com olhos e sentimentos de vitória, a garota tinha muito de sua irmã Marina, parecendo Valente por fora mas por dentro completamente sensível e maleável o que para ela seria perfeito para seguir em frente com seus planos daquele dia em diante.

Agora...

O suor escorria pela testa e o cansaço tomava conta de seu corpo mas esfregando o edredom pesado no tanque da pequena lavanderia da casa em que passou a morar, Maria seguía firme e sua vida era assim, limpando e arrumando tudo naquele lugar das seis da manhã até a noite, não tinha folga e nem salário, apenas comida e uma cama para deitar.

— Anda logo com isso menina! Já tá quase na hora do jantar e você ainda aí, feito tartaruga com essa coberta na mão! - Ana gritava vindo da sala de onde assistia qualquer coisa na tv, andando até ela.

— Eu já vou, eu já vou tia! - Maria chorou esfregando com mais força aquele tecido enquanto se lembrava da mãe.

Marina sua mãe era a sua força e sua coragem para continuar de pé aguentando aquele caos que agora vivia tendo que trabalhar como empregada doméstica da própria tia em troca do mais básico para sobreviver. De repente, Maria sentiu uma dor e ao ter seus cabelos puxados para trás ela quase caiu.

— Anda que não tem a noite toda! Vamos! Já que não serve pra render dinheiro, vai ter que trabalhar pra se sustentar! Aqui ninguém come e bebe de graça não, Mariazinha! - Ana falava enquanto segurava os cabelos da sobrinha como um nó entre os dedos - Achei que tivesse aprendido alguma coisa com sua mãe, mas pelo visto... - ela riu se lembrando da irmã e soltou Maria.

Quando ouviu a tia falar da mãe com tanto desdém, Maria não aguentou mais segurar na garganta o que há muito tempo desde que a viu naquela cidade. Já bastava para ela ter que sofrer como uma escrava naquela casa, longe da escola e sem notícias de Heriberto, Maria não ia ouvir calada o nome da mãe daquela forma simplesmente e mesmo que o que ela ia dizer doesse mais tarde, estava disposta a tudo para ter paz de consciência e para manter a sua dignidade.

— Cala a boca sua bruxa! - Maria soltou o edredom no tanque de cimento e virou-se para olhar a tia nos olhos - Eu não aceito mais que você fale da minha mãe desse jeito! Eu tenho muito orgulho dela e se não fosse por ela, hoje eu não estaria aqui lavando, passando e cozinhando pra vocês em troca do que eu deveria receber por ser um ser humano!

Ela sentiu a mão de Ana pesar e arder em seu rosto mas mesmo assim continuou falando com lágrimas nos olhos.

— Eu tenho muito orgulho da minha mãe e do que ela me ensinou a ser mesmo com todos os meus defeitos! - ela chorava mas se manteve firme - Ela me criou sozinha com o pouco que ganhava como empregada, minha mãe sofreu, mas eu tenho certeza que se ela estivesse aqui comigo não me deixaria sozinha, nunca deixou.

— Ah menina, faz o favor! Sua mãe não fazia mais do que a obrigação dela! - Mãe solteira, tem que ralar mesmo!! Todo mundo rala inclusive eu que vivo a minha vida toda nessa miséria, nesse muquifo! Nasci pra ser rica, querida! E um dia vou chegar lá! - Ana a olhou e voltava para a sala quando Maria a interrompeu.

— E eu posso saber como você vai ficar rica, tia? Maltratando pessoas e ficando em casa dormindo enquanto o seu marido trabalha, que não é!

Na mesma hora cheia de raiva a mulher voltou até Maria e disse sem dó algum, apenas pelo prazer de machucar mesmo.

— Vou ser rica porque o seu velho porco vai molhar a minha mão de grana pra ter você! - ela fez um gesto com a mão e riu muito em seguida com a cara de espanto que a menina fez.

— O que? O que tá falando? - Maria sentiu uma tontura e se segurou para não cair.

— Isso mesmo sobrinha linda! Você não sabia? - Ana agiu com ironia - Ah claro, empregados não veem televisão, tem que ralar o umbigo no fogão! - riu mais e Maria gritou nervosa.

— Louca! Do que tá falando! Fala de uma vez! Tá falando do Heriberto sua imunda? - perdeu a paciência com a tia e levou outra bofetada ainda mais forte que antes.

— Repete! Grita que você leva a surra que sua mãezinha não lhe deu, sua ingrata! Mas quer saber, é ele sim! Aquele ricaço porco que vai me fazer a mulher mais rica dessa vida todinha! - ela se aproximou e apontou o dedo para Maria - Não tá sabendo? Ele saiu da cadeia hoje, acabou de passar no jornal.

— Meu Deus, meu Deus! - Maria tremeu e chorou, a virgem de Guadalupe tinha atendido cada uma de suas preces e seu amor estava finalmente livre, tudo o que ela queria agora era estar com ele novamente.

— O que foi? É verdade! Infelizmente ele não apodreceu na prisão como deveria... aqueles advogados todos e a justiça desse país não vale nada! - a loira suspirou e continuou falando antes de sair dali - Mas Deus é justo com quem merece e pelo menos o seu macho vai me servir de alguma coisa.

— Cala a boca, Cala a boca!!! - Maria avançou nela batendo onde teve forças para acertar mas a tia era mais forte naquele momento de dor e fraqueza.

— Andou abrindo essas malditas pernas pra ele não foi, sua pervertida! - empurrou Maria contra a parede e a fez cair sentada no chão com força - Deu pra aquele velho e agora não consegue esquecer como é bom ter um pinto entre as pernas! Bela educação minha irmã querida te deu, ensinou a filha a ser uma mulher fácil que não vale nada nem pra trabalhar! - Ana gargalhou e saiu de perto dela.

Aquele era o pão que o diabo amassou com toda a certeza, mas parecia para a jovem menina, muito longe de terminar.

Enquanto isso não muito longe, depois de pegar um ônibus e dois táxis com o dinheiro que conseguiu juntar com seus trabalhos dentro da prisão, Heriberto chegava em casa. Ele entrou e nada ali tinha mudado a não ser pelo quarto vazio que antes era ocupado por ela mas que agora não tinha nada além da cama e de alguns móveis solitários.

O perfume de rosas sumiu, a vida mudou e o tempo parecia não passar mais, dentro dele uma saudade infinita e uma dor que não acaba fazendo tudo ali perder completamente o sentido.

— Maria, minha menina... minha! Meu amor! - Heriberto repetia sozinho aquelas palavras tentando diminuir a sua dor - Por que me fez um homem apaixonado e depois me deixou? - ele sabia que ela não tinha culpa assim como ele também não tinha.

Tudo foi uma peça amarga e dolorosa que o destino os pregou...

— Eu te amo tanto pimentinha! Eu te amo tanto e agora não posso mais ter você... - ele chorou largado naquela cama até ser vencido pelo cansaço.

Dias depois...

Heriberto já estava bem melhor, tanto de aparência como emocionalmente. É claro que ele ainda sofria sozinho e a cada noite naquele apartamento sem alegria mas voltou a trabalhar e agora tentava reerguer a sua empresa e seus negócios que também sofreram uma queda significativa diante de tudo aquilo que aconteceu. Os amigos e acionistas Rodrigo, Júlio César e Fernando foram os responsáveis por segurar as rédeas das empresas Rios Bernal mundo a fora e com eles assim como toda a equipe, Heriberto pode contar para não permitir que seu império fosse por água a baixo.

A vida precisava seguir seu caminho mas faltava uma parte importante, essa mesma por quem Heriberto acordou disposto a voltar à luta naquele mesmo dia. Ele foi até a escola em que Maria estudava e descobriu que ela não frequentava mais, provavelmente por falta de dinheiro para custear os estudos já que ele era quem pagava como tinha se oferecido a fazer, mas o que ele não imaginava era que a situação em que sua pimentinha se encontrava era ainda pior que isso.

— Com licença senhora! - Heriberto chamou na casa vizinha a onde os tios de Maria moravam, estava tudo fechado, portas e janelas então ele estranhou, sabia que era ali que ela poderia estar vivendo.

— Boa tarde moço! - a velhinha o olhou pela janela com certo receio.

— É aqui que mora a dona Ana Fernandez e o senhor Hernesto, não é? - ele perguntou, o sol ardia em sua face.

— Olha eu não sei não senhor. Faz dias que eles não estão mais por aqui. Da última vez que eu vi, a dona Ana saiu com umas malas, acho que foi viajar.

— Viajar? - Heriberto ficou confuso, sabia que eles não tinham muito dinheiro então não poderiam ter ido tão longe.

— É sim senhor. - a mulher confirmou.

— Tudo bem, obrigado! - agradeceu e saiu.

Mais tarde, Maria estendia roupas no varal da nova casa para onde os tios se mudaram quando souberam que Heriberto estava livre e que poderia procurar por eles. Nada mudou para ela nesse novo lugar, a não ser pelas dores que passou a sentir a algum tempo abaixo do ventre mas não disse nada a ninguém com medo, não poderia dar mais despesa aos tios ou passaria o resto da vida trabalhando para comer.

De repente ela sentiu uma tontura e o mundo girou, Maria caiu sobre o chão de terra e só acordou tempos depois. Ela estava zonza e perdida, não imaginava onde estava e despertava lentamente, ainda fraca enquanto ouvia vozes dizendo baixinho.

— Eu sinto muito doutor, mas não foi possível salvar o bebê, a paciente sofreu um aborto espontâneo...


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Notas finais do capítulo

Continua...



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