Dedo negro do diabo escrita por Elliot White


Capítulo 3
Pássaros (Franz)


Notas iniciais do capítulo

boa leitura♥



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— E se as pegadas sumiram? — Frida perguntou andando pela floresta.

— Acho difícil, não choveu nem nevou — Respondi observando o ambiente. Eu estava cumprindo a promessa de encontrar provas de que o lobo que ela viu realmente esteve ali. — Não tem pegadas, só as nossas.

— O que confirma que sou louca — A minha ‘protegida’ diz.

— Esse lobo que você viu não era real — Ditei a frase, recebendo uma reação desapontada.

— Você não acredita em mim, igual aos outros — A loira afirma girando o seu corpo sem sair do lugar. Cobrimos todo o perímetro da mata que rodeia a residência e não encontramos nada.

— Acredito que você viu, mas não que fosse real. — Reformulei a frase.

— Pensei que fosse diferente — Frida repete.

— Frida, só você viu, o que espera? — Pergunto.

— Esperava mais — Ela me lança um olhar ferino.

— Frida! — Grito quando ela vira as costas e sai correndo.

Foi aí que meu campo de visão captou um felino. Um gato preto. Estava pousando em uma rocha.

Não tem nada demais em um animal de rua, tinha?

Se ele é real, não é nada demais.

Seus olhos ladinos me encaravam, duas fendas negras rodeadas pela região verde amarelada.

De repente perdeu o interesse em mim e pulou, dando passos ágeis e deixando pegadas. Suspirei aliviado, as pegadas eram a prova de que era real.

Foi quando reparei na luz do sol, banhando a rocha e o chão por onde o felino passava. Ele não tinha sombra. Ótimo, primeiro um lobo assombra a minha ‘protegida’ e agora um gato preto que não faz sombra?

O pequeno animal sumiu em um movimento rápido, não tenho tempo para isso, pensei, preciso ir para o treino.

—-

Vou até o lugar do treinamento. Cesaire estava sentado aguardando e se levanta. Meu treinador tem traços orientais, é alto e tem lábios grossos e nariz largo.

— Está atrasado — Diz ele em voz carregada de sotaque. O treinamento correu bem, como sempre, meu treinador me levou até um saco de pancadas onde me mostrou como esmurrar. Até quando um som parou tudo. O som que levou um tempo para identificar o que era.

O som não era estranho, penso, eu sabia o que era. Uma ave.

Era a gralhada de um corvo. Logo o ruído aumentou confirmando que eram mais de um.

Paramos o que estávamos fazendo para procurar de onde vinha o som. As aves estavam pousando no telhado da torre. E eram muitos.

O ruído soava alto ecoado pelos corvos, em ordem, como se subisse das profundezas da garganta até chegar as cordas vocais repetidas vezes o numeroso grupo de aves gralhando.

— O que eles querem? — Pensei em voz alta.

— Eu nunca vi corvos por aqui antes — Meu treinador diz, e logo vejo os caseiros se reunindo do lado de fora para ver o barulho que as aves faziam.

— O que é aquilo? — Braeden um dos caseiros perguntou. O som alto dos corvos fez com que as meninas e o pequeno viessem para o lado de fora.

— Um urubu — Lillet a caseira responde.

— Não, é um abutre — Widmer o outro caseiro corrigiu.

A ave a que se referiam surgiu de algum lugar alto e pousou acima dos corvos, como se fosse superior. Suas penas eram todas negras, e seu corpo muito maior do que os outros animais. Suas asas se esticaram depois do voo, e em seus membros traseiros tinham garras afiadas que raspam pelas telhas da torre.

— Por que é tão grande? — Lillet faz a pergunta retórica.

— Eu vou pegar a escopeta — Widmer anuncia.

— Está maluco? — Braeden o mais velho grita.

— Vamos matá-lo antes que desça. — O caseiro mais jovem responde.

— Ele não representa perigo — O velhote dita a frase.

— Eu estou com medo — O infante Lars pronuncia. A caseira a acolhe.

— Depois que estiver morto, não será um perigo mesmo. E ainda vai ser o jantar. — Widmer entra correndo para o lado de dentro.

Então era isso que eles queriam dizer com ‘proteger’. Era essa a ameaça?

— De onde veio esse outro? — O caseiro mais jovem volta ao lado de fora com a escopeta em mãos, provavelmente carregada.

Ele estava se referindo a outra ave do mesmo tamanho que a outra, em silêncio ao lado do animal e acima dos menores na telha, poluindo com o som das gralhadas. Parecia ser de um tamanho anormal, e derrubava penas negras por onde passava.

— Esse animal não fará nenhum mal, os dois. Por favor desista! — Braeden insiste.

A essa altura todos que viviam aqui estavam reunidos do lado de fora da torre, assistindo a cena. Meus irmãos, minha ‘protegida’ e a sua gêmea. A expressão desenhada era a mesma em todos os rostos, confusão e temor.

O som de um tiro soou. A caseira e as gêmeas gritaram em voz aguda. A bala acertou uma telha, a partindo e fazendo descer pela calha. A algazarra dos corvos aumentou.

— Sua mira é péssima, Widmer — O mais velho dos caseiros pronunciou.

— Esses animais se alimentam de carniça. Quando perceberem que não tem nenhuma por aqui, vão ir embora — A caseira Lillet gritou avisando.

Outro tiro fez um ruído alto e de novo, acertou a calha, que parecia só aumentar o barulho que os corvos faziam, e os dois abutres pretos permaneciam imóveis.

— Vai gastar toda a munição. — Braeden o ancião informa. O pivete começou a chorar.

— É melhor entrarmos — Falei. Lancei uma olhada para Frida, e ela pareceu entender a mensagem.

Eu conduzi a minha ‘protegida’, sua gêmea e o pirralho para dentro. A caseira o seguiu junto com meus irmãos. Braeden continuou tentando convencer Widmer a largar a arma e entrar na casa.

Um som quebrou o silêncio, o estrondo de vidro quebrando, a janela tinha sido partida pelo corvo. Não deu tempo de pensar, a ave meteu seu bico em meu braço e furou. Como ele conseguiu quebrar? Com o bico? Ou com as garras?

Soltei um gemido de dor e a ponta afiada do bico arrancou sangue que escorreu por todo o antebraço tingindo minha pele de vermelho.

— Franz! — Frida gritou. Correu até mim e me acolheu.

Segurei a mandíbula do animal e soltei ele, jogando grosseiramente no chão e soltando penas negras, a ave ficou sem reação. Aparentemente era só um.

— Ofélia, por favor — A minha ‘protegida’ pede. O que ela estava pedindo?

A sua expressão era de medo, e também de dor. Como se sentisse a minha dor.

— Faça alguma coisa irmã — Frida insiste. Meu corte arde mais.

Ofélia se aproxima de mim. As duas são idênticas, a mesma pele leitosa, os mesmos cabelos loiros e longos do mesmo tom, suas mãos tocam meu braço, são macias. O toque deixa um calor ardente na região do ferimento, como se as mãos dela fossem a fonte do calor, passando uma sensação de alívio, por um momento esqueço todo o resto e até quem eu sou, como se o eu toque fosse um remédio, o corte vai se fechando e a dor some. Tudo que sobrou foi sangue. Quando olho no par de orbes cinzentas de Ofélia, ela fica muda e retribui o olhar. Ela me curou? Mas como?


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Notas finais do capítulo

comentários??



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