Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 87
Natal


Notas iniciais do capítulo

É abril, estamos vendo mais Coelhinhos da Páscoa do que Papai Noel por aí, mas, nessa história, hoje é Natal...
Então, separe o gorrinho vermelho, monte a sua árvore e se prepare para a confusão!
Boa leitura!



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E depois de um dia cheio, era chegada a hora da tradição finlandesa de, não somente acender a árvore de Natal, mas também a casa. E como manda o figurino, o mais velho se encarrega do trabalho. E, com uma pequena contagem regressiva, só para deixar Elena ainda mais ansiosa, meu avô fez as honras e acendeu tanto a parte externa quanto a parte interna. E as luzinhas multicoloridas iluminaram a noite escura de inverno.

— Está tão lindo! – Dona Amelia me disse, observando o meu trabalho. – Agora entendo o porquê esperaram por você para fazer, Kat. Você trabalhou muito bem!

— Obrigada, Dona Amelia. Mas são anos fazendo isso. Garanto à senhora que os primeiros não ficaram assim.

— Tudo vem com a prática. – Ela disse e me deu o braço para entrarmos em casa, era hora do jantar.

Fizemos nossa prece e, este foi o único momento em que não havia barulho ou conversa no nosso grupo.

Somente uma ceia farta de Natal para fazer esse milagre.

E foi uma Noite de Natal diferente de todas as outras, pois agora as pessoas que compunham a minha família, realmente entendiam não só o significado da noite, como o de família. Ali erámos um grupo que se amava de verdade, sem mentiras ou segundas intenções. E só por isso eu já considerava este o meu presente de Natal. Aliás, eu ganhei meu presente dois meses atrás quando conheci Alex e toda a sua pressa em querer ficar perto de mim.

Depois da ceia, ainda ficamos acordados por um tempo, jogando jogos de tabuleiro e, assim que Elena fez o ritual de deixar biscoitos e leite para o Papai Noel, colocamos a baixinha na cama. No momento em que Tanya garantiu que a filha estava apagada para esse mundo, pegamos os presentes e colocamos debaixo da árvore. Comemos os biscoitos, fazendo questão de deixar alguns farelos, não vi quem tomou o copo de leite e, sabendo que Elena se levantaria com a corda total, louca para abrir os presentes, fomos dormir.

Antes que eu apagasse a luz, Alex soltou a seguinte pérola:

— Espero que meu presente esteja debaixo da árvore amanhã.

— E se não estiver?

— Aí eu serei obrigado a devolver o seu.

— Então tem um presente para mim, lá? Que interessante. Que fique entre nós, o que é?

Alex quase falou, mas percebeu a armadilha da minha pergunta em cima da hora.

— Não! Eu não vou te contar. Dessa vez você não vai me persuadir!

— Como diria a Elena, ninguém pode falar que eu não tentei.

— Logo cedo você vai saber o que é. – Me respondeu todo misterioso.

— Pode apostar que será realmente “logo cedo”!

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E o “logo cedo” bateu na porta de cada pessoa antes mesmo que o relógio marcasse seis da manhã. Estava um frio de rachar, mesmo com o aquecedor central ligado, e eu sabia disso porque o vidro da janela estava todo congelado do lado de fora.

Alex se virou para o outro lado e tampou a cabeça, tentando abafar os gritinhos empolgados de Elena.

Hei, hyvää huomenta[1], Surfista! Sua sobrinha está te chamando! – Brinquei com o cabelo dele, que agora realmente estava enorme e dando para fazer um rabo.

— Mais meia hora, Kat. Eu ainda estou caindo de sono. – Foi o que meu noivo conseguiu responder e enfiou a cara no meio dos travesseiros para tentar dormir novamente.

Não quis falar nada ou desencorajar o sono dele, mas, para o azar do Belo Adormecido que estava do meu lado, eu sabia que atrás de Elena sempre vinham Kim e Vic e, não duvidava que Will e Pepper fariam a mesma coisa.

Assim, levantei-me e coloquei um hobby bem quentinho, afinal, ninguém iria julgar o outro a essa hora da manhã, tirei meu creme da noite, dei uma penteada no cabelo e, antes que eu pudesse abrir, começaram a bater insistentemente na porta.

— BOM DIA, NOIVINHOS!! PODEM ACORDAR PORQUE A POUCA SOMBRA JÁ ESTÁ A TODO VAPOR! – Era Will quem chamava.

Alex praguejou qualquer coisa e eu abri a porta para ver os quatro meliantes parados do corredor.

— Mas ninguém vai nos xingar hoje? – Kim questionou.

— Não eu, mas... – Apontei para dentro do quarto e Alex murmurava vários palavrões.

— E eu achando que você era a mal-humorada pela manhã! – Vic começou a rir.

— Para você ver, Vic, tem sempre alguém pior do que eu.

— Será que vocês querem parar de conversar na porta do quarto, eu... – Alex não terminou de xingar, pois Elena passou voando por nós cinco e aterrissou sem cerimônia alguma em cima dele.

— Acabaram de matar o meu irmão! – Will disse às gargalhadas.

SETÄ! SETÄ! SETÄ! SETÄ!! É NATAL! TEMOS QUE ABRIR OS PRESENTES! TÁ CHEINHO DE PRESENTES DEBAIXO, DO LADO E ATRÁS DA ÁRVORE!! EU JÁ FUI LÁ VER!! VAMOS! VAMOS!! SÓ FALTA VOCÊ!! – Ela falava e pulava na cama, e caía em cima de Alex, para então se levantar e tornar a se jogar em cima dele.

Com muito custo, Alex se sentou na cama e conseguiu parar Elena por alguns segundos.

— Bom dia, Elena! Eu estou descendo. Pode ir na frente.

E nossa sobrinha só olhou para ele e disse:

— Acho que você deve cortar o cabelo, setä! Tá igual a uma juba de leão... Você tá apostando com a täti quem fica com o cabelo mais comprido? - E ela fez questão de pegar a ponta do cabelo de Alex para comparar com o dela.

Para o azar de Alex, meu pai e meu sogro estavam passando no corredor e escutaram o comentário da Pequena, o que resultou em risadas e provocações por parte dos dois.

— Não, Elena. É para o filme, assim que as gravações terminarem, eu vou cortar. – Ele respondeu mais ao meu pai do que à nossa sobrinha.

— Ah! Porque se fosse uma aposta, eu ia querer entrar também! Mamãe vive falando que meu cabelo é igual ao da Rapunzel! – Elena falou e começou a bater cabeça para mostrar o tamanho do cabelo.

Eu queria começar a rir, contudo, resolvi salvar Alex de uma enrascada ainda maior.

— Elena, se você quiser abrir os presentes ainda hoje, vamos lá, seu tio já está descendo.

Minha tentativa de ajudar Alex não deu muito certo, já que Elena simplesmente, antes de pular da cama, ainda deu outro pulo em cima dele para abraçá-lo, depois saiu correndo pelo corredor, chamando por todos para finalmente saber quais presentes estavam debaixo da árvore.

— Tem alguém vivo dentro desse quarto? Porque eu acho que um furacão acabou de passar por aqui... – Pepper colocou a cabeça para dentro do quarto para perturbar Alex, que, depois do último pisão de Elena estava deitado na cama, creio que realmente esperando a morte chegar.

— Eu já estou indo, Rebecca! – Foi o que Alex falou.

— Ele está mal-humorado! Nada novo sob o sol... quer dizer, sob a grossa camada de neve que cobre as paisagens da Finlândia. – Will falou todo dramático e ainda teve a capacidade de entrar no quarto e dar uma travesseirada no irmão mais velho.

— E lá vamos nós, de novo. – Pepper disse. – Quantas vezes eu falo essa frase por semana quando esses dois se encontram, hein?

— Acho que o certo é quantas vezes por hora falamos essa frase! – Consertei minha cunhada. – Vamos deixar esses dois aí e vamos para a sala, antes que Elena dê uma crise de ansiedade.

Largamos os dois brigando no quarto e descemos, porém, as ausências dos dois foram notadas na hora.

— Por favor, não me digam que meus dois filhos estão brigando lá em cima! – Dona Amelia disse com pesar.

Olhei para Pepper que olhou para mim e nós duas só cumprimentamos a nossa sogra, com um abraço e um bom dia.

— Creio que isso é um sim, Amelia. – Sr. Pierce disse e olhou escada acima, onde pudemos ouvir alguns pedidos de clemência.

— Daqui a pouco eles descem. – Pepper colocou panos quentes.

E eu, na minha humildade, só pensei: Daqui a pouco um rola escada abaixo.

Não demorou muito, os dois chegaram na sala e se sentaram aos nossos pés, com carinhas de santos. E eu pude jurar que Alex estava com uma marca vermelha entorno do pescoço.

— Por acaso vocês estavam brincando de lutinha? – Chiei no ouvido dele.

Alex, muito santo, só me olhou sorrindo e soltou:

— E o Will perdeu, de novo! – E foi lá e deu um chute na perna do irmão que estava sentado ao lado dele.

Com todos, finalmente, na sala minha avó começou a distribuir os presentes e, claro, o primeiro foi para Elena só para que ela ficasse um pouco mais calma. E a Pequena não decepcionou na empolgação, foi logo rasgando o papel e pulando e abraçando o presente ao mesmo tempo em que ia agradecendo ao Papai Noel pelo presente.

E é claro que Elena foi a mais mimada da manhã, ganhando um caminhão de presentes que deixou Tanya e Ian realmente preocupados, porém, Liv e Tuomas não ficaram atrás.

Com a pilha debaixo da árvore zerada, mas uma pilha de papel imensa no canto da sala, os presentes foram entregues e tirando as boias de braço e um colete salva-vidas que ganhei de Kim, todos eram ou muito originais ou muito úteis.

— Agora eu tenho certeza de que a Kat sobrevive a isso! – Meu irmão gêmeo disse e colocou na TV da sala, para cada um ver, os meus tombos surfando. – Particularmente, eu gosto desse take aqui. – E ele fez questão de voltar em um dos tombos e colocar na super câmera lenta, só para focar na minha – na falta de uma palavra melhor para descrever – careta, enquanto eu caía na e da prancha.

— Uma perguntinha! – Vic começou rindo. – Doeu na hora ou depois?

Fiquei calada, até porque eu nem me lembrava de todos os tombos daquela tarde. Mas me lembrava dos hematomas que apareceram horas depois.

— Olha, opinião médica, Kat. – Tanya entrou na brincadeira. – Se você não se lembra, pode ser porque você bateu a cabeça com muita força na prancha, ou a prancha bateu com muita força na sua cabeça, causando um traumatismo. Fico feliz que tenha sobrevivido sem maiores sequelas.

Eu não merecia ser motivo das risadas da família e ainda ter que aturar as piadinhas.

— E, então, tia... perdeu a memória ou foi excesso de água que você engoliu que está te deixando com essa cara? – Até Tuomas entrou na roda.

— Garoto... não entre na brincadeira. – Alertei a ele, já que era o ponto mais fraco.

— Ela é covarde... vai nos mais fraco! – Will começou a me perturbar também.

Ei, ei, ei!!! Tarpeeksi[2]! – Levantei-me do sofá e fui para a cozinha começar a preparar o café.

— Não! Nada de virar a furiosa que fala finlandês!! Volta aqui e comece a contar a sua experiência de quase morte dentro do Oceano Pacífico! Você viu um tubarão? Alguns corais? Uma arraia? Água viva? – Kim continuou.

E para o meu completo desgosto, Liv soltou às gargalhadas:

— Que nada, setä! Ela viu o Nemo, a Ariel e o Linguado mesmo!

— Acho que foi a Dori, por isso ela perdeu a memória! – Vic completou!

— Que pena que não foi o Sebastião cantando “No Fundo do Mar”!! – Pepper completou a brincadeira.

Minha sorte era que Elena estava muito distraída com os brinquedos, principalmente com a bicicleta nova, para prestar atenção no que os demais falavam, ou ia começar uma enxurrada de perguntas para o meu lado.

Os malas ainda vieram falar na minha cabeça, e não pararam até que eu saí correndo atrás deles com um taco de hockey, ameaçando que os jogaria dentro do lago e só lembraria dos corpos no final da primavera.

— Tá bravinha, é? – Kim falou bem longe do meu alcance, ou era bem que capaz que eu arremessasse algo nele.

— Ela não está bravinha, ela está possessa mesmo, já que FINALMENTE, pudemos rir da falta de habilidade dela em algo. – Vic completou e eu comecei a pensar se não tinha algum veneno nessa casa.

— E você, Alex, não vai falar nada? Sua futura esposa quase cometeu seis assassinatos e você só está aí, ajudando a Elena a montar a casa da Barbie. – Will resolveu que encher a paciência do irmão mais velho quanto ao meu rompante de fúria era ainda mais engraçado, afinal, poderia colocar um alvo em meu noivo também.

— Meça bem suas palavras, Alexander! – Sibilei da cozinha, assim que Will fechou a matraca.

Caiu um silêncio absurdo na sala, na verdade, na casa inteira, todo mundo esperando se teríamos um enterro ou outra pessoa para ser perturbada. Alex ficou calado por quase dois minutos, tudo o que nós ouvíamos, eram as peças da casa que ele ia montando e entregando para Elena colocar no lugar.

— Eu estou envelhecendo aqui, mano. Diga logo. Vai ou não sair correndo da Kat agora que ela ameaçou a vida do seu irmão mais novo?

— Você pediu!

— E ele defendeu a noiva!! É medo do sogrão!!! – Kim gritou do alto da escada.

— Não repita esse apelido dentro dessa casa, Joakim. – Meu pai falou da biblioteca. E esse comentário foi como música para meus ouvidos cansados de ouvir provocação.

— Vai mesmo ficar do lado da Kat, por que está com medo do seu sogro? – A voz de Will transmitia incredulidade.

— Não é por medo. E vou ficar do lado dela, primeiro, porque o vídeo não está completo. A Kat não caiu em todas as tentativas dela. Segundo, ninguém sobe numa prancha na primeira vez e sai fazendo manobras. Eu caí e você mais ainda. E preciso comentar da Pepper que até hoje cai? E terceiro, ela vai surfar melhor do que você.

— Por que você é o professor dela? – Will perguntou azedo.

— Não, porque ela tem um ponto de equilíbrio na prancha melhor do que o seu. E quando isso acontecer, quando ela ganhar de você, a gente volta nessa conversa.

— A Kat não vai ganhar de ninguém na prancha. – Kim disse com certeza. – Nem em sonho.

Não sei qual foi a reação de Alex ao comentário de Kim, porém, a falação continuou na orelha dele e não demorou, ele e Elena estavam sentados no chão da cozinha, rodeados pelos cachorros, para acabar de montar o brinquedo.

— Obrigada. – Falei para ele.

— O que eu falei não é mentira, Kat. Não vai ser na semana que vem que você vai desbancar o Will. Vai levar tempo, mas com prática, você vai calar a boca de muita gente da minha turma.

— Está me colocando em um patamar que eu não mereço. – Comentei.

— O tempo dirá. E esse café, sai ou não?

— Com tanta fome assim? – Questionei.

— Até que estou.

— Aguente mais quinze minutos e tudo vai estar na mesa. Até lá, faça-se à vontade por aqui.

E mesmo com todas as brincadeiras, o Dia de Natal acabou por passar rápido. Mas não tão rápido quanto Alex montado na moto que dei a ele de Natal.

— Como eu não vi essa moto aqui no dia em que chegamos? – Ele me perguntou assim que pode, efetivamente, ver o presente.

— Distraído com a moto que Liv monta. Você ficou bem assustado...

— Mas é claro. Olha a idade dela e a potência daquela moto!

— Não é para ficar tão protetor, você a viu em cima da moto, viu que ela tem talento e sabe controla-la melhor que muita gente por aí.

— Mesmo assim, ela...

— Não. Não complete essa frase. Se fosse o Tuomas, você diria que ele tem talento para o Campeonato de Motocross. Não faça distinção. Na família Nieminen isso não existe.

— Eu tenho que me acostumar com isso.

Dei um sorriso para ele.

— Você, seu irmão, seus pais... e toda a sociedade. Para muitos o que meus pais fizeram era um absurdo. Porém, ninguém nunca deu ouvidos. Somos assim. E se prepare, se tivermos uma filha, ela vai fazer o que ela quiser, não o que a sociedade espera que ela faça. – Avisei de uma vez.

— Igual à mãe dela.

— Exatamente. Agora, pare de me enrolar e suba nessa moto, vamos ver o que você sabe fazer.

— Mas tá nevando! – Ele contra-atacou.

Tombei minha cabeça e encarei meu noivo.

— O que foi? O Garoto da Califórnia não pode congelar um pouquinho lá fora, não? Ele só coloca a cara para fora quando tem sol? – Provoquei.

Alex devolveu a encarada.

— Não.

— Ótimo! Então, faça a grande estreia da sua moto, mas lembre-se, ela coloca aquela sua que está em Los Angeles, para comer poeira. – Avisei.

Alex só ajeitou o capacete e, depois de fechar a viseira, saiu jogando neve para trás.

— Exibido. – Murmurei e parei na beirada da pista, observando o que ele iria fazer. De início, Alex foi devagar, testando o terreno e aprendendo a pista, e à medida em que ia ganhando confiança, foi acelerando. Até que os saltos ficaram maiores, mais altos e mais arriscados.

Eu tinha que admitir, ele é bom nisso também. E arrisco dizer que talvez, só talvez, seja melhor do que eu.

— E então? O veredicto? Seu noivo é ou não é bom com isso? – Kim parou do meu lado.

— Veja por você.

— Pela sua cara, você está com muito medo dele ser melhor do que você!

Fiz uma careta e Kim começou a rir.

— Se serve de consolo, maninha, ele não é melhor do que você. Pilota tão bem quanto você, o que vai ser bem interessante de ver quando vocês estiverem competindo. Porque eu te conheço e sei que não vai gostar de ter as forças equiparadas com o adversário.

— Não eu não vou gostar. Na verdade, eu não gosto nem da ideia. – Fiz um bico e cruzei os braços.

— Então, comece a pensar nisso. Porque é a verdade.

Não respondi nada, só voltei a observar a pista, vendo Alex fazer manobra atrás de manobra. Kim continuou do meu lado, até que percebi que ele também estava preparado para dar uma volta na pista.

— Está esperando o que? Que a pista fique vazia? – Questionei.

E Kim, sendo o palhaço que é, só soltou a seguinte frase:

— Não quero humilhar o meu cunhado. Vai que ele não gosta de saber que eu sou melhor do que ele e resolve deixar a minha irmã encalhada... e coitada, isso não pode acontecer, já que ela está ficando velha...

Dei um sonoro tapa no ombro dele.

— Eu não estou velha! E se estiver, lembre-se, somos da mesma idade, irmãozão. Então, prepare-se para a sua aposentadoria.

— Eu ainda tenho uns dez anos de hockey antes de me aposentar e ficar à toa, perturbando a vida da Vic.

— Vou falar com ela para pedir o divórcio dois meses depois da sua aposentadoria, porque ela não merece ter você perturbando a paciência vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana.

— É, depois dessa, me vejo na obrigação de despachar o seu noivo de volta para a Califórnia.

E se a intenção do Kim era ganhar de Alex numa corrida rápida, sinto dizer que ele perdeu. E, com pouco, toda a família apareceu, Ian, Tuomas e Will pegaram as motos e resolveram fazer uma corrida cronometrada. Enquanto o restante ficou só observando mesmo.

— Achei que você ia também. – Vic parou do meu lado, se encolhendo dentro do casaco.

— Não hoje. Vou pegar leve com isso, para poder dar uma patinada ainda. Sabe como é, ou minha mãe é capaz de me trancar dentro do quarto. Ainda mais depois de subir no telhado duas vezes e ter jogado hockey.

— Bem lembrado. Eu já a escutei reclamando com a sua sogra que você não parou quieta desde que chegamos.

— Fofoqueira. – Disse rindo.

— Só passando a informação para frente. Pode ser útil. – Ela deu de ombros. – Mas falando em fofoqueira, algum sinal da Pietra? Aquela Louca não fala nada já tem uma semana.

— É Natal. Nem ela ou Mel vão aparecer. Talvez antes do Ano-Novo, eu acho.

— Mas é estranho. Porque nem um Feliz Natal com um cartão da Ferrari ela nos mandou. – Vic disse e nós duas nos encaramos.

— NÃO! – Começamos a rir.

— Não é possível que ela arranjou um namorado de final de ano, de novo! – Disparei.

— Todo mundo sabe que Mel foi para o Brasil visitar os parentes, e como a avó dela odeia celular, ela fica desconectada, mas a Pietra... só um cara para fazê-la ficar em silêncio. – Vic falou rindo.

— Senhor... mais um. Alguém tem que parar a Louca. – Comentei e tirei o celular do bolso para mandar uma mensagem no grupo:

Pietra, sua sonsa, não me diga que você achou um cara para poder beijar à meia-noite! Você sabe que isso não dá certo!

— Se a nossa teoria estiver certa, ela não vai nos responder agora.

— Não, ela não vai. Porém, avisada ela está. – Confirmei e antes que eu guardasse o celular no bolso da jaqueta, Mel respondeu.

Saindo do limbo tecnológico em que me encontro só para dizer que eu também pensei a mesma coisa! Essa Louca não tem jeito! Por favor, me mantenham informada, nem que seja uma vez por dia eu vou tentar aparecer por aqui, desde que minha avó não veja. Sabem como a Velha é... odeia celular e esconde o aparelho de cada um que chega na casa dela...

Pode deixar... porém, só uma perguntinha.

Qual, Kat?

E como você conseguiu o seu?

Aprendi a usar as crianças ao meu favor! A filha do meu primo viu onde é o esconderijo e depois do suborno certo – uma fornada de rabanada só para ela. – a pequena me mostrou.

Não é ela que tem quatro anos? — Perguntei.

Sim!

E você subornou uma criança de quatro anos?

Sim! Qual é o problema? Você vive escravizando suas sobrinhas...

Não é sobre isso. É sobre outra coisa...

Que é? Eu não estou te acompanhando, Kat. Cadê a Vic para me ajudar!

A Vic está do meu lado e está rindo da sua cara.

Não sou motivos de risadas, não hoje!

Ah, mas é! Seu segredo está na mão de uma criança de quatro anos, Melissa. Acha que essa menina vai ficar calada? Na primeiríssima oportunidade ela vai abrir a boca. E vai ser na frente de todo mundo.

Ela não ousaria fazer isso comigo!

Mas vai fazer. Acredite em mim, eu sei como crianças são. Tia de três, se esqueceu?

Eu te odeio.— Foi tudo o que ela me respondeu.

— Não estou acreditando que a Mel fez isso! – Vic disse rindo, quase caindo no chão de tanto rir.

— De uma inteligência ímpar para ser estrategista de corridas, mas burra igual a uma porta, para o restante.

— Pior que é verdade! Como pôde não pensar que uma criança iria guardar um segredo desses? Como?

E apenas poucos minutos depois, uma mensagem de Mel chegou.

A Aprendiz de Bruxa da filha do meu primo contou para toda a família o que eu fiz. Que ótimo! Já tomei sermão de como criar uma criança até do cachorro. Da próxima vez, vê se me avisa que algo assim pode acontecer! É você quem cuida dessas coisinhas fofoqueiras e interesseiras!

— E não é que sobrou para mim? – Entreguei o celular para Vic que teve que segurar a altura da gargalhada.

— Ela tinha que culpar alguém, ou não seria a Melissa.

— Tem razão. – Comentei e voltamos a observar a pista, rindo de tempos em tempos da cara de Melissa.

Duas horas depois, quando todo mundo já estava praticamente congelado, os meninos resolveram que a corrida tinha terminado em empate. Isso porque nenhum deles tinha tido a capacidade de marcar os tempos de volta, só quiseram aproveitar a folga e a brincadeira.

Acompanhei Alex para dentro da garagem, só para saber o que ele tinha achado do presente.

— E então? É ou não melhor do que a sua que está em Los Angeles? – Perguntei me escorando ao lado da minha moto, já que vamos dividir o boxe.

— Eu deveria mentir e dizer que a minha é melhor, mas não vou fazer isso. – Foi a resposta que ele me deu, enquanto limpava a moto.

— Fico feliz em ter acertado no presente.

— Nos presentes. Ainda não sei como você conseguiu trazer aquele quadro sem que eu visse!

— Tenho os meus métodos, Alexander. E ainda bem que tenho, pois o que eu faço para viver depende da minha criatividade em saber qual é o melhor transporte para determinada mercadoria.

— Eu sei disso. Só não sei onde você mandou transformar aquela foto em quadro.

— Em Londres tem muitas galerias de arte e muita gente boa de serviço. Além do mais, você adorou aquela foto, e, apesar de ter sido tirada no mesmo dia em que você fez os vídeos do meus tombos enquanto eu tentava surfar e mandou para toda a família, creio que é uma recordação daquela manobra que você fez dentro d’água.

— Pode apostar que é. Só não sei onde eu vou colocar isso lá em casa.

Olhei para ele.

— Você sabe! – Ele acusou.

— Mas é claro! E quando você voltar das filmagens aqui na Europa, vai ver!

— Ainda bem que eu não sou curioso!

— Ainda bem, não é? – Respondi rindo, pois eu e ele sabíamos que isso era mentira.

Nós dois ainda ficamos mais um tempo dentro da garagem, Alex admirando o presente e lamentando que teria que deixá-lo na Finlândia, enquanto eu ria ainda mais da cara dele.

— Eu te falei. – Comecei a dizer assim que saímos da garagem e fomos em direção à casa. – É difícil deixar a Finlândia, mas pense bem, agora você tem mais um motivo para voltar.

— Mais um? Achei que o motocross seria o único motivo!

Dei um tapa no ombro dele e só respondi:

— Achei que eu era o motivo principal. Fui preterida por uma moto. Vou tacar aquela coisa no fundo do lago. Melhor, vou queimá-la e depois tacá-la no fundo do lago, assim não tem como reviver nenhuma peça! – Ameacei dramaticamente.

— Mas ela tem ciúmes até de uma moto. – Alex brincou comigo.

Eu ia dar uma resposta a ele, porém entramos em casa, e Elena logo me alugou para que eu brincasse com ela, Vic e Pepper, sendo que foi exatamente assim que acabei passando o restante do Natal. Cercada pela minha família, brincando de boneca com minha sobrinha mais nova.

 

[1] Olá, bom dia!

[2] Basta!


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Notas finais do capítulo

Como prometido, aí está o Natal da Família!
Espero que tenham gostado!
Muito obrigada a você que leu até aqui!
Até o próximo capítulo!
xoxo



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