Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 5
Corrida


Notas iniciais do capítulo

Finalmente Katerina e Alex vão ter um momento para conversar!
Espero que gostem!
Boa leitura!



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 Séc. VIII – Onde hoje é o atual território da Noruega

O dia era como outro qualquer, estava frio e nevava nessa parte da Aldeia, tinham me dado a incumbência de buscar o pagamento pela venda de algumas peles que meu pai e irmãos tinham trazido da última viagem. Caminhei por boa parte do dia até a outra aldeia, procurando pelo comprador das peles.

Era, para falar a verdade, uma tarefa incomum na nossa vida, mas hoje papai tinha uma reunião importante, a reunião que definiria o meu futuro.

Alexander, enfim, iria pedir a minha mão em casamento. Para nós dois isso não importava muito, contudo, era a tradição e nós sempre seguimos as tradições. E, com as bênçãos de Frigga, eu esperava que meu pai aceitasse a proposta.

É claro que a minha opinião não contava, pelo menos não oficialmente, mas Alexander sabia o que eu queria, ele sempre soube para falar a verdade, afinal, estamos juntos desde que eu entrara na adolescência, e ele era apenas dois anos mais velho que eu e, sendo de uma boa família, nossa união seria lucrativa para todos. Traria poderes às famílias e, na minha humilde opinião, a parte mais importante, eu e ele estaríamos juntos com as bênçãos dos Deuses.

E foi por causa dessa reunião que me tiraram de casa, meu pai não queria que eu interrompesse a conversa dos homens, como eu, tão teimosamente, costumava fazer. Assim, dessa vez eu seria a boa moça, aquela que fica calada quando tem que ficar calada.

Para ficar ao lado de Alexander eu faria esse sacrifício.

Com os pensamentos longe, cheguei na aldeia vizinha e procurava por Jansen, nosso devedor. Localizei-o no meio de um tumulto, parecia um leilão de animais. Bonitos cavalos se querem saber a minha opinião.

Parei um pouco afastada da multidão que dava seus lances e chegavam a brigar quando perdiam uma boa compra, e concentrei meus pensamentos no que poderia estar acontecendo dentro de casa.

Será que meu pai aceitaria? Será que o dote seria suficiente? A família à qual eu passaria a pertencer, realmente me queria como membro do clã?

O último lote do leilão foi colocado à mostra e começaram os lances. Não demorou muito e um senhor poderoso, dono da maior fazenda e com o maior número de escravos, fez uma oferta imbatível. Levou as duas vacas leiteiras e seus bezerros. Na verdade, ordenou que seus escravos ficassem para levar seus novos pertences.

Quando o leilão acabou, cheguei perto da barraca de Jansen.

— O leilão acabou, mocinha.

— Não vim para o leilão. – Informei. – Sou filha de Hansi, vim pegar o pagamento.

Jansen me olhou desconfiado.

— Como vou saber que não está mentindo?

Meu pai previra essa pergunta e tinha me dado uma dica muito particular.

— Porque se você quiser manter o seu segredinho sobre algo que falta em você, é só me entregar o alazão preto, ou eu vou contar na primeira adega que você tem um probleminha.

Jansen na mesma hora me mandou falar baixo. Levantei a cabeça e o olhei com ar superior. Mulheres não costumavam ameaçar homens por aqui, ainda mais uma mulher solteira e desacompanhada, mas eu confiava nos atos de meu pai e sei que nenhum mal me seria feito.

Nosso devedor voltou logo e trazia, puxando pela rédea, um belo garanhão preto, com longas pernas e crinas lustrosas.

— Diga ao poderoso Hansi que Jansen sempre estará disposto a fazer negócios com ele, bela senhorita.

— Informarei. – Disse e peguei a rédea do cavalo. – Ele manda agradecer pelo pagamento.

Fiquei tentada em montar no cavalo e sair em uma cavalgada rápida até em casa, todavia, não era uma boa ideia, eu não sabia como a reunião estava e não queria chegar cedo para ter uma decepção. Então me decidi por puxar o alazão até o estábulo da família.

Pelo caminho encontrei vários conhecidos, sorri para eles que sorriam ao me ver e logo fechavam a cara ao perceber que eu fora à aldeia vizinha, sozinha, para fazer negócios.

Como nenhum animal responde aos apelos dos seres humanos, comecei a conversar com os Deuses. Pedi a todos eles que intercedessem para uma decisão sábia e justa de meu pai, pois eu sabia que não poderia, jamais, me casar com outro homem que não fosse Alexander.

O tempo piorou, o vento chicoteou forte e meus cabelos trançados bateram em meu rosto, olhei para o céu, nuvens roxas e pesadas indicavam que teríamos outra noite de nevascas.

Apressei o passo, pude escutar o gelo se quebrando sob meus pés e sob os cascos do alazão. Mais uma vez o vento castigava, chegando a uivar como Fenrir, em determinados lugares da floresta de pinheiros.

Minha companhia quadrúpede se assustou. Parei e tentei acalmá-lo passando a mão por seu focinho.

— Está tudo bem, não são lobos, é só o vento. E já estamos chegando.

Caminhei por um quarto de hora, as sombras já quase tinham caído totalmente quando passei pelos portões de ferro da fazenda. Evitei ser a curiosa e não olhei pelas janelas para saber se meu futuro tinha sido selado ou não, e decidi por levar o assustado cavalo na direção do estábulo, onde, uma baia já havia sido preparada para a sua chegada com feno e água.

Assim que abri a porta do estábulo para guardar o cavalo, alguém apareceu atrás de mim e chamou meu nome.

— Katerina.

Antes mesmo de me virar para ver quem me chamava, meu corpo reagiu ao chamado, eu me arrepiei toda e um calor subiu pelo meu colo, esquentando as minhas bochechas.

— Katerina. Por que demorou tanto? – Ele, diante da minha falta de resposta, tornou a perguntar, sempre tão ansioso, tão apressado.

— Conversou com o meu pai? – Questionei enquanto acariciava o pelo do cavalo, na tentativa de fazê-lo se adaptar ao novo lar.

— Sim. – Ouvi os passos chegando perto de mim.

— E a resposta? – Eu quis saber, ainda não tinha me virado para ver seu rosto, tinha medo do que ele falaria.

— O que você acha? Acha que ele recusaria para a única filha um partido como eu? – Sua voz soava com um leve toque de prepotência que me fez rir.

Seus passos pararam bem atrás de mim, suas mãos me pagaram pela cintura. Devagar me virei para encarar o homem que, dentro de pouco, eu chamaria de meu marido.

— Então... vou fazer parte do seu clã agora?

— Uma forma de dizer, mas poderia traduzir como: agora você vai poder mandar em mim sem ninguém para te olhar feio.

Eu ri do que ele falara, nossas constantes brincadeiras eram o motivo de muita cara feia por parte de nossas mães, que me acham assanhada demais.

Alexander me puxou para mais perto de seu corpo e me deu um beijo, um beijo que nenhum de nossos parentes poderiam sonhar que já trocávamos.

— Isso tudo é felicidade? – Perguntei ofegante.

— Sim. Finalmente será minha.

— Eu já sou sua há muito tempo, Alexander. Antes mesmo de saber o que isso significa. – Disse colando a minha testa na dele.

Meu noivo me levantou pela cintura e me rodou no alto.

— E quando vai ser o casamento?

— Dentro de três luas, no primeiro Dia de Frigga em que a Lua estiver cheia.

Gostei de saber que seria logo.

— As mulheres da aldeia terão trabalho para bordar um vestido tão rápido.

— Isso é problema delas, tudo o que eu quero, é que nos vejam juntos, depois que os Deuses nos benzerem.

— Eu também. – Beijei-o novamente.

Alexander me levou para dentro de casa e depois partiu para a fazenda da família, logo que ele saiu, minha mãe começou os preparativos para o casamento, resmungando que tudo seria em cima da hora.

Meu pai só soltou:

— Vamos casá-la antes que o inverno chegue, ou só será possível na primavera. Além do mais, eu já estou preparando o hidromel há um tempo – Picou para mim e depois, quando minha mãe saiu murmurando algo, perguntou. – Trouxe o cavalo?

— Sim, está no estábulo. É um cavalo forte, mas um tanto medroso, se assustou com o uivar do vento na beirada da floresta.

— Isso é só treinar que ele perde o medo. – Papai disse e foi conferir o animal. Minha mãe só me puxou pelo braço, nós teríamos semanas agitadas pela frente.

—------------------------

Califórnia, 2021.

Eu não saberia definir como foi a minha noite. Até certo ponto, diria que tinha conseguido dormir melhor do que nas noites anteriores. Nada como a solução de um mistério para colocar a mente nos eixos. Ou talvez tenha sido o excesso de chá de camomila que tomei ontem...

O que posso dizer é: ou o mistério dos estranhos sonhos se resolve hoje ou...

Não tenho outra alternativa. Meu cérebro se recusa a pensar em outras possibilidades que não seja descobrir de onde conheço o tal “Surfista Tatuado de Venice Beach”.

Dei uma conferida no relógio, tinha, mais uma vez, acordado antes do despertador, o que foi até bom, me deu tempo de deixar tudo pronto para o pós corrida.

Brinquei um pouco com Thor e Loki que hoje ficariam sozinhos pelo dia inteiro, e quando foi um horário descente, desci para a garagem.

Cheguei ao píer de Santa Mônica dez minutos antes do horário combinado, aproveitei para me alongar e vendo que as seis horas se aproximavam, comecei a pensar que talvez meus planos tivessem naufragados.

Devidamente alongada, me permiti chegar na beirada do píer para ver a manhã. O sol já despontava, pintando de dourado o mar, voltei para meu carro com o intuito de pegar o meu celular e começar o percurso quando um belo BMW azul escuro parou na vaga ao lado. Encostei a porta para evitar um prejuízo e uma dor de cabeça e, já quase pronta para partir, escuto.

— Bom dia, Katerina! Espero que não tenha pensado em começar sem mim.

Minha voz interna, que é um tanto sarcástica demais, soltou: imagina, bonitão, eu já estava pensando em como você iria me pagar por ter me feito de besta!

— Claro que não! E bom dia para você também! – Respondi me virando na sua direção. O que foi uma péssima ideia, como alguém poderia ser tão...Perfeito? Deveria ser proibido ou considerado uma falta de educação! E para disfarçar que eu o estava olhando, soltei - Espero que já tenha resolvido o seu mistério particular.

Ele abriu um sorriso.

— Creio que sim. Andei pesquisando. – Disse enquanto se alongava.

— Pesquisando? – Perguntei desconfiada.

— Sim. Andei dando um google no seu nome.

— Você não sabe meu sobrenome! – Continuei indignada.

— Só percebi isso quando vi que só "Katerina" me levava a mais de setenta e sete milhões de possibilidades. Você não tem rede social?

— Setenta e sete milhões de possibilidades e você não achou nada que ligasse a mim? – Provoquei-o. Já estávamos começando a correr.

— Desisti quando os resultados começaram a me levar a páginas onde eu não entendia uma palavra do que estava escrito.

Abri um sorriso.

— Deveria ter aberto essas páginas, talvez a solução do mistério estivesse nelas.

— Não creio. Como sotaque que você tem, eu tinha que te achar na Inglaterra.

— E se eu estiver imitando um sotaque britânico?

Alexander, que corria no mesmo ritmo que eu, deu uma pequena parada, me fazendo reduzir e olhar para ele.

— Você está? – Vi suas sobrancelhas se arquearem por trás dos óculos escuros.

Dei de ombros.

— Por que você é tão cheia de mistérios? – Disse um tanto revoltado.

— Você é daqueles que querem todas as respostas em curto prazo, hein? – Não pude evitar de perguntar assim que ele me alcançou. E mesmo sem poder ver seus olhos, sabia que ele me encarava, um tanto furioso, talvez. – Tudo bem, você venceu, não estou imitando nenhum sotaque. Morava na Inglaterra antes de vir para cá.

— Inglesa então...

— Não disse que sou inglesa. Disse que morava na Inglaterra! Tem uma grande diferença!

Escutei o suspiro de frustação que ele soltou ao meu lado e mordi o lábio para não rir.

— Você gosta disso. Desse jogo! – Me acusou.

— Não estou jogando! – Rebati. – Você que é apressado! E ansioso!

— Não sou ansioso! Você que não passa as informações completas! – Ele rebateu.

— Você é filho único? – Perguntei.

— Tenho um irmão. Mas o que isso tem a ver?

— Tem muito a ver. Pela forma com a qual você quer todas as respostas, presumi que talvez, só talvez, você fosse filho único, daqueles que os pais estão sempre mimando.

— Não sou mimado.

— Mas deve ser o garoto do... – Olhei para ele, para o que ele vestia e pensei no carro dele. – Papai. É o orgulho do papai!

Ele olhou para frente.

— Acho que estou certa.

— O que você faz para viver? É detetive?

— Achei que já soubesse, já que me procurou no Google... deve ter achado algo.

— Veio para ser atriz? Modelo? – Ele chutou, já não tão certo quanto ao que eu poderia ser, mas não perdi o modo como sua cabeça se mexeu me analisando de cima a baixo.

E eu resolvi brincar com ele mais um pouco.

— Quem sabe eu não apareci aqui só para te perturbar... posso ser paga para isso.

— Lá vem você de novo...

Não consegui conter a risada diante da cara de mau humor que ele fez.

— Não estou buscando nem a carreira de modelo, nem a de atriz, muito menos a de paparazzi. Mas falando sério, achei que você teria desconfiado.

— Como desconfiaria de algo? – Ele retrucou.

Só estendi meu braço ao lado do dele.

— Pelo bronzeado. Ou falta dele.

Tanto ele quanto eu observamos a clara diferença entre nossas peles, ele tinha aquele bronzeado bonito de praia, já eu...

— Você se mudou para Califórnia para trabalhar dentro de um escritório?

— Aleluia! Ele acertou uma!! – Levantei minhas mãos para céu em sinal de brincadeira. - Sou Executiva-Chefe de uma Empresa de Importações e Exportações. – Completei. – E você, faz o que, além de surfar?

— Ator.

— Sério?

Ele só balançou afirmativamente a cabeça.

— Corro o risco de sair na capa de alguma revista de fofoca? – Perguntei apreensiva, isso era tudo o que eu não precisava.

— Não. Estou chegando lá.

— Ah... – Fiquei sem graça, será que todos os meus sonhos era porque eu já tinha visto Alexander em algum filme ou série de TV? Mas me lembrei que eu fico mais em canais de notícias e de finanças, e quando tenho tempo, prefiro um bom livro à TV, sempre fui assim.

— Você não assiste a muita TV, não é? – Agora era a vez dele de brincar comigo.

— Sendo sincera, não. Não assisto. Gosto mais de um bom livro.

Nerd. – Ele brincou mais uma vez.

— Está certo pela segunda vez.

— Não foi para ofender. – Completou preocupado.

— Não ofendeu. Isso não me afeta. Se eu não fosse essa nerd, não teria chegado aonde cheguei na empresa.

Ficamos em silêncio por um tempo, nosso ritmo de corrida aumentando quando paramos de falar. Não era um silêncio confortável. Alexander ainda estava sem graça por ter me chamado de nerd.

— Costuma ir até onde? – Ele perguntou apontando para o caminho.

— Até o posto 10.

— Isso é muita coisa!

— O surfista já está cansado? – Brinquei.

Como resposta ele só aumentou o ritmo me deixando para trás.

— Hei!! Eu não tenho pernas gigantes!! Me espere! – Gritei quando ele abriu uma vantagem enorme e eu tive que dar um sprint e tanto para alcançá-lo.

— Se eu tivesse apostado que ganhava de você em um sprint, teria sido mais fácil de saber a cor dos seus olhos. – Ele comentou assim que eu o alcancei.

— E eu seria obrigada a pedir a anulação do resultado, porque foi trapaça.

— Sempre uma resposta para tudo, hein? Coitados dos seus subordinados!

— Está me chamando de Chefe-Bruxa?

— Tenho que chamá-la assim? – Ele sorria divertido.

— Não. Não tem. Não sou uma bruxa no trabalho. Sou até uma chefe bem boazinha, desde que todos sempre deem o melhor de si.

— Uma Executiva de sucesso com uma mentalidade dessas? Isso é raro.

— Eu sou uma peça rara.

— Isso eu já percebi. E então, Peça Rara, voltando à conversa do início de nossa corrida.

— Sim, antes de você me chamar de nerd... – Brinquei.

— Eu já pedi desculpa.

— E eu não me ofendi, mas é que você ficou tão sem graça que foi fofo. – Me peguei falando.

Ele balançou a cabeça, imprimiu um ritmo mais forte quando viu que o meu marco estava chegando, mas não desistiu.

— Então, você é de onde? – Quis saber quando começamos a volta.

— Nascida em Helsinque, Finlândia. Erradicada na Inglaterra desde os dezesseis anos.

— FINLÂNDIA?! Você tem certeza de que não se perdeu?

— Muito engraçado, não estou perdida.

— Isso explica todo esse bronzeado. – Começou a brincar e me deu uma cotovelada de leve.

— Não posso fazer nada se amo o inverno.

— Meu Deus, mandaram a pessoa mais errada do mundo para a Califórnia! – Ele fingiu estar desesperado. – Sabe nadar, pelo menos?

Entrei na brincadeira.

— Mas é claro, tendo sido criada em um país com mais de oito mil lagos, esse é um requisito essencial de sobrevivência.

— Assim como patinar o gelo. – Ele murmurou.

— Se acha patinar no gelo difícil, você não tem a menor noção do que é dirigir no gelo. Aquele seu carro bonito não duraria meia hora na sua mão se você tivesse que dirigir de Helsinque à Tunturi, Garoto da Califórnia! Você é da Califórnia, não é? – Perguntei tarde demais.

Ele riu.

— Apesar de ter sido um chute, foi um chute certeiro. Nascido e criado aqui em Los Angeles mesmo. Por isso sei que mandaram a pessoa errada para cá. Você vai viver debaixo do ar-condicionado!

— Já estive em lugares mais quentes! – Me defendi.

— Como?

— Dubai. Cingapura. Vietnã. Só para citar alguns.

Nesse momento estávamos passando pelo local onde, nos últimos dias, fiquei sentada observando os surfistas, observando o surfista que agora corria do meu lado.

E Alexander trocou de assunto do nada, vendo que tinha perdido o primeiro.

— Vai se sentar ali de novo no próximo final de semana? – Ele apontou para o ponto da praia onde conversamos ontem.

— Talvez. Tenho que ver o que o trabalho me reserva. – Fui sincera.

— Final de semana é final de semana, Katerina. Nada de trabalho!

— Logística não para! E se parar, os compradores da internet são os primeiros que reclamam que as encomendas estão atrasadas.

— E se eu te convidar e prometer te pagar o almoço? – Ele insistiu.

— Me pergunte mais para o final da semana. Te darei certeza.

Nossa corrida estava chegando ao fim, já alcançávamos Santa Mônica quando Alexander simplesmente falou.

— Espero que tenha escolhido para onde eu vou te levar para tomar café da manhã.

— Me desculpe? Achei que o seu prêmio era que eu tirasse os óculos!

—  Talvez eu erre de propósito, assim ganho mais tempo ao seu lado e, de brinde, você será obrigada a tirar os óculos quando entrarmos em algum lugar.

— E se eu não tirar os óculos? – Argumentei.

— Você tem que tirar, ou não vai enxergar nada.

— E se eu for do tipo de pessoa que acende a luz, mas esquece de tirar os óculos?

Ele me analisou enquanto desviávamos de uma dupla de patinadores.

— Tem cara disso.

— Então escolha bem as suas opções. Uma eu serei obrigada a tirar os óculos, na outra eu não sou.

Ele ficou em silêncio até quando alcançamos o píer, diminuímos o ritmo e, assim, fomos até o final do píer e voltamos, parando ao lado de nossos carros.

— Se decidiu? – Perguntei quando terminei de me alongar. Eu estava me sentindo estranhamente feliz.

— Sim. Eu errando ou perdendo, vou te levar para tomar café da manhã.

— Vai?!

Ele deu um sorriso e só indicou o restaurante do outro lado da movimentada avenida.

— Melhores panquecas da cidade.

— Duvido.

— Um nativo de Los Angeles sabe dessas coisas.

Conferi a hora no relógio de pulso dele. Eram 7:45.

Acho que tenho tempo.

Não sei se essa era a intenção dele, ou talvez era o hábito que ele tinha, mas logo ele me pegou pelo pulso e me puxou gentilmente para acompanha-lo.

Com o seu toque quente, outra imagem veio à minha mente.

Alexander como viking, parado na minha frente. ele estendia uma taça para cima e fazia um brinde aos deuses, principalmente à Deusa Frigga, protetora dos casamentos. Depois abaixou a taça, coloco-a em uma mesa e me beijou.

— Katerina, você me ouviu? – Voltei ao presente para vê-lo parado na minha frente, com um ar de preocupado.

— Sim. Só estava pensando no que tenho que fazer hoje.

Já na porta do restaurante, ele parou e, antes de abri-la para que eu passasse, falou:

— Você me deu três opções para descobrir a cor de seus olhos. Acho que só vou precisar de uma. – Deu um sorriso de lado que evidenciou as suas covinhas.

— Então diga?

— Você tem olhos... – Ele parou e fez um pequeno suspense. Estava tão concentrada no rosto dele que perdi o movimento de suas mãos na minha visão periférica. E só percebi o que ele havia feito tarde demais, pois antes mesmo de completar a frase, Alexander tirou os meus óculos e, um tanto pasmo, falou: - Eu jamais acertaria!

— Isso foi outra trapaça! – Falei tomando os óculos da mão dele e colocando-os em minha cabeça. Um tanto brava demais por ter ficado tão distraída com o rosto dele e esquecido de olhar à minha volta.

— São os olhos mais lindos que já vi. – Ele murmurava, ainda atônito, encarando meu rosto. Imediatamente senti meu rosto esquentar e me vi na obrigação de desviar o rosto, pois me sentia pegando fogo e isso quebrou o encanto.

Vi, pela vitrine do restaurante, que ele balançou a cabeça como descrente e, depois, puxando o meu cotovelo, me deu passagem para dentro do restaurante.

— Olha quem a maré trouxe! – A garçonete falou detrás do balcão. – Tem muito tempo que não te vejo, Alex! – Abriu um enorme sorriso na direção dele. – Escolha uma mesa e eu já vou pegar o seu pedido!

Olhei espantada para ele e segui a direção que me indicou.

— Cliente antigo, suponho? – Falei assim que nos sentamos.

— Sim, venho aqui desde criança. Parei por alguns anos. – Ele parou de falar e olhou para o píer. Vi que tinha uma história por trás, mas não perguntei. Não o conhecia a esse ponto para me intrometer.

A garçonete, que o cumprimentou quando chegamos, veio anotar nossos pedidos e eu mal dera uma olhada no cardápio.

— Olá! – Ela me cumprimentou sorrindo. – Sou Dottie.

— Katerina. – Respondi sorrindo. A senhora tinha todo aquele jeito de mãezona.

— Então, vamos pedir, ou quer dicas?

 - Me recomendaram as panquecas. – Falei.

— Você tem cara que gosta de panquecas com calda de chocolate.

— Sim! Por favor! – Eu ri.

— Eu nunca erro um pedido! – Dottie comentou. – Nada de café para você, aposto. Pelo sotaque, vai ser chá.

Eu só pude levantar os braços na posição de rendição.

— Acho que nem vou falar mais nada.

— Então me deixa te trazer um pedaço da torta de maça com canela. - E ela saiu para a cozinha.

— E você? – Olhei para Alexander.

— Dottie sabe o que eu como.

— Espero que eu não me passe pela morta de fome aqui.

Alexander só sorriu.

— Vamos ver.


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Notas finais do capítulo

Sim, deixei no ar, esse café fica para semana que vem!!
Muito obrigada a você que leu.
Até o próximo!!
xoxo



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