Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 48
Provocação


Notas iniciais do capítulo

E vamos nós para o capítulo de meio de semana! Um capítulo enorme diga-se de passagem!
Boa leitura.



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Depois de quase um mês, nós voltamos a correr no calçadão. Foi até libertador poder sair de casa e sentir a brisa da costa diretamente na minha pele. Imprimi o ritmo que quis e Alex tentou me acompanhar por um tempo. Quando suas costelas protestaram de dor, tive que diminuir a velocidade das passadas, mas não parei de correr.

— Eu vou me lembrar disso um dia! – Ele disse mal-humorado quando terminamos a corrida e o alongamento.

— Se eu te pagar o café da manhã ali. – Apontei para o restaurante de Dottie. – Você esquece essa promessa e me dá um sorriso? – Barganhei.

Alex olhou um tanto desinteressado para a fachada, mas eu sabia que ele estava com tanta fome quanto eu.

— Tudo bem... – Disse depois de um certo suspense.

Minha vontade era a de sair correndo na frente dele e soltar aquela velha frase: “O último que chegar é...” Contudo desisti e fui caminhando ao lado dele, que logo pegou a minha mão.

Como de costume, ele abriu a porta para mim e assim que entramos, Dottie veio nos receber.

— Eu deveria ficar muito brava com vocês e dizer para procurarem outro restaurante para o café da manhã! – Disse nos batendo com o pano que ela tinha nas mãos.

— Não adianta, Dottie, somos viciados nestas panquecas. – Eu falei assim que ela limpou uma mesa para nós. – Impossível de ficar longe daqui!

— Eu falei para Alex ontem, e vou repetir agora. Adorei vê-los juntos. De verdade. Agora... o de sempre?

— Mas é claro! – Falamos juntos e ela saiu rindo.

Tomamos nosso café da manhã tranquilamente, depois, como que por milagre, Alex me deixou dirigir de volta para casa, me ensinando um atalho que eu nunca conseguia guardar.

— Por que isso agora? – Questionei quando chegamos em casa.

— Fazendo uma coisa que Dottie me disse.

Levantei uma sobrancelha para ele.

— Não estou te acompanhando.

— Dottie me disse que um dia, se eu não estivesse por perto, você iria precisar se virar. Ela tem razão.

Lembrei-me da conversa que parecia ter sido anos atrás, e não semanas.

— O que você tem para me contar, Alexander? – Perguntei, seguindo-o escada acima.

— Nada. – Ele me respondeu, sem me olhar.

E eu tinha certeza de que essa mudança de pensamento não era à toa, ou porque Dottie tinha dito. Algo estava por trás dessa nova atitude. Algo grande.

E assim como eu sabia disso, eu sabia que mais cedo ou mais tarde, ele me contaria.

— Tem mais reuniões hoje? – Perguntei quando saí do banheiro para acabar de me arrumar.

— Tenho, à tarde. Deve ser rápida. Por quê? Quer que eu faça alguma coisa?

— Não. Nada. O que falta para arrumar agora é só o quarto onde Liv vai ficar. E lavar tanto a roupa de cama quanto a de banho. Na hora em que eu chegar resolvo isso. – Falei.  – E como o senhor hoje vai ficar em casa... Pode me fazer um favor?

— Que favor?

— Ou você dá banho ou leva o Trio Peludo para um banho? Eles estão precisando.

 - Vou ligar para Emilly. – Ele me respondeu.

— Muito obrigada e te vejo à noite. – Dei um beijo nele e Alex saiu andando comigo, me segurando pela cintura. Quando nos separamos, me deu um sorriso.

— Não dá para almoçar comigo hoje?

— Só se for depois das 13:30. Dia de reunião com Londres.

— Se for o caso, levo a comida até você! – Propôs.

— Não precisa. Escolhe o restaurante e me fala.

— Melhor, eu te pego no escritório. Aviso quando parar o carro.

— Tudo bem... quem sou eu para recusar uma oferta e uma companhia dessas para o almoço. – Brinquei com ele e roubei um beijo. – Agora tenho que ir.

Ele abriu a porta do meu carro e ficou na garagem me observando até que o portão se fechou atrás de nós.

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À medida que o meio-dia se aproximava eu me via ainda mais nervosa. Não sabia o que me esperava hoje. Nas outras, sim. Era sempre algum tipo de ofensa com relação à Alex ou alguma oferta maluca e mentirosa para tentar me seduzir e me fazer voltar à Londres.

Porém, hoje. Eu não fazia ideia do que Matti e Cavendish iriam fazer ou falar.

Diante disso, dez minutos antes do horário marcado, eu já estava pronta e andando de um lado para o outro. Eu tinha ótimas notícias – para mim é claro, afinal a carta de clientes estava cada dia maior e o escritório em si dava lucros. Lucros maiores do que se juntasse os três escritórios da Europa Mediterrânea.

A tela piscou, e o homem que um dia eu chamei de avô, apareceu, não tinha lá as melhores das expressões.

— Vejo que a celebridade da empresa já está à postos.

— Boa tarde, Diretor. – Cumprimentei-o.

Matti ainda me olhava com um certo ar de deboche.

— Agora está feliz, Katerina? Ganhou várias capas de revistas só para você. – Ele fez questão de mostrar uma por uma. – Conheço pessoas que estão te defendendo, mas eu ainda estou considerando o que fazer com você.

Eu não tinha lido nada a respeito do evento. As fotos que vi foram-me enviadas, na verdade, enviadas para Alex, assim, mantive a expressão composta e apenas encarei a tela no fundo da sala.

— Você quer me ajudar a resolver o meu problema? – Novamente ele perguntou, rindo cinicamente na minha direção.

E, bem no fundo, comecei a duvidar que ele era o meu avô de verdade. Como pode ser a mesma pessoa em quem eu confiava a minha vida quando criança? Como pode ser aquele homem para quem eu corria toda feliz, com os braços abertos, quando ele aparecia na Finlândia depois de meses?

Eu não conseguia vê-lo mais. Eu só via um homem velho, cínico, debochado e cheio de planos que, se dessem certo, acabariam com a minha felicidade.

— Vou me abster de comentar a minha vida pessoal. – Falei por fim, em um tom monótono.

Ele riu.

— Só isso? Não quer fazer um discurso emocionado de como seu namorado é famoso e você não precisa desse emprego, porque ele pode te sustentar? Ou como você é independente e dona do próprio nariz para fazer as suas escolhas, principalmente com quem você sai?

Mordi a língua para não o responder a ponto de virar ofensa. Porém, não pude ficar calada.

— Faça o que achar melhor. Mas é como eu disse semanas atrás. Minha vida pessoal é problema meu. E só meu. O que eu faço fora do meu horário de trabalho, não diz respeito a ninguém dessa empresa.

— MAS AS PESSOAS FALAM!!! – Ele gritou. – Te reconheceram e agora estão comentado. DENTRO DESSE ESCRITÓRIO.

— Elas já faziam isso. Faziam isso desde que me deram me pé na bunda no meio de uma igreja lotada. E o senhor nunca falou nada! Não abriu a boca, em momento algum, para me ajudar ou me apoiar! Me deixou praticamente entrar em depressão e só soube me jogar mais e mais trabalho! Nunca perguntou se eu estava bem, ou pensou em mandar o meu ex embora! Muito pelo contrário! Conversava com ele como se Dempsey não tivesse humilhado a sua própria neta na frente da família inteira! E ainda o promoveu! Enquanto eu, que sempre trabalhei mil vezes mais do que ele, fiquei estacionada no mesmo lugar! O que também nunca passou despercebido pelos demais funcionário, mas, é claro, isso o senhor nunca ouviu! E por que só agora as fofocas internas te aborrecem? Por que eu escolhi a pessoa? Por que eu não te dou ouvidos? Por que você sabe, bem no fundo, que não manda mais em mim? Ou por que você tem medo de Alexander? Ou, melhor, você faz tudo isso, por que, talvez, tenha medo de mim? Qual dessas opções, Senhor CEO?

E Matti ficou possesso. Socou a mesa.

— Não me desafie. Você não passa de uma garotinha mimada que resolveu ser rebelde! Acha que o que não viveu nos seus vinte anos, poderá fazer agora aos 30? Você, Katerina, não é nada mais do que a minha marionete. E vai continuar sendo!

— Não mais. Tudo o que você quer é a minha demissão ou a minha volta à Londres, pedindo, implorando por sua proteção. Rastejando perdão. Eu não vou fazer isso.

— Então eu terei que fazer. – Disse friamente.

Foi a minha vez de ser cínica.

— Faça. Faça logo. Demita-me. Diga as palavras. É só dizer. – Desafiei. – Faça isso quando sou eu quem está angariando mais e mais clientes para essa empresa, quando sou eu quem está aumentando as receitas. FAÇA LOGO!! – Gritei tão alto que Milena abriu a porta com os olhos arregalados.

A reação do outro lado da tela não foi diferente. E o todo poderoso CEO estava possesso. Arremessou um copo na parede, socou a mesa e quando ele se levantou, a cadeira caiu no chão com um baque alto.

— EU VOU ACABAR COM A SUA FESTA!

— Faça isso e perca a empresa. Porque é tudo o que Cavendish quer. Ele quer te enfraquecer, quer que perca o apoio do Conselho. Que fique por sua conta, para então, convocar uma reunião do Conselho Geral e, extraordinariamente, clamar uma moção, invocando a cláusula 125 do Estatuto. Se lembra dela, não é mesmo?

E aquele que um dia chamei de vovô, me encarou, vermelho de fúria, contudo não abriu a boca.

— Eu vou refrescar a sua memória, a cláusula 125 diz respeito ao afastamento do CEO por falta de condições de liderar a empresa. E adivinha quem vai assumir a sua sala, vai se sentar na sua cadeira? Cavendish. E depois o sobrinho dele. E, em menos de dez anos, a Nieminen Trade & Shipment se chamará Cavendish and Co. Trade & Shipment.

—  CALE A BOCA. – Gritou do outro lado.

Nunca, jamais, haviam me mandando calar a boca. Ficar quieta sim, mas não nesse tom.

— Como é? Quem você pensa que eu sou? Seu cachorro?

— Você é minha neta!

— Não! E nem se eu ainda te considerasse meu avô, você teria o direito de me tratar assim! – Rebati.

— Vai fazer o que? Chamar o seu pai?

— Não. Eu não vou. Porque meu pai não merece o pai que tem. Não mesmo. Aliás, acho impossível que um homem bom como ele possa compartilhar o DNA com um monstro como você!! – Disparei.

— Eu vou fazer da sua vida um inferno! – Matti gritou do outro lado.

— Não. Um dia você fez. Agora não mais. As pessoas que estão do meu lado não permitirão que você tente me enfraquecer. Eu tenho pessoas que me apoiam ao meu lado, você não. Me pergunto se algum dia você teve... uma pessoa eu te conhecesse de verdade e te apoiasse. Acho que não. Porque você mente para todos, não é mesmo? E baseia todas as suas relações em mentira.

— Meça suas palavras.

— Não tenho mais o que falar. A não ser que os meus relatórios de desempenho do Escritório do Pacífico já foram enviados. E, se me permite dizer e te dar uma prévia. Ninguém trouxe mais lucros, nos últimos 30 dias, do que nós. Nós somos os melhores. Nem Londres fez isso! – Disse presunçosa.

Eu sabia que ele tinha os relatórios na frente dele. Era a primeira coisa que Matti recebia pela manhã, ainda mais quando marcava o final do mês. E, ele já tinha lido. Por isso me atacava desse jeito. Ele queria me desestabilizar psicologicamente, porque não tinha onde ele me criticar no quesito trabalho.

— Você vai desejar ter ficado do meu lado, Katerina.

— E você vai se arrepender de ter me perdido como aliada e neta.

Matti desligou a câmera e encerrou a conturbada reunião. Eu me joguei na cadeira, tremendo, respirando rapidamente. Uma dor de cabeça ameaçava começar e não seria uma dor qualquer. Uma enxaqueca começava a mostrar as garras. Essa briga tinha acabado comigo.

Matti era muito pior do que eu pensava. Ele jogava sujo. Brincava com o psicológico, para então derrubar a pessoa.

E eu teria que ser forte. Abaixei minha cabeça na mesa para tentar me recuperar. E poucos minutos depois, alguém batia na minha porta.

Com dificuldade, levantei minha cabeça e pedi que a pessoa entrasse.

Milena entrou devagar, um tanto assustada pela gritaria que, com certeza, escutara.

— Bem...

— Eu sei que você escutou tudo.

— Sim.

— Peça para Amanda entrar, eu tenho que pedir desculpas a ela.

— Eu a mandei almoçar assim que a reunião começou. Você não iria precisar de nada lá de fora mesmo.

— Muito obrigada.

— Você está horrível!

— Eu sei. – Murmurei e apoiei a minha cabeça em minha mão. – Alguma coisa urgente para fazer?

— Não. Não tem nada de urgente. Tenho duas boas notícias. O financeiro trouxe os relatórios vindos de Londres. Nossas contas foram aprovadas.

— Isso é muito bom.

— Sim. Estamos com muito dinheiro em caixa e aprovaram novas contratações caso seja necessário. E um estudo foi feito com o RH. O resultado está no seu e-mail. Mas nada é urgente. Pode ficar para a próxima semana.

— Tudo bem. Próxima notícia.

— Bem... a segurança ligou, disse que tem um carro te esperando lá embaixo. Tentaram contato com você, mas creio que você não escutou o telefone tocando.

Levantei os olhos para o relógio no canto da tela. Eram quase 14:00 horas. Alex já deveria até ter ido embora.

— Isso foi há muito tempo? – Perguntei.

— Bem... a ligação sim, e como você demorava em responder e sair, eu pedi que a segurança liberasse a entrada da pessoa. – Milena apontou com um sorriso para a porta.

Fiz uma careta.

— O que vocês escutaram?

— Eu tudo. Já ele... bem, depois que te mandaram calar a boca... ele quase invadiu a sua sala, mas depois saiu andando pelo andar.

Alex ainda está aqui?

— Na hora que entrei, estava tirando uma selfie com a Amanda. Ela tinha acabado de chegar e quase que desmaia.

Eu queria ficar feliz por Amanda, porém, tudo o que eu conseguia fazer era tentar focar nas palavras que Milena dizia, minha dor de cabeça piorava a cada segundo.

— Katerina, sei que não sou a pessoa certa para isso, mas se quer um conselho, encerre o expediente e vá embora. Você está parecendo que vai desmaiar e vomitar ao mesmo tempo. Seu trabalho está todo em dia, até adiantado. Nenhuma empresa espera por nenhum mapa de transporte, e temos mais do que serviço por hoje. Aproveite que tem alguém para te levar para casa, e vá.

— Meu carro está aqui. Não posso...

— Se matar aqui dentro não vai provar que você é melhor do que a pessoa que brigou com você. – Minha secretária disse brava. – Eu vou falar para o Sr. Pierce entrar e tentar te convencer a ir embora. – Avisou e saiu, deixando a porta encostada, e eu pude ouvir claramente: - Bem, Senhor Pierce, ela está te esperando.

Não deu trinta segundos e uma batida de leve na porta anunciou a entrada de Alex.

— Kat... – Ele começou assim que fechou a porta, parando logo em seguida, vindo correndo para perto de mim. – O que aconteceu com você?

— É só uma dor de cabeça.

— Isso não parece só uma dor de cabeça!— Disse ao virar a minha cadeira na direção dele e o movimento me fez ficar ainda mais enjoada. – Eu vou te levar para casa.

— Eu tenho que... – Comecei a falar, porém Alex me calou, segurando meu rosto e me olhando nos olhos.

— Não tem que fazer nada. Você não tem condições de ficar aqui! Nenhuma. Eu vou avisar a sua secretária que você já está indo.

— Não precisa.

Katerina, você tem que ir para casa.

— Não precisa, Milena iria te pedir para me arrastar para casa de qualquer forma. – Expliquei e tornei a abaixar a minha cabeça.

— Por favor, levante essa cabeça! – Ele me pediu, até um tanto desesperado. – Péssima hora para Will estar longe... preciso dele aqui para levar o seu carro. – Ele começou a falar. – Acho que vou ligar para o meu pai.

— Não atrapalhe o seu pai com coisas bobas. – Pedi, sem olhá-lo.

Escutei os passos ansiosos de Alex pela sala. Depois prestei atenção nas duas ligações que ele fez. Uma para Benny. E a outra para Dona Amelia.

— Eu pedi que não importunasse seus pais. – Murmurei.

— Benny deve chegar daqui a pouco. Ele está aqui por perto e vai levar o meu carro para casa. Você pode liberar a entrada dele?

— Posso. – Tentei erguer a minha cabeça. – Qual é o nome completo dele?

— Benjamin Allen.

Com muito custo liguei para a segurança e dei a liberação para Benny. Alex ligava para o amigo e o instruía a ficar no saguão.

— Deixe-o subir. – Pedi.

— Melhor não. Ele nos encontra na garagem.

— Não sei o porquê, Benny é gente boa! – Falei e busquei pelo meu celular.

— Está fazendo o que? – Alex me perguntou.

— Ligando para a sua mãe e falando com ela para não se incomodar em ir lá em casa. – Respondi e antes que eu pudesse reagir, Alex, com muito cuidado, tirou o telefone da minha mão.

— Primeiro, ela não vai lá para casa, nós vamos buscá-la. E segundo, eu tenho uma reunião daqui a pouco, Kat, não posso te deixar nesse estado, sozinha, dentro de casa. E se você precisar de algo?

— Eu sei me virar. Moro sozinha desde os vinte anos! - Respondi como uma criança birrenta.

— Parabéns para você! – Disse sarcástico. – Mas, pela minha sanidade e concentração nessa reunião, preciso que alguém fique com você.

— Exagerado. – Respondi enviesada.

Precavido. Agora quer que eu guarde suas coisas?

— Não, eu faço isso. – Falei e antes de mais nada, chamei por Milena, que quando entrou, só falou:

— Você está indo para casa, ainda bem, porque a sua feição está a cada segundo pior!

— Obrigada pela sinceridade.

— Não há de que. Vou controlar as coisas por aqui. Será que você consegue vir amanhã?

— O que tem na agenda de amanhã? – Perguntei para minha secretária. Ela, eficiente como sempre, já tinha tudo em mãos.

— Duas reuniões, uma com um cliente da Alemanha às 08:00 da manhã e outra com uma empresa do Chile, às 13:00 horas. E depois, você liberou seus horários, porque vai sair às 16:00 horas.

— Eu virei. Sei quem são esses clientes, e são da minha pasta pessoal, não posso deixá-los esperando. – Informei para os dois que me olharam torto. – Eu já estou saindo no meio do expediente hoje. Não posso me dar o luxo de faltar amanhã também. - Terminei e peguei minhas coisas. – Milena, muito obrigada por tomar conta de tudo! Até amanhã. – Me despedi dela.

Alex fez o mesmo e assim que pus o pé na antessala, Amanda deu um pulo.

— Nossa Chefa!! Você está mal mesmo!

— Eu sei, Amanda.

— Tem algo que eu possa fazer?

— Não, não tem. Muito obrigada pela preocupação. Até amanhã.

— Tudo bem. Até. Tchau para vocês. E obrigada pela foto, Alexander!

Alex ficou todo sem graça, mas se despediu da menina. Assim que entramos no elevador, ele me deu uma boa encarada e só soltou:

— Você não tem noção do quão perto eu fiquei de invadir a sua sala e mandar o seu avô calar a boca e engolir as próprias palavras.

— Já acabou.

— Não acabou, Kat. Olha o seu estado! – Disse com raiva.

— Ficar nervoso não vai ajudar em nada agora. É isso que ele quer. – Comentei e fiquei quieta, pois o elevador parou no saguão e quando as portas se abriram, vi Benny.

— Fala aê, Alex! – Ele cumprimentou Alex com aqueles abraços típicos de homens. – E como vão essas costelas? Já dá para surfar?

— Mais ou menos.

— Então estou te esperando nesse final de semana! E você, Garota que Veio do Norte? – Se virou na minha direção e... – O que você tem? Comeu algo estragado? Você está verde!

— Oi Benny! Também senti a sua falta. – Murmurei.

— Mas você está bem, Katerina?

— Mais ou menos. – Repeti a frase de Alex.

— Foi alguma coisa que você comeu? – Ele ia falando preocupado, assim que saímos no segundo subsolo.

— Não. É uma crise de enxaqueca.

— Bro.. toma conta dessa aí. Ela está mal. – Se dirigiu a Alex. – Mal de verdade! – Falou quando eu praticamente tive que parar para poder respirar mais forte, pois a náusea aumentava a cada segundo.

Alex me segurou forte.

— Onde está a chave do seu carro? – Perguntou.

— No bolso externo da bolsa. – Informei quando ele me escorou no carro, Benny ficou por perto, meio que me vigiando, pronto para me segurar. para que eu não caísse de cara no chão, caso eu me desequilibrasse.

Alex achou a chave do meu carro, e logo em seguida, entregou a chave do BMW para Benny.

— Leve para nossa casa, por favor. Eu só vou passar em um lugar antes de ir para lá. Depois te trago de volta.

— Vai deixar a Garota que Veio do Norte sozinha? Cadê a Pepper?

— Pepper está com Will em Atlanta. E a Kat não vai ficar sozinha. Te vejo lá em casa.

— Até lá. – Benny respondeu. Para logo em seguida, me dar um abraço de urso e dizer: - Você vai melhorar, Garota que Veio do Norte! – Só aí ele correu para o carro de Alex e saiu acelerando pela garagem.

Alex me ajudou a entrar no carro e a primeira coisa que fiz foi colocar os óculos escuros no rosto.

— Nessa hora não tem trânsito. Vamos chegar rápido.

— Eu sei que vamos. Você é o Rei dos Atalhos!

Só que eu tinha me esquecido de um pequeno detalhe. A luz do sol. E quando ela bateu diretamente no meu rosto, eu quis morrer. E desejei estar na Finlândia nesse momento, lá, a essa altura, já estava escuro.

— É só nesse trecho que o sol bate de frente no carro. – Alex me garantiu. – Tome, coloque isso. – Me entregou um boné, pelo que pude notar.

Eu tentei de todas as formas não falar que estava com dor, ou que tudo estava piorando a ponto de começar a ficar realmente nauseada, enquanto Alex voava pelos cruzamentos, avançava sinais amarelos e até recebia algumas buzinadas de motoristas nada felizes com as manobras que fazia.

Como estava de olhos fechados, não sabia ao certo onde estávamos, só que começamos a subir uma colina. E até me assustei quando Alex quebrou o silêncio que estava dentro do carro, ao pedir que a Siri fizesse uma ligação para Dona Amelia.

— Não precisa chamar a sua mãe. – Pedi quase que gemendo.

— Eu não vou te deixar sozinha em casa. Você pode escolher, ou fica aqui ou ela vai conosco.

— Eu não quero incomodá-la!

Ele não me respondeu, pois Dona Amelia atendeu o telefone.

— Mãe, estamos chegando. – Ele falou rápido.

— Tudo bem, filho. Já estou na garagem, como Kat está?

Alex parou por um tempo, creio que me olhando.

— Mal.

Suspirei frustrada. Eu era muito capaz de tomar conta de mim, mesmo estando mal. Não era a primeira crise que eu tinha na vida. Deus e Dona Diana sabiam muito bem disso.

A velocidade do carro diminuiu e escutei os pneus passarem do asfalto para um calçamento. Estávamos na casa dos Pierces. E eu nunca me senti tão mal na vida por atrapalhar alguém. Alex parou o carro, desafivelou o cinto e escutei ele conversando com Dona Amelia enquanto abria a porta do carro para ela.

— Não quero que ela fique sozinha. – Ele falava com a mãe.

— Mas o que aconteceu com ela? – A voz de minha sogra bem mais perto, já que ela tinha se sentado no banco de trás.

— É só uma crise de enxaqueca, Dona Amelia. Alex está sendo exagerado. – Murmurei. – Tudo bem com a senhora?

Senti as mãos dela na minha testa, creio que ela me analisava.

— Você não está nada bem e, sinceramente, se dependesse de mim, nem para casa você ia, ficava por aqui.

— Por favor. – Pedi, basicamente implorei nessas duas palavras. Ter uma babá já era ruim o bastante, agora ficar na casa dos sogros?!

— Vamos Alex. Você tem horário e ela não está nada bem. – Dona Amelia falou firme. – Ainda acho que era melhor Kat ficar aqui, mas não sei que remédio você toma quando está assim. Vou descobrir e, se um dia você precisar, vou ter em casa. – Ela dizia.

Meu noivo mais uma vez ia voando pela cidade, não tão rápido, pois a mãe dele estava no banco de trás e meio que controlava a forma como ele dirigia, contudo, chegamos bem rápido em casa e logo pude ouvir Benny falando:

— O carro está inteiro. – Ele brincou, para logo em seguida cumprimentar Dona Amelia.

Minha sogra o cumprimentou de volta, mas estava mais preocupada em me colocar para dentro de casa, já que foi na frente para abrir a porta. Eu ia caminhando devagar ao lado de Alex, Benny meio que foi junto, não sei o motivo.

— O quarto ou a sala? – Alex me perguntou.

— Sala. – Pedi, eu poderia subir depois que ele saísse.

— Se precisar de algo me ligue. – Falou preocupado.

— Eu ligo, agora vá. Senão vai se atrasar. – Praticamente tive que enxotá-lo da sala.

Alex ainda parou para conversar com a mãe, não escutei o que era, mas pude ouvir a resposta dela:

— E vocês dois, vão devagar. E eu vou tomar conta da Kat, Alexander. Pode ir tranquilo. Criei dois filhos, não perdi o jeito, por mais velhos que eles estejam agora!

Se eu não estivesse tão mal, poderia ter rido dessa resposta sarcástica. Minha sogra era uma figura e tanto. Porém, logo ela se voltou para mim.

— Vamos, Kat. Vamos para o quarto, você vai tirar essa roupa desconfortável e, se conseguir, tomar um banho.

Eu queria ficar onde estava, mas a cama me pareceu bem mais interessante. Assim, devagar e praticamente sem enxergar nada, subi a escada, minha sogra ia do meu lado, e eu podia sentir os olhos dela me analisando.

— O que desencadeou essa crise? – Me perguntou quando abriu a porta do quarto.

— Uma reunião bem desagradável com o meu avô. – Falei e só de me lembrar, minha cabeça deu uma dolorosa pontada.

— Depois você me conta. Vai para o banho, e cuidado.

Não me demorei no banho e quando saí, o quarto estava escuro, parecia até que já era noite. Arrumei a cama e me joguei bem no meio, minha cabeça latejava tanto que estava fazendo meu estômago dar voltas. E, a cada vez que a lembrança da reunião vinha na minha cabeça, eu tinha que respirar fundo. Até que me lembrei da promessa que ele havia feito:

“Eu vou fazer da sua vida um inferno!”

Não consegui conter a ânsia e tive que correr para o banheiro, colocar não sei o que para fora, já que não tinha almoçado. Com o fim da ânsia, comecei a tremer, minha vista começou a ficar ainda escura e tudo o que eu via eram pontinhos brilhantes.

— Que beleza. Lei de Murphy operando por aqui. – Falei e me arrastei até a cama, para ser surpreendida por minha sogra, que me ajudou a me levantar e me colocou na cama, depois de me entregar um copo d’água.

— Onde estão os remédios dessa casa? – Me perguntou baixinho.

— No armário do banheiro. Por favor, um para náusea e o outro para a dor, tem a descrição deles na caixa. – Pedi.

Dona Amelia logo voltou para o quarto e me entregou os dois comprimidos, que eu engoli de uma só vez.

— Vamos, agora deite-se. – Ela se sentou do meu lado da cama e logo começou a passar a mão na minha cabeça, como se penteasse os meus cabelos.

— A senhora não precisa ficar aqui, mas agradeço. – Murmurei.

Ela deu uma risada baixinha.

— Tenho do direito e o dever de tomar conta da minha nora. – Me respondeu. – Agora fique quietinha e deixe os dois remédios fazerem efeito. – Dona Amelia disse e continuou a pentear o meu cabelo, e não sei se foi o carinho ou os remédios ou a combinação de ambos, logo caí no sono.

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— Onde está a Kat?

— No quarto. Depois de muito passar mal, dormiu.

— Estava ruim assim?

— Sim, ela estava. Dei dois remédios para ela, um para náusea e outro para a dor. Fiquei com ela até agora a pouco. Estava bem tranquila quando desci. Mas o que aconteceu? Você sabe?

Era tudo muito onírico para mim. Eu ainda estava em um estado de semiconsciência, não sabia distinguir se o que eu havia acabado de escutar era sonho ou realidade, mas creio que ainda pude distinguir alguns passos, indo para longe de mim. Me encolhi na cama e abracei o travesseiro, meus olhos pesados, meu corpo ainda mais, logo voltei a dormir.

— Eu só vou ver como ela está. Se estiver dormindo, eu levo a senhora para casa agora.

— Não precisa, Alex. Fique com ela. Eu vou...

— Nós não deixamos a Kat voltar de UBER no dia do aniversário da senhora com a desculpa de que era longe. A mesma coisa aqui. Eu levo a senhora!

A conversa voltou. E parecia que alguém não queria ser contrariado. Me lembrou o Alex quando algo não sai do jeito que ele quer... Me deu até vontade de chamar por ele, porém eu sabia que ele estava ocupado. Assim, me ajeitei, e deixei que minha mente desligasse novamente.

Senti mais do que vi, quando a luz iluminou o cômodo. Logo que meus olhos identificaram o clarão, me encolhi, minha cabeça protestando e tão rápido quanto veio, o clarão se foi. Relaxei na hora, só para sentir que tinha alguém ali comigo.

Não me mexi, seja quem fosse, se deitou no colchão e logo senti uma mão fria tocando meu rosto.

— Eu já volto. Continue dormindo que você nem vai perceber que eu saí. – Terminou e eu reconheci a voz. Era Alex. Me deu vontade de perguntar como foi na reunião, contudo eu estava cansada demais. Deixei que ele me beijasse e cedo demais ele se separou de mim. – Eu te amo, Loira. – Sussurrou e saiu.

— Te amo. – Tentei falar, espero que com sucesso.

As vozes recomeçaram no corredor, ficando cada vez mais baixas à medida em que se afastavam do quarto. E, enfim, eu pude voltar a dormir.

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O quarto estava escuro, eu não fazia ideia de que horas eram. Tentei procurar por meu celular, mas a coisinha não estava no lugar de sempre ao lado da cama. Quando tateei o ar, minha mão esbarrou em algo peludo.

— Loki?

E o meu Ruivo Preferido ficou de pé nas patas de trás, se apoiando na cama, abanava a cauda feliz em me ver.

— Oi, Peludo! – Acariciei as orelhas dele. E meu cachorro ficou tão feliz com o carinho que logo pulou em cima da cama e se jogou ao meu lado. – Tudo bem... eu entendi. – Me sentei e comecei a fazer carinho na barriga dele. – Onde estão seus irmãos?

E Lokinho deu uma latida baixinha, quase um ganido e olhou para a porta. Tentei entender o que ele queria me mostrar, porém, não demorou muito, ouvi passos abafados pelo tapete do corredor e o som da porta se abrindo devagar.

Alex entrou e logo fechou a porta, parando perto da cama e olhando nada feliz para Loki.

— Então é aqui que você estava escondido?

Meu cachorro, como sempre muito esperto, só se esgueirou para o meu lado, se escondendo às minhas costas.

— Eu deveria te colocar lá fora, acordou a Kat! – Alex continuou a xingá-lo. Loki, por sua vez, começou a rosnar, como se respondesse ao que meu noivo falava.

— Ele não me acordou. – Falei. – Eu acordei e ele estava aqui, me fazendo companhia. Nada de colocá-lo para fora.

E foi só aí que Alex olhou para mim.

— Como você está? – Perguntou todo preocupado.

— Bem melhor do que antes. Mas ainda vou precisar de mais uma dose de remédio. Minha cabeça parece que pesa uma tonelada.

— Minha mãe me disse que você tomou dois. Depois de passar muito mal... – Ele me analisava, para saber se eu falava mentira ou não.

— Sim... tinha anos que eu não tinha uma crise dessas... Anos mesmo. A última de que me lembro eu ainda estava no ensino médio. Dona Amelia ainda está aqui? Gostaria de agradecê-la. Ela ficou aqui no quarto comigo por um bom tempo.

— Eu já a levei para casa. Há umas duas horas. Mas minha mãe segue me mandando mensagens querendo atualizações suas. – Alex se sentou do meu lado me abraçou.

— Quantas horas?

— São nove da noite, Kat. Olivia estava um tanto desesperada mais cedo querendo falar com você... alguma coisa sobre a previsão do tempo ter mudado para Austin ou qualquer coisa parecida.

— E minha sobrinha te mandou mensagem?

— Mais ou menos... Ela estava mandando uma mensagem atrás da outra para o seu celular, depois, cansada de tanto ser ignorada pela tia, resolver ligar. Eu atendi e expliquei a ela a situação.

— Muito obrigada. Espero que ela não tenha te perturbado muito... – Desconversei.

— Nada, foi bom, dei uma atualizada no roteiro dela.

— Ai meu Deus... isso é algo que eu não quero ver! – Gemi.

— Está com dor de cabeça novamente? – Alex se preocupou.

— Não foi embora ainda. – Expliquei. – Diminuiu de intensidade. Mas se eu não comer algo e não tomar outra dose de remédio, é bem capaz que piore.

— Fique aqui. Eu vou arrumar algo para você comer.

— Não precisa, eu desço. – Tentei me levantar, porém Alex estava do meu lado em um segundo.

— Não, Kat. Lá embaixo está muito claro. Luzes e barulho não vão te fazer bem. Fique aqui. Eu vou arrumar um lanche bem leve para você.

— Como você sabe disso tudo? Também tem crises? – Perguntei surpreendida.

— Não, não conheço ninguém que sofra, mas conversando com Olivia, ela acabou por contar para sua mãe que estava por lá, e logo Dona Diana veio me orientar sobre o que eu poderia fazer para te ajudar.

— Você conversou com a minha mãe? – Essa história ficava a cada momento mais estranha, e eu comecei a achar que estava sonhando.

— Além de ser a sua mãe, ela é médica. Quem melhor do que ela para me explicar sobre o que você está sentindo? Eu queria te ajudar de alguma forma, Kat. Não havia pessoa melhor para me socorrer.

Eu só pude olhar para Alex na penumbra do quarto, ainda sem acreditar no que ele estava falando.

— Não me olhe com essa cara de espantada. Você teria feito o mesmo... aliás, você fez o mesmo, enquanto era eu quem estava machucado. Isso se chama relacionamento. Você cuida de mim e eu cuido de você!  - Ele me disse simplesmente.

Tudo o que eu não podia agora era chorar, porque pioraria a minha dor de cabeça, mas era exatamente isso que eu estava fazendo. Chorando. Porque eu simplesmente não podia acreditar no que estava escutando. Não podia acreditar na minha sorte.

— Obrigada. – Murmurei.

Alex me deu um meio sorriso e depois um beijo.

— Eu já volto. Por favor, não tente se levantar. Sua mãe me falou que você tende a ficar com a pressão baixa quando toma esses dois remédios sem ter comido nada.

— Sim, Doutor Pierce, eu vou ficar aqui, quietinha. – Afirmei.

Alex fez uma careta para o título recém inventado e me deixou só no quarto.

Loki, aproveitando que Alex tinha saído de perto de mim, só se deitou na cama com a cabeça em meu colo.

— E como sempre, você está do meu lado... – Acariciei a cabeça dele.

Alex não demorou a voltar, creio que ele já devia ter tudo pronto, só estava esperando que eu acordasse. E, fazendo aquilo que mais detesto, acabei por comer sentada na cama, com o cachorro do lado.

— Por que essa cara? Está ruim? – Ele me perguntou, já que tinha se sentado na minha frente.

— Muito pelo contrário. Está ótimo! – Dei mais uma mordida no sanduíche.

— Não se anime, não pode comer muito. Apesar de que eu tenho certeza de que deve estar morta de fome...

Balancei a cabeça confirmando.

— O que não explica a sua cara...

— Detesto comer na cama... odeio. Ainda mais se for para deixar farelo cair...

Alex riu.

— Às vezes você fala como uma pessoa de 70 anos, cheia de manias...

— Eu sei, contudo não posso evitar.

— Se concentre em comer, outro dia falamos sobre as suas manias de velho.

Tive que rir.

— Com uma condição. – Tentei barganhar.

— Que é?

— Como foi a reunião? Alguma notícia boa?

— Sim. – Alex me respondeu e ficou calado.

— Dá para falar logo?? - Pedi nervosa e Loki se agitou do meu lado.

— Assinei um contrato para um filme.

E eu quase que jogo tudo para o alto e pulo da cama para abraçá-lo. Só não fiz isso, porque o próprio Alexander me impediu.

— Isso é sério? Sério de verdade? Alex eu estou tão feliz! Muito feliz por você! – Eu pulava sentada na cama, sendo contida por meu noivo.

Alex muito calmamente tirou as vasilhas de cima da cama, já que eu tinha acabado de comer e foi atrás dos meus remédios.

Quando voltou, deu uma empurradinha em Loki, que se deitou no chão do lado da cama, e Alex ocupando o lugar onde meu cachorro estava, começou a me encarar, logo depois que me entregou meus remédios.

— Toda notícia boa tem um lado ruim. – Avisou.

— Dá para não desanimar. A notícia é boa e pronto! Só isso. E já vou avisando, não quero saber de spoilers do filme. Quero ver quando estiver pronto. – Dei um peteleco no nariz dele. E ele só meneou a cabeça para os remédios que estavam em minha mão, me mandando tomá-los. Foi o que eu fiz.

— Se você está dizendo... – Ele continuou. – Vou lavar isso aqui, vê se não dorme antes que eu volte. E você, Loki, não vai passar a noite aqui no quarto! Sua cama está lá embaixo, ao lado da de Thor. – Alex indicou a porta e Loki, depois de parar, ficar de pé do meu lado e me dar uma lambida, saiu, obedecendo ao pai.

Aproveitei que Alex parecia que iria demorar, e fui tomar um banho de verdade e por o meu pijama. Ainda pensando na boa notícia que ele havia dado.

— Ficou acordada! Achei que já teria capotado. – Ele brincou.

— Acho que estou eufórica demais com a notícia. – Respondi quase dando pulinhos na cama.

— Kat, - Ele começou ao parar do meu lado. – A notícia é sim, muito boa.

— Já contou para seus pais?! – Interrompi e ele logo tratou de tentar me silenciar colocando o dedo indicador nos meus lábios. – Desculpe. – Murmurei.

— Não, eu ainda não contei. Domingo à noite conto, quando formos jantar. E sim, nós vamos jantar com eles. – Me explicou. – A parte ruim, é que uma parte do filme vai ser gravada na Europa. Vou passar dois meses lá. Fevereiro e março.

Ah... então era isso.

— Não é tão ruim assim... – Tentei contornar a situação.

— Você é sempre tão otimista assim? – Ele me questionou.

— Não. Mas estou tentando ser. Onde serão as locações?

— Leste Europeu e Londres, por quê?

— No Leste Europeu não posso garantir nada, mas em Londres, você vai ter lugar para ficar. – Garanti.

— Não vou ficar hospedado na casa de seus pais.

— Quando descobrirem que você vai estar lá, vão te chamar. E você será capaz de dizer não aos seus sogros?

— Jogando minhas ideias contra mim agora, Kat?

Dei de ombros.

— Você não tem jeito. – Ele tornou a me beijar. – Agora volte para cama e nada de ficar olhando para isso aqui. – Colocou meu celular para carregar do meu lado e depois foi para o banheiro.

Confesso que minha mão até coçou para pegar o aparelho e ver o que tinha acontecido de novo nas últimas sete horas, mas não o fiz, não queria piorar a minha situação, assim, me ajeitei e esperei para Alex vir se deitar do meu lado.

E, ao ficar abraçada com o travesseiro dele, só pude pensar: Se acostume, garota. Ele vai ficar DOIS meses longe de você. Na sua Europa, enquanto você trabalha aqui na Califórnia, na terra dele.

Suspirei. Essa era uma das partes ruins... ele sempre teria que ir a algum lugar, e às vezes, não seria perto e nem por pouco tempo. Will é o melhor exemplo. E olha que a Geórgia é logo ali, comparada com o Leste Europeu.

— Aconteceu algo? – Alex me perguntou.

— Nada, por quê?

— Seu suspiro. – Me informou.

— Não é nada, Alex. E venha aqui. – Chamei-o.

— Para?

Me sentei na cama e o fiz sentar na minha frente, só para pentear o seu cabelo.

— A viciada no meu cabelo! Creio que você terá um infarto com a próxima informação.

Virei a cabeça de Alex para que eu pudesse ver seus olhos. E quando ele notou que eu estava além de curiosa, abriu um meio sorriso.

— Será que pode dividir a informação? – Pedi, batendo nele com o pente.

— Eu vou ter que deixar o cabelo crescer.

Bem... eu não me importava nem um pouco, contudo, será muito interessante ver a cara do meu pai, quando chegarmos em Londres em dezembro... pois além de ator, tatuado e surfista, meu noivo estará ostentando um cabelo comprido. Ou seja, meu noivo é a personificação de tudo o que meu pai mais detesta.

Jari-Matti vai atrás dele com uma tesoura e depois vai expulsá-lo do país!

— Não vai falar nada?

— Curiosa para te ver de cabelo comprido. – Comentei.

— E mais o que?

— Meu pai vai correr com você de Londres, quando vocês se encontrarem em dezembro...

— Ainda bem que vou conhecê-lo na próxima semana, então.

— Se você acha que ele vai ficar sem falar nada em dezembro, pode esquecer, ele vai falar.

Alex se jogou do meu lado e logo depois em abraçou, me colocando o mais próximo dele que era possível.

— E você, vai ficar de qual lado? – Me perguntou.

Comecei a rir.

— Vamos ver como você vai ficar de cabelo comprido... – Deixei a frase no ar.

— Creio que é melhor eu fazer um testamento e deixar tudo para minhas sobrinhas e meu sobrinho. – Ele disse finalista.

— Só não conte a ninguém, senão meu pai te mata de vez. – Brinquei.

— Vou pensar no que vou escrever nele, e você, vai dormir, - Ordenou.

Me ajeite no lugar onde estava, e fechei os olhos, mesmo achando ser impossível de dormir depois de já ter dormido tanto.

E, com esse pensamento, eu acordei na manhã de sexta-feira. Ainda nos braços de Alex, escutando meu celular despertar e me notificar de que mensagens não paravam de chegar.

——————————

— Quem está desesperado desse jeito, às 6:00 horas da manhã? – Alex murmurou ao escutar meu telefone.

Estiquei o braço e peguei o celular.

Trinta mensagens. Todas de um único contato.

Olívia.

— Ela está descontrolada! – Murmurei.

— Quem? – Alex quis saber, ainda deitado.

— Olívia. Me mandou trinta mensagens nos últimos vinte minutos! Uma mais doida que a outra. – E eu não fechei a boca, e lá veio mais uma.

Estou livre da escola!! Finalmente! Faltam sete horas para meu embarque!!✌✌✌‍♀️‍♀️╰(*°▽°*)╯(☞゚ヮ゚)☞

— O que significa esse último?? – Alex me perguntou apontando para o kaomoji.

— Não faço a menor ideia, mas vindo de Olivia, não tem significado algum, ela só coloca essas coisas porque acha fofo... – Expliquei.

Alex ainda lia as mensagens loucas e piradas da minha sobrinha.

— Agora você está com medo de ficar ao lado de uma pré-adolescente pelos próximos dez dias, não está? Se arrependendo das escolhas que fez há um mês e pouco atrás... – Cutuquei.

Alex tinha os olhos azuis arregalados.

— Não... se é assim que ela for se comunicar... acho que vou precisar de uma tradutora.

Tive que rir.

— Esses dois últimos são os kaomojis. Emojis japoneses que misturam os caracteres da escrita japonesa, caracteres ocidentais e muita criatividade. E não se preocupe, apesar de que Liv fala japonês muito bem... ela não vai despejar isso aqui na sua cabeça... vamos dizer que ela sabe com quem apronta. – Expliquei.

— É... teve um tempo que eu sabia o que estava escrito na internet... eu estou ficando velho!!

— Nada como uma pré-adolescente que vive grudada no celular para te atualizar... fica tranquilo, em dez dias, você vai falar como ela.

— A menos que eu a ensine a falar como eu...

Fiz uma careta.

— Não... ela te ensina. E eu aposto meu emprego nisso. Agora... eu tenho que me levantar, porque os alemães não gostam de esperar. – Falei e ia me levantando quando Alex colocou a mão no me meu ombro e me segurou em meu lugar.

— Como você está se sentindo?

— Muito melhor. Agora é só uma dor de cabeça comum. Nada que um Advil não resolva.

Ele me olhou cético.

— Juro para você... se estivesse como ontem eu mal estaria abrindo os olhos. – Expliquei e só assim ele me deixou levantar da cama.

Em tempo quase recorde, tomei um banho, me arrumei e, depois de tomar um café daqueles, ainda tive tempo de colocar a roupa de cama e de banho que tinha comprado para Olivia, na máquina para lavar e secar, ou seja, uma minimaratona antes mesmo das sete da manhã.

Estava quase dentro do meu carro quando Alex começou a me puxar para o carro dele, ou melhor, para o carro que eu dei a ele.

— Eu estou bem para dirigir, Alex. – Falei enquanto ele ainda insistia em me levar.

— Vamos evitar uma confusão igual a de ontem. Eu te levo e te busco. Sem maiores problemas.

Contive a vontade de revirar os olhos.

— E, assim, você chega mais cedo para acabar de ajeitar as coisas da Liv. – Ele ia tagarelando. – Ela desembarca que horas?

— 22:00 e eu só não cravo em ponto, porque não sei a quantas anda a previsão do tempo em Londres... mas os pilotos da empresa não costumam atrasar. Funcionam igual a um relógio suíço.

— Vamos ver... nunca vi um voo chegar ou partir no horário. – Alex apostou.

— Ah... vai ver hoje. – Garanti.

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Só para variar, Alex conseguiu fugir de todo o trânsito pesado e me deixou na porta do elevador faltando quinze minutos para a reunião começar.

Quando abri a minha sala, vi que Milena ou Amanda, vai saber, deixou tudo pronto para a reunião de agora, em cima da mesa de conferência, me adiantando muito.

E, pontualmente às 08:00 da manhã, Klein me saudou com seu forte sotaque:

Guten Morgen![1]

Guten Tag, Herr Klein!— Saudei de volta de depois de uma troca de amenidades, fomos aos negócios.

Três horas depois, me despedi da cúpula do Grupo Volkswagen e pude dar uma alongada nas costas. Me distrair por poucos minutos com mais serviço, para me preparar para mais uma reunião.

Nesse meio tempo, Milena me atualizou do dia anterior, adiantei o que era preciso e urgente, pude escutar a animação de Amanda contando para Milena como foi a reação dos pais quando ela disse que tinha conhecido Alex. Só não consegui almoçar. Faltou tempo nas duas horas.

E a reunião com os chilenos foi tão longa quanto eu já tinha previsto... e, ao invés de sair às 16:00 horas, acabei por sair às 17:00, o que me rendeu um belo puxão de orelha de Dona Amelia e de minha mãe...

— E como elas ficaram sabendo que eu estou saindo agora, hein Alexander? – Perguntei assim que encerrei a segunda ligação, minha mãe tinha falado na minha cabeça até quase estourar, só não continuou porque já muito tarde em Londres.

Alex deu de ombros e fingiu que estava 100% concentrado no trânsito e, assim, ficou até que chegamos em casa.

— Fofoqueiro. – Reclamei. – Stark tem quem puxar. É tão fofoquito quanto você! - Subi as escadas reclamando e assim fiquei enquanto arrumava o quarto onde Olivia iria ficar. Claro que Alex me ajudou, porém não abriu a boca quanto ao assunto.

— Que horas você quer sair para ir pegar a Liv? – De uma hora para outra ele resolveu perguntar.

Parei no meio da lavanderia e fiz as contas. Acontece que eu não fazia ideia da distância, nem do tempo que iríamos levar para chegar até o aeroporto.

— Quanto tempo demora para chegar até lá?? – Retornei a pergunta.

Alex começou a rir.

— A gente sai às 21:00, vai ter tempo suficiente para chegar, parar o carro e achar o hangar.

— Quem sou eu para discordar de você! – Falei e conferi o relógio. Agora faltava pouco para que minha sobrinha chegasse e finalmente fosse devidamente apresentada para a família do meu noivo.

E, sem querer, me peguei nervosa.

 

[1] Bom Dia!


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Notas finais do capítulo

E é isso tudo! Espero que tenham gostado!
Muito obrigada a você que leu e que acompanha!
Até domingo com o próximo capítulo e a chegada de Olivia!
xoxo



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