Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 46
Virando o Jogo


Notas iniciais do capítulo

E o capítulo que tanto queriam chegou!! Até um pouquinho atrasado, mas essa escritora aqui se embolou com a linha do tempo e teve que reescrever um pedaço da história... enfim, antes tarde do que nunca, vamos ao lançamento do comercial.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799284/chapter/46

Eu tinha plena certeza do que eu estava fazendo, o que não significava que eu não estava nervosa.

Eu estava nervosa. Muito. E enquanto eu me arrumava e tentava parecer mais com uma pessoa do ciclo de Alex do que uma workaholic vinda da Finlândia, minha mente, ao invés de me dar os melhores cenários, só me mostrou tudo o que poderia dar errado.

E eu vi mais de vinte opções onde tudo, absolutamente tudo, dava errado.

Respirei fundo e me apoiei na bancada do banheiro, abaixando a cabeça para tentar reorganizar meus pensamentos, colocar tudo em ordem e em perspectiva.

Será que eu estava fazendo a coisa certa? Será que valia a pena jogar esse jogo contra Mia e Suzanna? Valia à pena me expor e, consequentemente, expor a minha família, para demonstrar que as duas modelos estavam erradas?

Porém, tinha outro fator nessa equação complicada. Não se tratava só de mim, se tratava de Alex também. Ele merecia o meu apoio, meu total apoio, depois de tudo o que fizeram com ele.

Quando levantei o rosto e me encarei no espelho, estava decidida. Isso não era por mim. Era por Alex. Eu estava enfrentando a mídia por ele.

Acabei de passar a maquiagem, soltei o cabelo que tinha colocado para secar com rolinhos para ver se conseguia ondulá-lo um pouco e saí para o closet, com o intuito de conferir o resultado.

Eu estava apresentável, não me destacaria em um mar de gente famosa e/ou importante da Califórnia, porém não faria feio.

Busquei pela clutch que estava em cima da cama, peguei meus sapatos e rumei para o primeiro andar. Antes mesmo de descer, vi que o paletó de Alex já estava dependurado perto da porta e ele estava um tanto jogado no sofá, trocando os canais da TV sem ver nada em específico.

Parei atrás dele sem fazer qualquer barulho e, quando ele suspirou cansado de me esperar pela terceira vez, me abaixei até que minha boca ficasse da altura de sua orelha e soltei:

— Se você continuar a trocar de canal igual a um lunático, nós vamos nos atrasar.

Ele deu um pulo e deixou o controle cair no chão. Segurei a risada quando ele se virou pronto para soltar alguma frase sarcástica por conta da minha demora, porém ele não falou nada.

— Alex?! – Chamei diante do seu silêncio.

Ele só deu a volta no sofá e parou na minha frente, olhos arregalados e fixos em mim.

— Ainda bem que você escondeu esse vestido... ou estragaria a surpresa. Você está linda, Kat. – Falou olhando em meus olhos.

— Obrigada. – Respondi sem graça, sentindo o meu rosto corar na hora. Alex não perdeu tempo e passou a ponta do dedão na minha bochecha.

— Toda vez que eu te elogiar você vai ficar envergonhada assim? – Me perguntou, levantando levemente meu rosto para que nossos olhares se cruzassem.

Eu não tinha resposta para essa pergunta. Mas meu rosto me entregou ao ficar ainda mais vermelho.

Alex abriu um sorriso imenso.

— É, eu acho que você vai. – Afirmou e depois estendeu a mão para que eu a pegasse. – Ninguém vai olhar para nada além de você hoje à noite. – Falou no meu ouvido.

Calcei meus sapatos e Alex não me deixou nem abrir a porta do...

— Desde quando esse carro está aqui? – Perguntei abismada para o Porsche Cayenne novinho que estava na garagem.

— Entregaram de tarde... Sabe como é... eu tenho que chegar nesse carro.

— Como eu não o vi aqui?! – Murmurei diante do imponente SUV.

— Acho que você estava distraída com alguma coisa... ou seria com alguém? – Alex perguntou.

Quando deu a volta e assumiu o volante, tornou a olhar para mim e ele só tinha uma reclamação.

— Infelizmente vou ter que me segurar para não te beijar agora, ou é bem capaz que eu estrague toda a sua produção.

— Eu tenho o batom aqui comigo.

O sorriso dele não era nada bento.

— Talvez depois dos fotógrafos da entrada. – Disse pensativo. – Será que eu vou aguentar até lá? – Se perguntou e agarrou a minha mão, segurando-a na sua que estava apoiada na sua perna.

O local onde o lançamento da campanha aconteceria não era tão longe, e, como sempre, Alex chegou rapidamente. E isso fez com que tivéssemos que esperar pelo momento perfeito. Afinal, ali estava o novo modelo da marca, bem como o novo garoto propaganda. E, pela primeira vez eu via o trabalho que era para que tudo fosse perfeito. Pois Lee estava dando as devidas instruções à Alex sobre o horário e como ele deveria chegar com o carro no tapete vermelho.

Sim, o carro atravessaria o tapete vermelho.

Fiquei calada por um bom tempo, já que Alex estava recebendo instruções atrás de instruções, e eu já estava ficando nervosa de escutar só um lado da conversa, até que finalmente, deram a permissão para que chegássemos com o carro.

Alex virou a esquina e eu quase fiquei ofuscada pelas luzes e pelos flashs. Como estavam coordenando via fone de ouvido, Alex atravessou o tapete vermelho e parou o carro no final, onde o espaço era maior. E ao descer, os flashs pipocaram ainda mais. Afinal, ninguém esperava que Alexander Pierce fosse voltar a fazer esse tipo de trabalho. Meu noivo, sem nem se incomodar com as luzes, parou na frente do carro e deu o tempo necessário para que algumas fotos fossem feitas, mostrando devidamente a marca que ele agora era o garoto propaganda. Vi, pelo retrovisor a organizadora dando a permissão e, assim, Alex completou a volta no carro e, parando ao lado da porta do carona, a abriu, estendendo a mão para me ajudar a descer sem maiores problemas. Coloquei os dois pés no chão e olhei para Alex, ele sentiu o meu nervosismo através de minhas mãos frias, e antes de fechar a porta, sussurrou:

— Vai dar tudo certo. Só me deixe guiá-la.

— Confio em você. – Respondi e ele fechou a porta, me puxando levemente para o seu lado, enlaçando minha cintura para que pudéssemos caminhar lado-a-lado e depois posarmos para fotos.

Por uns poucos segundos, os flashs cessaram, e eu pude ver a cara de espanto de cada um dos presentes.

Alex não só ressurgira das cinzas, como vinha acompanhado.

Passada a surpresa inicial, os flashs estouraram com ainda mais vontade. Eu podia jurar que não enxergava mais nada que estava na minha frente, então depositei toda a minha confiança nas mãos de Alex, que jamais me soltou e me conduziu com maestria por toda a extensão do tapete vermelho.

Quase no fim do tapete, paramos, Alex, dando uma meia volta e se virando de frente para os fotógrafos que estavam sedentos por mais detalhes, acenou e abriu um sorriso estudado, não os que eu conhecia, mas aqueles realmente de propaganda, de foto. Ele deu um passo a frente, me levando junto, uma mão em minha cintura, me protegendo e me passando forças e, foi nessa hora que os mais afoitos se viram no direito de despejarem mil e uma perguntas, tanto sobre Alex quanto sobre mim.

— Está em volta em definitivo Alex?

— Depois de hoje, qual é o seu próximo trabalho?

— É verdade que você está pensando em seguir para o ramo da direção?

— Qual é o nome dela, Alex?

— Moça, o que você está vestindo? E calçando?

— Tem quanto tempo que vocês estão juntos?

— Onde se conheceram?

Eram as perguntas gritadas para Alex, nos intervalos das câmeras.

Como era de se esperar, eu fiquei tensa com tanta atenção e perguntas, isso aqui era completamente novo para mim. Senti a mão de Alex espalmar nas minhas costas e começar a se mover em círculos ali. Ele me acalmava diante do mar de luzes que estavam na nossa frente.

— Obrigada. – Sussurrei perto de sua orelha e meu movimento atraiu ainda mais fotos. E mais perguntas.

Fizemos mais algumas poses, ou Alex fez, eu só acompanhava seus movimentos, parando de uma maneira que sabia que não ficaria feia na hora do clique, ou assim eu achava, e logo depois que a organizadora disse estar satisfeita, foi que saímos e fomos para a relativa segurança do interior do prédio.

E lá dentro o clima era completamente oposto, calmo, sem fotógrafos sedentos por uma foto única e exclusiva, pessoas conversando tranquilamente. E eu pude notar quem eram os possíveis compradores do automóvel, os ricos e famosos que já estavam se servindo dos coquetéis.

Alex deu um passo à frente, tirando a mão da minha cintura e passando a segurar a minha mão e logo Lee apareceu ao lado de uma mulher que presumi ser a esposa dele.

— Isso menino! As fotos ficaram ótimas. – Disse ao abraçar Alex. – Boa noite, Katerina! – Me cumprimentou com um aperto de mão. – Vocês dois foram muito bem lá fora! – Falou na nossa direção. – Agora, Katerina, me dê licença, preciso levar Alex até ali. – Apontou para o carro que estava no meio do salão.

— Vão. – Respondi com um sorriso. Alex me perguntou com os olhos se eu ficaria bem. – Eu vou ficar ótima! – Garanti e assim que os dois se afastaram, olhei em volta, reconheci algumas celebridades que conversavam animadas com outras celebridades ou ricaços. Estava pronta para procurar um lugar bem discreto para ficar, quando uma voz com um forte sotaque alemão me chamou.

— Katerina Nieminen! Que prazer em revê-la!

Me virei na direção da voz e vi o Diretor de Vendas e Marketing do Grupo Volkswagen, o mesmo que eu tive que convencer que fechar o acordo de transporte com nossa empresa valia à pena.

— Wilhelm Klein! Realmente quanto tempo! – Falei e estendi a mão para ele.

— Fico feliz que recebeu o nosso convite, faz anos que você é fã desse modelo! Aliás, já viu o carro?

Eu sei que eu estava dentro dele até bem pouco tempo atrás, porém, estava tão nervosa, que nem pude observar as mudanças da nova versão, então, apelei para a sinceridade.

— Ainda não. Na verdade, acabei de chegar.

— Bem, só temos que esperar que terminem com as fotos com o nosso garoto propaganda e você pode ir até lá. – Klein apontou para o carro e para Alex, que curiosamente olhava para nossa direção. – Você o conhece? – Me perguntou.

— Sim. Meu namorado.

E o alemão deu um raro sorriso.

— Bem, então isso explica os olhares dele para mim.

Um tanto sem graça, dei um sorriso. E fiz uma anotação mental de avisar Alex para parar com isso.

Klein não pareceu se incomodar com os olhares de Alex e começamos a conversar sobre o carro. Logo a esposa dele, Simone, que também trabalha para a Porsche e quem eu já conhecia, se juntou a nós e o assunto saiu do carro para viagens de esqui na Europa.

Notei que o evento foi enchendo, mais e mais pessoas iam chegando, mas nada ficou claustrofóbico, uma amostra do excelente trabalho de organização que Simone havia feito.

Por ser um evento, todos são obrigados a circular de vez em quando, e foi o que os Klein fizeram e me vi sozinha novamente, Alex ainda parecia que iria demorar, agora ele estava dando uma entrevista para os assessores de imprensa e pelo que parecia, isso iria ser devidamente compartilhado nas redes sociais.

Resolvi dar uma volta pelo salão, ver se conseguia observar um dos carros e compará-lo com o meu, cumprimentava as pessoas que me cumprimentavam e, um tanto distante do burburinho do centro do salão, consegui chegar perto de um dos modelos, estava analisando a sutil diferença de design quando uma voz chamou a minha atenção.

— Isso parece até um absurdo. Você no mesmo evento que eu!

Não precisei me virar para saber quem falava comigo. E eu tinha duas opções, ignorava o comentário e voltava para onde o evento estava mais agitado ou encarava um dos meus piores pesadelos.

— Espantada estou eu, Mia Spencer. Você nunca foi fã de carros! Está aqui por qual motivo? – Me virei para minha irmã e, pela primeira vez, vi sua barriga de grávida pessoalmente.

Mia deu um passo para trás. Era o movimento típico dela. Ela sempre cutucava e quando a pessoa não saía correndo, ela se assustava. E quando se tratava de nós duas, ela sempre teve medo de mim.

— Pelo visto, nós duas estamos interpretando o mesmo papel de acompanhante aqui. – Disse sarcasticamente.

— Você pode ser uma mera acompanhante. Eu sou convidada. Mostrei o convite com meu nome. Privilégios de se trabalhar com as pessoas certas.

Mia me olhava de cima abaixo.

— O que foi? Com inveja do corpo que você não vai mais ter? – Perguntei para ofender, afinal, quem estava com uma circunferência bem grande era ela.

— Eu vou voltar ao meu corpo de antes.

— O de antes... antes, não vai não. Não sei se te falaram, mas o quadril aumenta um pouquinho depois da gravidez... e não tem cirurgia plástica que resolva isso.

Minha irmã deu um suspiro e olhou para a própria barriga.

— Se arrependendo do golpe da barriga para agarrar o Príncipe, né? Deveria ter pensado muito bem antes de tentar garantir uma Lamborghini por mês.

Mia estreitou os olhos na minha direção.

— Acha que pode fazer piada comigo?

— Ah... eu não acho. Eu tenho certeza! – Confirmei.

— Até onde eu sei, você não está em um bom momento para tentar bancar a felicidade em pessoa... seu avô anda querendo a sua cabeça e sei que você andou recebendo um bilhetinho interessante.

— Não sabia que você estava tão desesperada por dinheiro, Mia, a ponto de começar a vender informações para que pessoas de quem você não gosta possam aparecer nas capas das revistas que você tanto ama aparecer... Fico lisonjeada com o seu altruísmo de querer dividir os holofotes comigo...

Os olhos de minha irmã se arregalaram e ela tentou pensar em algo para falar, porém não conseguiu.

— Como... como...

— Obrigada. – Agradeci com um sorriso cínico. – Mas não precisava. Nem eu ou Alex gostamos dessas coisas. Mas para que você não precise se cansar tanto, ainda mais na reta final da gravidez, saiba que chegamos juntos e amanhã as nossas fotos já estarão por aí. Seu trabalho de assessoria de imprensa silenciosa já não é mais necessário.

Ela ficou lívida.

— E dê um abraço na sua amiga Suzanna, cortesia de Alex. Nós dois apreciamos, e muito, o tanto que vocês se importam com as nossas imagens. – Terminei e recomecei a voltar para perto de onde Alex deveria estar.

Mia me alcançou alguns minutos depois e, como sempre, tinha que falar algo para me ofender:

— Isso não vai durar, Katerina. Ele não é homem para você. Você não é feita para isso aqui. Logo ele vai achar alguém da classe dele e você será esquecida.

— Eu não tenho medo de ficar fora dos holofotes, Mia. Você tem. Para mim seria indiferente. Meu emprego estará sempre garantido. Já o seu... cuidado. Talvez não tenham espaço para modelos mães, daqui a alguns meses. – Respondi e a deixei sozinha, parada, no meio do salão, porém, a sensação de vitória era estonteante, e eu poderia até beber uma taça de champagne para comemorar.

Não fiquei sozinha por muito tempo, Alex logo me encontrou e diante da minha expressão, me perguntou:

— Perdi alguma coisa?

Abri um sorriso ainda maior.

— Ah... perdeu. – Confirmei.

Ele levantou uma sobrancelha.

— Minha irmã.

— Mia está aqui? – Questionou com uma expressão realmente raivosa.

— Pode ficar tranquilo, que eu já a coloquei no lugar dela, e de uma maneira que a deixará pensando por muito tempo.

Alex passou o braço em volta da minha cintura e com um sorriso de lado, apenas falou:

— Você vai ter que me contar como fez isso. Quero rir um pouco.

— Ah... pode deixar que eu conto. – Dei um beijo na bochecha dele e logo me arrependi, pois um flash estourou bem perto de nós.

— Você se acostuma. – Ele me garantiu. – Bebe alguma coisa?

— Água. Trabalho amanhã.

Alex me guiou no meio dos convidados, parando às vezes para conversar ou cumprimentar um ou outro. Sempre com um sorriso estudado nos lábios e, assim que chegamos no bar, ele respirou fundo.

— Lembra que eu te disse que você atua muito bem? – Perguntei quando o bartender me entregou a minha água.

— Lá vem você.... – Alex resmungou.

Não me intimidei.

— Quem não te conhece, acha que os seus sorrisos, nesta noite, são autênticos. Ninguém está desconfiando de nada, nem Lee.

Ele se virou na minha direção, realmente curioso com o que eu estava falando.

— Mas eu sei que não são autênticos. Já vi seus sorrisos. Esses de hoje são apenas para fotos, iguais aos lá de fora. Não mostram o verdadeiro Alexander.

Ele se abaixou até que seus lábios estivessem na altura da minha orelha.

— Acho muito bom a senhorita ficar com essa constatação só para você.

Sorri para ele.

— Pode apostar que vou... Já tenho que dividir a sua imagem com todas essas pessoas... os sorrisos de verdade são só meus!

Alex escondeu o próprio sorriso atrás do copo, mas eu sabia qual sorriso estava em seu rosto agora, pois refletia em seus olhos.

Ficamos ali um tempo, era um bom lugar para estar, perto das portas que levavam a uma enorme sacada e sem muita gente, com pouco, os Klein apareceram e conversamos um pouco. E assim que saíram, tive que cutucar Alexander.

— Ah... e só para seu governo, pare de ficar lançando olhares mortais para o alemão.

— Seu amigo?

— Diria que é o cara que pagou pelo seu trabalho.

Alex deu uma olhada para o casal.

— E paga pelo meu, o contrato exclusivo que tenho com o Grupo foi fechado com ele. – Informei.

— Vou me lembrar disso. – Ele brincou.

Lee reapareceu e começou a falar da repercussão que somente a chegada de Alex já estava tendo na mídia e, com alguns estúdios.

— Estão me perguntando se você voltou, rapaz. O que eu digo?

— Diga que estou aberto a propostas. – Alex respondeu me olhando.

— Que tipo de proposta?

— Você sabe o que eu gosto de fazer, Hugh. – Alex se virou para o empresário. – Tenha isso em mente antes de me mandar a proposta.

— Claro, claro. E, antes que eu me esqueça, o lançamento oficial da campanha é em dez minutos. Aproveite a companhia da Katerina enquanto isso, porque depois virá o photoshoot e as entrevistas que você já está acostumado. E isso demora um pouquinho. – Lee falou essa parte final, me encarando.

— A Kat pode ficar por perto para ver como isso acontece, Lee. Não é como se ela fosse dar um escândalo e querer aparecer na frente das câmeras. Isso era coisa de outra pessoa. – Alex me defendeu.

— Eu sei, Alex. Só informando para a novata nesse mundo. Isso tudo deve estar te deslumbrando, não? Todas essas pessoas ricas...

Quem ele achava que eu era? Uma alpinista social? Dei uma olhada rápida para Alex que tinha a expressão fechada depois do comentário.

— Bem... realmente é novo para mim. Mas para alguém que já jantou com o emir dos Emirados Árabes, creio que posso me virar muito bem. Além do mais, conheço o staff da Porsche que está aqui. São meus clientes. Eu resolvo como esses carros serão entregues pelo mundo... Pode ter certeza de que não vou atrapalhar o seu trabalho, Lee.

Lee deu dois passos para trás depois dessa informação e olhou de Alex para mim e refez as olhadas.

— Você trabalha com que? Não me lembro com detalhes...

— Kat é a Diretora Executiva do Escritório do Pacífico da Nieminen Trade & Shipment. Está mais do que acostumada com pessoas ainda mais poderosas do que as que estão aqui.

Lee me deu um aceno de cabeça, completamente sem graça e pediu licença.

— Sobre isso... - Alex começou todo sem graça.

— Ele achou que eu estava tentando dar um golpe em você? – Falei interrompendo meu noivo.

Alex respirou fundo.

— Mesmo depois do que eu falei hoje de manhã. Kat, me desculpe.

— Não é culpa sua, Alex. Sei que não é. Só me perdoe se eu tentar colocá-lo no lugar de vez em quando.

— Fique à vontade. Sua sogra vive fazendo isso.

— Bem... então ele deve estar acostumado. – Murmurei.

Ficamos ali, em silêncio, vendo algumas pessoas se autopromoverem com selfies, lives em redes sociais, e achando graça da forma como paravam e faziam poses ridículas.

Pouco antes da campanha ser mostrada, pedi licença para ir ao banheiro retocar a maquiagem e treinar uma cara de simpática para fazer perto de Lee. E como parecia que queriam me testar nessa noite, estava lavando as mãos quando uma loira parou do meu lado e me encarou, me medindo, até soltar a seguinte piada:

— Sério que é você a nova namorada do Alex? Ele está andando ao lado disso?

Levantei meus olhos e vi Suzanna Cameron.

Ótimo... essa era a minha noite para encontrar com pessoas desagradáveis. Me virei, querendo sair dali.

— Nenhum vestido da Versace vai te fazer ser menos comum. Você é ridícula.

Juro que tentei sair sem falar nada, mas ela colocou o pé na minha frente e soltou outra pérola.

— Céus, vocês juntos são deprimentes.

— E por que você se importa? - SIibilei. - Você praticamente acabou com a carreira do Alex, e nem me conhece. E nem era para estar aqui. Isso aqui é um lançamento de um carro, não um desfile da Semana de Moda. – Disparei. – Tem medo de que o Alex dê a volta por cima e todos percebam que você só busca homens ricos e bonitos para estar na mídia e ser o assunto do momento?

Suzanna me olhou raivosa e, tarde demais me lembrei do que Alex havia me dito, a mulher tinha sérios problemas de controle de raiva.

— Cuidado com o que vai fazer... aqui tem muitos espelhos, vai que um quebra e um caco acerta seu rosto... para você seria o fim da sua carreira. – Tentei assustá-la.

Minha tentativa não foi lá um sucesso muito grande e Suzanna contra-atacou.

Ele me ama. Ele sempre me amou. E vai voltar para mim se eu estalar os dedos. Você é só um brinquedinho temporário.

— Até lá, sou eu quem está acordando lado dele. Sou eu quem está beijando a boca dele e, é para mim que ele fala eu te amo. Viva com isso. – Falei e saí do banheiro, deixando uma Suzanna paralisada no meio do cômodo.

Respirando fundo, voltei para onde tinha visto Alex pela última vez.

— O que foi? – Ele me perguntou.

— Acabei de ter uma conversa muito interessante com a sua ex.

— Ela também está aqui?

— Infelizmente, sim.

E logo a própria passou atrás de nós e soltou:

— Olha que fofo... não sabia que estavam deixando os fracassados entrarem.

Alex deu um passo na minha direção e eu só pude pegar a mão dele e fazer um carinho, não olhamos para ela.

— Essa é a noite, hein? – Ele comentou quando Suzanna se afastou.

— Nem falo nada. E parece que seu grande momento é agora. – Olhei por cima do ombro dele, e vi Lee vindo ao nosso encontro.

Alex me deu um beijo, e disse:

— Me deseje sorte.

Tive que rir.

— Você não precisa disso, tem talento! Muito talento. – Sorri de volta e lhe dei outro beijo. – E eu sei que você já sabe disso, mas eu te amo!

Alex me puxou pela mão e me levou com ele para o centro do salão. Parando perto dos responsáveis pela campanha e, assim que as luzes diminuíram e todos prestaram atenção no anúncio, ele apertou ainda mais a minha mão.

— Vai dar tudo certo. – Murmurei em seu ouvido, sem tirar os olhos da tela e da propaganda. E como ele disse, era completamente diferente de tudo o que eu já tinha visto. E agora eu sabia o porquê de ele ter demorado tanto para gravar. Quando acabou e as luzes voltaram à potência normal todos aplaudiam.

Um comercial de noventa segundos. Que seria transmitido no horário nobre em todo o mundo. Eu não poderia estar mais orgulhosa!

— Parabéns! Se é isso que se fala em momentos assim. Eu adorei e você está perfeito, Alex! – Murmurei no seu ouvido. Ele se virou na minha direção, tinha os olhos brilhando de felicidade e abriu um sorriso enorme. – Vai lá ser a estrela junto com o carro. Estão te chamando! – Cutuquei seu ombro. E antes de ir, Alex me deu outro beijo. – Rakastan sinua, Surfista. – Murmurei só para ele ouvir, o que aumentou ainda mais o sorriso dele.

— Também te amo, Rainha do Gelo!

Quando ele foi conversar com os responsáveis pelas mídias sociais e tirar mais um monte de foto ao lado do carro, Lee veio e parou do meu lado.

— Creio que começamos com o pé esquerdo, Katerina. Me desculpe.

Olhei bem para ele, um tanto cética quanto ao seu pedido de desculpas.

— Não deveria ter te julgado sem te conhecer. É que a grande maioria das mulheres bonitas, como você, geralmente estão com homens como Alex pelo dinheiro e os quinze minutos de fama.

— Não preciso de dinheiro, trabalho desde os onze anos para ter o meu. – Respondi um tanto ríspida. – E não quero e nem preciso de fama. Não cheguei ao lado de Alex para ficar famosa. Mas para apoiá-lo. Sei o que ele passou alguns anos atrás. E não gostei do que você falou ou insinuou.

Lee ficou calado, depois soltou:

— Você tem uma personalidade tão forte quanto Amelia me disse que tinha. Realmente te julguei mal.

— Dona Amelia não erra nos julgamentos que faz. – Comentei e voltei meu olhar para Alex, que agora estava apoiado no capô do carro, para uma nova rodada de fotos.

— Creio que por ele, devemos tentar recomeçar. Alex gosta muito de você.

— Você continua não gostando de mim. – Constatei.

Lee me olhou, eu não o olhei de volta.

— Sua presença é forte perto de Alex. Acaba por influenciá-lo. E isso é novidade para mim.

— Com medo de que eu fale algo e ele troque de empresário?

— Você faria isso?

— Não. Sr. Pierce e Dona Amelia confiam em você. O senhor é empresário de Alex há muito tempo e deve ter excelentes contatos nesse mundo, para conseguir esse comercial para Alex, mesmo depois de um hiato tão grande na carreira. Você não gosta de mim pelas razões erradas, eu não vou mudar a opinião que Alex tem do mundo e das pessoas. Não sou manipuladora. Eu só sou a namorada dele.

— Eu diria noiva. – Ele retrucou.

Olhei para ele.

— Não que isso mude algo na minha vida. – Ele disse diante do meu olhar.

— É, não muda.

Lee olhou em volta, eu prestava atenção em tudo o que Alex fazia e cada vez que nossos olhares se cruzavam, eu abria um sorriso. Estava feliz porque ele estava fazendo algo que gosta, que nasceu para fazer. E o que o deixava feliz, me trazia felicidade também.

— Eu realmente te julguei mal. – Lee comentou depois de ver a nossa troca de olhares. – Desculpe-me, Katerina. Creio que teremos tempo de nos conhecermos melhor.

— Pode apostar que sim.

— Quer chegar mais perto, posso...

— Não. Aqui estou bem, obrigada. Como te disse, não quero fama ou fotos, só quero ver Alex fazendo o que gosta, e daqui tenho uma ótima visão. É ele na frente das câmeras e eu nos bastidores. É assim que somos.

Lee meneou a cabeça e foi para perto de Alex, para aparecer ao lado dele em algumas fotos, mas era assim que ele trabalhava. Enquanto uma nova rodada de perguntas começava para Alex, observei os arredores e vi tanto Mia quanto Suzanna espumando de raiva e inveja no canto oposto ao meu. Ninguém se importando com a presença delas.

— A vingança é um prato que se come frio. – Murmurei e abri um sorriso.

Quase uma hora depois, os convidados começaram a ir embora, eu estava perto do bar, sentada em um dos bancos, tinha acabado de me despedir dos Klein e, sem nada para fazer, tirei o celular da bolsa.

Tinha algumas mensagens para mim.

Pietra era a primeira:

Versace? Você está usando Versace? Meu Deus, ou o Apocalipse está chegando ou você está muito má-intencionada nessa noite! Brincadeiras à parte, Loira, vocês estavam perfeitos, você estava perfeita. Mia vai se jogar da primeira ponte ao ver as fotos. Aliás, nada demais saiu sobre vocês, só essas fotos maravilhosas e uma reportagem sobre uma possível volta de Alex às telas.

Depois Melissa:

Quem diria que um dia eu acharia a sua foto na galeria das celebridades! E que chegada foi essa?? Vocês deixaram muitos queixos caídos naquele tapete vermelho! Eu estou curiosíssima para ver o comercial! Dá para adiantar algum spoiler? Melhor não?! Deixa que eu julgo por mim mesma. E amiga, eu AMEI a sua escolha de vestido! Você sempre teve bom gosto, mas ir de Versace e ele de Armani foi uma escolha e tanto. Acho que nunca vi casal mais bonito.

E Vic:

AI MEU DEUS!! VOCÊS!! VOCÊS!! E VOCÊS!! Eu estou muito feliz em saber que o Alex voltou a fazer o que gosta – eu sei, mal o conheço, mas li a história dele e estou feliz por isso. – mas estou tão orgulhosa de você, cunhadinha! Você ultrapassou todos os limites que sempre se impôs para estar ao lado dele. E vocês juntos! A forma como vocês se olham! Como caminham lado a lado. Definitivamente começo a acreditar que realmente vocês se conhecem de vidas passadas. Não é possível existir tamanha sincronia! Vocês são, definitivamente, o meu casal favorito do jet-set!

E, por fim, minha sogra. Claro que ela não falou muito como minhas amigas, mas o pouco que ela disse, significou muito.

Obrigada por trazer o meu Alex de volta, Katerina. Sei que não deve ter sido fácil para você encarar todos esses fotógrafos, mas saiba que fazia anos que eu não via aquele olhar no rosto de meu filho. Obrigada por estar ao lado dele.

Abri um sorriso para a mensagem, feliz em saber que Dona Amelia viu o mesmo que eu vi.

— Espero que seja um vídeo de Elena falando embolado alguma coisa sobre Fórmula 1 ou super-heróis, na tela desse telefone... – Alex chegou perto de mim e tentou vislumbrar a tela.

— Não é Elena, é sua mãe. Ela disse que você está muito bonito nas fotos. – Falei uma meia verdade.

— E ela não falou nada de você? Porque é você quem está maravilhosa. – Comentou e me puxou pela mão. – Vem, hora de irmos para casa. Um motorista vai nos levar.

— Sem carro novo? – Perguntei brincando.

— Para você ver... troquei o cachê e o carro para poder sair de braços dados com a mulher mais bonita da noite.

— Uhm.., espero que valha a pena. – Brinquei com ele.

— Já está valendo. – Foi a resposta que recebi.

Quando colocamos os nossos pés na calçada, alguns fotógrafos dispararam os obturadores, creio que queriam uma sequência em câmera lenta. Alex permaneceu inalterado do meu lado e dessa vez eu não abaixei a cabeça, não os encarei, mas não desviei o olhar, os seguranças do lugar estavam mantendo todos à uma distância segura.

Alex abriu a porta do carro e me ajudou a entrar, entrando logo em seguida, fechando a porta e passando o endereço para o motorista que com habilidade desviou dos poucos fotógrafos que ainda tentavam a sorte.

À medida em que nos afastamos do local, Alex foi relaxando do meu lado e logo me puxou para que eu apoiasse a cabeça em seu ombro.

— E então... como está se sentindo depois de ser celebridade por uma noite?

— Não sou celebridade. Mas estou muito orgulhosa da celebridade que está sentada do meu lado. – Olhei para ele.

— Está me colocando em um patamar muito alto, Kat.

— Não estou não. – Dei um beijo na bochecha dele. – Mas não vou discutir com você hoje.

Ele ficou calado por um tempo, achei que tinha pegado no sono, quando, quase no meio do caminho, soltou:

— Então você está orgulhosa de mim?

— Sim, muito orgulhosa. E você não poderia estar mais bonito.

— Pelo visto essa propaganda ganhou do comercial do perfume.

— Acho que terei de ver aquele comercial novamente para ter certeza.

— Vai ver aquele vídeo de novo? – Ele me perguntou descrente.

Balancei positivamente a cabeça.

O motorista nos avisou que tínhamos chegado, agradecemos, demos a devida gorjeta e entramos em casa, em um clima de que, pelo menos por hoje, nenhum problema do mundo importava.

Nessa noite, depois de tudo, éramos só ele e eu!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Para quem estava esperando, espero que tenham gostado, que a espera tenha valido a pena.
Antes que falem, não, não tenho patrocínio de nenhuma marca que está sendo mencionada nessa história, e não é propaganda, foi só a marca que veio na minha cabeça e eu tive que pesquisar um pouquinho para não escrever tanta besteira.
Muito obrigada a quem leu e por todos os comentários.
No domingo tem mais!
Até lá!
xoxo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Presos Por Um Olhar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.