Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 35
Família


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Capítulo pequenino, mas tive que dividir esse em três, o que postei na semana passada, este e o próximo, que espero postar no domigo que vem, tudo para a leitura ficaria muito cansativa, então já sabem, esse começa exatamente onde o último parou e tem parte três que dá continuidade ao final deste.
Obrigada pela compreensão e uma boa leitura!



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— Isso demorou! – Alex comentou quando entrei no quarto procurando pelo carregador.

— E ainda bem que consegui resolver antes que isso aqui descarregasse! – Falei a mostrei o meu celular que tinha morrido sem bateria.

— Sem mais dor de cabeça no final de semana? – Me perguntou.

— Não tenho uma resposta exata, Alex. Pode acontecer de tudo... – Falei.

Ele fez uma careta.

— Mas não é sempre assim. Semana passada não foi, se lembra?

Ele concordou com a cabeça.

— Bem... vi que a sua mãe está indo fazer o jantar, vou lá ajudá-la.

— Se ela deixar... – Ele comentou.

— Domingo passado ela me deixou ajudar... não vejo o porquê não deixaria hoje.

— Você não conhece a minha mãe... – Ele me alertou com um sorriso e eu não dei ouvidos.

Mal entrei na cozinha e minha sogra foi falando.

— Nada de trabalhar aqui...

— Mas, Dona Amelia...

— O máximo que você vai fazer é ficar sentada aí, me fazendo companhia. – Ela falou e puxou um banquinho para que eu me sentasse.

— Mas... – Tentei novamente.

— Katerina, não! Eu cozinho hoje!

— Acho isso muito injusto. – Comentei. – Não gosto de ficar sentada enquanto fazem as coisas.

Minha sogra, que tinha uma colher na mão, apenas se virou na minha direção.

— Se a mocinha continuar a reclamar, vou te dar o mesmo tratamento que dei a Jonathan. – Me alertou.

Eu levantei uma sobrancelha tentando descobrir que “tratamento” era esse. Mas não precisei perguntar, pois meu sogro, e, diga-se, meu namorado, estavam parados na porta da cozinha, e o primeiro apenas disse:

— Antes que ela tenha que explicar, eu estou definitivamente proibido de entrar na cozinha enquanto Amelia está fazendo o jantar.

— E o almoço, Jonathan. Eu te avisei para não ficar mexendo nas minhas panelas!

Olhei de um para outro e, por incrível que pareça, Sr. Pierce não parecia muito preocupado com o gancho que ele tomou, ele sorria para a esposa de uma maneira que dizia: “Amanhã eu estou de volta!”

— Vem aqui, Kat, deixa a Amelia falando com as panelas. – Me chamou.

Olhei um tanto sem graça por deixá-la ali, fazendo tudo sozinha, porém Dona Amelia só faltou me empurrar para fora da cozinha.

— Tudo bem!! – Falei me rendendo.

Alex ria da minha cara e quando acompanhei os homens da casa até a sala de TV, ele só comentou:

— Não diga que eu não te avisei.

Meu sogro então tomou as rédeas da conversa e começou a me perguntar quando ele podia começar a mexer com os móveis do meu escritório. Eu ainda estava muito sem graça com esse trato, contudo, creio que seria muito pior se eu recusasse a oferta.

— Quando o senhor quiser ou puder. Como eu disse, não tenho pressa. – Falei.

— Então na segunda eu passo na casa de vocês e faço as medições, e durante a semana nós conversamos sobre o que você vai querer e como vai querer.

— Claro. – Murmurei assustada. Tudo com essa família parecia ser para ontem. Ou eu que não estava acostumada a ser tão bem tratada por estranhos, pois a família do meu ex nunca foi tão solícita assim.

E, dos móveis do meu escritório, logo passamos para a confusão que eu tive que resolver durante a tarde. E os dois pareciam realmente interessados no jogo de xadrez que tive que fazer para poder resolver o problema do navio.

— E esse navio avariado iria para onde?

— Austrália. Sem condições de zarpar com uma trinca, mesmo que mínima, no casco.

— E a Oceania também está sob o seu comando? – Ele perguntou espantado.

— Toda a frota do Pacífico e, também, a distância por ar e terra. E alguns casos, do Oceano Índico também. É um dos escritórios com o maior volume de cargas.

— E você vai ter que visitar todos esses lugares?

— Ocasionalmente, sim. Por enquanto estou tirando o tempo para conhecer o escritório e os funcionários daqui, me adaptar à rotina de trabalhos deles. Creio que até no final do ano, já encontramos um ritmo em comum. Assim, vou poder sair para inspecionar os demais locais e deixar alguém de confiança para gerir tudo na minha ausência. – Expliquei.

— Katerina, você tem muito trabalho pela frente. – Meu sogro me falou.

Alex, que tinha se deitado no meu colo novamente e ficado calado por toda a conversa, resolveu abrir a boca:

— Ela vai conseguir, não vai, KitKat?

— Assim espero. – Respondi.

— Espera nada, você sabe que vai conseguir.

— Vir para cá foi uma espécie de promoção, então? – Minha sogra entrou na conversa, vinda da cozinha.

— Em termos de responsabilidade sim. Posso dizer que foi. Mas eu fazia quase a mesma coisa em Londres... – Fui vaga, não queria entrar nos detalhes da minha transferência.

— Tenho certeza de que fez por merecer, querida. – Ela falou.

Alex se levantou do sofá e lançou um olhar para mãe, como se pedindo que ela ficasse quieta.

— Posso dizer que é um cargo disputado. Fico feliz se conseguir corresponder ao que esperam de mim. – Fui diplomata.

— E depois daqui? CEO da Empresa? – Meu sogro perguntou.

Eu congelei por meros segundos ao pensar no cargo que um dia sonhei. E não soube o que falar, porque eu já não tinha esperanças de alcançar tal posto. E Alex, foi quem respondeu por mim.

— Só depois que ela enjoar da Califórnia e sentir muita falta de Londres... o que vai demorar, porque ela não teve tempo de ver quase nada.

— Alguém prometeu que me mostraria a cidade... mas acho que desistiu. – Aproveitei a oportunidade e ainda consegui encarar Alex de cara feia, mas agradecendo por dentro que ele trocou o tópico.

— Eu não vou ficar com isso para sempre, Kat... Me dê duas semanas. – Ele me respondeu.

Logo Dona Amelia nos chamou para o jantar que foi bem mais silencioso que no domingo passado. Afinal, a conversa girou em torno da Fazenda e nas novas modificações que Dona Amelia queria fazer nos estábulos, pelo que entendi, ela queria ampliar o lugar para a chegada de mais alguns cavalos.

Não me deixaram ajudar com o jantar, mas eu consegui driblar a vigilância de águia de minha sogra e arrumar a cozinha.

— Não precisava, Katerina. Realmente não precisava.

— Acho justo que as tarefas sejam divididas, assim ninguém fica muito cansado. – Respondi quando acabei de limpar o fogão.

— Você quer fazer algo? – Ela retrucou.

— Claro.

— A sobremesa de amanhã. E faça muita, porque Jonathan virou fã da torta da semana passada.

— Vou pensar em algo que seja gostoso e que eu possa fazer muito. – Respondi rindo.

— E que sobre para a noite! – Alex gritou da porta. Ele estava tentando achar Stark e Thor que tinham desaparecido, correndo livres pela propriedade afora. Loki tinha se deitado no chão da sala de TV e ficado por lá, observando meu sogro.

— Nada deles? – Dona Amelia perguntou.

— Não. Nem um latido. Que tal se mandarmos o Loki? – Perguntou para mim.

— Tenho uma ideia melhor. – Falei, peguei o pote de ração, cheguei na porta e comecei a balançar.

— Ouvi dizer que funciona com gatos... – Alex disse descrente.

— Thor vive para comer e dormir. Ele vai reconhecer o som e vai vir.... – Apontei para um ponto branco que corria na nossa direção. Deu para ver Stark logo atrás também. – Prontinho, problema resolvido. – Falei e me agachei para colocar um pouco de ração para os três.

Ainda era cedo e Alex cismou de jogar pôquer... Meu Deus, que vergonha que eu passei. No final da primeira mão eu já estava quase falida!

Depois da partida mais humilhante de pôquer que já joguei, decidi ir para a cama, afinal, já tinha quase 42 horas que eu estava acordada direto. Me despedi de meus sogros, e fui para o quarto, ainda precisava de um banho bem demorado para relaxar. Quando saí do banho, Alex estava sentado na cama, brigando com a tipoia.

— Cuidado, ou pode piorar a sua lesão! – Falei.

— Uma ajuda é sempre bem-vinda. – Ele murmurou infeliz.

— É por pouco tempo! – Garanti. – A bota também?

— Isso eu consigo tirar. – Ele falou e removeu a bota e a faixa. – Mas vou precisar de seus serviços de enfermagem. – Disse quando se levantou da cama.

— Se continuar com essa careta, vai precisar é de um gesso nesse pé! – Falei. – Tome cuidado para não apoiar só no pé macucado. – Alertei.

— Eu não tô podendo apoiar em nada Kat. – Disse. – Outra ajuda? – Disse para a camisa.

— Isso vai doer. – Alertei quando o ajudei e remover a camiseta. E não pude deixar de me assustar quando vi os enormes hematomas no abdômen dele.

— Vou dormir de camisa... – Ele murmurou sem graça.

— Vai tomar o banho. Tenho que te imobilizar todo de novo depois. – Desconversei e dei um beijo nele.

— Você é uma péssima mentirosa, Kat... por isso perdeu de lavada no pôquer. – Ele riu, mas retribuiu o beijo, que eu tive que encerrar, porque se dependesse de Alex ele sempre ia até o limite do oxigênio de nossos pulmões e isso não podia acontecer hoje. – Sem graça.

— Me agradeça, evitei que suas costelas começassem a doer de maneira absurda.

Ele entrou reclamando no banheiro e quando saiu, só de toalha, me perguntou na maior cara de pau.

— Você arrumou a minha mala, né?

— Claro. As calças de moletom estão na segunda gaveta. – Falei.

Quando, enfim, ele estava vestido, soltou.

— Agora eu sou a sua cobaia, Doutora Nieminen!

— A Doutora Nieminen da família é minha mãe! – Respondi ao parar na sua frente e me ajoelhar.

Comecei imobilizando o tornozelo.

— Me avise se ficar apertada demais, não pode prender a circulação. – Alertei.

— Tá igual estava. Sua mãe te ensinou direitinho. E eu não preciso dormir com essa bota.

— Eu sei, e ainda bem que não, ou eu ia ter que trabalhar de calça comprida por quase um mês... Agora, fica quietinho e levante o braço o máximo que puder, vamos imobilizar essas costelas aqui...

E não estava nada bonito de ver todas aquelas marcas roxas no torso dele. Fiquei tão concentrada em fazer o trabalho direito, que não percebi que tinha ficado calada demais.

— Gostando do que está vendo? – Ele perguntou para deixar o clima mais leve.

— Tentando entender o padrão das suas tatuagens. – Menti.

— Isso pode ter passado pela sua mente, mas não hoje... – Ele matou a charada. - Mas não tem padrão.

— O que te levou a fazer uma tatuagem tão grande. – Apontei para a maior delas, que ia de ombro a ombro.

— Só quis fazer.

— Maluco.

— Já disse que não dói. – Ele retrucou.

— E eu já falei que não acredito. – Comentei.

— Você só vai saber se dói ou não quando fizer a sua.

— Eu não vou fazer uma tatuagem, Alex. Já disse. – Me ajoelhei na cama para prender a faixa e depois ajudá-lo com a tipoia.

— Vou te fazer mudar de ideia igual eu já mudei a sua opinião sobre a casa.

— Você foi muito trapaceiro. – Retruquei. – Usar o seu pai para fazer os móveis foi jogo sujo. – Disse. – Pronto, está todo imobilizado.

— Sabia que você não diria “não” a ele. Agora me pergunto por que você diz “não” a mim?

— Porque limites são sempre bem-vindos e você parece desconhecê-los.

Ele riu.

— Você é muito mandona, Kat... muito. – Me puxou com o braço relativamente bom para me deitar ao lado dele.

— Você não viu nada, nunca me viu trabalhando.

— Te vi furiosa saindo do trabalho! – Ele comentou e me ajeitou de modo que fiquei ainda mais perto dele e ficou em silêncio.

Pouco tempo depois, me vi na necessidade de trazer um assunto à tona.

— Muito obrigada por hoje. – Falei e me apoiei de lado para olhá-lo.

Ele, que já estava meio dormindo, só respondeu.

— Seja bem específica. Aconteceu muita coisa hoje.

— Você desconversando sobre a minha promoção.

Alex abriu os olhos, me fitando com o que eu só pude traduzir como carinho.

— Eu sei que quando você estiver confortável com essa história, vai contar para a minha mãe, mas ainda não é a hora. Um dia, eu espero, que você e ela sejam melhores amigas, igual você é com a sua mãe e com a Nonna Agnelli. E eu nem quero saber o tanto que vocês vão falar mal de mim! – Terminou rindo.

— Eu também espero. – Fui sincera.

Ele se ajeitou e depois do nada, soltou.

— Eu tenho que por vergonha na cara e pensar no roteiro da Liv... Daqui a catorze dias ela tá chegando.

— Se preocupe em melhorar primeiro. Liv... bem, se ela ficar só aqui, já vai estar feliz, ela ama cavalos.

— E minha mãe vai adorar ter uma menina para paparicar.

— Bem... isso eu não sei.

— Se prepare. E quando for Elena... aí até o meu pai vai entrar na briga.

— Eles gostam desse jeito de crianças?

— Adoram. Por isso andam cobrando netos. Mas ainda bem que você tem sobrinhos, dá para distrai-los por um tempo.

— Espero que sim.

— Não quer ter filhos, Katerina?

— Agora não. Mas pretendo.

— Espero que antes dos quarenta... Não quero ser o avô dos meus filhos. Quero poder correr atrás deles na praia, ou aqui na Fazenda. Quero ensinar motocross, parkour, surf...

— Tudo bem... eu entendi o recado. Pode parar de listar as coisas doidas que você quer ensinar para os seus filhos, só de pensar eu já me imaginei com uma cadeira cativa na emergência do hospital mais próximo!

— Meus pais sabem o que é isso.

— Imagino que sim. E, pelo visto, eu também vou saber.

— Nah... você não viu nada. Nós ainda vamos pular de bungee jump juntos. Sabia que tem uma ponte no Colorado que é considerada o ponto mais alto do mundo para se pular?

— Se eu for pular, tenho que chamar a turma.

— Fechado. Podemos fazer uma viagem de moto até lá. Todo mundo. E depois de explorar a região, saltar, tirar umas férias, algo que eu acho que não faz parte do seu vocabulário... – Ele brincou.

— Não, não faz parte. Tirei poucos dias de folga desde que comecei a trabalhar. Isso pode ser interessante. – Concordei.

— Então vamos colocar na lista de coisas para fazer. Essa lista fica cada hora maior. – Ele terminou com um bocejo.

— Acho que alguém está com sono! – Brinquei e comecei a passar a mão devagar por seu tronco.

— Agora que eu durmo em poucos minutos.

Não levou nem dois, e eu escutei a respiração tranquila dele.

— Boa noite, surfista. – Dei um beijo no canto de sua boca e me ajeitei na cama, deixando que ele dormisse sem nenhum peso em cima, porém, ele logo procurou por mim e quando vi, estava deitado em minha barriga e ressonava alto. – Mas é manhoso que só vendo! – Murmurei.

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Eu não me lembro de ter dormido, poderia ter sido há horas, como há minutos, contudo eu poderia afirmar com certeza que estava descansada. Ao longe, escutei um som que deveria significar algo para mim, que me dizia ser interessante que eu acordasse, mas tudo o que eu queria era poder dormir um pouco mais, eu merecia isso, tinha quase quinze dias que eu não sabia o que era ficar na cama até depois das seis da manhã.

— Eu sei que não vamos correr hoje, mas achei que você quisesse assistir ao Grande Prêmio... – Alguém falou perto de mim.

— Myöhemmin[1]. – Murmurei e me afundei no travesseiro.

— Eu não sei o que você disse, mas acredito que isso quer dizer que você não está muito empolgada com o seu piloto favorito...

E foi só aí que o meu cérebro cheio de sono conseguiu fazer uma mísera sinapse e entender o que estava acontecendo.

O barulho vinha da TV, e era o ronco característico de um carro de F-1, e quem falava, todo cheio de ciúmes, era Alex.

Relutante, abri um olho, me virei de modo que eu via a TV e logo meu namorado entrou no meu campo de visão.

— Tá acordada ou é alarme falso?

Apontei para a TV que mostrava os preparativos das equipes no grid de largada.

— Quer ver o seu piloto preferido? – Ele brincou com a minha cara.

— Meu pai! – Falei.

Alex só não caiu da cama, porque é uma king size, mas se desequilibrou e caiu em cima de mim.

— Isso doeu! – Reclamei.

— Desculpe! – Ele disse, mas não se levantou, se ajeitou ali, se virando para a televisão. – Mais alguém da família?

Esfreguei os olhos e logo vi Ian.

— Ian. No canto, atrás da asa traseira do carro laranja. – Mostrei.

— O pai da Liv, da Elena e do Tuomas?

— O próprio.

— O Tuomas se parece com ele.

— Ian é a cópia do meu pai. – Informei.

— Então sogrão deve ficar feliz de ter o único neto parecido com ele.

— Puxa-saco! E não o chame de sogrão, se você ama viver! – Dei um tapa no alto da cabeça dele. – Ih! Olha a Pietra sendo chique no paddock!

— Aquela com um vestido preto com o escudo da Ferrari?

— A própria!

— E por que ela está de óculos escuros, à noite?

— Porque ela tem sérios problemas mentais e gosta de aparecer! Mas a verdade é que a iluminação da pista é forte demais, então, para quem não deve ter dormido, como ela nunca dorme em véspera de GP, isso incomoda bastante.

— Defendendo a amiga baladeira!! – Ele riu e me deu um tapa na perna.

— Eu usei óculos escuros quando fui... ainda mais tão perto do grid, mas não um tão escuro como o dela. Porém, não ligue para ela, A Italiana Louca deveria estar em um Manicômio desde que nasceu. – Fiz piada.

Outro take e lá estava Mel, conversando com Ian.

— Olha a Melissa. A Rainha das Estratégias da McLaren! É uma calculadora humana essa menina. Mas só serve para isso também, porque quando não tem corrida, o cérebro morre!

— Igual ao seu no final de semana! – Alex falou brincando.

— Mais ou menos isso. Mas, o meu para por dois dias, o dela para por quase quinze...

E a câmera foi passeando pelo grid, mostrando pilotos, chefes de equipes, mecânicos, preparadores físicos e as celebridades que sempre apareciam nesse momento.

— Não vi o seu... – Alex recomeçou com a provocação até que filmaram o Kimi.

— Olha ele ali!! – Apontei para a televisão.

Alex até se sentou na cama para analisar o “concorrente”.

— É ele?

— Sim. E não me venha com o famigerado: “Você só torce para ele porque deve achá-lo bonito”, porque se você abrir a boca para falar isso, eu vou quebrar o restante das suas costelas! – Alertei.

Meu namorado fez uma careta para a imagem de Kimi e depois me olhou.

— Torce desde quando para ele?

— Desde 1999.

— Você tinha – Ele parou e fez as contas. - Oito anos!!

— A desculpa do piloto bonito não cola agora, não é? – Provoquei-o.

— Por quê?

— Por que o que?

— Por que você escolheu ele? – Alex disse, ainda um tanto incomodado com o concorrente que ele achava que tinha.

— Meu avô inglês me pediu para escolher um piloto para torcer em uma corrida da Fórmula Renault. Eu nem me lembro como meu avô sabia dessa corrida, mas ele foi e me levou. Olhei para cada carro do grid e só apontei para um, aleatoriamente. O tal piloto aleatório venceu a corrida, e fez a melhor volta. No fim de tudo, descobri que ele era finlandês como eu. E decidi que torceria para ele. Dois anos depois Kimi-Matias Räikkönen estreava na Fórmula 1. E eu o acompanho desde então.

— Vinte e dois anos torcendo para o mesmo cara?

— Eu diria que me casei com ele. – Eu ri e Alex me olhou torto.

— Se casou?

Eu dei uma risada.

— Nesses vinte e dois anos eu já sorri, já chorei, já me desesperei, já disse que nunca mais torcia para ele, cansei de brigar com ele pela televisão, já pensei em desistir de tudo e fingir que ele não existia, mas, quinze dias depois, lá estava eu, com camisa, bandeira da Finlândia, gritando o nome dele e xingando os demais pilotos do grid. Se isso não é a descrição do “na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, até que a sua aposentadoria nos separe” eu não sei o que é.

— Você é, então, uma torcedora passional?

— Você não faz ideia! – Confirmei.

Alex balançou negativamente a cabeça.

— Acho que estou prestes a descobrir, não estou? – Ele se ajeitou do meu lado, se escorando na cabeceira.

— Minha sorte é que você não fala finlandês!!

Ele abriu um sorriso e se preparou para as próximas...

— Quanto tempo dura?

— No máximo duas horas! – Garanti e me sentei na cama, já ficando ansiosa quando os motores começaram a roncar mais alto, prontos para a volta de apresentação.

 

[1] Mais tarde!!


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Notas finais do capítulo

Bem é isso!
Uma boa semana para vocês!
Obrigada a quem leu!
Até o próximo capítulo!



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