Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 34
Quase Um Casamento


Notas iniciais do capítulo

Minha intenção era postar no sábado passado, mas não deu.
Então consegui um tempinho e vim deixar esse capítulo um pouquinho mais cedo para vocês!
Boa leitura!



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Enquanto íamos até o estacionamento, Dona Amelia tentava convencer Alex de que ir para o Fazenda era a melhor das opções.

— Mãe, eu tenho uma casa.

— Cheia de escadas. Até para entrar na porta principal tem escada, filho. No Fazenda não tem outro andar. E você não pode se esforçar.

Alex bateu o pé, querendo ir para casa.

— Sua mãe está certa, Alex. – Comentei. Ele me olhou quase que ofendido. – A escada para o segundo andar tem quinze degraus, para entrar, mesmo se for pela cozinha, mais quatro. E você não vai ficar no primeiro andar e dormir no sofá, não vai te fazer bem. Nem que seja nessa primeira semana, ficar em um local onde não vai exigir muito de você fisicamente, vai ser melhor. – Terminei de explicar e vi minha sogra me agradecendo.

— E você? A Fazenda é longe e você não conhece a estrada. Como vai fazer? – Ele tentou me convencer do contrário.

— Eu posso muito bem ficar por aqui e ir te ver quando sair mais cedo.

— Ou pode ir para lá também. Sabe que é bem-vinda, Kat. – Meu sogro falou.

Alex me encarava, ele sabia no que eu estava pensando.

— Não me importo de ir e vir todos os dias. – Garanti.

— Mas... – Alex me instou.

— Tenho que ver a minha agenda. E só na segunda poderei mudar a do restante da semana.

A essa altura estávamos parados ao lado do meu carro. E Alex muito a contragosto foi se sentar no banco do carona.

— Você vai para a Fazenda, não vai? – Perguntei.

— Tenho que passar em casa para pegar algumas coisas. – Ele disse e todo mundo entendeu o recado. Ele queria conversar comigo.

— Nós vamos na frente, nos vemos daqui a pouco e, Kat, se quiser, pode levar os cachorros para lá.

— Sim, senhora. Nos vemos logo. – Me despedi deles e assumi o volante. Alex, do meu lado, apoiou a cabeça no encosto.

— Eu não gostei desse arranjo. – Disse assim que viu o carro dos pais manobrando para a direção oposta a que íamos.

— Eu sei que não. Você é independente demais para querer voltar a ficar com os pais, nem que seja por pouco tempo.

— Então por que concordou com a minha mãe?

— Porque eu tenho que trabalhar, e sei que você não vai ficar quieto durante mais de doze horas, enquanto eu estou fora, Alex...

— E?

— Ter alguém de olho em você vai me deixar muito mais tranquila. Saber que você não vai aprontar, vai me permitir em concentrar no trabalho.

— Só que agora você vai ter que acordar às cinco da manhã para poder estar no escritório no horário que normalmente está.

— E daí? Não tem problema.

— E vai pegar trânsito para voltar...

— Eu já te disse, Londres tem trânsito. Helsinque também. Eu vou sobreviver. – Confirmei.

—  E como está a sua agenda de segunda-feira?

— Tumultuada. Tenho uma reunião às oito da noite, com uma empresa do Japão...

— O que vai resultar em...

— Muito provavelmente eu não vou te ver na segunda. Ficar na cidade será muito mais fácil.

Ele fechou ainda mais a expressão.

— Eu não gosto disso. – Falou minutos depois.

— De que? – Perguntei já entrando na rua de casa.

— De te deixar sozinha aqui...

— Eu já fiquei sozinha aqui em Los Angeles.... – Argumentei.

— Quando eu não te conhecia. – Ele retrucou.

— Vai dar certo, Alex.

Ele me olhou desconfiado e tentou descer do carro.

— Espera que eu vou te ajudar. – Falei e dei a volta, apoiando seu peso quase todo em mim.

— Isso é ridículo. Pensar que na segunda eu estava te carregando no colo.

— O mundo dá voltas! E eu só não te pego no colo porque eu realmente não te aguento.

— Eu não quero nem pensar nisso. – Ele retrucou de uma vez só.

Fomos andando devagar até a entrada, Alex murmurando o absurdo da situação.

— Não fique assim. – Falei assim que o coloquei sentado no sofá. – Você está em casa!

— Mas não vou ficar aqui, não é?

— Não reclame, no fim das contas, você sabe que esse arranjo é o melhor.

Ele ficou calado.

— Vou fazer algo para você comer, porque mal tocou no mingau.

— E para você também, afinal, roubaram seu café da manhã.

— Seu pai odiou o que fizeram. – Tive que rir.

— Se você vai para a cozinha, eu vou também. – Ele disse e me estendeu a mão para que eu o ajudasse.

— Você tem amigos bem leais... barulhentos, mas leais. – Falei.

 - Grant poderia guardar a opinião dele para si.

— Errado ele não está... Eu não sei surfar, Alex. Por favor, não quero você brigando com seus amigos por minha causa. – Pedi e fui começar a fazer o almoço.

— É... que seja... mas ele tem que ter um pouco mais de respeito por você. Viu como ele respondeu quando você o corrigiu.

— Eu não deveria ter falado no tom que falei. – Tentei manter a paz.

— Você não é sueca. Carrega a bandeira da Finlândia no pescoço, todo mundo já viu isso. E ficar te chamando de Miss Inverno...

— Alex. – Coloquei uma mão em seu ombro bom. – Já passou. As pessoas brincam com a minha nacionalidade... eu não ligo. Gosto do frio, gosto da neve e do inverno. Isso nunca vai mudar. Que falem, eu não estou nem aí. E você deveria ir pelo mesmo caminho. É só não se importar.

— Quando a namorada cheia de mania dele entrou para a turma, ninguém falou nada.

— Ela é a?

— Lilly. A de cabelo roxo.

— Ah! – Me lembrei dela. – Parece ser gente boa.

— E é. Só tem umas manias estranhas. E ninguém nunca reclamou que ela leva a própria comida quando vamos surfar em outra cidade, ou que ela tem fobia de germes.

— Então é por isso que quando estendi a mão para ela no primeiro dia ela não retribuiu! – Comentei.

— Ela não chega perto de nenhum animal de estimação. Passa longe de Stark e eu nunca fiz uma brincadeira por conta disso. E Grant se acha no direito de brincar com você porque você não é daqui... isso não.

— Alex... deixa pra lá.

— Ele não vai parar.

— E eu não vou ligar. E nem você. Será que podemos mudar de assunto?

— E eu vou ficar aqui, sentado, enquanto você trabalha?

— Quer fazer alguma coisa? – Me virei na sua direção.

— Claro.

Saí da cozinha e corri até o quarto, onde peguei a câmera e o computador. Voltei correndo e coloquei os dois na frente dele.

— Passe as fotos para seus amigos. Tem um monte e você vai reconhecer quem é quem. Aproveite e fale com Benny que você já está de alta.

— Sobre o Benny… - Alex começou assim que ligou o meu computador. – Foi legal o que você fez.

— Não foi nada. Ele é meio sincerão, mas eu gosto dele. Não esconde o que pensa, e não precisava ficar pensando na tentação que estava bem na frente dele…

— Sabe que ele nem percebeu, né?

— E foi exatamente esse o meu objetivo. E quanto a prancha…

— Eu vou comprar a prancha pra ele… - Alex afirmou.

Nós vamos. Quero ver a cara dele quando entregarmos. – Comentei.

— Ele nunca mais vai largar do seu pé, e vai te defender de qualquer comentário que alguém faça. Benny realmente quis dizer o que ele disse.

— Como eu falei, o sincerão da turma. Ele vai se dar muito bem com a Pietra.

— Aí eu já não sei. Não conheço as suas amigas, mas se você está falando... Quero só ver quando você vai ter coragem de me apresentar a elas… - Me desafiou.

— Você vai se arrepender desse desejo de conhecê-las assim que ver as três.

— Duvido.

Estendi a mão em sua direção.

— Quer apostar quanto?

Alex apertou a minha mão é só disse:

— O seu primeiro caldo sendo filmado e repassado para toda a sua família e amigas já está de bom tamanho.

— Surfista, você vai perder feio!! – Sorri na sua direção. – E vai ser a segunda aposta que você perde.

Alex só sorriu malicioso pra mim.

— Você ainda não me disse o que vai querer que eu faça... sobre aquela primeira aposta.

— Você não está em condições de fazer muitas coisas agora…. Vamos esperar mais um pouco. – Pisquei pra ele e voltei a fazer o almoço. Enquanto ele olhava as fotos e ia passando para os amigos. Murmurando ocasionalmente sobre a manobra fotografada ou sobre como a foto tinha realmente ficado boa.

Algum tempo depois, coloquei o almoço na mesa e servi os pratos.

— Passei as últimas horas no hospital e vou comer só isso?!!

— Não reclame. Ontem você ficou desacordado por horas. Não achou que ia comer uma coisa muito pesada agora, achou?

Ele fez um bico, mas não recusou o prato de salada com salmão grelhado.

Estava arrumando a cozinha, com Alex tagarelando na minha cabeça que não estava gostando nada de me ver organizar a casa sozinha, quando a campainha tocou.

— Esperando alguém? – Me perguntou.

— Ninguém sabe desse endereço, ainda.

— É mesmo! Tinha me esquecido.

Larguei as vasilhas em cima da pia e fui atender o interfone.

— E? – Alex perguntou curioso atrás de mim.

— Minha mudança! Com a bagunça de ontem, me esqueci que chegaria hoje! – Não consegui esconder a minha alegria ao ter o restante das minhas coisas comigo.

— Hora de saber o que mais veio da Europa! – Alex brincou.

Abri o portão e logo começaram a colocar algumas caixas dentro da casa e outras na academia. Alex ficava lendo as etiquetas para tentar saber o que estava em cada uma delas, até que me chamaram.

— Senhorita Nieminen, onde colocaremos o piano?

— Piano?! – Alex me perguntou espantado.

— Piano?! – Questionei. – Eu não trouxe o meu piano.

— Bem. Tem um ali no caminhão… - O entregador apontou para o caminha baú.

Corri até lá e no fundo, muito bem acomodado e superprotegido, tinha um belo piano de calda, preto lustroso.

— Esse piano não é meu! – Comentei.

— Bem, aqui tem um bilhete. – Me estendeu o envelope.

Escutei Alex vir atrás de mim.

— Resolveu o problema do piano? – Questionou curioso.

Caminhei até ele.

— Você não pode ficar pulando por aí… - Adverti.

— Estou tão curioso quanto você, Kat. O que é isso?

Abri o envelope e um sorriso.

— Se importa de compartilhar, ainda não consigo ler a sua mente! – Ele reclamou.

— É um presente! Do meu avô e das minhas avós! – Abri um sorriso ao ler o bilhete.

— Sério?

— Sim! – Eu praticamente pulava.

— Posso? – Alex estendeu a mão em direção ao envelope.

— Claro!

— Meu Deus... então você toca de verdade?

— Eu te disse, minha avó finlandesa é professora de canto e musicista. E ela foi a minha professora. – Expliquei. – Bem... onde posso colocá-lo? – Perguntei para o dono da casa.

Alex pensou e só falou.

— Você tem sorte. Seu escritório está desocupado, mas não creio que irá querer ele lá... e tem um canto na sala onde não tem nada...

— Posso colocar ali? – Perguntei animada, era exatamente naquele cantinho que eu imaginei.

— Pode. – Ele abriu um sorriso e eu liderei o caminho, abrindo as portas de vidro para a passagem do instrumento. E o piano ficou perfeito naquele lugar, combinando perfeitamente com o ambiente no geral, um contraste e tanto com as paredes claras e com a luz que entrava pela parede de vidro.

— Acabou? – Perguntei.

— Essa remessa sim. O outro caminhão deve estar chegando. – Me explicaram quando assinei o recibo de entrega, e eu não estava na metade do caminho entre a casa e o portão principal quando escutei o assobio de Alex.

— Que foi? – Perguntei.

— Acho que seus carros chegaram.

O barulho do freio à ar tão característico de um caminhão se fez ouvir e eu parei ao lado de Alex.

— Que pena que você está com o pé imobilizado... se não fosse por isso, eu te deixava manobrar um deles. – Brinquei com ele.

— Dá para dirigir carro automático com um pé...

— Meus carros não são automáticos, Alex. Velha guarda para dirigir. Todos têm câmbio manual.

Ele suspirou dramaticamente e só se escorou no muro.

Abriram a porta do compartimento de carga do caminhão e eu logo vi a frente branca do meu Jaguar.

— Um F-Type? – Alex perguntou, com os olhos brilhando.

— Sim. – Esperei baixarem a rampa para poder subir. A chave estava na ignição, afinal, tiveram que manobrar o carro para tirá-lo do contêiner e colocá-lo aqui. Eu só tive o trabalho de ajustar o banco e logo virei a chave. O ronco do motor ressoou alto dentro do local fechado.

— Depois eu sou o exibido aqui! – Alex reclamou quando passei por ele, de ré, para guardar o carro ao lado da minha Jamanta.

Voltei para fora, para encontrá-lo dentro do contêiner e alisando o meu outro carro.

— Vai lá... tira esse. Eu vou descer com a moto.

— Quando você me falou que tinha um Aston Martin vindo, e jamais pensei que seria um carro que foi do James Bond...

— Esse carro não foi do 007. É só o mesmo modelo. – Falei ao lado da janela do motorista. Alex mal esperou que eu terminasse de falar e foi logo apertando o botão de ignição e acelerando alto do carro, abrindo um enorme sorriso de satisfação ao fazer isso. E eu tive a certeza, ele iria dirigir esse carro muito mais do que eu.

Para alguém com um pé e um braço imobilizado, até que ele manobrou o carro rapidamente e o estacionou com maestria entre o Jeep e o meu Cayenne. Depois desceu, ainda com o carro motor ligado e abriu o capô, para ver o motor. Sorria mais do que uma pessoa que tinha acabado de ganhar na loteria.

Eu tirei a moto do caminhão, sem ligá-la, e, depois de assinar pela entrega e agradecer o excelente serviço, me despedi do entregador e levei a moto até a garagem. Estacionando-a no cantinho que tinha sobrado, ao lado da Ducatti preta de Alex.

— Esse carro é sensacional! Literalmente uma máquina. – Alex falava ao andar mancando ao redor do Martin. – Você vai ter que me emprestar de vez em quando, eu sei que é 0 km...

— Fica com ele para você. – Falei.

Alex estacou no meio da garagem e me olhou espantado.

— Você... Ele? – Apontou para o carro.

— E daí... você adorou o carro, Alex! Além do mais, você abriu mão de um espaço dentro do seu quarto para mim, me passou as chaves da sua casa. Considere esse o meu primeiro presente para você.

Alex ainda não acreditava.

— Kat...

— É só um carro, Alex. E eu tenho aqueles dois ali. Aceite o presente. Não foi comprado pensando em você, mas combina mais com você do que comigo...

— Se você quer me transformar no James Bond, você será a minha Jane Bond! – Ele desligou o carro e, depois de dar uma última olhada na carroceria, andou até onde eu estava e passou o braço livre em volta da minha cintura.

— Você é muito melhor do que o James Bond. Pode apostar! – Fiquei na ponta do pé para poder beijá-lo.

— Será que pode repetir isso? – Ele me pediu entre os beijos e me levava na direção da porta.

— Repetir o que? – Perguntei só para perturbá-lo.

— Essa história do James Bond.

— Não... não vou alimentar o seu ego. – Dei um sorriso, interrompendo a sequência de beijos.

— Você é má, Sra. Bond.

Tive que rir do apelido.

— Eu não sou má... só estou te ensinando que, às vezes, faz bem ouvir um “não”. – Passei meus braços atrás do pescoço e voltei a beijá-lo.

— Com esse tipo de “não” eu posso me acostumar. – Ele brincou.

— Só não ache que vai ser todo dia! – Retruquei e empurrei devagarinho para se sentar no sofá e o deixei ali.

— Vai aonde?! – Perguntou quase ofendido.

— Terminar de arrumar a cozinha e dar um jeito de levar essas caixas para os lugares onde as coisas vão ficar, ainda tenho que arrumar as suas coisas e te levar para a fazenda.

— Achei que você tinha desistido de me abandonar lá.

— Como faz drama essa criança! – Voltei e apertei a ponta do nariz dele.

Duas horas depois, ajudei Alex a escalar o Jeep, prendi Stark, Thor e Loki no exagerado porta-malas e saímos de casa.

— Antes de ir para o purgatório, quero passar em um lugar. – Ele falou dramático e começou a me guiar pelas ruas de Los Angeles, me indicando o estacionamento de uma loja de artigos de surf.

— A prancha de Benny. – Falei ao ver a loja.

— Sim, e você vai ter que me ajudar. – Me respondeu e deu um pulo do carro.

O bom de se entrar em um lugar com uma pessoa que já sabe exatamente o que vai comprar, é que não tem aquela coisa de ficar escolhendo. E eu dei graças a Deus que Alex tomou à frente no quesito escolha, ou era bem capaz que eu saísse da loja só na hora em que ela fosse fechar... pois tinha mais de mil opções de pranchas diferentes, desde a cor ao tamanho.

Em quinze minutos eu prendia a prancha no alto do Jeep e dava a partida.

— Onde o Benny mora? – Questionei assim que manobrei o carro e o tirei do estacionamento.

— No caminho. Te falo quando você tiver que entrar.

Andamos por quase meia hora, até que Alex me fez entrar à direita e depois contornar um trevo. Mais dez minutos e ele me mandou parar.

— Nada do que você esperava, hein? – Perguntou.

— Não mesmo.

Erroneamente, eu tinha presumido que todos os amigos de Alex vinham do mesmo berço que ele, que tinham o mesmo padrão de vida. Porém, eu estava redondamente enganada. Benny nem de longe tinha o dinheiro que eu pensei que ele tinha.

Alex desceu do carro e tocou a campainha.

— Nem sempre foi assim. Mas... vamos dizer, que ele chegou realmente no fundo do poço. – Meu namorado me explicou quando parei do lado dele, segurando a prancha.

Benny apareceu não muito tempo depois, vestindo um uniforme de algum restaurante.

— Alex? Garota que Veio do Norte? Se perderam por aqui? – Ele brincou, mas nos deu um abraço.

— Só garantindo que você vai poder pegar uma onda amanhã. – Alex falou e eu mostrei a prancha.

Ele deu uma risada.

— Isso é sério? Vocês realmente compraram a prancha pra mim?

— Nós te prometemos.

— Prometeram entrar na vaquinha, não comprar uma prancha. – Ele nos corrigiu, contudo já estava observando a prancha, passando a mão em seu comprimento. – Cara... muito obrigado. – Ele abraçou Alex mais uma vez. – E você, Kate, obrigado! Se precisar de qualquer coisa, pode contar comigo.

— Que isso, Benny. – Falei sem graça.

— Você só tem uma coisa para fazer para mim. – Alex falou sério e Benny na mesma hora parou de admirar a prancha e olhou para o amigo.

— Que é?

— Aproveite as ondas que essa frente fria trouxe... eu tô de molho por mais de um mês.

— Mas vocês vão aparecer na praia, né? Precisamos da nossa fotógrafa! – Benny perguntou.

— Não nesse final de semana, cara. – Alex explicou.

— Toma conta do Astro de Hollywood pra gente, hein? – Falou para mim.

— Pode deixar, Benny. E boas ondas amanhã.

Outra risada dele.

— Vou filmar o mar para fazer inveja em vocês. E valeu. Essa aqui é das boas. – Ele agradeceu mais uma vez.

— Não foi nada. – Alex falou ao entrar no carro.

— Não tá dando nem para dirigir?! – Benny chegou na porta e olhou divertido para o amigo.

— Não, não dá.

— Kate... mostra pra ele os perrengues que ele nos faz passar, deixe ele quase morrer do coração com a velocidade que você vai chegar. Faça isso e me conta e reação dele.

— Pode deixar, Benny. – Garanti e liguei o carro. Benny ficou rindo igual a uma criança com o brinquedo novo na porta da casa e, nós seguimos nosso caminho. 

— Você não vai fazer isso. – Alex me garantiu.

— Fazer o que? – Perguntei, acelerando um pouco mais na direção indicada pelo meu copiloto.

Isso.— Ele apontou para o velocímetro.

Isso? – Dei uma leve pisada no acelerador, e o ponteiro marcou 250km/h.

— Kat... – Alex advertiu.

Eu ri, contudo, levantei o pé, não queria uma viatura de polícia atrás de mim.

Uma hora e meia depois, Alex me mandou pegar uma estradinha de terra. Fui o mais devagar que consegui, para que os solavancos ocasionais não fizessem que os seus ferimentos doessem. E meia hora depois, paramos no portão de ferro que indicava a Fazenda da Família e Alex pegou um controle dentro do porta-luvas para abri-lo.

— Uau... - Murmurei. – Isso aqui é mais um haras do que uma fazenda! – Comentei vendo alguns mustangs cavalgando por perto.

— É um pouco de tudo. Como eu te falei há um tempo, minha mãe ama cavalos. E, desde quando ela realmente se aposentou da atuação, esse aqui tem sido o mundo dela. Mas tem um pouco de tudo, da carpintaria do meu pai até uma pista de motocross e, bem, um lugar que depois eu quero te levar.

Segui o caminho margeado por uma cerca viva super bem cuidada e logo depois de uma curva vi a casa.

Quando Dona Amelia disse que a casa só tinha um pavimento, eu achei que a casa era pequena... não a mansão que eu via diante dos meus olhos.

— Não se assuste se minha mãe já tiver arrumado o nosso quarto e um outro canto para você. Ontem, quando você foi em casa para pegar o que iríamos precisar no hospital, Dona Amelia meio que fez um pequeno interrogatório a seu respeito, me perguntando algumas coisas mais pessoais sobre você. Algumas eu soube responder, outras não...

— E por quê?

— Vamos dizer que minha mãe age da seguinte forma: quero que meus filhos tenham a própria vida, mas se eu puder ficar ao lado deles o máximo possível, sem sufocá-los, melhor. E, bem, ela já te encaixou nessa categoria e só quer que você se sinta em casa aqui também, para que você queira voltar.

Balancei a cabeça.

— A garagem é por ali. – Ele me apontou o caminho e logo eu estava manobrando o carro e o parando ao lado de uma Silverado.

— O carro do meu pai quando ele vem para cá.

— Justo. Agora eu entendi o motivo do Jeep. – Falei e desci do carro. Dei a volta e parei ao lado da porta para ajudar Alex, soltei os três cachorros e peguei as nossas bolsas. Eu já tinha trazido até o que eu iria precisar na segunda, para só ter que passar em casa para trocar o carro.

— E aí estão vocês! E trouxeram os filhos peludos! – Minha sogra apareceu na porta da casa. – Demoraram. Aconteceu algo?

— A mudança da Kat chegou.

— Isso é ótimo, querida! – Me deu um abraço. - E deu tempo de vocês desempacotarem tudo?

— Não. Eu só separei nos cômodos. Vou ter tempo depois. – Garanti e fui seguindo mãe e filho pela casa. Dona Amelia me mostrava os cômodos e pedia que eu me sentisse em casa.

Eu só meneava a cabeça.

— O quarto de vocês. – Ela me falou, já que Alex tinha ficado na sala, pois suas costelas começaram a doer.

— Obrigada. – Murmurei e dei uma rápida conferida. O quarto era mais ou menos a mistura do gosto de Alex com o meu.

— Se precisar de ajuda, me fale, querida. – Falou na minha direção e se abaixou para fazer um carinho em Thor e em Loki, e, surpreendentemente, Loki até se virou de barriga para cima para ganhar carinho dela.

— Isso foi fantástico!

— O que disse, minha querida?

— Loki. Ele nunca fez isso com nenhum estranho. Nem com Alex. E olha como ele está!! - Falei admirada.

— Tenho jeito com cachorros, Kat. – Ela brincou, se levantou e ainda os chamou. Eles a seguiram sem nem pensarem duas vezes.

Petturit[1]! – Murmurei quando os dois saíram correndo atrás dela.

Nem quinze minutos depois, eu já tinha terminado de organizar a minha roupa, a de Alex, e tinha mandado para Benny a mensagem falando que Alex quase tinha tido um filho quando eu cheguei a 250 km/h com o Jeep. Com tudo pronto, fui procurar a sala onde meu namorado tinha desmontado.

— Você tem certeza de que são os seus cachorros? De que aquele lá é o Loki? – Me perguntou assustado, ao ver Loki andando atrás da mãe dele.

— Não, eu não tenho. – Respondi rindo. – Um pouco melhor?

— Ainda não vai ser dessa vez que você vai ficar livre de mim. – Ele brincou e eu tive a certeza de que ele já estava melhor.

— E então, minha mãe já te assustou muito?

— Não. Por quê? Tem mais alguma coisa que você saiba que eu não sei? – Questionei.

E meu namorado abriu um sorriso.

— Quando ela achar que você está confortável o suficiente com a presença dela e de meu pai, ela vai te mostrar. – Respondeu todo enigmático.

— Por que eu acho que não vou gostar disso?

— Você vai... te garanto. Mas antes, não quer se sentar direito para que eu te use de travesseiro não?

— Não. Vou ajudar a sua mãe no que ela está fazendo. – Respondi.

— Ela está lá fora, pela bota que ela calçou foi até os estábulos.

Arregalei os olhos, tinha muito tempo que eu não andava a cavalo.

— Agora você quer ir lá, não é? – Alex me cutucou na cintura para chamar a minha atenção.

— Sendo sincera, eu amo cavalos, mas vou ficar aqui te fazendo companhia. Você já fez mais coisa do que devia hoje.

— E fui muito bem recompensado. Ganhei até um carro! – Me respondeu sarcástico.

— Que carro você ganhou, filho? – Meu sogro apareceu sei lá de onde e sem fazer barulho atrás de nós e tive que segurar o grito de susto. Algo que ele percebeu na hora. – Desculpe, Kat.

Me levantei para cumprimentá-lo.

— Não foi nada. – Disse ao abraçá-lo.

— Então, Alex, que carro?

— Um Aston Martin. – Disse todo convencido.

Senhor Pierce só olhou para o filho, depois para mim.

— É seu, não é?

— Ela me deu o carro, disse que combina mais comigo do que com ela.

— E você, filha?

— Ah, não preocupe. Tenho o meu.

— A Jamanta! – Alex brincou. – E eu nem olhei para a moto! – Comentou triste.

— Estava distraído demais com o carro de verdade para prestar atenção! – Retruquei. - Mas não fique assim tão triste... é só uma versão mais nova e potente e rápida da sua.

Meu sogro deu uma risada da minha resposta.

— Por favor, nada de saírem apostando corrida por aí. – Nos avisou antes de se sentar no sofá na nossa frente, olhar bem sério para Alex e apenas dizer:

— Dessa vez foi por pouco, filho.

Alex se remexeu do meu lado, completamente desconfortável com a conversa, ou com o acidente em si, depois suspirou e agarrou a minha mão.

— Foi.

— Então você se lembra?

E ele olhou em volta.

— Sua mãe está no estábulo. – Meu sogro garantiu.

— De tudo. Até de aterrissar no colchão. Apaguei logo em seguida e só acordei no hospital. – Alex explicou e ele não tinha me falado isso.

— Foi você quem errou?

A risada sarcástica que ele deu acabou resultando em uma careta de dor, e eu conferi o relógio, estava na hora de um dos remédios.

— Colin... o cara nem sabe o que uma luta... nunca subiu em um tatame ou ringue e quis fazer a cena. Deu no que deu. – Falou e levou a mão até às costelas.

Sr. Pierce olhou para o filho.

— Achei que vocês tinham fechado um contrato de que esse tipo de cena só os dublês treinados fariam.

— E foi. Mas o cara é a estrela do show e quis aparecer... Ele saiu inteiro, né?

— E como fica o restante das gravações?

Alex apenas disse:

— Não faço ideia. Ainda não conversei com ninguém do estúdio. O que é bem estranho. Acredito que Hugh tenha conversado com alguém.

— Nós avisamos a ele que você já estava de alta.

— Qualquer coisa ele me fala na segunda. Finais de semana são sagrados para ele.

— Estou curioso para saber como o estúdio vai limpar a barra desse Colin. – Meu sogro conjecturou.

— Falando que foi um erro de cálculo da coordenação de dublagem... não é sempre assim?

Eu só prestava atenção na conversa, um tanto tensa demais ao saber que Alex acabaria levando a culpa de um acidente que ele não tinha cometido.

Um tanto revoltada com isso, pedi licença e perguntei onde era a cozinha, pois precisava de um copo de água para que Alex tomasse o remédio na hora, porque se dependesse dele...

Eles me indicaram o caminho e logo me vi em uma cozinha enorme. Para uma família de quatro pessoas, achei grande demais, porém... eu não sabia quem aparecia aqui com frequência.

Tive que me virar para achar um copo e, enquanto isso, pude dar uma olhada para fora. Ali tinha uma piscina e uma área de lazer imensa. Sem querer, pensei em Elena correndo por ali.

Voltei até o quarto, peguei o remédio e depois parei ao lado de Alex para entregá-lo, meu sogro estava distraído com um programa de esporte.

— Eu te falei que vou diminuir isso! – Ele reclamou.

— Você está com dor, Alex. Por favor.

Praticamente obrigado, ele tomou o remédio.

— Não ache que eu vou tomar outro hoje. – Me falou.

— Se estiver com dor, vai Alexander. Você não é mais criança para ficar recusando remédio. E, ainda está muito cedo para suspender a medicação. – Minha sogra reapareceu na sala e se sentou ao lado do marido, fazendo uma cara engraçada quando viu o que ele assistia.

Alex tanto fez, que acabou se deitando com a cabeça em meu colo, minha sogra pegou um livro, meu sogro estava absorto no programa que via, até que a reportagem saiu do futebol universitário para a Fórmula 1.

— Ih... olha lá, vê onde que o piloto que você torce terminou a corrida... – Alex falou todo cheio de ciúmes e eu não perdi o olhar trocado entre meus sogros.

— Isso não foi a corrida, foi o Treino Classificatório. – Corrigi.

— E o que isso quer dizer?

— Foi a formação do grid para saber qual posição os pilotos vão largar na corrida de amanhã.

Alex olhou para a tela e depois abriu um sorriso.

— O tal de Kimi— ele fez uma careta ao falar o nome do meu piloto favorito. - vai largar em 12º? Ele não é tão bom assim, né?

Meu sogro tentou segurar a risada. Já a minha sogra.

— Quem é Kimi?

— O piloto que a Kat torce. Mas ele não é bom não. – Alex disse apontando para a tela da TV.

— O Kimi Räikkönen é um piloto campeão mundial da Fórmula 1. E finlandês. Como eu não vi os treinos, não sei o que aconteceu. Mas ele é um bom piloto. – Expliquei para a minha sogra, ignorando o comentário e a cara de Alex.

— E você o conhece? – Ela continuou, muito provavelmente intrigada pela reação de Alex.

— Meu pai foi engenheiro dele quando ele correu pela McLaren. Sou fã desde antes de ele entrar na F1. Mas nunca o conheci pessoalmente.

— Mas o chamou de Kimi! – Ele acusou.

— Sério? – Dei um tapinha na testa dele.

Alex deu de ombros e Dona Amelia começou a rir.

No finalzinho da reportagem dizia que a corrida seria às 07:00 horas da manhã de domingo.

— Eu vou assistir essa coisa só para ver se esse piloto é bom ou se você só está defendendo o seu favorito... – Alex comentou e se virou de lado no sofá, pedindo o controle para o pai, que recusou com um menear de cabeça.

— Eu mereço ouvir uma dessas... – Murmurei.

Enquanto o pai procurava outro programa para assistir, Alex reclamava que ele não parava em canal nenhum. Eu deixei de prestar atenção na TV há um tempo, tentando, discretamente, responder as mensagens que chegavam no meu celular.

— O Bando de Loucas tá te perturbando aí? – Alex desistiu de reclamar com o pai e resolveu que eu era uma vítima muito mais interessante.

— Não. É trabalho.

— Em um sábado?

— Eu te avisei. Logística não para.

— Problema?

— Sim... Mas não tem como eu resolver isso agora... um navio com avaria preso no Porto de Valparaíso, no Chile, tem que ser consertado lá. O que me resta é informar esse problema e determinar que um outro navio seja despachado para lá.

— E de onde vai sair esse navio?

— Esse é o problema... o mais próximo está na Argentina. E ainda está descarregando. – Falei e meu telefone começou a tocar. – Com licença, eu realmente preciso atender isso aqui. – Falei e me levantei.

Os olhos de Alex me acompanharam até onde consegui vê-lo, depois saí para a varanda e me sentei em uma das cadeiras que lá tinha para tentar resolver esse problemão sem colocar outras cargas em espera.

 

[1] Traidores.


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Notas finais do capítulo

Bem é isso!
Espero que tenham gostado!
Muito obrigada a você que está lendo e acompanhando a fic!
Até o próximo capítulo!
xoxo



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