Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 110
Calmaria


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo... curtinho, bem água com açúcar, porque sim!
Boa leitura!



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Se em casa quem nos acordou foi Elena e sua disposição matutina de dar inveja, aqui na Fazenda foram os avós mesmo.

Não sei o motivo de todos eles terem madrugado, contudo, às seis da manhã, estavam acordando cada um de nós.

— Por que isso? – Quis saber Alex, ainda deitado, olhando para a porta recém fechada por dona Laura.

— Avós sendo avós, eu acho. – Comentei e me levantei.

— Acho que eu vou dormir mais um pouco... – Falou meu noivo e se virou para o lado.

Não disse nada, apenas troquei minha roupa, arrumei o meu cabelo e peguei uma bolsa com uma encomenda que tinha esquecido de entregar no dia anterior, saindo do quarto sem fazer barulho.

No corredor, trombei com Olivia, que parecia uma sonâmbula, com minha mãe, Tanya e Ian, que ainda lutavam com o fuso-horário. E, mais para frente, com quem queria ver.

— Isso é para você! – Falei com Pepper.

Ela me olhou desconfiada, como se eu estivesse pregando uma peça nela.

— Você vai me agradecer depois. – Garanti e fui andando.

Minha cunhada me pegou pelo braço, quase me jogou no chão.

— Agora espere! – Ela disse.

Revirei os olhos e esperei que a curiosa abrisse a sacola. Nesse meio tempo, Liv apareceu e se escorou em mim, intrigada com o que quer que Pepper estava ganhando.

— Não te chamei. – Dei um tapinha de leve na cabeça dela.

— Posso ficar, tia Pepper?

— Desde que não me chame de tia, pode. – Respondeu Pepper, tirando o embrulho da sacola. – Ah! – Ela exclamou quando viu. - AH!!!! – Quase gritou.

— Mas por que tão feliz? É só uma bota de montaria! – Liv fez cara de confusa ao pegar a bota quase igual a dela.

— É a bota que vai impedir que eu tenha que usar as botas estilo western...

Olivia arregalou os olhos.

— Mas achei...

— No dia em que você tiver que conviver com a família de seu namorado, e eles te derem um presente que você não gosta, mas se vê na obrigação de usar para não magoar ninguém, você vai entender o que é isso, fingir que gosta para não ferir os sentimentos da família inteira.

— Certo... – Liv comentou. – Relacionamentos são MUITO complicados... – Saiu balançando a cabeça.

— Não sei qual desculpa você vai dar para a bota, mas ela está aí... comece a sua emancipação da roupa de cowboy.

— Fico te devendo essa...

— Fica tranquila, eu não vou cobrar.

Pepper voltou para o quarto para  trocar as botas e eu fui para a cozinha, nem um pouco preparada para o que o dia me reservava.

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 - Eu estou morta! – Falei quando desabei na cama, era mais de duas da manhã, e cada músculo do meu corpo doía e eu precisava de dormir.

Meu dia tinha começado às seis da manhã e desde o momento em que coloquei os pés para fora do quarto, eu não parei um único segundo.

Começou pelo café da manhã, com tanta gente, é claro que eu pararia para ajudar minha sogra, só não me contaram que seria serviço de hotel, pois eu fiquei incríveis quatro horas direto dentro da cozinha! Seja cozinhando, seja lavando vasilhas, seja preparando o almoço – que eu não cozinhei, mas acabei sendo escolhida para ajudar a temperar as coisas.

Quando me vi livre da cozinha, outro problema me perseguiu, por quase todo o resto do dia.

Onde estava Elena?

É claro que com uma propriedade desde tamanho, minha sobrinha tinha a grande possibilidade de sumir e foi o que ela fez nos dois segundos que alguém piscou dentro da cozinha e a perdemos de vista.

Eu sabia que ela tinha saído pela porta dos fundos, o que a colocava em rota de colisão com a área externa da piscina. E outro ponto, ela não estava sozinha, tinha Stark e Thor nos seus calcanhares, não que isso fosse um consolo, ainda mais com Thor, mas era mais fácil um cachorro escutar um chamado do que Elena.

Dois minutos depois que Tanya deu a alerta de que a filha tinha saído de perto de nossas vistas, escutamos o som de algo caindo na piscina...

Largamos o que estávamos fazendo e corremos para fora, pois a piscina é funda e Elena, apesar de saber nadar, estava sem boia. Contudo, o barulho não tinha sido Elena quem fizera, mas sim, Thor – o lesado-mor de sua raça! – E minha sobrinha tentava ajudá-lo a sair dali.

— Eu falei para ele não seguir a abelha, não podemos matar as abelhas! – Ela dizia. – Mas o Thor não me ouviu e quando vi, ele tinha caído! – Se explicava a Loirinha que tinha os tênis molhados, assim como metade da perna.

— Elena. – Começou Tanya. – Por favor, não saia de perto de nós. E não se preocupe com Thor, ele sabe sair daí. – Pegou a filha no colo e a levou para dentro.

O único problema? Thor não conseguiu sair. Tentou... tentou... ganiu, fez um drama desnecessário, mas sair da água que é bom, não conseguiu. Tivemos que puxar o estabanado com a ajuda da rede de limpeza da piscina.

E o que ele fez assim que se viu liberto?

Saiu correndo atrás de uma borboleta!

— Inteligência não é o forte desse aí. – Disse Will que ria das tentativas fracassadas de meu cachorro de tentar pegar o inseto no ar.

— Nunca foi. – Respondi e deixei para lá, mais cedo ou mais tarde iríamos escutar o ganido dele, quando ele batesse, ou na cerca de proteção da área, ou em alguma árvore.

O intervalo entre o café e o almoço me levou até o estábulo, onde tratei de meus cavalos com cuidado e carinho, afinal já tinha um tempinho que eu não os via e ainda pude levar Perigo para uma volta.

Claro que essa volta foi à galope e eu tive um acompanhante à altura ou quase.

Alex, assim que me viu selando Perigo, resolveu que iria dar uma volta com Furia.

Como eu já sabia, Furia e Perigo não se bicam muito, na melhor das hipóteses, eles se odeiam. E a prova veio no exato instante em que foram colocados lado-a-lado: ao invés de começarem a trotar para pegarem velocidade, resolveram que tentar morder um ao outro era muito mais divertido. Foi um custo fazê-los parar, para que efetivamente pudéssemos começar o passeio.

Fomos Alex e eu subindo os morros, a certa altura, foi fácil ver Pepper e Liv na área de doma dos cavalos, aprendendo como era o comportamento de Nevasca e Athena, e um pouco mais perto, Elena estava em cima do pônei, abraçando o bichinho pelo pescoço ao invés de efetivamente montar.

Estávamos somente andando pela propriedade, nada demais, quando, sem aviso, Alex deu o comando e Furia começou a galopar.

— Sério?! – Gritei, mas como estava contra o vento, meu noivo não me escutou, só me restando sair atrás dele e mostrá-lo que tinha o cavalo mais veloz...

Com menos de três minutos, emparelhei com ele e, dando tchauzinho ultrapassei e fui abrindo vantagem a cada passada de Perigo, sendo a vez dele de gritar:

— Você não sabe para onde eu estou indo!

— Não! Mas sei para onde eu quero ir! – Gritei de volta.

Perigo cavalgava como se fosse um cavalo livre e como se soubesse para onde deveria ir.

Não demorei muito e avistei o meu destino. Fui dando os comandos para que meu cavalo fosse diminuindo a velocidade e ele logo começou a trotar, parando totalmente alguns metros antes do mirante.

Desmontei e cheguei na beirada, me sentando na cerca, com os pés voltados para o morro. Dei uma olhada para baixo e vi que deveria ter mais de uns cinquenta metros de altura ali, nada que me assustasse.

Estava balançando os pés e sentindo o vento frio no rosto, quando escutei o som de cascos, que logo cessaram, sendo substituídos por passadas.

— Então você realmente achou esse lugar... – Alex comentou ao parar atrás de mim.

Somente balancei a cabeça, ainda apreciando a vista.

— Minha intenção era te trazer até aqui para te pedir em casamento... não chegamos na metade do caminho. – Ele continuava a falar.

— E ainda bem... – Demorei para respondê-lo.

— E posso saber o motivo?

Somente apontei para a paisagem.

— Eu não iria escutar uma palavra do que você estaria dizendo...

Alex saiu de trás de mim e se sentou do meu lado, de costas para a paisagem deslumbrante, só para me encarar, o que eu achei um verdadeiro ultraje, nada é mais bonito aqui do que a paisagem.

— Sério?! - Ele perguntou.

— Você não fica encantado cada vez que vem aqui? Que olha para tudo isso? – Joguei as perguntas de volta.

Alex olhou sem muito interesse para o entorno.

— É bonito...

— É lindo! – Corrigi-o. – É um santuário de paz. Poderia ficar aqui pelo resto do dia!

Meu noivo balançou negativamente a cabeça, porém ficou quieto, brincando com uma mexa do meu cabelo que tinha se soltado depois da veloz cavalgada, ao invés de aproveitar o momento e olhar para o lugar.

— Você está perdendo a vista. - Comentei sem olhá-lo.

— Venho aqui desde criança. Não mudou muita coisa. E estou tendo uma visão muito melhor agora. - Alex comentou casualmente, passando o dedão por minha bochecha, fazendo meu rosto esquentar na hora.

Preferi não responder, até porque não tinha nada o que pudesse falar, quando ele via a resposta na cor das minhas bochechas.

Caímos em um silêncio tranquilo e em uma paz que eu desejei ardentemente que durasse pela eternidade. 

Alguns minutos depois, Alex suspirou alto e acabei que sai do meu transe pela beleza do lugar e acabei por soltar a grande verdade do dia:

Perigo é mais rápido que Fúria. Nunca mais tente apostar corrida contra nós.

Alex deu uma risada, que pareceu ecoar por todo o lugar.

— Eu sabia disso... só queria saber até onde você iria.

Dei de ombros. Se pudesse, esse mirante seria sempre o meu destino. E eu não estava com vontade de trazer mais ninguém aqui. Um pouco de paz de vez em quando faz muito bem.

Novamente ficamos em silêncio, algo bem raro, contudo, por mais que eu quisesse, não poderia ficar ali pelo resto do dia. Além de ter que ajudar na casa, tinha minha família também.

Com um suspiro resignado, joguei as minhas pernas para o lado onde estava Alex e os cavalos.

— Já se cansou da vista? – Ele perguntou só para me provocar.

— Não. Mas o dever me chama. Ou menos, nos chama. – Mostrei o relógio no pulso dele.

— Outra corrida para a volta? – Quis saber.

— Acho melhor não... não quero dar um péssimo exemplo para Elena, vai que ela cisma de querer sair galopando no pônei e ninguém quer parar na emergência hoje. – Respondi-o já montando em Perigo.

Seguimos cavalgando pelo local, Alex me levou para o outro lado, onde eu ainda não conhecia e foi me falando que nem sempre a propriedade foi tão grande, aos poucos os pais dele foram comprando as terras e anexando...

— E parecem que não estão querendo parar tão cedo.

— Pelo que entendi da conversa de ontem no jantar, a ideia de sua mãe é fazer duas áreas bem distintas. Uma onde só a família possa ficar e o Haras...

— Esse sempre foi o sonho dela, ter um haras que seja referência, e como seus avós são donos de um, creio que agora a ideia saia do papel. O que é bom, quem sabe isso não force meu pai tirar o pé um pouco e só fazer trabalhos esporádicos.

— Seu pai?! Aposentado? Desculpe-me, mas não vejo isso acontecendo... nem com ele, nem com meu pai.

— Se ele tivesse outro foco, como administrar o haras, quem sabe.

— Creio que é Dona Amelia quem irá administrar o haras. - Respondi cheia de certeza.

— Talvez ela e seus avós planejem algo como uma filial... sei lá se isso é possível.

— Nem cogite esta ideia! Porque do jeito que os três e aqui acrescento também, Dona Laura e Sr. David gostam de cavalos, daqui a pouco vão querer comprar um haras no Oriente Médio, outro na Espanha, no Brasil, na Austrália...

— Uma multinacional de Haras.

— Sim... eu nem quero saber para quem sobraria a administração disso.

Alex só olhou sugestivamente para mim, já sabendo para quem sobraria.

— Exatamente. Para mim. E eu não quero ainda mais trabalho para o meu lado.

— Justo... porque senão você não vai ter tempo para mim.

Tive que revirar meus olhos diante de tamanha prepotência.

Eu não terei tempo para mim!— Corrigi-o.

Ele deu outra risada diante do que havia dito, aliás, Alex estava de ótimo humor.

— Posso saber de onde veio tanto bom humor... para alguém que foi jogado da cama cedo, você está até bem demais.

Alex, que cavalgava do meu lado, parou Furia e fez um sinal para que eu parasse também.

— Primeiro estou em casa. Segundo, estou fazendo o que eu gosto. Tive tempo de ir para a praia e ainda ensinar Tuomas e Elena a surfar, ou quase, algo que nunca me imaginei fazendo, depois, tem toda a nossa família quase aqui... sou um cara sortudo de poder dizer que estou em casa e cercado da família e que gosto disso.

Levantei uma sobrancelha para ele, era uma mudança bem drástica, se levar em consideração que Dona Amelia havia me dito, em outubro, que Alex mal estava aparecendo em casa nos últimos três anos.

— Bem... eu que fico feliz por você não estar querendo sair correndo e me abandonar por conta da família que tenho.

Estávamos parados no alto do morro de onde dava para ver toda a área útil da fazenda, com a casa, o estábulo exclusivo da família, as garagens e a oficina do Sr. Pierce no lado direito e a área comum, onde pessoas tinham aulas de equitação.

— Eu não estou vendo direito, mas tenho quase certeza de que Tuomas está levando a moto dele para um passeio...

— E você está morrendo de vontade de ir junto. – Comentei sorrindo.

— Encontro com ele lá. Vai se juntar a nós?

— Não. Vou render Tanya e minha mãe das mãozinhas incansáveis de Elena e Olivia.

Descemos o morro devagar, a certo ponto Alex começou a galopar e levou Furia para o estábulo, já eu parei na área de treinamento, onde Elena estava aprendendo a domar Nuvem.

— Estava onde? – Quis saber minha mãe.

— Andando por aí... desligando a cabeça.

Ela só balançou a cabeça positivamente.

— Se a senhora quiser ir descansar um pouco eu tomo conta de Elena.

Minha mãe deu uma olhada na direção da casa e depois fez que não.

— Suas avós e as avós de Alex estão cozinhando, e deixaram bem claro que não queriam ninguém lá por perto.

— Entendi. Melhor ficar por aqui. E Olivia?

— Na área de doma. Quer porque quer domar Athena em dois dias... parece até você!

— Achei que ela iria preferir saltar...  – Comentei.

— E desde quando Olivia consegue desgrudar de presente como Athena? E, só para que fique sabendo, já espalharam por aí que você vai mostrar como se doma um Puro Sangue Inglês...

— Minha sogra ou meu sogro?

— Dona Ilsa.

Arregalei meus olhos.

— Ao que parece você impressionou muita gente por aqui.

— É Olivia quem tem idade para ser A amazona e sou eu que levo a fama?!

Voltamos nossos olhares para Elena que, agora devidamente montada e com capacete, joelheira e cotoveleira e todos os equipamentos de segurança que uma criança precisa quando é introduzida ao hipismo, montada em Nuvem, trotava devagar pelo cercado. E para que isto estivesse acontecendo tão rápido, presumi que Nuvem tinha sido domado em Michigan.

Ficamos ali, incentivando Elena quando ela conseguia domar o pônei (que estava com um corda amarrada na guia que era segurada pelo treinador), batendo palmas para ela.

Mais algumas voltas e ela mesma pediu que parasse, pois achava que Nuvem estava cansada. Assim, Tanya a levou para o estábulo, onde ela foi ajudar a tratar da pônei.

Minha mãe e eu andamos um pouco e logo vimos Dona Amelia parada em uma das cercas, pé na parte mais baixa, observando dois cercados ao mesmo tempo. Em um estava Pepper, que tentava domar Nevasca e, no outro, Olivia e Athena, que, na falta de uma palavra melhor, estava se entendendo com a égua. Minha sogra não falava nada, apenas ia balançando a cabeça quando algo lhe agradava imensamente, como quando Pepper conseguiu por o cabresto na égua e Liv ganhou a total confiança de Athena que a bela égua finalmente se deitou no chão para que fosse acariciada.

Como o que as duas faziam demandava um ambiente tranquilo, decidimos ficar por ali e só observar de longe.

Quando o quarteto de avós veio chamar para o almoço, Dona Amelia me deu um tapinha no braço e me alertou:

— À tarde quero ver você ensinar como se monta. Tem muita gente precisando de uma aula por aqui.

Somente confirmei com a cabeça, pelo visto, nada de verem a Katerina parada, sentada em uma rede, lendo um bom livro... Com coisa que eu me importava muito em ficar montada em um cavalo por boa parte da tarde.

— Sim, senhora! – Concordei e levei Perigo para o estábulo, onde tratei-o, escovei seu pelo e olhei suas ferraduras.

Tudo certo com meu cavalo mais arisco, fui em direção da casa, sendo mandada para o banho assim que coloquei os pés na sala.

A conversa durante o almoço fui dividida em dois polos, os cavalos e as motos, e até parecia que a mesa estava dividida dessa maneira, pois cada grupinho ficou no seu canto, sem entender muito o que se passava na conversa ao lado.

Com tanta gente no entorno da mesa, nada mais justo que todos se reunissem para arrumar a cozinha e dar uma folguinha para as vovós.

E a estranha divisão permaneceu até no momento em que terminamos e cada um seguiu para um lado, eles indo para a oficina e as mulheres para o estábulo.

Levei um tempo para selar Prince Hall e demorei mais ainda para me apresentar na área de treino, não queria plateia, apesar de saber que ao menos minhas sobrinhas estariam me vendo.

Esperei pacientemente que a aluna do horário acabasse os seus saltos e, depois de perguntar a Pine quantos minutos eu tinha para ficar ali, ele, sorrindo, me disse:

— Ela foi a última por hoje. A arena é toda sua e de Olivia, se ela quiser.

Agradeci e entrei na área, dando voltas no entorno para aquecer Hall e para que ele se lembrasse de como é ser montado.

Estava para começar a pular, quando notei um chapéu cor de rosa na cerca.

Elena me deu tchauzinho quando me viu olhando em sua direção e só falou assim:

— Liv já tá vindo, tia!

Contudo, não quis esperar muito e comecei a saltar, aumentado a dificuldade e a velocidade a cada salto que nós terminávamos.

Alguns obstáculos novos tinham sido colocados nessa arena, e instei meu cavalo a ir justamente nestes, pois eram complicados e eu queria saber o quando Prince Hall ainda poderia evoluir.

Devo ter ficado por ali quase uns quarenta minutos, e quando terminei Olivia aplaudia, com o celular dependurado no braço. Ao lado dela, Dona Ilsa e Dona Laura.

— Tia... que volta foi essa?! E a perfeição desses saltos?! Acho que estou precisando de mais aulas! – Disse minha sobrinha.

— Está? Então pegue o Ares. Vamos treinar! E você, Elena, para cá. – Peguei Elena no colo e depois a sentei na sela de Hall. – Hoje você vai andar no Hall. Só andar. Para começar a se equilibrar nos cavalos maiores.

Olivia voltou com Ares e eu mandei que ela montasse e começasse com os movimentos de aquecimento do cavalo, enquanto puxava Hall de um lado para o outro, com Elena agarradinha na sela.

Passei o restante da tarde assim. Ensinando Elena o básico e orientando Olivia. Minha sobrinha mais velha ia tentando evoluir nos obstáculos, claro que com certa dificuldade, afinal ela estava montada em um cavalo que não era o dela, porém, foi o suficiente para que alguns erros fossem corrigidos e que ela ganhasse a confiança necessária para inovar em alguns aspectos do conjunto.

A certa altura, pediram licença e me perguntaram se eu não queria ser a treinadora de uma garota que vinha para o Haras todas as semanas.

Olhei para a menina e ela me media com os olhos.

— Adoraria, porém, não posso. Não sou treinadora certificada e também não trabalho no ramo... o que estou fazendo aqui é só ajudar as minhas sobrinhas.

A mulher, que parecia ser bem rica, fez uma cara de desdém e depois se afastou.

Só saímos da área dos saltos quando ouvimos o som das motos de motocross já voltando para a garagem. Assim, mandei Olivia desmontar e ir tratar do cavalo, esperei que ela cumprisse com a sua tarefa e depois subimos em direção da casa. Com Elena agora em meus braços, pois ela tinha se cansado de montar e descarregou em cima de mim.

No meio do caminho, encontrei com Ian e Alex, que depois de terem andado de moto no meio da poeira pelo dia inteiro, estavam pintados de vermelho.

— Acho bom vocês nem pisarem na sala desse jeito, ou dona Amelia vai mandá-los limpar a casa inteira...

Amarrei Hall na grade da varanda e, depois de tirar as minhas botas, mesmo com Elena em meu colo, entreguei-a para Tanya para que ela colocasse a filha na cama e só então parti para o estábulo para tratar de meu cavalo e dar o dia por encerrado.

Acabei que fiquei mais tempo do que o planejado por lá, ainda mais tendo Olivia como companhia falante. 

Quando entramos, ainda era relativamente cedo para o jantar, porém todos já estavam exaustos de tanto ficarem andando pela propriedade, assim, acabamos nos sentado na sala, para ouvir um pouquinho da história das famílias. O que, é claro, rendeu muitas risadas de todos.

E, por fim, o jantar.

Ninguém tinha disposição para mais nada, contudo conversamos bastante durante e após o jantar.

Mas não, dia não acabou aí... e devidamente acompanhados dos cachorros, levamos Elena, que tinha cochilado antes do jantar, para um lugar um pouco afastado da casa, para que ela pudesse ver as estrelas e o céu. E, depois que chegamos, começaram uma partida de pôquer, onde todos participaram.

Claro que eu fui a primeira a perder, mas nem por isso abandonei a mesa. Fiquei ali, sentada, com Elena no colo, vendo como todos se divertiam, vendo a alegria de alguns e o desespero de outros quando as cartas distribuídas não eram das melhores.

De tempos em tempos, Alex olhava para mim e para Elena, e dava um discreto sorriso de lado, o mesmo que dera de manhã. Fiz uma nota mental para questionar o que ele queria dizer com isso.

O jogo acabou com a incrível vitória de Tuomas, que chocou todos os presentes.

Acabei por trocar Elena e colocar nela o pijama, depois a ajeitei na cama e a pus para dormir. Era mais de duas da manhã quando fui para o quarto. Morta de cansada e querendo dormir imediatamente.

Contudo, tinha uma coisinha que ficava martelando na minha cabeça.

O sorriso de Alex.

Quando saí do banho, um pouco mais descansada, ele passou por mim e disse:

— Fique acordada.

— Vou ficar, tenho que te perguntar uma coisa.

Ele me olhou desconfiado e entrou no banheiro, deixando a porta aberta. Fui para a cama e me sentei como se fosse meditar, esperando a boa vontade de meu noivo de se juntar a mim.

Alguns minutos depois, Alex sai do banheiro esfregando os cabelos, e se joga do meu lado.

— O que você quer me perguntar?

— Por que toda vez que Elena se senta no meu colo, ou que eu estou fazendo algo para ela, você abre um sorriso?

Ele me respondeu de pronto:

— Porque te imagino com uma criança nossa nos braços. Vejo o carinho com o qual você trata Elena, Olivia e Tuomas. Vejo tudo o que você faz pelos três e tenho a noção que estou vendo uma prévia do nosso futuro. Sei que você não pode ter filhos agora e nem é recomendado, você tem que acabar de se curar por dentro. Mas gosto de te imaginar com um bebê nosso.

— Você quer muito ter filhos, não quer? – Minha voz baixou várias oitavas, nossa conversa ficou mais séria do que eu teria imaginado.

— Nunca foi algo que eu imaginei ou quis. – Ele disse sincero. – Pelo menos não antes de encontrar você. Agora, essa ideia não sai da minha cabeça... e fica mais clara todas as vezes que você está perto de seus sobrinhos, principalmente de Elena. Às vezes eu posso ver você, sentada, se apoiando em mim, cantarolando uma cantiga de ninar, enquanto alimenta nosso bebê. – Ele sorriu ao pegar a minha mão esquerda e brincar com o anel de noivado.

Ao sentir o seu toque quente em minha mão, fechei os olhos, e uma cena inundou a minha mente: Nós dois, com duas crianças, de mãos dadas andando em alguma orla de praia nesse mundo.

Abri os olhos para me deparar com Alex me fitando intensamente.

— Um dia eles virão, Alexander. Os dois que você quer, que você viu... assim como nós dois nos encontramos nessa vida, eles também virão. Nada vai nos impedir de sermos uma família.

Ele encostou a testa na minha, sua respiração estava acelerada, como se ele estivesse tentando esconder algo, um sentimento muito mais profundo. Travei meu olhar no dele e vi o que era. Ele chorava por conta da minha promessa.

— Essa é uma promessa que eu não pretendo quebrar, Alexander. Nossa família de quatro. – Sussurrei para ele.

Uma lágrima escorreu pela sua bochecha esquerda, e me vi beijando-a, depois dei pequenos beijos em seu rosto, enquanto ele me abraçava forte. E esse movimento foi a prova de que o maior sonho de Alex hoje era realmente formar uma família comigo. E eu me vi querendo o mesmo que ele. Ainda não era o momento, mas este era o nosso futuro.

— Avise-me quando estiver pronta. – Ele me pediu, com a voz embargada.

— Pelo menos com isso, vamos tentar seguir a tradição e nos casar primeiro? – Pedi.

— Como eu te disse, Kat, quando você estiver pronta, eu vou estar, seja para o nosso casamento, seja para termos filhos. – Ele falou olhando no fundo dos meus olhos. E eu acreditava em cada uma dessas palavras.

— Já te falei que te amo? – Perguntei dando um beijo casto nele.

Ele buscou o telefone na mesinha de cabeceira e depois me abriu um sorriso.

— Hoje ainda não.

— Eu te amo, Alexander. Você é o amor da minha vida.

— Eu também te amo, Kat. Mais do que você imagina. – Sussurrou em meu ouvido e depois nos deitou na cama, me levando de encontro ao seu corpo, onde me ajeitei e dormi quase que instantaneamente.


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Notas finais do capítulo

Bem é isso. Espero que tenham gostado.
Muito obrigada a quem leu até aqui.
Até o próximo capítulo.[
xoxo



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