Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 109
Caos


Notas iniciais do capítulo

E estou de volta agora com o caos completo!
Boa leitura!



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O despertador ainda não tinha tocado, disso eu tinha certeza, mas o barulho do lado de fora era alto.

De início achei que eram os vizinhos, contudo, eu nunca ouvi nossos vizinhos, nem sabia se eles tinham crianças pequenas que ficavam dando gritinhos empolgados.

Ainda com sono, tampei a cabeça com meu travesseiro e me virei de lado, tentando dormir mais alguns minutos.

Não cheguei a fechar os olhos e escutei alguém batendo na porta.

— Acorda! Bom dia, tia! Bom dia, tio! O sol já acordou e eu também!! – Elena cantarolou do outro lado.

Destampei a cabeça e levantei a tela do meu celular, eram 05:30 da manhã.

Do meu lado, Alex acabou por se sentar na cama, esfregando os cabelos e, um tanto desorientado, olhou para mim, como se me perguntasse, que dia era, onde ele estava e como ele havia parado ali.

— Bom dia, Surfista! – Inclinei-me e dei um selinho em seus lábios.

— Dia. – Ele murmurou ainda incerto e depois apontou para a porta.

— É... temos um despertador diferente hoje.

— Tia!! Tio!!! Posso entrar?

— E aí, ela pode? – Perguntei rindo e levantei da cama, indo em direção à porta, enquanto amarrava o roupão em volta do meu corpo.

— Acho que pode... – Alex me respondeu uns trinta segundos atrasado.

— Fuso horário te pegou de jeito, hein? – Comentei e ao ouvir a minha voz, Elena começou a pular do outro lado da porta. – E ela não está sozinha.

Alex se preparou da melhor forma possível, pois sabia que tudo o que Elena faria seria correr quarto adentro e mergulhar com tudo na cama, não se importando muito onde, ou em quem, ela aterrissaria.

— No três? – Brinquei com meu noivo e ele fingiu se proteger com os travesseiros. Segurei a risada e fazendo a contagem regressiva com os dedos, abri a porta.

Elena gritou bom dia assim que a porta foi aberta e disparou quarto adentro, seguida por Stark, que feliz em poder nos ver, latia animadamente. Minha sobrinha abria os braços como se fosse um avião e logo que chegou perto da cama, subiu no divã que ficava ao pé da cama, deu um pulo para frente e se jogou.

Assim que ela bateu na cama, escutei o gemido de dor de Alex, que só se jogou para trás.

E a Furacãozinho só ressurgiu no meio das cobertas e depois de tirar de forma atrapalhada o cabelo do rosto, comentou com um sorriso:

— Aterrissagem perfeita, não foi, tio?

Alex, que estava um tanto desfalecido na cama, levantou o pescoço e só concordou com ela, já eu tive que segurar a altura da minha gargalhada, enquanto voltava para a cama.

— Por que acordada tão cedo, Leninha? – Perguntei para minha sobrinha que tinha se deitado atravessada no peito de Alex.

— O Sol acordou e eu também! – Ela falou simplesmente.

— A frase não seria: “O céu acordou e eu também.”? – Citei um trecho do diálogo entre Anna e Elsa de Frozen, um dos desenhos preferidos de Elena.

— Mas como aqui não tem Aurora Boreal, eu tive que mudar, tia! – Ela se explicou, vindo para o meu colo, dando espaço para Alex se recuperar totalmente.

— Realmente, não tem. Nem querendo muito. – Comentei e me sentei com as costas na cabeceira, agora que Elena estava no meu colo, e comecei a pentear seu cabelo com os dedos, depois fiz uma trança. Só assim para ela ficar quieta, porém não impedia de que ela falasse.

— Tio?! – Ela se virou para Alex. – O senhor já viu a Aurora Boreal?

Alex, agora totalmente recuperado, estava sentado do meu lado, observando Elena e me observando, sempre com muito interesse. Levantei uma sobrancelha para ele, que resolveu me ignorar e continuou a conversar com nossa sobrinha.

— Até janeiro desse ano eu nunca tinha visto, mas a sua tia me levou para ver.

A Loirinha se agitou em meu colo.

— E o senhor gostou? Achou bonito? Quer ir ver de novo? Viu aquela cena ali? – Ela apontou para o quadro que ficava na parede sob a cabeceira.

— Devagar com as perguntas, Espoleta, ainda não são seis da manhã! – Alex falou com ela, dando um peteleco em seu nariz.

Elena deu uma gargalhada gostosa, ficando um tanto vermelha.

— Sim, eu gostei de ver a Aurora Boreal, achei muito bonita. Ainda vamos ver de novo e vamos te levar. – E, nessa frase, Elena que já estava agitada, ficou ainda mais. – E não vi essa imagem. Pelo menos não assim. Vi a Via Láctea com a Aurora ao fundo.

— Noooosssaaaa! – Disse a Pequena. – Essa eu nunca vi. Quando vamos ver?

— Nada de planos a longo prazo, Elena. Por enquanto a única coisa que você tem que se preocupar é que vai andar a cavalo hoje de tarde!

E para que falei isso? Ela se levantou do meu colo em um átimo e começou a pular na cama.

— Mas para isso acontecer, tem que se comportar. – Alex informou e ela logo se jogou no colchão e se sentou.

— E que horas vai ser isso?

— Na parte da tarde. Tenho uma reunião daqui a pouco.

— Então a senhora tem que se arrumar! Posso escolher a sua roupa?

— Antes disso, nós vamos tomar café da manhã. – Cortei a empolgação da Espoleta.

— Eu posso ajudar com o café? – Pediu ansiosa.

— Não vamos tomar café aqui em casa. – Alex falou. – Vou levar você em um dos lugares preferidos da sua tia.

Elena arregalou os olhos e fez a pergunta mais óbvia.

— Onde?

— No Restaurante da Dottie. Vamos comer panquecas!

Elena pulou da cama, e agora quicava eufórica ao lado de Alex.

— As panquecas que a Liv comeu quando veio aqui?

— Sim, estas panquecas.

E a garotinha só deu um gritinho de felicidade e depois saiu correndo, batendo em cada porta de quarto, para acordar os ocupantes, informando que íamos sair para tomar café e que não era para demorarem, porque eu tinha que trabalhar e se eu chegasse tarde, ela ia andar a cavalo muito tarde! Tudo isso com Stark nos seus calcanhares, que ia latindo feliz, no ritmo dos gritinhos da menina.

— Ela não está muito preocupada com você! – Alex comentou.

— Deixa ela. – Murmurei.

Estava saindo da cama, quando ouvimos o seguinte grito:

— ALGUÉM CONFIRMA QUE É NO RESTAURANTE DA DOTTIE!!! – Era Olivia quem perguntava.

Eu levei tanto susto com o grito dela que quase cai da cama e depois, só balancei a cabeça de forma negativa. Alex olhava na direção da porta encostada e depois para mim.

— Isso é o significado de se ter sobrinhos, Surfista. E hoje elas começaram com tudo. Só falta o Tuomas acordar reclamando...

Acabei de arrumar o quarto e de trocar de roupa, já me aprontando para ir trabalhar, afinal, sabia que minha família iria demorar muito, apreciando as panquecas de Dottie.

— Elena vai ficar desapontada por não ter escolhido a sua roupa...

Ela está mais preocupada com o que vai comer do que com o que vou vestir. – Levantei um dedo era possível ouvi-la reclamando com a mãe que ela iria até e pijamas.

Alex abriu um sorriso e eu só avisei:

— Você deu uma péssima ideia... ela não vai ficar quieta, Liv vai se achar a entendida do assunto e Tuomas vai comer por um batalhão! Esteja avisado desde já, para não dizer que minha família te fez passar vergonha. – Avisei e saí do quarto, para trombar em Liv, que ainda de pijamas, me esperava ansiosa. – O que foi? – Perguntei até assustada com o estado dela.

— É o restaurante da Dottie mesmo ou Elena só está aumentando como sempre?

— É o restaurante... – Não terminei de falar, pois minha sobrinha mais velha saiu correndo pelo corredor, empurrando Tuomas pelo caminho, dizendo que ficava pronta em dois minutos.

— O que deu nela? Sempre é doida, mas hoje tá pior! – Reclamou meu sobrinho.

— Nada, Tuomas. Já está pronto?

— Com fome...

— Para o café da manhã isso é estar pronto. – Comentei com ele e fomos descendo as escadas.

— Tia, me empresta um carro? – Ele pediu, na frente do pai.

Olhei para Ian, afinal, mesmo que Tuomas tivesse carteira internacional, era ou ele, ou Tanya, quem decidiam se, quando e onde o sobrinho iria dirigir.

— Você vai dirigir, Tuomas. Comigo do seu lado. – Disse meu irmão. E eu acho que isso era melhor do que nada.

Poucos minutos depois desceu Tanya com uma elétrica Elena do lado, já falando que ela iria comer mil panquecas.

— Não vai comer nem duas... – Ian comentou ao pegar a filha no colo. Alex desceu e só faltava Olivia.

— Cada dia mais parecida com a tia! – Disse meu avô.

— Eu estou aqui! – Liv disse do alto da escada. – Demorei porque...

— Porque você sempre demora, Olivia. Vamos que a sua tia tem reunião. – Tanya apressou a filha.

Fomos para a garagem, tentando dividir a família nos carros. Meu pai sequestrou meu Porsche e levou minha mãe e meus avós maternos, o BMW de Alex foi com Tuomas no volante, Ian, Tanya e vó Mina.

Ficamos Alex, Liv, Elena e eu olhando para o Jeep.

— Vai nesse? – Ele perguntou.

— É o que cabe a cadeirinha dela. – Apontei para Elena que estava no meu colo.

Com todos ajeitados, Alex guiou o comboio até Santa Mônica, mostrando alguns lugares para Elena, que, depois que viu o Oceano Pacífico, só tinha olhos para as praias. E mal Alex estacionou o carro, Elena já quis ir correndo para a praia.

— Hoje não. – Segurei-a.

— Mas, tiaaaa! – Ela pediu com olhinhos de cachorrinho pidão.

— Viemos tomar café, Elena, por favor.

Ela olhou para o mar com um ar de saudade, mas ficou quietinha, até que todos se reuniram para atravessarmos a avenida e entrarmos no lugar.

Como sempre Dottie parecia esperar por quem quer estivesse entrando, então, assim que viu Alex, brincou:

— Finalmente voltou para casa, garoto! E trouxe a Loira e a Loira 2 e a Loirinha e... a Finlândia inteira?! – Ela brincou com um sorriso. – Só faltou os cachorros!

— Bom dia, Dottie! – Cumprimentei a mulher. – E como você pediu um dia, aqui estão quase todos da minha família. - E passei a apresentar um por um.

— Fiquem à vontade, que eu já venho anotar o pedido de vocês! – Ela piscou para Liv, dando a deixa para que a minha sobrinha mais velha terminasse a fala.

— Na verdade, ela só vai vir até aqui para nos analisar. Não pedimos a comida. Ela sempre acerta!

Minhas avós ficaram um tanto céticas, assim como meu pai. Meu avô, irmão e sobrinho nem queriam saber se iam acertar ou não, sabiam que a comida era boa, já minha mãe e Tanya, olhavam para o cardápio e comentavam a quantidade de calorias que cada refeição tinha.

Dottie logo apareceu e depois de uma conversa rápida, prometeu trazer o pedido de cada um. Elena, claro, só tinha algo pedir...

— Moça, por favor, eu quero a mesma quantidade de panquecas que a täti!

Dottie levantou uma sobrancelha e olhou para mim.

— Ela quer o mesmo que eu, na quantidade. – Expliquei.

Täti é tia em finlandês, então?

— Sim, confirmamos.

— Bem, acho melhor eu entrar em uma aula de finlandês para atender essa Baixinha aqui. E o seu pedido, Pequena, vai ser especial. – Confirmou a gentil mulher, arrancando um sorriso de Elena.

Alguns minutos depois, apareceram as bebidas. E Dottie só comentou:

— Amelia sabe que você está aqui tão bem acompanhado, Alexander?

Alex riu.

— Não, ou você nem chegaria perto dessas duas aí. – Apontou para Elena e Liv.

— Uma vó que não é vó e ainda é ciumenta. Deixe-a aparecer por aqui que eu vou puxar a orelha dela!

— Não faz isso! Eu gosto da vovó Amelia! Ela é a minha avó americana preferida.

— Agora que Amelia explode de vez! – Dottie pediu licença e saiu rindo do comentário de Elena.

E a primeira parte do teste para saber se Dottie acertava ou não nos pedidos, estava lançada.

E ela não errou nenhuma das bebidas.

Vi minha mãe ainda meio desconfiada, porém, ela deu de ombros e comentou que era fácil de perceber isso na nossa família.

Começamos a conversar e Elena, que estava sentada entre Alex e eu, pediu para se sentar entre meus pais, que estavam de costas para a enseada, assim ela pode ficar vendo o mar e suspirando por estar tão perto e tão longe ao mesmo tempo.

Todos notaram os suspiros exagerados da garotinha, mas decidimos ignorá-la um pouco. Pelo menos até que Dottie chegou com os nossos pedidos.

Ela foi distribuindo os pratos para cada um, e foi divertido de ver a expressão de Tuomas, não só pela quantidade de comida, mas porque Dottie havia acertado em cheio.

E, claro a melhor reação veio de Elena, que ao ver as panquecas de morango e chocolate deu um gritinho animado, agradeceu o prato e disparou a comer.

Com todos servidos, Alex, Liv e eu esperamos para ver quais seriam as reações dos demais ocupantes da mesa.

E todos eles se renderam à iguaria. E tiveram que admitir que nem eles teriam feito escolhas de sabores tão boas.

— DOTTIE!! ANOTA MAIS NOVE NA LISTINHA! – Alex gritou da nossa mesa, e ela que estava na cozinha, só deu uma risada.

Como sempre, somente a comida para fazer minha família ficar calada e quieta, e isso durou por todo o café, as únicas palavras eram:

— Isso está muito bom.

— Realmente, Liv tinha razão de falar tanto dessas panquecas.

Com todos satisfeitos, pagamos a conta, que veio divida em duas comandas, uma entregue a Alex e a outra a mim.

  Já estávamos do lado de fora, perto dos carros, quando a feirinha do píer chamou a atenção de Tanya e minhas avós.

— Bem, se vocês quiserem ficar por aqui, tudo bem, eu vou de Uber para o escritório e depois alguém me busca. – Comentei vendo que todos já queriam dar uma volta pela orla.

Alex não me deixou terminar e disse que me levava até o prédio.

— Melhor ficar de guia para eles, se não for te tirar do sério. Eu vou ficar bem. – Garanti já chamando um carro.

Olhei para meu pai e a expressão dele era a de quem preferiria estar trabalhando a ficar zanzando pela orla em uma quinta de manhã.

— De tarde vamos para a fazenda! – Falei para ele. – Lá o senhor vai ter o que fazer. Daqui a pouco estou de volta. – Garanti antes de pegar o carro.

Cheguei com folga no prédio e pude arrumar tudo o que eu precisaria para a reunião de logo e ainda tive de tempo de dar uma adiantada no que tinha ficado da tarde anterior.

Consegui fazer todo este trabalho e no horário marcado, sem um segundo de atraso, a reunião começou. Estávamos discutindo a nova remessa de carros exclusivos, em como iríamos fazer isso de forma que fosse menos poluente e rápida, quando meu celular ao meu lado começou a vibrar.

Em uma pausa da reunião para que pudéssemos tomar um copo d’água, virei a tela para cima e várias notificações estampavam a tela de bloqueio.

No grupo agora nomeado:

Super Final de Semana de um Super SuperBowl

Tentei controlar a minha expressão para o novo nome do grupo, claro que isso era ideia de Liv, e estava para deixar o telefone bem longe de mim, quando vi a foto que tinham acabado de enviar.

Elena de boias de braço, macacão de Neoprene, em cima de uma prancha de isopor, se achando a surfista, de areia!

Desliguei o aparelho e voltei a me concentrar na reunião. Poucos minutos depois, Milena e Amanda chegaram, me cumprimentaram e começaram a trazer o meu trabalho do dia. Elas já sabiam como agir em situações assim e não atrapalharam em nada.

Duas horas depois, terminava a reunião e eu estava mais feliz do que nunca, pois nosso contrato de exclusividade foi renovado por mais dez anos.

Uma década!

Eu não sabia onde estaria em uma década, mas tinha certeza de que a NT&S teria pelo menos um cliente fiel.

Olhei o relógio, eu tinha meia hora até que todos saíssem para o horário de almoço, aproveitei para trabalhar um pouco, pois, pelo visto, minha família estava na praia... em pleno inverno, mas estavam. Internamente estremeci só de pensar na temperatura da água.

Resolvi o que tinha de urgente e importante, ainda pude dar andamento no que poderia ter esperado para segunda-feira, porém, já que estava por aqui mesmo, peguei para fazer e com a ajuda de Amanda, voltamos tudo para os devidos setores e eu ainda passei nos andares, e tive rápidas conversas com os chefes e alguns dos empregados.

Algumas ideias de reformulação interna simples e até mesmo para facilitar o trabalho surgiram e assim, marquei uma reunião geral para dentro de quinze dias, onde todos poderiam anotar suas ideias e iríamos discuti-las como um único organismo, não como setores separados.

Voltei para minha sala com esta informação para Milena e procuramos a melhor data na agenda. Uma sexta-feira.

— Melhor horário?

— 14:00. Assim, depois da reunião todos estarão liberados para o final de semana.

— Certo. – Milena anotou a data, desmarcou os compromissos da parte da manhã e já foi logo fazendo o e-mail interno, informando da reunião.

Com isso pronto, ela foi almoçar e eu fui embora. Uma rápida olhada no grupo da família, e vi que todos ainda estavam na praia. Chamei um Uber e voltei para lá.

E quando desci vi que tinha um certo aglomerado de pessoas na linha d’água.

Logo revirei os olhos, certa de que era Alex querendo aparecer como sempre. Assim, só tirei os meus sapatos e fui até onde reconheci as bolsas e mochilas, ao que parece, alguém andou dando uma fuçada no meu closet para encontrar a bolsa de praia e minhas saídas de praia. Procurei pela mochila de Alex e achei a chave do carro, estava para voltar na direção do estacionamento para deixar minhas bolsas e pastas, quando pude ter a certeza de que ouvi alguém xingando em italiano.

— Céus, parece até a Pietra! – Ri, balançando negativamente a cabeça.

Só que o grito ficou mais alto e quando notei, alguém gritava:

— Eu não sei... eu vou... eu vou cair dessa por... EU NÃO QUERO MORRER!

Virei-me na direção do mar e tudo o que eu vi foi uma prancha vermelha sendo arremessada para o alto e um par de pernas indo para a direção contrária.

— Não é possível que seja ela! – Murmurei e fui para perto da arrebentação.

Notei que estava a turma de Alex ali, e que Benny ria com gosto do que tinha acabado de acontecer. Não só ele, como Liv e Tuomas.

Com pouco, surge das profundezas do mar da Praia de Venice Beach, toda descabelada, com o biquini todo torto e um tanto tonta e desorientada, Pietra.

Eu quis rir, porém, eu sabia o que ela estava passando.

— O primeiro que rir, toma uma pranchada no meio da testa agora e um tiro de noite! – Ela alertou e tentou sair caminhando pela areia como se ela estivesse em uma passarela e não como se ela tivesse acabado de tomar um caldo histórico.

Quando a Italiana Louca passou do meu lado, ela me encarou e depois de suspirar, só falou:

— Essa coisa é mais difícil do que parece.

— Pois é... você está bem? Foi um tombo e tanto...

— Alguém filmou? – Ela perguntou preocupada.

— Não sei... acabei de chegar.

— Bem na hora de me ver pagando mais um king kong na minha vida... – Disse nada feliz e seguiu pela areia. – Onde foi que deixei minha bolsa? Por acaso você viu, Bionda?

— Não...

Porca miseria! – Ela xingou e começou a rodar como uma barata tonta no meio da areia.

Decidi deixá-la ali e voltei para onde estavam as coisas da minha família, peguei a chave do carro e segui para o estacionamento, para guardar o que não poderia ficar muito tempo exposto à água, maresia e areia de praia.

Guardei tudo debaixo dos bancos da frente, para escapar do sol que estava um tanto forte, apesar do vento estar bem frio e depois abri o porta-malas, atrás de uma bolsa específica que Alex tinha ali, um kit primeiro socorros versão praia, que consistia em toalha, chinelo, e roupa de banho e ginástica. Ele tinha uma bolsa para si e outra para mim. Peguei a minha e, depois de guardar o meu sapato e meu blazer no carro, procurei por uma das muitas cabines onde poderia trocar de roupa.

Vesti a roupa de ginastica, voltei ao carro, guardei o que não iria precisar e ainda peguei emprestado um boné para colocar no rosto, afinal, mesmo que tivesse passado um protetor solar de manhã, ainda estava de maquiagem e não queria ficar com o rosto manchado.

Quando me aproximei do lugar onde estavam as bolsas, vi que Pietra tinha desabado ali por perto.

— Achou a sua bolsa?

— Não... e não vou ficar andando por esta praia com uma prancha a tiracolo. – Ela apontou para a própria prancha que ela fazia de cama.

— Está desde quando na cidade? – Perguntei para manter uma conversa.

— Dois dias... ia te procurar hoje, mas sua família me achou. Vim porque o Benny insistiu quer que me levar em algo bem americano.

— O SuperBowl...

— Isso. Ele comprou dois ingressos. Parece que o time dele vai jogar essa coisa. E eu estou achando que ele só fez isso, porque eu o levei no jogo da Juventus.

Fiz uma careta.

— E você, vai? - Ela lançou a pergunta.

— Meu sogro comprou um camarote.... o time da família não vai jogar, porém, ele quer ir e cismou de levar todos. Creio que também é uma espécie de paga pelo final de semana de Fórmula 1. – Dei de ombros e me sentei ao lado de Pietra que ainda parecia que tinha sido atropelada por um trem e arremessada dentro de um furacão.

— Você entende algo desse jogo? – Minha amiga me perguntou.

— Nem uma vírgula. E demora, viu?

— O que eu vou ficar fazendo lá?

— Rindo das reações do Benny. E comendo pipoca. Só cuidado para não deixar o pacotinho cair na pessoa da sua frente.

— Tem uma história por trás disso aí, é?

— Tem, mas eu não vou te contar. Só guarde o conselho.

— Isso vai ser uma provação! Nunca vi futebol ser jogado com a mão! – Reclamou a Louca, gesticulando com as mãos.

— E vai ter muita coisa que você não entende... vai por mim, se joga na torcida e se concentra na pipoca... para passar mais rápido. – Aconselhei-a.

Pietra xingou em italiano, contudo logo mudou a expressão, pois Benny vinha na nossa direção.

— Essas não são as nossas bolsas. – Ele falou chutando o pé dela.

— Eu sei, Ben. Eu que não encontrei onde as nossas estão! – Ela reclamou, porém se sentou e deu um beijo nele. - Aí tombei aqui perto da Bionda, para fazer companhia para essa pobre alma que não gosta de praia.

— Logo ali, distraída. – Ele apontou para dois metros de onde estávamos.

Pietra fez uma careta e eu tive que morder o lábio para não rir, mas isso era tão típico dela... perder algo que está grudado nela.

Benny veio me cumprimentar e me falou para ir para perto da água, pois Elena estava tendo a primeiríssima aula de surf e todo mundo estava dando pitaco.

— Pena que minha câmera ficou em casa... só tenho o celular comigo hoje...

— A sua versão adolescente está com a câmera. – Ele me informou.

Pelo visto andaram fuçando em mais lugares do que só meu closet.

Caminhei até onde todos estavam, e sem ser notada, parei atrás de minha mãe e fiquei observando Alex ensinar Elena a surfar. Ao que parece, Tuomas já tinha tido a aula dele, a julgar pelo fato de que ele estava com a canela vermelha e um dedão estourado, além de estar apoiado na prancha que falavam que era minha.

Mas, a cena que atraía os olhares era outra.

Elena, com boias de braço, assim como macacão de Neoprene e ainda um colete inflável, estava paradinha na arrebentação, escutando o que Alex falava com ela. Ele demonstrava como ela tinha que ficar de pé em cima da prancha e Elena ia imitando os movimentos com os pezinhos na água.

— Isso, Leninha. Agora vem aqui.

E, como toda criança, Elena foi pulando atrás de Alex, que ia para um pouco mais fundo. A certa altura, ele pegou Elena no colo e ela o escalou até que chegasse nos ombros.

— Isso está muito fofo. – Pietra comentou do meu lado. – Você perdeu a forma como ele tomou conta do Tuomas enquanto ensinava seu sobrinho a surfar... Todas as mulheres solteiras da praia pararam para ver a cena e babar no seu noivo.

Revirei meus olhos para o comentário e voltei a prestar atenção no mar.

Alex parou não muito longe da praia e, depois de colocar a cordinha ou guia no próprio braço, baixou Elena, colocando-a de pé na pranchinha de isopor.

A Pequena se segurava na cintura dele, pois, a cada onda a prancha subia e afundava um pouco.

Não dava para escutar o que ele falava com ela, mas com pouco, ele colocou a coleira no tornozelo dela e Elena se animou com o que quer que ele tenha dito.

Alex se abaixou um pouco e agora Elena segurava em seus ombros, os dois olhando para dentro do mar, aguardando a onda.

Quando uma onda fraquinha e lenta veio, Alex veio trazendo Elena, até que, bem pertinho da areia, ele a soltou, não tinha como ela cair ou se machucar e ela surfou uns trinta centímetros sozinha.

O que, claro, resultou em palmas e assobios, que deixaram a garotinha muito vermelha, mas orgulhosa de si mesma.

— Papai!! O senhor viu? Eu sei surfar!! Eu sou uma surfista como o tio!! – Ela falou e foi correndo na direção de Ian, só que esqueceu de soltar a prancha que veio batendo atrás dela, espirrando água em todas as direções.

— Todos nós vimos, Elena! – Ian levantou a filha no colo e Tanya abriu o velcro para tirar a prancha do tornozelo da filha.

— Eu vou ser tão boa quanto o tio, todos vão ver! – Ela fazia questão de falar em inglês para incluir a todos.

— Ninguém duvida! – Minha mãe falou. – Mas creio que temos que ir para casa, afinal, daqui a pouco a Kat vai estar nos ligando para irmos para a fazenda.

— Mas a tia tá bem atrás da senhora, vovó! – Elena apontou para a minha direção. E depois em deu um tchau. – Veio surfar também, tia?

— Não... só vim ver você surfando! Essa água está com cara de que está fria!

— Não tá não! – Elena respondeu, querendo descer dos braços de Ian, para poder voltar para o mar.

— Agora é hora de ir para casa, Elena. – Tanya falou para a filha.

— Vamos poder voltar aqui?

— Sim, claro. Suas aulas de surf não vão ficar inacabadas. – Tanya respondeu e já foi levando a Pequena para perto de onde estavam as bolsas.

— Muito tempo que está por aqui? – Meu pai me perguntou.

— Cheguei para ver a Pietra tomar o caldo...

— Aquilo não foi um caldo... ela foi atropelada pela onda! – Liv riu.

— Saiu do mar querendo saber a placa daquela onda, certeza. – Tuomas falou.

— Muito bonito! Continuem rindo de mim. – A Louca falou perto de nós. – A Fofoquita de Araque nem molhou os pezinhos, já você Baladeiro, não foi tão melhor do que eu... – Apontou para o dedão esfolado de meu sobrinho.

— Mas eu não gritei quando a onda me atingiu! – Respondeu Tuomas.

— Nem podia, bebeu água o tempo inteiro. Não tente me enganar, pseudo finlandês, você já deve até estar passando mal. – Disse a Italiana finalista.

Os que tinham tido a coragem de encarar a água fria, estavam se secando, depois de irem tirar o sal do corpo, minha mãe, já doida para ir para casa, estava guardando o que não era necessário e só virou para mim e disse:

— Os de Alex, você arruma.

Com coisa que tinha muita coisa para arrumar...

Com pouco, todos estavam vestidos e prontos para ir para casa, nos despedimos de todos, porém, antes, paramos para tirar uma foto, a Turma do Surf e os Europeus, como Benny chamou a reunião, e, claro, Elena ficou no centro da foto, de pé nos ombros de Alex.

A volta foi barulhenta, Elena, que foi conosco no carro, não parou de falar o tanto que ela estava feliz em agora ser uma surfista e que ia contar tudo para vovó Amelia e vovô Jonathan.

Já em casa, Tanya mandou os dois filhos maiores se arrumarem e eu peguei a tarefa de arrumar Elena enquanto ela ajeitava algumas malas.

Com Elena prontinha e enquanto Alex tomava o banho, arrumei as nossas bolsas para os dois dias em que iríamos ficar na fazenda e ainda tive que escutar:

— Não esquece os chapéus de cowboy. Nem o meu nem o seu! – Meu noivo gritou de dentro do banheiro.

Peguei a duas coisas e coloquei por cima das bolsas e assim que Alex liberou o chuveiro, corri para tomar um banho rápido.

Como Alex ainda tinha que terminar de aparar a barba, assim, depois que já estava pronta, peguei nossas bolsas e as levei para o carro.

As únicas pessoas prontas para a nossa viagem eram meus avós, que estavam confortavelmente sentados no entorno da bancada da cozinha, comendo sanduiches.

— Sei que não é um almoço, mas todos devem comer! – Informou Dona Claire.

— Não vou negar que estou com fome! – Falei. – Mas tenho que colocar essas malas no carro e ainda arrumar as coisinhas dos cachorros.

Alex logo estava me ajudando com tudo e ainda pudemos nos sentar para este almoço rápido.

Às 14:00 saímos para a fazenda, onde meus sogros já nos esperavam.

Alex liderou o caminho e como os carros estavam conectados por uma chamada de grupo, ele foi falando onde estávamos e o que iríamos ver.

Uma hora e meia depois, entramos na estrada de terra que nos levaria até nosso destino.

Entramos na propriedade e logo Elena já apontava para os cavalos e pôneis que ela via.

Fomos direto para a garagem, onde deixamos os carros e pegamos nossas bolsas.

O trio peludo foi o primeiro a sair correndo, anunciando a nossa presença para os Pierce. Estávamos na entrada, quando ouvimos uma buzina e Will e Pepper, com Dona Ilsa, chegaram. Will parou o carro na entrada e eu, que estava mais próxima, ajudei-a a descer do carro, me surpreendendo que desta vez, ela tinha uma mala, e não uma pequena bolsa.

Dona Amelia, acompanhada da mãe, veio nos receber. Feliz por finalmente ter muita gente por aqui, mesmo que por poucos dias.

Cada um se instalou nos quartos já arrumados e logo escutamos minha sogra chamando por Elena, Olivia e Pepper.

— Por que só Pepper? – Alex me perguntou.

— Ela vai ganhar um cavalo novo... culpe a mim e meus dois cavalos...

— Ah...

Reunimo-nos na sala e o primeiro presente que apareceu foram os chapéus de cowboy de Lena e Liv. Elena, claro, ganhou um cor de rosa. Já Liv ganhou um bege, com uma fivela dourada, bem parecido com o meu.

— Obrigada! – Lena abraçou minha sogra e saiu abraçando cada um ali, sem saber ao certo quem tinha comprado o presente.

Liv agradeceu também, mas foi mais discreta, o que não a impediu de colocar o acessório na cabeça. Do outro lado da sala, Pepper balançava a cabeça negativamente, tanto ela, quanto eu, tristes porque ainda não tínhamos conseguido nos livrar dessa moda country.

Com estes presentes entregues, meu sogro nos guiou para os estábulos, antes mesmo que eu chegasse perto, pude ouvir sons de cascos, com certeza era Perigo que queria sair para dar uma volta.

— Pepper, você vem primeiro. – Disse dona Amelia fez com que a nora parasse na porta do estábulo. – Fique aqui que eu volto.

Minha sogra entrou no lugar, xingou Perigo, pedindo-o que ficasse quieto e voltou logo depois, puxando um belo cavalo branco, com longas pernas e uma crina tão branca que parecia neve.

Pepper ficou vermelhinha, mas sua admiração pelo belo animal falou mais alto e ela deu dois passos para acariciar o seu pescoço.

— Não precisava, Dona Amelia. Sr. Pierce,. Realmente não precisava. Ainda mais uma Andaluz como ela.

— Queremos um nome. – Disse Dona Laura.

Pepper olhou para a égua branquinha e foi logo falando.

Nevasca. Esse vai ser o nome dela.

— Sua nova sela está na baia dela.

Pepper deu um abraço tão apertado na sogra que eu achei que ela iria mata-la sufocada.

— Obrigada!!!

— Eu falei que a surpresa era boa! – Comentei quando ela passou do meu lado.

— Vou treinar a Nevasca para te morder e te dar coices... sua finlandesa nojenta que nem pode contar para a cunhada qual é a surpresa!

— Se a Katerina contasse qual era a surpresa, eu colocava os cavalos dela no meio da estrada e ainda mandava ela de volta para a Europa. – Disse minha sogra.

— Viu... fui coagida a ficar calada. – Tive que segurar a risada.

— Vamos nos concentrar aqui, que as surpresas ainda não acabaram! – Disse Sr. Pierce. – Elena ou Olivia agora?

Minhas sobrinhas, muito envergonhadas, olharam uma para outra e depois para a mãe.

— Nada de ficar com vergonha! – Disse Dona Laura. – Eu vou buscar o presente da Baixinha.

Elena estava até se escondendo debaixo da aba do chapéu, mas bastou que a avó materna de meu noivo aparecesse puxando um pônei cinza, que ela começou a ficar animada.

— E esse é seu, Pequena. Todas as vezes que você vier à Califórnia, ele estará aqui te esperando.

Elena arregalou os olhos e até começou a chorar de felicidade.

Kiitos[1]... – Ela disse, se esquecendo que a maioria das pessoas ali não falava finlandês. – Desculpe. Obrigada, vovó! Obrigada vovô!

— E o nome? – Dona Ilsa perguntou.

Elena, que já estava querendo era abraçar o Pônei, parou e olhou para todos ao fazer a seguinte pergunta:

— É menino ou menina?

— É uma menina. – Sr. David respondeu.

— Ah! Então o nome dela vai ser Nuvem!

Nuvem? – Quis saber Will.

— Sim. Ela é da cor das nuvens de chuva!

— Tudo bem...

Nesse meio tempo, enquanto Will conversava com Elena, Dona Amelia tornou a entrar no estábulo, voltando com uma bela égua Quarto de Milha de pelagem bege-dourada, muito parecida com a cor do chapéu que Liv tinha ganhado.

— E, Olivia, essa é sua. – Disse minha sogra toda orgulhosa.

— Dona Amelia, não precisava... eu posso pegar o Prince Hall emprestado...

— Nada disso. Elena tem sua pônei. Pepper seus cavalos. Cada um dessa família tem o seu, ou seus, esta é sua.

Liv, já acostumada com cavalos, chegou devagar e estendendo a mão em direção à égua, deixou que fosse cheirada, depois, lentamente, acariciou o focinho, para, então poder acariciar a crina quase loira clara, da cor do cabelo de minha sobrinha.

Liv estava encantada com o presente. A última vez em que eu a tinha visto dessa forma, foi quando dei Lady Sif a ela, dois anos atrás. E, mais rápido que qualquer um pudesse prever ou acompanhar, ela correu até Dona Amelia e deu um abraço a ela, dizendo obrigada várias vezes. Ela repetiu o gesto com Sr. Pierce, e, perto de mim, Dona Laura chorava.

— Essas meninas são especiais. – Comentou Dona Ilsa. – E para o Tuomas?

— Antes do Tuomas, queremos saber o nome da égua! Já deu para escolher, Liv? – Dona Amelia, ainda abraçando Liv, perguntou.

— Eu não sou muito criativa para nomes, mas acho que esse vai ficar bom...

— Não faz suspense!! – Pepper brincou.

Athena!

— A deusa grega da sabedoria?

— Sim, Dona Ilsa! Athena. Dizem que Quarto de Milha são cavalos versáteis e inteligentes... merece o nome.

— Senhor, não é só a tia que coloca nomes pomposos nos cavalos! – Pepper fez drama.

— Muito bem, está batizada como Athena. Então temos também, Nevasca e Nuvem. Gostei dos nomes. – Dona Laura falou acariciando o pescoço de Nuvem.

Com pouco, foi a vez de meu sogro nos liderar na direção oposta, mais precisamente, para sua oficina.

Minha mãe ia conversando com minha sogra, agradecendo os presentes para as netas, assim como Tanya, que estava um tanto sem graça com tudo isso.

Paramos um pouco antes da oficina de meu sogro, um galpão que eu sabia que existia, mas nunca perguntei o que teria ali dentro.

Meu sogro tirou um molho de chaves do bolso e depois de abrir o portão, indicou para Tuomas entrar com ele.

Alex me olhou desconfiado.

— Esse eu não sei o que é!

— Katerina, pode vir aqui também. – Senhor Pierce me chamou.

Fiz uma careta e segui para dentro do galpão para me assustar ao ver que ali era, na verdade, a garagem das motos de motocross. E, parada em um canto, minha moto que eu tinha deixado na Finlândia para meu pai poder turbinar o motor para mim.

— Finalmente está aqui! – Murmurei e logo me virei para ver que tinham trazido meus equipamentos também. E, mais no fundo, Tuomas assobiava.

— E você?

— Olha... essa é das boas! – Ele comentou quando levantou o cavalete e a trouxe, sem ligar, para perto de mim. – Obrigado! – Tuomas falou com o sorriso no rosto. – Vai ser legal correr em um local sem lama!

— Agora sim! Temos mais um para fazer trilha! – Alex comemorou lá de fora e eu indiquei que era para meu sobrinho levar a moto para fora.

Claro que Ian e meu pai logo vieram ver a moto, dizendo que dava para preparar o motor... algo que chamou a atenção de Will e Alex, e eu notei que os homens iriam sumir para a oficina, para arrumarem as motos.

A conversa entre eles ficou tão técnica, que minha sogra falou que éramos para deixá-los às sós, e passamos a dar uma volta, para que quem não conhecia, pudesse ver a propriedade e os cavalos.

Logo as quatro avós começaram a conversar sobre os cavalos e sobre a vida em si, e dizendo-se cansadas, voltaram para a casa, onde se sentaram na varanda.

Nosso passeio não demorou muito mais, e quando entramos na casa, os homens ainda não tinham voltado.

Não ligamos, pudemos ficar conversando em paz e depois as quatro avós foram para a cozinha.

— Isso pode dar certo, como pode dar errado. – Comentou minha mãe.

— Vai sair um prato de cada canto do mundo ali... – Pepper disse com um sorriso.

De fato, não houve briga, muito pelo contrário, as quatro se entenderam muito bem, e quando colocaram os pratos na mesa, e avisaram que o jantar ficaria pronto em trinta minutos, já estavam combinando o que iriam fazer para o outro dia.

Acabou que eu fui buscar os homens, com preguiça de descer o morro e depois subir de novo, afinal eu estava cansada, só liguei para Alex.

— Está no viva-voz? – Perguntei.

— Agora está... o que foi, Kat?

— O jantar está na mesa, e creio que vocês não vão querer deixar Dona Ilsa, Dona Laura, Dona Claire e Dona Mina esperando, vão? Porque eu tenho certeza de que pelo menos uma delas desce aí e bate em todos vocês com o rolo de macarrão!

Com cinco minutos todos os homens estavam dentro da casa, correndo para os quartos para tomarem um banho e tirarem todas as graxas.

— Vieram rápido! – Dona Laura falou abismada... David nunca vem tão rápido!

Troquei um olhar com minha avó Claire e nós duas só falamos:

— A ameaça do rolo de macarrão não falha nunca!!

O jantar foi tranquilo até demais, e, como já estava bem tarde e todos estavam cansados, fomos dormir.

No quarto, Alex ficou me esperando acordado enquanto eu tomava um banho de verdade, e assim que abri a porta do quarto, ele estendeu os braços para me receber, como sempre fazia.

E esse era início de um final de semana que prometia ser ainda mais caótico do que foi hoje!

 

[1] Obrigada.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso. Outro capítulo água com açúcar por enquanto, porque todo mundo merece paz na vida, até a Kat e o Alex.
Obrigada a você que leu até aqui.
Semana que vem tem mais.
Até lá!
xoxo



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