As palavras que não refletem seu coração escrita por Kogoe Mimiuchi


Capítulo 5
Capítulo 5 - Um café antes da tempestade


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo calmo antes da tempestade que está por vir. Yuzu, Mei e Harumin começam a sexta-feira decisiva com um sentimento de apreensão.



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Yuzu toma café da manhã com sua mãe antes de partir para a escola. O dia já começou com um sentimento de apreensão, na expectativa de que tudo dê certo e Mei volte para os braços dela. Ela conta com a força e o apoio das amigas para conseguir Mei de volta e, depois, ter coragem de contar para os pais delas sobre o relacionamento nada usual.

— Mama, hoje eu devo demorar um pouco. Tenho um assunto urgente para resolver, mas assim que eu chegar em casa eu te explico!

— Ei, ei, mocinha! É proibido entrar com o uniforme da escola em qualquer estabelecimento fora do horário de aula, ouviu? A Mei já te advertiu várias vezes sobre isso! Vai querer enfrentar a ira do conselho estudantil de novo?

— Então, é que... — Yuzu se segura para não revelar os planos de hoje para a mãe. O plano é fazer Mei desistir do casamento e, só depois de algum tempo, revelar o romance das duas para Shou e Ume. A loira fica parada pensando no que dizer para a mãe.

— Então o quê? O que você está aprontando desta vez, Aihara Yuzu? — Ume se aproxima e encara a filha, com receio de que ela arranje encrenca logo antes do casório da irmã.

Por um instante, Yuzu se sente intimidada pela mãe, mas só de pensar que nunca mais poderá ver Mei em sua vida ela ganha firmeza em suas palavras.

— Eu decidi algo importante esta semana, algo que tem a ver com o futuro que eu quero. Ainda não posso revelar o que é, mas logo você ficará sabendo. Conto com seu apoio!

— Yuzu, querida, acho que não estou entendendo muito bem o que você deseja, mas sabe que eu te apoiarei sempre, desde que suas decisões e escolhas não machuquem ninguém. Espero saber logo o que é essa decisão importante e o que o dia de hoje tem a ver com isso.

— Pode deixar, mama! Eu espero não te decepcionar! Agora deixa eu ir, antes que perca o horário!

— Se cuida, hein! Se for demorar muito, me avise! Não quero você até tarde na rua, lembre-se das suas notas!

No pescoço, Yuzu está com sua correntinha dourada e seu anel, que serão o amuleto do qual ela precisará para ter sorte no plano de “resgate” da Mei. Assim que sai do prédio, a garota tira a corrente para fora da camisa e coloca o anel entre os dedos para senti-lo, como se ao esfregá-lo seu desejo mais profundo fosse se realizar num instante, poupando-a do risco que terá de correr ao invadir uma reunião ao qual não fora convidada.

Concentrada e ansiosa, a loira caminha até a estação de metrô com o pensamento positivo. Sabe que quando Mei decide algo, é assim e acabou; mas hoje não, hoje é ela, Yuzu, quem vai mudar o rumo dos acontecimentos e libertar sua amada de um compromisso indesejado. “Vamos, Mei, você precisa me ajudar a te salvar! Não é possível que tudo o que nós passamos nos meses anteriores signifique nada para você! Você precisa me ouvir, e ao mesmo tempo, precisa falar na minha cara o que você quis dizer com aquela maldita carta de despedida!” — A garota ensaia internamente o que vai falar no momento em que se encontrar com a kaichou. Porém, de tão focada em seus próprios pensamentos, ela acaba perdendo a noção do que se passa ao seu redor. De repente, ela quase é atropelada por uma moto na faixa de pedestres, que está vermelha para atravessar.

— Garota, quer morrer de graça? Preste atenção! Quase me fez causar um acidente aqui! — O motoqueiro freia e grita para Yuzu, que só então acorda para a vida.

— M-me desculpe, eu estava distraída!

Depois de atrair a atenção dos outros pedestres por quase ter sido atropelada, a gyaru chega à estação de metrô. Antes de embarcar, ela para por alguns segundos e se cobra para manter a calma. ” Aihara Yuzu, não vá morrer antes da hora! Você precisa se concentrar direito para não afundar o plano de hoje! Vamos, fique calma e reúna forças, você consegue!” — A loira dá leves tapas em seu próprio rosto para não estragar tudo.

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Harumin acorda e se prepara para ajudar Yuzu hoje, e espera que as outras garotas não deem para trás. Matsuri, como maior incentivadora do romance entre as duas irmãs, é quem provavelmente terá condições de dar cobertura para a loira na hora H do plano. Apesar de saber que menina dos cabelos rosa é ardilosa o suficiente para conseguir o quer, Harumin tem medo do que pode acontecer caso o plano dê errado. Matsuri ainda tem um pé atrás em relação a Mei, a quem ela culpa por ter deixado Yuzu em um estado deplorável.

Já de uniforme, Harumin desce para tomar café com a avó. Mas o que ela não queria encontrar está logo ali, à mesa: Mitsuko está acordada e atenta aos passos da irmã caçula.

— M-mi-chan! Que surpresa, você aqui de manhãzinha!

— Harumi, bom dia para você também! E estou aqui na casa da vovó já tem algum tempinho, viu? Não enxergou a minha moto estacionada ali fora? — Mitsuko, com seu semblante de presidente de conselho tocando o terror, olha para a irmã e a intimida.

— Mitsuko! Logo cedo querendo dar lição em sua irmã? Você está na minha casa, e não na Academia Aihara! Seja mais gentil! — A avó chama a atenção da neta primogênita.

— Desculpe, vovó, não foi minha intenção! Eu só fiquei incomodada por Harumi não ter visto minha moto, já tem uns dois dias que estou aqui.

— Ah, a vovó tinha me falado isso, eu só havia esquecido, me desculpe... mas vamos tomar o café, nada de brigas hoje, né?

Mitsuko toma o café enquanto olha de soslaio para a irmã, que está lendo as mensagens no celular. Harumin parece apreensiva, talvez esperando por alguma mensagem de Yuzu ou de Matsuri sobre o esquema de hoje. A caçula dos Taniguchi não consegue esconder sua preocupação, o que irrita Mitsuko, que volta a vestir o semblante de presidente de conselho.

— Harumi, modos! Que tal tomar o café da manhã e deixar o celular de lado? As mensagens podem esperar, o café da vovó, não! Se ficar olhando o tempo todo para o celular, vai esquecer de comer e sair atrasada para a escola! Dê atenção para sua família, em vez desse maldito aparelho!

— Mi-chan, é que eu tenho algo importante para tratar hoje! Por favor! Só um minutinho!

— Mitsuko, de novo? Deixe sua irmã em paz! Tome seu café e deixe Harumi ler as mensagens dela!

— Vovóóóó... me perdoe, não foi por querer! — Mitsuko se repreende por ter intimidado Harumin novamente.

Harumin agradece a avó por ter interferido na conversa, mas viu que seu celular não recebeu nenhuma mensagem importante vinda das amigas. Ela precisa avisar a família que se atrasará para o jantar, mas não queria ter que dizer isso na presença da irmã, que pode desconfiar de algo e melar todo o esquema.

— Ah! Vovó, hoje eu me atrasarei um pouquinho, tenho algo a resolver com Yuzucchi e as meninas. Não me espere para jantar, qualquer coisa eu passo no mercado ou na loja de conveniência e compro algum lanche. É algo muito importante mesmo, não posso dar detalhes, mas não se preocupe comigo, viu?

— Poxa, Harumi, mas logo hoje? Kayo-chan ficou de vir hoje novamente para jantar conosco. Eu gosto daquela menina, acho que é a única pessoa que consegue amolecer o jeito durão da sua irmã, além de mim. Mas o que tem de importante justo nesta sexta?

Mitsuko fica vermelha com a observação da avó, quase engasga com o café, mas logo se ajeita para falar.

— Ahem... Sim, Harumi, o que tem de tão importante hoje? Sei que hoje será o último dia de Aihara Mei na presidência do conselho, e isso sim é algo importante. Sabendo que você estará com Aihara Yuzu e aquelas suas outras amigas delinquentes, só fico desconfiada do que pode ser...

— Hahaha, Mi-chan, não vamos aprontar nada, juro para você! — A irmã mais nova começa a ficar nervosa. — Então... sobre a kaichou, o que você sabe? T-tipo, é que a Yuzucchi não tem tido tempo para conversar com a irmã dela, sabe...

— Ah, achei que você estivesse sabendo mais do que eu em relação a isso. O presidente Aihara conseguiu arranjar um novo pretendente para a neta, e pelo visto é um bom partido, pelo menos para os negócios. Aihara Mei decidiu adiantar os preparativos para o casório, já que está preocupada com a situação do avô, pelo menos foi o que entendi.

— Mas e o noivo, você sabe quem é? Só por curiosidade, hehe... — Harumin começa a suar mas tenta disfarçar.

— Hmm, pelos comentários que ouvi, o noivo é de uma família com negócios na área de restaurantes, e não é a primeira vez que ele é prometido a alguém. Acredito que ele não tenha interesse em casamento arranjado, mas sendo de uma família de posses, é meio impossível escapar dessa tradição. Ele tem experiência com negócios, já que administra uma cafeteria própria numa cidade vizinha, mas o empreendimento foi criado contra a vontade dos pais.

Após ouvir as informações da irmã, Harumin tenta juntar os pedaços e avisar Himeko e Shiraho para, quem sabe, afunilar a busca pela identidade do noivo de Mei. “ Ótimo, Mi-chan! Apesar de assustadora, você conseguiu me ajudar de alguma maneira! Agora é falar com a vice-pres e partir para o ataque.”

— Interessante. Pelo visto, o presidente Aihara tem ótimos contatos para arranjar bons pretendentes para a família. Pena que a última vez que ele arranjou o casamento do próprio filho, as coisas saíram do controle. — A avó comenta.

Harumin pega o celular e começa a escrever uma mensagem para Himeko, mas logo se lembra que a vice não usa o celular enquanto está na escola. Ela decide pegar suas coisas e chegar à escola no mesmo horário das integrantes do conselho, o que significa abrir mão de parte do café da manhã. Só dá tempo para pegar duas torradas e alguns biscoitos, mas ela sai correndo mesmo assim.

— Vovó, Mi-chan! Eu me lembrei que preciso conversar com a vice-presidente agora cedo, sobre uma punição por algo que fiz outro dia! Vou precisar correr agora para ver se consigo alcançá-la. Fui!

— Espera, Harumi! Que história de punição é essa? Tem a ver com Aihara Yuzu de novo? Como irmã de ex-presidente de conselho, você deveria se comportar melhor! — Mitsuko se levanta com o intuito de dar outra bronca na irmã. Porém a avó delas novamente entra em ação.

— Harumi, vá com cuidado! Deixe sua irmã comigo! E Mitsuko, você está de folga, sossegue e pare de dar ordens! Até parece que você nunca errou na vida, não é? Após terminar o café, você vai me ajudar a limpar esta casa.

Correndo, Harumin vai para a escola na esperança de achar Himeko antes de Mei chegar, para não levantar nenhum tipo de suspeita. Ela acha melhor falar com a vice-presdente primeiro pois sabe que os Momokino possuem vários contatos, o que facilitaria a ação das garotas hoje. Para sua sorte, Mei não chega no horário de costume, pois sendo seu último dia como presidente, sua presença é mais para formalidades e despedidas.

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No quarto, a ojou-sama já está de pé e vestida pela última vez com o uniforme da academia que irá herdar do avô. Com o olhar de desânimo, ela se sente impotente e desapontada consigo mesma por não ter tido coragem para lutar por seu amor. Ansiosa para acabar de ver com a tensão dos últimos dias, porém com uma dor no peito causada por outro motivo: Yuzu. Hoje será a última vez que Mei verá a amada na escola, e depois sabe-se lá quando as duas voltarão a se ver, isso se a loira perdoá-la.

Debaixo do uniforme, a correntinha dourada e o anel dados por Yuzu pousam ao redor do pescoço. Mesmo que hoje seja o adeus definitivo, Mei irá guardar os acessórios com muito carinho, como símbolo dos poucos momentos felizes e descontraídos que passou ao lado da irmã postiça. Ela imagina se a união com Udagawa dará certo, apesar de ser um acordo de negócios; não vê muito futuro com uma pessoa que mal conhece, mas entende que no meio do caminho talvez a situação possa mudar.

Não terá como esquecer de Yuzu definitivamente, disso ela tem certeza. Impossível esquecer a única pessoa que a fez sorrir e acreditar no amor novamente, depois de tantos anos de negligência e frieza na família. Os olhos verdes, a facilidade em fazer amizade, o desejo de ajudar a todos, a capacidade de achar um caminho onde parecia só haver escuridão, todos esses poderes que só Yuzu tem seriam impossíveis de achar novamente. Mesmo que os caminhos das duas não se cruzem mais, Mei ainda poderá saber sobre os passos da amada por meio das amigas em comum e por meio de Ume. Himeko e sua rede de contatos poderiam informá-la imediatamente sobre qualquer movimento de Yuzu, sem que a mesma soubesse. Seria muito doloroso se algum dia Himeko informasse que a loira conseguiu seguir em frente, apesar de tudo, mas Mei já sabia o preço que teria de pagar ao se desfazer do amor de Yuzu.

— Eu sou realmente uma covarde por não ter lutado pela minha felicidade ao lado de Yuzu. Covarde por ter deixado apenas uma carta, quando eu poderia ter aberto o jogo antes de ter aceitado o anel. Estou assumindo um compromisso que era do meu pai, apenas para satisfazer aos negócios do meu avô. Odiei o meu pai por muito tempo por ele ter decidido seguir seu próprio caminho, mas agora aqui estou eu repetindo parte da infelicidade dele. Ele teve coragem de dizer não, diferente de mim. Por medo de encarar o julgamento das outras pessoas, estou presa agora a um compromisso de fachada, e depois serei cobrada para gerar herdeiros com uma pessoa que não é a que eu escolhi. Idiota que sou! Será que um dia a Yuzu me perdoará por tudo? Eu não serei digna, mas ainda assim me pergunto.

A kaichou alcança o anel por dentro do uniforme, e o observa bem de perto. Ela toca e sente o acessório como se estivesse tocando a pele de Yuzu novamente. O anel simples a hipnotiza por algum tempo, e algumas cenas importantes passam por sua cabeça. O dia em que as lágrimas caíram logo após Yuzu colocar o anel em seu dedo; o primeiro festival em que as duas foram juntas com as amigas; a viagem à pousada de Udagawa; o primeiro encontro como namoradas... Momentos em que Yuzu causava confusão onde não precisava, mas em que tudo acabava bem por conta da alegria e do brilho que a gyaru trazia consigo.

— Tenho certeza de que meu coração ficará em pedaços no dia em que a Yuzu seguir em frente e tiver uma outra pessoal especial na vida dela. Eu não quero pensar nisso, mas esse pensamento me vem à cabeça. Talvez o destino já tenha me dito que não sou alguém capaz de fazê-la feliz, ela merece uma pessoa melhor, que não a impeça de ser livre.

Uma batida na porta, e o avô de Mei avisa a neta para ir tomar o café antes de irem até a escola.

— Mei? Está acordada? Tome seu café, daqui a pouco o motorista irá levá-la. Já avisei à secretária para desmarcar todos os compromissos de hoje para irmos até os Udagawa acertar os detalhes do casamento. Não se atrase.

A garota esconde a correntinha com o anel dentro do uniforme e obedece o avô. Hoje o dia promete ser árduo para as duas garotas da família Aihara.


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Notas finais do capítulo

Olá!
Desculpem a demora na atualização, estava com várias coisas acumuladas do trabalho, e também tenho estudado japonês durante este período.
O capítulo já estava com boa parte pronta, mas precisava de detalhes. Os próximos capítulos estão 70% prontos, só preciso adicionar mais drama e tensão. Já adianto que não sei quando atualizarei, mas não irei abandonar esta história. É um desejo meu de ter uma fanfic completa!
Obrigada a tod@s pela leitura!



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